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Monitoramento qualitativo como ferramenta de gestão dos recursos hídricos

O conceito de monitoramento da qualidade da água é mais amplo que a simples verificação do cumprimento dos padrões legais de qualidade da água. Além disso, deve atender à necessidade de responder o que está sendo alterado e por que as modificações estão ocorrendo (REBOUÇAS, 2002).

O gerenciamento da qualidade da água precisa dessa resposta para que as ações tomadas sejam eficientes na redução dos danos causados ao meio ambiente, atuais e futuros. Não é suficiente apenas coletar os dados no campo. É importante que se estabeleçam formas de utilização desses dados coletados, permitindo que essas informações sejam úteis ao gestor dos recursos hídricos e à sociedade, e que delas resultem um passo a mais no conhecimento dos processos da natureza (REBOUÇAS, 2006).

A razão principal para avaliação de um ambiente aquático é a necessidade de verificar a qualidade da água e se esta é adequada para o uso pretendido. O monitoramento verifica a tendência da qualidade do ambiente aquático e como este é afetado pelas atividades antrópicas (HERMES, et al.,2006).

A avaliação da qualidade da água, bem como sua evolução no tempo-espaço, só será possível por meio da implementação de programas sistemáticos de monitoramento, resultando em séries históricas que, futuramente, possam ser analisadas a fim de estabelecer-se padrões de distribuição sazonais e espaciais para indicadores bióticos e abióticos. O conhecimento dessas variações poderá ser manipulado e utilizado para a previsão da qualidade da água durante o ano hidrológico, além de subsidiar parâmetros de operação dos reservatórios (FREIRE, 2000).

Segundo Derísio (2000) uma rede de monitoramento é um conjunto de estações de amostragem, estrategicamente localizadas na área de uma bacia hidrográfica, com o intuito de representarem, com boa aproximação, as condições e tendências de evolução da qualidade das águas.

O monitoramento deve ser visto como um processo essencial à implementação dos instrumentos de gestão das águas, já que permite a obtenção de informações estratégicas, acompanhamento das medidas efetivadas, atualização dos bancos de dados e o direcionamento das decisões. Uma sólida base de dados é imprescindível aos instrumentos de gestão, pois é mais fácil gerenciar o que se conhece (MAGALHÃES Jr, 2000).

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É essencial que a estrutura, implementação e interpretação dos dados relativos aos sistemas monitorados sejam conduzidos com referência ao uso final da informação para propósitos específicos (PORTO, 1991). Segundo Porto (1991), a definição dos objetivos de um programa de monitoramento geralmente está associada à avaliação da qualidade da água e sua adequação para os usos requeridos. A partir destes dois cenários, os programas de monitoramento podem ser classificados, de acordo com o uso que se pretende dar aos dados gerados, como de planejamento ou de controle.

Straskraba e Tundisi (2000) delimitaram que de acordo com o horizonte temporal, podem-se distinguir três tipos de gerenciamento: i) gerenciamento corretivo: caracterizado pela implementação de ações corretivas que visam melhorar as condições existentes em um curto espaço de tempo; ii) gerenciamento preventivo: direcionado para a prevenção do aparecimento de problemas dentro de um horizonte de médio prazo; iii) gerenciamento auto-sustentado: baseado em medidas de longo prazo focadas para a garantia de disponibilidade do recurso água para as gerações futuras. Esses mesmos autores recomendam que os horizontes de médio e longo prazo sejam priorizados.

O gerenciamento sustentado dos recursos hídricos baseia-se na adoção de um conjunto de práticas destinadas a garantir as demandas atuais sem comprometer as necessidades das gerações futuras. Segundo Straskraba e Tundisi (2000), medidas para atingir esse grau de desenvolvimento estão diretamente relacionadas ao equacionamento de interações complexas envolvendo problemas de natureza biogeofísica, social e econômica, geralmente com a adoção de ações de longa duração.

O gerenciamento da qualidade da água, segundo Bernhardt (1990), apud Straskraba (1996), deve levar em consideração as seguintes atividades dentro da bacia hidrográfica:

 Escoamento superficial proveniente de terras cultivadas ou de áreas sujeitas à erosão;

 Escoamento superficial proveniente de áreas submetidas à poluição atmosférica;

 Compostos orgânicos tóxicos resultantes da aplicação de pesticidas na agricultura e silvicultura;

 Poluição por compostos orgânicos persistentes utilizados como catalisadores industriais, ou por compostos farmacêuticos de atividade desconhecida proveniente de rejeitos hospitalares, etc.

