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Morfologia, biologia e visitantes florais de três espécies de Lantana

(Verbenaceae) no Parque Estadual

intervales, Ribeirão Grande–SP

Dariene de lima Santos1

Kelve Franklimara Sousa Cézar2

natália Seneda Martarello3

as interações entre polinizadores e plantas, podem proporcionar a algumas an- giospermas, maior eficiência na polinização cruzada, possibilitando novas combina- ções genéticas, que possivelmente podem permitir a evolução de suas populações (JanzEn, 1980; BarrETT, 2010).

a polinização é um tipo de mutualismo clássico, onde as plantas fornecem aos visitantes florais uma recompensa, e os polinizadores por sua vez facilitam a repro- dução das mesmas, através da dispersão do pólen em plantas da mesma espécie. Contudo, este mutualismo pode ser substancialmente alterado em espécies com co-floração, visto que estas frequentemente compartilham polinizadores, levando muitas vezes a competição por polinização ou ao processo de facilitação quando as espécies atraem grande número de polinizadores para aumentar a eficiência de polinização (MiTCHELL et al., 2009, BarrOs, 2002).

na competição o compartilhamento de visitantes pode reduzir a eficiência da polinização em alguns casos, pois a visita a flores de diferentes espécies de plantas, pelas mesmas espécies de polinizadores em um curto intervalo de tempo, pode le- var a um decréscimo na taxa de visitas às flores de cada espécie (WasEr, 1978 a, b; WasEr; FUgaTE, 1986; FisHBEin; VEnaBLE, 1996). no entanto no processo de fa- cilitação a floração sincronizada de espécies diferentes pode auxiliar a polinização através do aumento da densidade de recursos para a atração de polinizadores locais (sCHEMsKE, 1981; saKai et al., 1999).

Facilitação é uma interação positiva em que espécies de plantas se beneficiam da presença uma da outra, aumentando o fitness individual de pelo menos uma das espécies por meio do recurso compartilhado (HOLMgrEn et al., 1997). Os pa- drões de coexistência se baseiam no prognóstico de que a competição por recursos limitados é a força dominante que regula a diversidade de espécies (siLVErTOWn, 2004; giaCOMini, 2007). Contudo espécies em simpatria muitas vezes florescem em uma mesma época, levando ao aumento da disponibilidade de recurso floral ao redor do indivíduo, o que influencia positivamente a taxa de visita e a diversida- de de polinizadores, e seus níveis de polinização e sucesso reprodutivo (BrOWn; KOdriC-BrOWn, 1979; WasEr; rEaL 1979; FEinsingEr et al., 1991; CaLLaWaY, 1995).

O gênero Lantana pertence à família Verbenacea e nele estão inclusas plan- tas herbáceas e arbustos, que podem atingir até 2 m de altura (JOLY, 1993), po- pularmente conhecidas pelos nomes de “chumbinho”, “camará”, “cambará”, “ bem-me-quer” e “mal-me-quer”. são plantas que habitam locais bem iluminados por radiação solar também chamadas de heliófilas, bastante resistentes a podas, pouco exigentes em solo e florescem praticamente durante todo o ano, sendo mui- tas vezes utilizadas como plantas ornamentais, devido à beleza de suas flores (ran- JHan; PaTHaK, 1992).

Observações prévias realizadas no Parque Estadual de intervales indicaram coe- xistência e marcante sobreposição das épocas de floração das espécies de Lantana, sendo este gênero, portanto, uma importante ferramenta para analisar as relações entre plantas e polinizadores de espécies coexistentes e de floração sincrônica.

desta forma, esse estudo objetivou averiguar a morfologia, biologia floral e os visitantes florais de três espécies de Lantana: Lantana radula swartz, Lantana tri-

folia Linnaeus e Lantana camara Linnaeus, para responder as seguintes perguntas:

1) a morfologia das flores difere entre as espécies?; 2) a biologia foral das espécies apresenta diferença?; 3) as espécies compartilham os mesmos visitantes florais? e 4) Caso haja relação entre a biologia floral e compartilhamento de visitantes florais e /ou polinizadores, que estratégia é utilizada por essas espécies?

