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Todo o aparato teórico e metodológico descrito na seção anterior resultou em instrumento de coleta organizado em diferentes módulos: 1) características dos domicílios e seu entorno, ambiente, riscos e perigos, 2) dados sócio-demográficos gerais, 3) mercado de trabalho para os maiores de 10 anos, 4) mobilidade espacial do chefe do domicílio, 5) família e comunidade, 6) saúde e 7) educação.

A montagem do questionário para aplicação, na pesquisa domiciliar, foi definida em reuniões gerais com todos os pesquisadores envolvidos nos sete módulos e a coordenação da pesquisa e reuniões específicas dos pesquisadores responsáveis pelo módulo Educação.

Nas reuniões gerais ocorreram vários debates sobre a forma e as condições de operacionalizar o aparato conceitual e os mecanismos empíricos do modelo de vulnerabilidade sócio-demográfica. Evidentemente, durante esse processo, que envolvia 39 pesquisadores de distintas áreas do conhecimento e com diferentes orientações e formações

teóricas, várias discussões sobre a pertinência e a factibilidade de realizar a contento os objetivos da pesquisa foram desenvolvidas.

Por isso, o resultado foi um questionário bastante abrangente (o que se alia a perspectiva multidimensional do conceito de vulnerabilidade empregado), e ainda buscando:

[...] em todos os módulos avançar em relação às fontes secundárias disponíveis e proporcionado nos quesitos coletados a inclusão de informações inovadoras e pouco comuns em levantamentos desse tipo, tais como: características do entorno dos domicílios, incluindo acessibilidade a serviços públicos, percepções sobre riscos e perigos, mobilidade intra- urbana, estratégias familiares e relações de gênero, capital social, participação dos pais nos estudos de crianças, acesso a serviços de saúde etc. (CUNHA et al., 2009)

Nas reuniões específicas, as decisões, sobre as questões que compuseram a versão final do questionário do módulo de educação, se pautavam em identificar qual seria a melhor forma de apreender os dados necessários ao atendimento do problema de pesquisa apresentado, e para tal, alguns procedimentos foram adotados;

- Revisão dos dados, disponíveis em fontes secundárias, sobre o tema, principalmente Inep, IBGE e SEADE;

- Descrição de segmentos que seriam objeto da pesquisa, tanto na organização dos grupos etários (crianças, jovens, adultos...) e sua articulação com os níveis e modalidades de ensino (infantil, fundamental, médio...), quanto na forma como se estabelece a relação entre os envolvidos com a construção do capital social (relação pais e filhos, professores e pais, diretores e pais...).

Estas decisões foram, a todo o momento, mediadas pelas reuniões gerais que possibilitavam a articulação de preocupações comuns e distintas e a formatação final que deveria atender requisitos exigidos para este tipo de instrumento (segmentação das perguntas, duração do questionário, orientação aos aplicadores, teste...).

Os segmentos para a área de Educação, no questionário, ficaram assim organizados em seus objetivos:

Quadro 1 – Objetivos traçados para compor as questões da área de Educação na pesquisa Vulnerabilidade.

Módulo 2 do questionário Características da formação escolar e de outras atividades educativas da população das regiões pesquisadas.

Módulo 7 do questionário Relação Família – Escola Ensino Fundamental

- O papel dos pais (participação) no acompanhamento da vida escolar dos filhos; - O papel que a escola atribui aos pais no processo formativo;

- O conhecimento da formas associativas e colegiadas de participação dos pais no sistema educacional;

- As deficiências de infraestrutura da escola. Ensino Médio

- O incentivo a cursar o Ensino Médio em um contexto de não universalização. Escola Pública

- Avaliação da escola pública

A suposição trabalhada como problema de pesquisa, na montagem do questionário, fundamentava-se nas constatações de que uma maior atenção dos pais em relação à vida escolar de seus filhos (acompanhar a lição de casa, incentivar os estudos, conhecer os profissionais da escola...) gera melhores resultados educacionais; tal qual, revelavam pesquisas educacionais, fossem elas nacionais ou internacionais, realizadas desde a década de 70 do século passado, como por exemplo, aquelas de Bonamino et al (2010); Nogueira

et al (2009); Resende et al (2009).

