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2.3 Algumas Alusões Sobre o Sistema de Construção Light Steel Framing (LSF)

2.3.2 Modulação

Inicialmente, vale mencionar o conceito de “módulos” e sua origem. Ferreira, Bregatto e D`Ávila (2009, p. 4), numa perspectiva histórica, oferecem um descortino resumido, como apresentado a seguir:

“A coordenação modular em arquitetura é definida como um método ou abordagem de projeto, com elementos construtivos dimensionados a partir de uma unidade de medida comum. A unidade, chamada de módulo, define as dimensões e proporções dos elementos, estabelecendo uma relação de dependência entre eles e o produto final, a edificação”.

Neste sentido, segue um relato histórico:

“O uso de módulos na arquitetura pode ser encontrado em várias épocas, desde a Antiguidade. O módulo dos clássicos será certamente um módulo-forma, enquanto o Módulo de Le Corbusier (1976) pode ser considerado como módulo-função. As séries de módulos, adotados pelos romanos, revelam características de módulo-objeto.

Dentre as aplicações mais antigas o Ken, módulo japonês, derivado do tatâmi,

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representa também um raro exemplo de módulo-objeto. A partir disto, é oportuno ressaltar que a coordenação dimensional é habitualmente entendida como um instrumento de normalização das partes da edificação. No caso da coordenação modular, a norma brasileira NBR-5706 (ABNT, 1977) assim a define: “Técnica que permite relacionar as medidas de projeto com as medidas modulares por meio de um retículo espacial de referência”. Ao serem utilizadas, simultaneamente, unidade de medida para um espaço organizado (módulo-função) e outra para o invólucro (módulo-forma), se está articulando as dimensões dos espaços parciais com as dos componentes e compatibilizando-as entre si” (FERREIRA; BREGATTO; D`ÁVILA, 2009, p. 4).

A ideia central destes autores que se aproxima do presente trabalho é sobre:

“A compatibilização geral, entretanto, ocorrerá a partir da definição do módulo-objeto, responsável pela repetitividade exigida pela escala de produção. A ordenação e a organização destes elementos-módulos, dentro da construção, ocorreram de forma diferenciada, em cada período da história da arquitetura” (FERREIRA; BREGATTO;

D’ AVILA, 2009, p. 4).

A modulação, ainda hoje, não é uma preocupação da grande maioria de arquitetos e engenheiros calculistas. Entretanto, é importante ressaltar que a possibilidade da repetição de um modelo edificado, por princípio, “[...] tende a gerar economia e racionalização do processo de construção, além das possibilidades de adaptação e ampliação” (MACIEL, 2013, online)4.

Porém, em geral, os profissionais da construção civil ligados ao desenvolvimento de projetos para prédios públicos, tendem a ignorar esta evolução da construção. Tratam os projetos para estas edificações como se os fossem construir uma única vez e de modo convencional, apresentando em longo prazo, edifícios que não acompanham a demanda crescente de usuários. Assim, surge a necessidade de projetar edificações que possam ter flexibilidade para mudança de uso. Essa opção pode apresentar menor custo, logo deveria significar motivo de interesse para profissionais da construção civil (MACIEL, 2013).

Há também a demanda da reversibilidade, ou seja, a montagem e desmontagem destas edificações para que seja viabilizada a adaptação a novos usos, que pode possibilitar a substituição de um módulo por outro, na intenção de melhor atender ao conceito de flexibilidade aplicado a prédios públicos e, sobretudo, os sanitários em estudo. Entende-se que Baldwin e Clark (1997) já defendiam a ideia de flexibilização relacionada à modulação, embora utilizassem, para designar este sistema de construção, o termo modularização, como uma estratégia para organizar e desenvolver produtos e processos de forma mais eficiente e dinâmica. Estes autores definem ainda que os atributos funcionais desejáveis em projetos, como

4 http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/14. 163/4986

52 no caso deste estudo, são decompostos em unidades básicas, denominadas módulos. Além da perspectiva de desenvolvimento do produto (o módulo) ser executada de forma sistêmica, este é concebido a partir de uma plataforma. Desta forma, é possível obter futuras variações ou aperfeiçoamentos. Os mesmos autores enumeram as principais vantagens que a modularização do sistema de construção apresenta, sob a abordagem da manufatura. Vale ressaltar que, atualmente, a indústria da construção civil oferece diversos produtos, elementos e componentes de construção em que pode ser aplicado o processo da modulação, com foco na padronização da geometria (BALDWIN; CLARK, 1997).