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Silveira et al. (apud MAGALHÃES Jr., 2000) afirmaram que a adequada implementação de um programa de gerenciamento das águas depende de investimentos na coleta de dados e de informações hidrológicas, alem de investimento em ações que melhorem o conhecimento dos usuários da água. Na TABELA 2 são mostradas as etapas para o monitoramento dos recursos hídricos.

TABELA 2 - Atividades a serem desenvolvidas em uma rede de monitoramento de recursos hídricos.

Atividades básicas Detalhamento

1 Definição da rede

a) Localização das estações de amostragem;

b) Escolha dos parâmetros; c) Fixação da frequência de amostragem.

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Coleta das amostras

a) Técnica de amostragem; b) Medidas de campo;

c) Local da coleta; d) Preservação da amostra;

e) Transporte da amostra; f) Controle da qualidade dos dados.

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Análise de laboratório

a) Métodos de análise; b) Procedimentos operacionais; c) Controle da qualidade analítica;

d) Registro de dados.

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Processamento dos dados

a) Recebimento dos dados de laboratório e de campo; b) Triagem e verificação dos dados;

c) Armazenamento e recuperação dos dados; d) Listagem dos dados;

e) Disseminação dos dados.

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Análise dos dados

a) Análise de regressão;

b) Interpretação e avaliação da qualidade; c) Análise de séries temporais;

d) Aplicação de índices de qualidade; f) Aplicação de modelos de qualidade.

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Utilização da informação

a) Verificação da necessidade de informação; b) Forma de apresentação;

c) Procedimentos operacionais; d) Avaliação da utilização.

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Os aspectos quantitativos e qualitativos nunca deverão estar dissociados em uma rede de monitoramento. No caso dos aspectos qualitativos, a implementação de um programa de monitoramento propiciará o conhecimento e a identificação de relações causa-efeito entre os usos e atividades humanas e seus impactos sobre a qualidade da água, tornando-se um dos componentes mais importantes para uma gestão ambiental integrada (SQA, 1999 apud MAGALHÃES JR., 2000).

O monitoramento dos indicadores de qualidade da água permite definir suas características no período de análises e fornecer as bases para detectar as tendências e informações capazes de estabelecer as relações causa-efeito. Devido à complexidade de fatores que determinam a qualidade da água e a escolha de variáveis usadas para descrever o estado dos recursos hídricos em termos quantitativos, é difícil simplesmente definir qualidade da água. Além disso, o conceito de qualidade está relacionado à expansão das características para os diferentes usos da água e da capacidade de determinação das variáveis e de interpretá-las de forma isolada e conjunta (HELLER e PADUA, 2006).

A descrição da qualidade do ambiente aquático pode ser feita de diversas maneiras. Pode ser descrita por medidas quantitativas, como determinações físico- químicas (na água, no material particulado ou no tecido biológico) e testes biológicos/bioquímicos (medida da demanda bioquímica de oxigênio – (DBO), testes de toxicidade, entre outros), ou por meio de descrições quantitativas e qualitativas, como índice biótico, aspecto visual, inventário de espécies, odor, entre outros. Essas determinações podem ser feitas no campo e em laboratório, produzindo diversos tipos de dados. Esses dados podem ser utilizados em diferentes técnicas de avaliação de quantidade e qualidade da água (HERMES et al.,2006).

O monitoramento pode contribuir efetivamente para uma análise das tendências referentes à qualidade do ecossistema aquático e permitir ações de prevenção e correção que diminuam custos futuros para o tratamento da água, principalmente com relação à eutrofização. Além dos índices físicos e químicos, os biológicos devem ser considerados no monitoramento para a obtenção de uma abordagem ecossistêmica (BERNHARDT, 1990).

Para o monitoramento, são aplicados vários métodos físicos, químicos e o uso de bioindicadores. Os dois primeiros métodos indicam a qualidade da água em determinado ponto, e refletem a sua qualidade no momento em que a amostra é coletada. Geralmente, há a utilização de equipamentos caros e sofisticados. Já o uso de

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bioindicadores para a avaliação de alguns parâmetros específicos apresenta custos mais baixos (HERMES et al.,2006).