Estas explicações são importantes, pois orientam o enfoque do problema apresentado no início do capítulo e se conformaram no módulo Educação da pesquisa direcionando as opções teóricas metodológicas, ora em desenvolvimento na tese, das quais apresentaremos alguns resultados neste texto.

O problema de pesquisa, colocado aos pesquisadores envolvidos no módulo Educação, pode ser descrito da seguinte forma: Há uma série de estudos, na área educacional, e uma quantidade significativa destes estudos apoiados pelo Inep, secretarias estaduais e municipais de educação com objetivo de orientação de políticas, principalmente a partir dos anos 90 do século XX, tendo como metodologia relacionar fatores associados a características físicas, sociais e culturais da comunidade escolar (estudantes, profissionais da educação e pais) às inúmeras avaliações de aprendizagem sistêmica que desenvolviam, no mesmo, período no país.

Estes estudos utilizam como fontes de dados, para análise dos fatores associados, os próprios questionários agregados a estas avaliações de aprendizagem, os dados censitários do IBGE, do Censo Escolar e as pesquisas de amostragem realizadas pelo governo federal e pelos estados. Estas informações trazem, para a análise, elementos importantes para caracterizar o capital físico associado às redes escolares (toda a infraestrutura física da escola), características da gestão escolar (forma e relação da atuação dos profissionais da educação), características do capital humano (geralmente se constitui em uma aproximação da relação escolaridade x renda ou empregabilidade), características do capital cultural (geralmente associado aos aspectos de formação, hábitos e infraestrutura cultural disponibilizados pelas famílias aos filhos estudantes) e, finalmente, características do capital social (ligadas geralmente à relação formal de encontros e participações da família na sua relação com a escola e a comunidade).

Notamos que estas características, geralmente utilizadas para construção dos fatores associados à aprendizagem escolar, para além do campo mais restrito do processo ensino- aprendizagem, pouco valorizam as decisões educacionais das famílias, as diferentes inter- relações entre as famílias e as escolas; que não acontecem, necessariamente, na formalização de encontros (as tradicionais reuniões escolares), carecem também, de um olhar da família para a escola e não o inverso.

Esta ausência pode ser justificada pela dificuldade metodológica, empírica e operativa da construção, captação e interpretação destas variáveis, considerando ainda o alto custo financeiro de levantamentos de pesquisa que possam subsidiar esta proposição, já que ela não é atendida pelas principais fontes secundárias (Censo, PNAD, Censo Escolar e demais avaliações do INEP).

Outra dificuldade é a articulação dos referenciais teóricos da tradição da sociologia da educação, iniciada por Durkheim, que busca inserir o tema educacional como campo de conhecimento pertinente à sociologia e, portanto, das relações sociais, que se articula com os campos pedagógicos e psicológicos para conformar as Ciências da Educação. É com este intuito que o capítulo 1 da tese se desdobra para traçar um inventário teórico e metodológico que possa dar suporte ao desafio proposto.

Este problema de pesquisa apresentado traduz-se nas opções de questões que compuseram o questionário do módulo Educação, aplicado na pesquisa domiciliar, buscando dimensionar a educação como importante ativo e catalisador de oportunidades dos capitais físico/financeiro, social, cultural e humano nas relações entre família e escola, e que pode potencializar os objetivos de aprendizagem inerentes a área educacional para compor com as demais áreas de conhecimento da pesquisa Vulnerabilidade, um fator explicativo para o conceito de vulnerabilidade social.

Uma vez elaborado, o questionário (sete módulos) foi aplicado, ao longo do segundo semestre de 2007, tendo abrangido um total de 3.419 domicílios pesquisados e 10.663 pessoas, considerando as regiões metropolitanas de Campinas e Baixada Santista. Na RMC foram pesquisados 1.823 domicílios, que podem ser expandidos como representativos de toda a região.