Material e Métodos

Área de estudo

O estudo foi realizado no Parque Estadual intervales (PEi), município de ribeirão grande/sP (24º16’s, 48º24’W), de 16 a 19 de dezembro de 2014. a região está entre 60 e 1.100m de altitudes e comporta vegetação de Mata atlântica e situa-se nos domínios da Floresta Ombrófila densa submontana (iBgE, 1991). a região apresenta clima do tipo Cfa de acordo com o sistema de Köeppen (sETzEr, 1966). Estudos de Morellato; Haddad (2000) apontam um clima tropical superúmido, sem períodos de déficit hídrico e com chuvas o ano todo, com precipitação média anual de 4.000 mm sendo a estação mais chuvosa de setembro a março com precipitação acima 250 mm (MOrELLaTO et al., 2000).

Foram observadas três espécies focais pertencentes ao gênero Lantana (Verbe- naceae): L. radula, L. trifolia e L. camara. Observações prévias no campo indicaram uma possível relação de coexistência entre L. radula e as demais espécies em ques- tão, dessa forma, foram realizadas observações das espécies ocorrendo de forma isolada e em associação a L. radula (tab. 1). Os indivíduos isolados (n=3) e associa- dos (n=3) foram selecionados no decorrer das estradas do parque, mantendo uma distância de pelo menos dez metros entre um indivíduo e outro.

EM ASSOCiAçãO iSOLAdA

L. radula + L. trifolia L. radula

L. trifolia

L. radula + L. camara L. camara

TABELA 1. Parâmetros de observações nas diferentes espécies de Lantana ocorrendo em associação e de forma isolada no Parque Estadual de intervales–sP, Brasil em 2014.

Morfologia e Biologia Floral

Para o estudo da morfologia floral, foram avaliadas 20 flores de cada espécie em campo, e as mesmas foram coletadas e analisadas no laboratório, onde foram dis- secadas e os caracteres morfológicos avaliados com o auxílio de estereomicroscó- pio. Com um paquímetro digital foram feitas medições morfométricas referentes ao comprimento e diâmetro do tubo floral, diâmetro longitudinal e ventral (do tubo floral) e diâmetro interno (do tubo floral) (Fig. 1).

FiguRA 1. Parâmetros morfométricas observados em cada uma das espécies de Lantana. (1)

comprimento, (2) diâmetro do tubo floral, (3) diâmetro longitudinal, (4) diâmetro ventral, (5) diâmetro interno.

Para a realização do estudo da biologia floral, flores em pré-antese das três es- pécies de Lantana foram isoladas com saco de tecido voil. Para a determinação do horário da antese e da longevidade das flores, foram realizadas observações no período de 6:30h às 18:00h, durante três dias consecutivos. a receptividade es- tigmática foi verificada no campo, em intervalos de duas horas, antes e depois da antese, utilizando peróxido de hidrogênio (daFni, 1992), e observando-se a reação com auxílio de uma lupa de mão, foi verificado também o horário de deiscência das anteras.

a viabilidade polínica foi estimada por meio da avaliação do pólen em flores abertas. O pólen retirado imediatamente após a coleta das flores (pela manhã) foi colocado em lâminas de microscopia com adição de solução aquosa a 2% de carmim acético e acompanhado por 24h (radFOrd et al., 1974). Os grãos viáveis ficam corados. Foi feita a contagem de 100 grãos de pólen por lâmina e registrada a proporção de grãos corados e não corados.

Para determinação do volume de néctar e da concentração de açúcar, foram realizadas extrações em intervalos de duas horas, no período de 08h00min às 18h00min, utilizando-se tubos microcapilares graduados em 5μL, tubo de Borosili- cado e refratômetro portátil Brix 0-32%.

Visitantes florais

Foram realizadas observações dos visitantes florais no período das 07h00min às 18h00min, durante três dias consecutivos totalizando 2370 minutos de observa- ção. Foram observados os animais visitantes, horário e duração das visitas, número de inflorescências visitadas, frequência e comportamento apresentado durante a visita. não foram feitas coletas dos indivíduos apenas registros fotográficos e filma- gens de vídeo das visitas para posterior descrição do comportamento dos visitantes nas flores. a identificação dos visitantes foi realizada com o auxílio de especialistas através das fotografias e vídeos registrados durante o estudo.

Resultados