Neste caminho, a evolução tecnológica é aceita como uma postura para otimização de processos de construção por todo o meio envolvido neste assunto. Porém, segundo Santos e Pereira (2019), a concepção modular na fase de projeto ainda é pouco pensada e é um problema atual. Muitas vezes, inviabiliza o uso destes elementos na etapa da execução da obra. Afirmam ainda que, especialmente no que concerne à modulação de componentes, houve pouca modificação. Ademais, nas últimas décadas no canteiro de obras, há uma quantidade considerável de perda de materiais e demanda de trabalho humano.

Além disto, a prática da modulação como técnica de construção e, ainda, no que tange às estruturas em aços leves, precisa ser fortalecida no setor da construção civil nacional. Tal atitude possibilitaria objetivar a flexibilização de um sistema de construção estrutural base, o estabelecimento de modelos, a descrição de um processo, que poderiam vir a ser diretrizes a serem replicadas e atualizadas para atendimento ao programa das necessidades das edificações.

Isto começa na produção de projetos de modulação, o que possibilitaria uma maior organização, facilitaria a leitura e interpretação destes, a fim de contribuir para um menor custo final da obra (FRANCO, 1992).

Assim, Baldwin e Clark (1997) citam as principais vantagens que a modularização do sistema de construção apresenta, sob a abordagem da manufatura, como sendo a variedade de produtos e a tendência, da customização em massa. Estes são conceitos relacionados também à construção de edificações habitacionais de baixo custo, assim como a arquitetura emergencial, onde se contemplam a proposição de moradias provisórias. Para estas tipologias, a modulação dos elementos e componentes de construção é parâmetro para a execução bem-sucedida, que tende a levar em consideração a manufatura enquanto método econômico e de autoprodução.

Segundo os mesmos autores, são vantagens para a otimização das construções modulares a maior velocidade de atualização do produto, a redução de riscos e gestão da complexidade, bem como, a redução do impacto ambiental, item que reforça a identificação da proposta de modulação associada aos sistemas construtivos com aços leves, que se prestam a produzir

53 menor impacto no solo, pois tem como pré-requisito a especificação de fundações rasas.

Benefícios estes que podem estar elencado à produção desta pesquisa (BALDWIN; CLARK, 1997).

Neste mesmo caminho, Oyebode (2004) defende a possibilidade da modulação permitir um conjunto de combinações e, consequentemente, gerar novos produtos com custo mais baixo.

Porém, a viabilidade de todos os conceitos apresentados deverá ser elencada à produção sistêmica de projetos arquitetônicos de modulação. Esta é uma prática que tem grande capacidade de influenciar decisivamente em todas as etapas de obra e no custo final da mesma.

“O estudo modular, que se refere a uma importante ferramenta de apoio a um projeto de produção seriada, tem como objetivo básico a busca da estandardização dos componentes e de seu preciso posicionamento espacial, de modo a permitir uma completa referência dimensional a qualquer momento ou etapa do projeto”

(OYEBODE, 2004, p. 141).

Historicamente, as ideias de coordenação modular seguiram uma linha puramente matemática, para estabelecer relações lógicas entre séries simples ou compostas de números, eventualmente ligando-as a justificativas pouco científicas para o fabricante. Desta forma, é oportuno que as várias dimensões dos materiais e peças, por ele fabricadas, tenham alguma constância dimensional, as quais auxiliarão tanto na compra e estocagem da matéria-prima como na produção e na acoplagem dos vários componentes produzidos. A construção de objetos tridimensionais de grande complexidade, a partir de componentes relativamente simples, exige um grande controle dimensional e de posicionamento no espaço (VENTURA, 2006)

Segundo Penteado (1980), a coordenação modular consiste num sistema capaz de ordenar e racionalizar a confecção de qualquer artefato, desde o projeto até o produto. Esta ordenação e racionalização se efetiva, principalmente, pela adoção de uma medida de referência, chamada módulo, considerada como base de todos os elementos constituintes do objeto a ser confeccionado. Em equipamentos complexos, ou de execução em grande escala, como na produção industrial, a padronização de medidas, ou modulação, torna-se obrigatória.

A sua utilização é mais frequente em obras de grande porte e que requerem um método de construção rápido e racionalizado. É o caso, por exemplo, de obras institucionais como escolas, prédios públicos (um exemplo, os hospitais, conjuntos habitacionais de interesse social e edifícios industriais do tipo galpões). A teoria da modulação não é algo novo, é muito anterior à revolução industrial e à ideia de produção em série. A simples adoção de um sistema de medidas coerente se constitui num passo para a coordenação modular. Tal que, na arquitetura da Grécia antiga, como na Egípcia, já se construiu partindo de uma medida básica. No primeiro

54 caso, o raio da coluna serviu de unidade para determinar as demais medidas do edifício e no segundo, a distância alcançada por um homem ao estender seu braço horizontalmente. O sentido moderno de módulo, no entanto, aparece em épocas recentes ligado à industrialização. A demonstração mais evidente de aplicação desse conceito data da Europa da época posterior à guerra, período de grande demanda habitacional (ARGENTINA, 1977).