As entrevistas foram preferencialmente respondidas pela cônjuge ou mulher responsável pelo domicílio já que estas, dada a natureza e a diversidade das perguntas, supostamente estariam mais aptas a responde-las. O tempo médio de aplicação do questionário foi de 50 minutos.

Conforme descrito em Cunha et al. (2009):

O desenho amostral da pesquisa domiciliar foi concebido de maneira a que a mesma fosse representativa não apenas para a Região Metropolitana (RM) como um todo, mas também em nível de estratos homogêneos concebido segundo os lineamentos teóricos estruturantes do projeto, ou seja o conceito de vulnerabilidade. O plano amostral adotado considerou a estratificação da população a partir das zonas de vulnerabilidade e o sorteio das entrevistas foi realizado em dois estágios, sendo o primeiro deles representado pelas áreas de ponderação e setores censitários correspondentes a cada uma das zonas e o segundo os domicílios correspondentes a serem visitados. Estes últimos foram sorteados com base numa lista nominativa realizada a partir de um processo de arrolamento de cada um dos setores censitários sorteados. Em média, foram entrevistados 15 domicílios em cada um dos setores censitários sorteados, totalizando um número superior a 400 questionários para cada zona de vulnerabilidade determinada. A amostra, portanto, foi organizada e planejada de maneira a fornecer dados com representatividade estatística tanto em nível regional, quanto em nível das zonas de vulnerabilidade. É importante frisar, no entanto, que as entrevistas foram realizadas apenas em domicílios urbanos, implicando que as informações disponíveis

nesse sumário e no banco de dados gerados pela pesquisa dizem respeito apenas à população urbana da região metropolitana. De qualquer forma, deve-se lembrar que a porção rural da área abrigava, em 2000, apenas 2,93% da população total.

Importante destacar que, para cada módulo, a(o) respondente prestava informações sobre os membros do domicílio de forma diferenciada: No módulo 1 - Características do Domicílio, do Entorno e Percepção Ambiental - além das características do domicílio preenchidas a partir da observação do pesquisador, as perguntas foram feitas à respondente para que ela expressase opinião sobre os temas abordados. Nas questões sobre cultura e lazer a(o) respondente indicou respostas sobre ações dos membros da família divididos em faixas etárias (jovens, adultos e idosos).

No módulo 2 - Características Sociodemográficas Gerais da População – a(o) respondente informou sobre as características de cada um dos membros do domicílio, o que possibilitou as informações individuais sobre a população amostrada. No módulo 3 - Trabalho e Rendimentos (para pessoas de 10 anos e mais) - foram aplicados questionários para cada pessoa acima de 10 anos (PIA) do domicílio. No módulo 4 - Mobilidade Espacial - foram feitas perguntas às(aos) respondente sobre o responsável pelo domicílio (RD). Tal responsável não se tratava necessariamente da pessoa respondente, como dissemos, geralmente, a mulher do domicílio, mas o(a) RD era determinado por ela(e).

Para o módulo 5 - Família e Comunidade - as respostas indicavam a opinião da(o) próprio respondente sobre os temas tratados e, muitas vezes, uma declaração sobre a posição do cônjuge a respeito dos mesmos temas. No módulo 6 – Saúde – a(o) respondente prestou informações sobre a saúde de todos os membros do domicílio de forma geral, sobre aqueles que utilizaram o serviço de saúde ou são portadores de alguma enfermidade específica. No módulo 7 – Educação - geralmente a mãe, que possuía filhos no Ensino Fundamental ou Médio, é que participou como respondente. Quando possuía mais de um filho nesta condição, ela respondia de forma geral para todos ou para aquele que se encaixava na característica da pergunta formulada.

A elaboração do questionário propiciou uma série de reflexões sobre o alcance do aporte teórico e metodológico implementado na pesquisa o que possibilita, neste momento, uma caracterização dos domicílios entrevistados de modo que possíveis classificações e

conceitos sejam confrontados, gerando novas possibilidades analíticas, para os passos seguintes da pesquisa33.