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Capítulo 5: Resultados e Discussão: Vidro PAN: Er 3+

5.4 Resultados de Lente Térmica: Eficiência Quântica de Luminescência

Com as medidas de lente térmica realizadas no vidro PAN dopado com Er3+, tornou-se possível obter os valores da eficiência quântica de luminescência através de dois métodos diferentes: o método da amostra referência e o método do tempo de vida normalizado. Para tais medidas, usou-se o aparato experimental mostrado no capítulo 3 (Figura 3.10), cujos valores dos parâmetros geométricos se encontram listados na Tabela 3.1. No entanto, para o vidro PAN as propriedades térmicas, tais como a difusividade térmica, D, a condutividade térmica, K e a variação do caminho óptico em função da temperatura, ds/dT, já foram determinadas na referência [144] e seus valores são : D = (2,3 ± 0,1) x 10-3 cm2/s, K = (5,9 ± 0,3) x 10-3 W/cmK, e ds/dT = (1,6 ± 0,5) x 10-6 K-1. Dessa forma torna-se fácil determinar o valor da eficiência quântica de luminescência, η, para o vidro PAN dopado com Er3+, usando a técnica de LT através do método da amostra referência [115].

Assim, a Figura 5.12 mostra a curva normalizada característica do transiente de LT em função do tempo para amostra PAN dopada com 2,0 wt% de Er3+. Através do ajuste teórico, utilizando a Equação (3.27), foram obtidos os valores de θ e tc. O comprimento de onda de excitação para as medidas de LT foi de 980 nm, o que nos permite uma excitação diretamente no nível 4I11/2 do Er3+.

-0,01 0,00 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08 1,000

1,005 1,010 1,015 1,020 1,025 1,030 1,035

1,040 PAN + 2,0 wt% Nd3+

Dados experimentais Ajuste teórico

tempo (s)

Sinal Normalizado de LT

Figura 5.12: Transiente de lente térmica normalizado para a matriz vítrea PAN dopada com 2,0 (wt%) de Er3+. A potência de excitação foi de 267 mW com λexc = 980 nm. A linha sólida representa o ajuste teórico realizado utilizando a Equação (3.27), no qual obteve-se θ = - (0,0353 ± 0,0007) rad e tc = (0,0023

± 0,0001)s..

Dessa forma, as medidas de LT foram realizadas em todas as amostras vítreas PAN dopadas com diferentes concentrações de Er3+. Para cada amostra foi obtido o sinal de LT para 10 potências diferentes. A Figura 5.13 apresenta os valores obtidos da diferença de fase do feixe de prova (θ) normalizado pelo comprimento efetivo das amostras (leff) em função da potência de excitação para todas as amostras co m concentrações crescentes de Er3+ (0,5 a 5,0 wt%). Como vimos na Figura 5.12, a formação da lente térmica foi convergente (ds/dT > 0), indicando que o valor da diferença de fase (θ) é negativa. Por isso na Figura 5.13 foi considerado o módulo de θ, como usual.

0 100 200 300 400 500 600 700 800

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2

5,0% Er3+

4,5% Er3+

4,0% Er3+

3,5% Er3+

3,0% Er3+

2,5% Er3+

2,0% Er3+

1,5% Er3+

1,0% Er3+

0,5% Er3+

Potência (mW)

/l

eff(rad/cm)

Figura 5.13: Diferença de fase (θ) normalizada pela espessura efetiva das amostras (leff) em função da potência de excitação para as matrizes vítreas PAN dopadas com diferentes concentrações de Er3+ obtidos através das medidas de LT. O valor de θ está em módulo.

Na Figura 5.13 pode-se notar que com o aumento da concentração de Er3+ os valores de θ/leff aumentam. Dessa forma, pode-se concluir que quanto maior a concentração de érbio maior é o efeito de LT, ou seja, há uma maior geração de calor.

Também pode ser notado que os valores de θ aumentam linearmente em função da potência de excitação, o que evidência que estamos trabalhando no regime em que o modelo teórico da lente térmica é aplicável, ou seja, variações de fase pequenas.

Além disso, também foram obtidos os valores do coeficiente de absorção óptica para o vidro PAN dopado com diferentes concentrações de Er3+, que estão apresentados

na Figura 5.14 (a). Tais valores foram obtidos através da Equação (3.5) medindo-se a potência incidente e a potência transmitida pelas amostras.