No cenário nacional, a modulação de todos os materiais e elementos de construção como os blocos cerâmicos, divisórias, pisos, telhas possuem poucas medidas múltiplas e submúltiplas entre si. Diante disso, encontram-se as mais diversas adaptações em obra. Adotam-se sistemas construtivos artesanais. Já em grandes obras, no entanto, ou na montagem de sistemas pré-fabricados, o mínimo de padronização é requerido, não somente pela necessidade de aumento da produtividade, como pela consequente compatibilização de projetos complementares.

Na construção de Estabelecimentos Assistenciais de Saúde, notadamente, nos de grande complexidade e porte, a coordenação modular se impõe. Além disto, a facilidade desta prática resulta em posteriores reformas, ampliações, manutenção e adaptações em geral, sempre requeridas neste tipo de estabelecimento em que a funcionalidade é fator essencial. Estas características diminuirão significativamente o custo de manutenção do edifício, tornando-o facilmente adaptável aos velozes progressos da medicina (CARVALHO; TAVARES, 2002).

Ademais, a modulação contribui para a racionalização do processo de construção. Pois, como já foi exposto, garante flexibilidade de combinação de elementos, além de contribuir para uma precisão maior na definição e alcance de medidas, bem como colabora para o aumento da repetição de componentes e para a produção em série, uma vez que, ao fixar uma medida básica da qual as demais devem ser múltiplos ou mesmo submúltiplo, limita as variações dimensionais para um mesmo elemento construtivo. Assim, estabelece uma limitação às medidas aplicáveis aos componentes e ao projeto como um todo, além de facilitar a combinação dessas medidas.

Adicionalmente, existe a possibilidade de geração de maior produtividade da mão de obra, redução de mão de obra e prazos de execução da obra (ARGENTINA, 1977; ONU, 1966).

Algumas desvantagens, no entanto, são comumente lembradas pelo meio, tais como a possibilidade de limitação da variedade de projetos e a condução a uma padronização das soluções, o que se torna um empecilho frente à diversidade de necessidades reais, a criação de uma repetitividade na aparência das edificações. Algumas soluções limitam o número de fornecedores de materiais e serviços, encarecendo o produto e levando ao risco de descontinuidades na execução. Estas observações, contudo, podem ser contornadas, a depender de cada caso em particular (CARVALHO; TAVARES, 2002)

55 No entanto, diante das vantagens indicadas, o LSF prevalece como boa opção. Em relação às desvantagens, acredita-se que, para a arquitetura hospitalar, poucas são as influências na padronização ou repetitividade das edificações, uma vez que o próprio uso leva a este tipo de configuração espacial. No caso da especialização da mão de obra, apesar de alguns autores levantarem questões sobre este aspecto, outros estudos e aplicações já indicam a simplificação do emprego da mão de obra, com treinamento dos profissionais in loco. No que diz respeito ao quesito das despesas iniciais, toda edificação pública, assim como a em análise, já demanda uma verba inicial para execução da obra, independente do porte, pois a dinâmica de uso se mantem a mesma.

56 3 METODOLOGIA DA PESQUISA

O presente trabalho que objetiva o desenvolvimento de estratégias de otimização da produção em LSF, com ênfase na flexibilidade da arquitetura pré-hospitalar, se desenvolve em 3 etapas, tais como:

a. Revisão bibliográfica e documental sobre unidades de pronto atendimento, aplicabilidade do sistema de construção Light Steel Framing (LSF) nestas tipologias e a pesquisa sobre a legislação vigente no país, como fundamentação teórica;

b. Análise de três unidades de saúde pública, executadas no sistema de construção em LSF, no estado de Minas Gerais, para compreensão dos diversos aspectos envolvidos na eficiência e desempenho da arquitetura pré-hospitalar assistêncial ao paciente nestas unidades de saúde;

c. Proposição de estratégias criteriosas para a construção destas tipologias em LSF, com ênfase na flexibilidade dos ambientes.

Todas as etapas mecionadas são mostradas nos Diagramas contidos nas Figuras 1 e 2.

Figura 1 - Percurso metodológico

57 Figura 2 - Diagrama metodológico

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