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Os padrões de qualidade de água são os valores máximos permitidos, para cada substância química presente na água, que garantem os seus usos pretendidos. Os padrões de qualidade da água também podem ser baseados nos dados toxicológicos obtidos por meio de experimentos, estudos epidemiológicos e cenários genéricos de exposição, ou seja, são produtos do processo de avaliação de risco. As informações toxicológicas, sobre um composto químico, mais utilizadas em estudos de avaliação de risco são: dados de toxicidade aguda, de toxicidade crônica, de genotoxicidade, de efeitos à reprodução e/ou teratogenicidade, de ecotoxicidade, sobre a sua capacidade de fotodegradação, de hidrólise, de biodegradação e ainda sobre o seu transporte e distribuição nos diferentes compartimentos ambientais. Porém, para grande parte dos compostos produzidos ou utilizados em grande escala no Brasil, esses dados estão indisponíveis ou parcialmente disponíveis (SANCHEZ; NASCIMENTO, 2005).

Historicamente, Estados Unidos (1991), Canadá (2007), Austrália (2004) e diversos países europeus derivam seus critérios de qualidade ambiental com base em estudos próprios por meio de órgãos governamentais que possuem essa competência. Mais recentemente, a Argentina (2005), por meio da sua Secretaria de Recursos Hídricos, mantém um grupo de trabalho que deriva critérios de qualidade de água em âmbito regional. Entidades internacionais como a OMS (1997) e a FAO – Food and Agricultural Organization (1985) derivam critérios de qualidade ambiental com o objetivo de orientar os diferentes países, especialmente aqueles que não têm recursos

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para realizar seus próprios estudos, facilitando o estabelecimento de padrões de qualidade para os diferentes usos do recurso hídrico (UMBUZEIRO et al., 2006).

No Brasil, existem diferentes normas legais que utilizam critérios de qualidade de água. A Portaria 518 do Ministério da Saúde, publicada em 2004, definiu padrões para substâncias químicas para consumo humano (BRASIL, 2004). Para recreação, em 2000, foi publicada a resolução CONAMA N° 274 de 2000, a qual inclui, basicamente, parâmetros microbiológicos, não especificando padrões numéricos para substâncias químicas tóxicas (BRASIL, 2000).

Não há norma nacional que estabeleça separadamente padrões de qualidade para proteção da vida aquática, irrigação e dessedentação de animais para águas superficiais. A Resolução CONAMA N° 357/2005 estabeleceu valores máximos permitidos para conjunto de usos, de acordo com classes de água utilizadas para o enquadramento dos recursos hídricos. Essa resolução definiu padrões de qualidade, de acordo com as 13 classes de qualidade, elaborados em função de conjuntos de uso concomitantes. Por exemplo, águas doces que atendem os padrões da classe 1 podem ser utilizadas com segurança para consumo humano após tratamento simplificado, recreação de contato primário e secundário, dessedentação de animais, irrigação, preservação da vida aquática e aqüicultura.

Os usos previstos para as águas doces de classe 3 são: consumo humano após tratamento convencional e avançado, recreação de contato secundário, dessedentação de animais e irrigação. De acordo com essa resolução, pode-se afirmar que uma água que atende padrões de classe 1 pode ser utilizada com segurança para irrigação, porém os requisitos de qualidade da classe 1 podem não coincidir com os critérios de qualidade de água exigidos para esse uso específico. Isso porque os padrões de cada classe são escolhidos de forma a contemplar o valor mais restritivo entre todos os usos considerados (CARVALHO, 2007; CAMPOS, 2006; CAMPOS et al., 2008).

Os padrões de qualidade das águas são as características de ordem física, química e biológica, desejáveis nas águas, em função dos usos preponderantes estabelecidos por normas definidas pela sociedade. Usos preponderantes são os usos benéficos determinados para certo corpo de água. Os usos benéficos são os que promovem benefícios econômicos e/ou o bem estar e a boa saúde da população (HERMES et al.,2006).

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O padrão de potabilidade adotado no Brasil é composto por: a) padrão microbiológico; b) padrão de turbidez para a água pós-filtração ou pré-desinfecção; c) padrão para substâncias químicas que representam riscos à saúde (inorgânicas, orgânicas, agrotóxicos, desinfetantes e produtos secundários da desinfecção); d) padrão de radioatividade; e) o padrão de aceitação para consumo humano (HELLER e PADUA, 2006).

O padrão de aceitação para consumo humano é estabelecido com base em critérios de ordem estética e organoléptica da água, e visa a evitar a rejeição ao consumo, que levaria à busca de outras fontes de água, eventualmente menos seguras do ponto de vista sanitário. Algumas substâncias incluídas no padrão de aceitação apresentam também interesse de saúde, porém o limiar de percepção de gosto e odor se dá em concentrações inferiores ao critério de saúde e, portanto, constam apenas como padrão de aceitação para consumo. Assim, atendido o padrão de aceitação para consumo para tais substâncias, estaria garantida a segurança sanitária. Para outras substâncias não há evidência suficiente de risca à saúde, ao menos nas concentrações usualmente encontradas em águas de abastecimento (HELLER e PADUA, 2006).

Pode-se definir como água potável aquela que pode ser consumida sem riscos à saúde humana e sem causar rejeição ao consumo por questões organolépticas. O tratamento da água, em si, não garante a manutenção da condição de potabilidade, uma vez que a qualidade da água pode se deteriorar entre o tratamento, a distribuição e o consumo. Por esta razão, é entendido na legislação brasileira que a obtenção e a manutenção da potabilidade da água dependem de uma visão sistêmica, abrangendo a dinâmica da água desde o manancial até o consumo (BRASIL, 2006).

No Brasil, o padrão de potabilidade da água para consumo humano é o estabelecido pelo Ministério da Saúde, por meio da Portaria n° 518, de 25 de março de 2004. Essa Portaria estabelece, além do padrão de potabilidade, os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano. Estabelece planos mínimos de amostragem e apresenta requisitos para características físicas e organolépticas (cor, turbidez, odor e sabor), características químicas (54 substâncias potencialmente tóxicas, dentre substâncias orgânicas, inorgânicas, agrotóxicos, cianotoxinas e outros), além de características microbiológicas para controle de microrganismos patogênicos e também limites de radioatividade.

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