0 1 2 3 4 5

0,2 0,4 0,6 0,8

(c)

(b) (a)

Concentração de Er

3+

(wt%)

(cm-1 )

 (w

-1

) 

LT

2,1 2,4 2,7 3,0 3,3 0,2 0,4 0,6 0,8

Figura 5.14: (a) Coeficiente de absorção óptica, α, (b) Sinal de lente térmica normalizado pela potência absorvida (Pabs), Θ, (c) eficiência quântica de luminescência obtidas através da lente térmica usando o método da amostra referência, ηLT, para o vidro PAN dopado com concentrações crescentes de Er3+

usando como excitação um laser de Ti-Safiraoperando em 980 nm.

Através dos valores de θ, leff , Pe e α, e utilizando a Equação (3.29) é possível obter o parâmetro Θ para cada amostra, cujos resultados estão apresentados na Figura 5.14 (b). Uma vez que através da LT foram obtidos os valores de Θ para cada concentração de Er3+ e conhecendo o valor de Θ para a amostra base ou referência [144]

determina-se o valor de φ. Assim, é possível encontrar os valores para a eficiência quântica com o uso da Equação (3.31), no qual em 1559,2 nm é previamente determinado através dos espectros de emissão obtidos para o Er3+. Dessa maneira determinou-se η em função da concentração de Er3+ (Figura 5.14 (c)). Pode-se observar que o valor da eficiência quântica diminui com o aumento da concentração de Er3+, o que se encontra em acordo com os valores de η obtidos a partir da teoria de Judd-Ofelt (Figura 5.9).

Para o caso da menor concentração de Er3+, os processos que causam a supressão na luminescência, tais como transferência entre íons e conversão ascendente de energia, podem tornam-se insignificantes, predominando assim somente as perdas devido ao decaimento multifônon e aos grupos OH e/ou impurezas contidas na matriz vítrea, como por exemplo, metais de transição como o ferro. Dessa forma, o baixo valor na eficiência quântica, η = 0,67 para a mais baixa concentração (0,5 wt% de Er3+) pode ser atribuída principalmente a processos de decaimento multifônons a partir do nível 4I13/ 2 bem como a grupos de OH e/ou impurezas.

Da mesma maneira como feito para o Nd3+ na seção 4.3, aqui també m calculou-se a eficiência quântica de luminescência pelo método do tempo de vida normalizado. Como visto, para determinar os valores de ηNL utiliza-se os valores de Θ obtidos pela lente térmica (Figura 5.14 (b)) e os tempos de vida para todas as concentrações Er3+ (Figura 5.6 (b)). Dessa maneira, obteve-se os valores de Θ versus Γ(Nt) = τexpR , que se encontra ilustrado na Figura 5.15. Como esperado pela Equação (3.35) , os dados experimentais ajustam bem com uma linha reta, validando a suposição que C e <λe m> são constantes (ou seja, independente da concentração).

Assim como para o caso das amostras dopadas com Nd3+, para o Er3+ a amostra referência (aquela com tempo de vida τR e eficiência quântica ηR), escolhida foi a de menor concentração. Consequentemente, as amostras com Γ = 1 tem maior η e menor Θ.

0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,8

2,0 2,2 2,4 2,6 2,8 3,0 3,2 3,4

(Nt) = exp/R

(W-1 )

PAN + x% Er3+

Figura 5.15: Valores de Θ em função do parâmetro Γ que representa a razão entre os tempos de vida obtidos experimentalmente, normalizados pelo tempo de vida da amostra menos concentrada, τR, para o vidro PAN dopado com Er3+. A linha sólida é o ajuste linear.

A partir dos ajustes teóricos dos dados da Figura 5.15 obteve-se os valores de η(Nt) e da constante C. Encontrou-se o valor de C = 3,99 W-1 bem como o valor da eficiência quântica de luminescência para a menor concentração, ηR = 0,67. Dessa maneira, tendo calculado o valor da eficiência através da teoria de Judd-Ofelt, ηcal, e posteriormente através do método NL, ηNL, bem como pelo método da lente térmica usando o método da amostra referência, ηLT, é possível fazer uma comparação entre os mesmos. Portanto, a Figura 5.16 mostra os resultados obtidos para as eficiências quânticas de luminescência (η), para as diferentes concentrações de Er3+ imersos na matriz vítrea PAN. Pode-se perceber que os resultados obtidos para os diferentes métodos estão em bom acordo entre si.

0 1 2 3 4 5

0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7

0,8NL

LT

cal

Concentração de Er3+(wt%)

Figura 5.16: Valores das eficiências quântica de luminescência calculadas através dos cálculos de Judd-Ofelt, ηcal, do método de lente térmica usando a amostra referência, ηLT, e o método “normalized lifetime”, ηNL, para a amostra vítrea PAN dopada com concentrações crescentes de Er3+.

Para o vidro PAN dopado com érbio também foi possível determinar a taxa total de decaimento não radiativo, Wnr, através dos valores da eficiência quântica e dos tempos de vida radiativos, τrad, e medidos experimentalmente, τrexp. Dessa forma, a Figura 5.17 apresenta a taxa de decaimento não radiativo (Wnr) em função da concentração, obtido através da Equação (4.3) para as amostras da matriz PAN dopadas com concentrações crescentes de Er3+.

0 1 2 3 4 5 100

200 300 400 500

PAN + xEr3+(wt%)

W nr (s-1 )

Concentração de Er3+ (wt%)

Figura 5.17: Taxa de decaimento não radiativo em função da concentração de érbio para a matriz PAN.

A linha solida é um ajuste linear .

Na Figura 5.17 pode-se perceber que o aumento da taxa de decaimento não radiativo para o érbio cresce praticamente de maneira linear em função da concentração.

A linha sólida na figura representa o ajuste linear dos dados experimentais. Para a menor concentração (de 0,5 wt% de Er3+) Wnr = 96 s-1.

5.5 Conclusões do Capítulo

Para o vidro PAN dopado com Er3+ também obtivemos as medidas espectroscópicas básicas, tais como espectros de absorção, emissão e tempo de vida experimental do nível emissor 4I13/2 do Er3+. Com relação aos espectros de emissão verificamos que devido a alta energia de fônon da matriz PAN (~1200 cm-1) somente houve evidências de emissão na região do infravermelho (nível 4I13/2). Dessa forma as emissões no visível que sempre aparecem, por exemplo, em vidros teluritos (cuja energia de fônon é menor que fosfatos), não foram constatadas para o vidro PAN.

Com a espectroscopia de absorção foram determinados os três parâmetros de intensidade de Judd-Ofelt e calculado as taxas de decaimento radiativas e os tempos de vida radiativos para as diferentes concentrações de Er3+ imersos na matriz PAN. Estes valores encontrados estão condizentes com a literatura para os sistemas fosfatos.

Para determinar a eficiência quântica do nível emissor 4I13/2 realizamos medidas de lente térmica e utilizando o método da amostra referência determinamos os valores de η. Afim de uma comparação e maior confiabilidade dos resultados obti dos, os valores de η também foram calculados através do método do tempo de vida normalizado, bem como pela teoria de Judd-Ofelt. Dessa maneira verificamos que os valores de η calculados através dos diferentes métodos corroboram entre si. Foi verificado também um decréscimo no valor de η em função do aumento na concentração de Er3+. Este fato foi justificado principalmente devido à presença de grupos de hidroxila OHpresentes na matriz PAN, no qual mostrou intensificar os processos não radiativos. A frequência vibracional de grupos OH está na faixa de 2700 a 3500 cm-1 e a diferença de energia da transição 4I13/24I15/2 do Er3+ ~ 6600 cm

-1. Dessa maneira necessita de apenas dois fônons de OH, sendo então um processo muito eficiente para perdas não radiativas. Concluímos também, a perda por processos não radiativos através dos radicais OHpode ser intensificado quando se aumenta a concentração de dopante, uma vez que a alta concentração de Er3+ permite a migração de energia entre os íons, o que aumenta a transferência de energia para grupos OH, fazendo com que para altas concentrações o efeito seja mais intenso.

Através dos valores dos tempos de vida obtidos experimentalmente, τexp, e àqueles calculados através da teoria de Judd-Ofelt, τrad, verificamos que o valor do mostrou-se um pouco menor (~30 %) em relação ao τrad. Isto foi explicado devido ao fato que nos cálculos de Judd-Ofelt não são levados em conta os processos não radiativos, como os decaimentos multifônon intrínsecos da matriz.

Complementando nossas análises foram realizados estudos de alguns parâmetros, tais como Δλeff × σe m(λ) e τexp × σem(λ), utilizados como figura de mérito para análise do potencial de aplicação de materiais dopados com Er3+ em amplificadores ópticos. E de acordo com os valores encontrados para o vidro PAN dopado com Er3+, vimos que este vidro fosfato pode vir a ser um possível candidato para atender os requisitos exigentes para aplicações ativas em dispositivos ópticos.