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O Parque Estadual intervales–SP, o topo do maior anfiteatro da

Mata atlântica

Dr. Danilo Boscolo1

as serras de Paranapiacaba e de itatins constituem a vertente norte da bacia hidrográfica do rio ribeira de iguape. Juntamente com a serra do Mar, compõem um único conjunto: o planalto de Paranapiacaba/itatins/serra do Mar, que está dis- secado em um amplo anfiteatro erosivo que recuou suas escarpas até uma centena de quilômetros do litoral sul paulista (raMaLHO; HaUsEn, 1975). O tombamento do conjunto das serras do Mar e de Paranapiacaba foi instituído pelo COndEPHaaT (sÃO PaULO, 1985), compondo importante corredor biológico. Com uma superfí- cie aproximada de 1.300.000 ha, inclui esporões, morros isolados, ilhas e trechos de planícies litorâneas. Todo este conjunto regional apresenta grande valor geológi- co, geomorfológico e hidrológico e abriga os maiores remanescentes da cobertura florestal original da Floresta atlântica em território brasileiro. Por sua relevância, o contínuo ecológico integra a reserva de Biosfera da Mata atlântica, reconhecida internacionalmente como um dos 25 hotspots de biodiversidade mundial (MYErs et al., 2000) e um dos sítios do Patrimônio Mundial natural (UnEsCO, 1999). Todos esses fatores contribuíram para que a região fosse selecionada para a realização da primeira edição do curso no sudeste do Brasil.

Em função da facilidade de acesso e estrutura instalada disponível, com alo- jamentos e salas adequadas para aulas e laboratórios, a comissão organizadora local decidiu que em 2014 a 10ª edição do Curso internacional de Campo sobre Polinização fosse realizada no Parque Estadual intervales (PEi), unidade de proteção integral pertencente ao sistema de Unidades de Conservação do Estado de são Pau- lo (sÃO PaULO, 1995). Com uma área total de 41.704 ha, o PEi localiza-se entre as coordenadas 24º31’03’’–24º11’’36’ s e 48º31’22’–48º3’13’’ W, com cerca de 229 km de perímetro, abrangendo parte dos municípios de ribeirão grande, guapiara, sete Barras, Eldorado e iporanga (FUrLan; LEiTE, 2008). a maior parte do parque (97%) corresponde à antiga Fazenda intervales (97%), de propriedade da Funda- ção Florestal, e o restante (3%) são terras devolutas.

O Parque Estadual intervales possui bases operacionais de gestão, monitora- mento e fiscalização, subdividas entre os setores na região da sede (sede adminis- trativa e bases Carmo, Pinheirinho, alecrim, Barra grande, Pedra de Fogo, Capinzal e Bulha d´água) e Vale do ribeira (bases saibadela, Quilombo, guapiruvu e Funil). O curso foi realizado na região do entorno da sede administrativa (Fig. 1), que ocupa cerca de 100 ha e corresponde a 1% da área total do PEi (BOLzani, 2008). nesta área encontram-se a maior parte da infra-estrutura para atendimento das ativida- des do Programa de Uso Público (Educação ambiental e Ecoturismo), os setores de administração e de serviços do Parque. Portanto, embora bastante antropizada, na área da sede os participantes do curso puderam usufruir do conforto de pousadas para hospedagem, restaurante e auditório para as atividades teóricas e em labora- tório; de trilhas em áreas naturais para as atividades de campo e atrativos turísticos adicionais (cachoeiras e cavernas) para os momentos de lazer.

O Parque Estadual intervales dispõe de Plano de Manejo, documento técnico que estabelece o seu zoneamento (Fig. 1) e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais. Elaborado de 2006 a 2008 (FUrLan; LEiTE, 2008), foi desenvolvido a partir de princípios, diretrizes e bases técnico-científicas que priorizaram, além do rigor científico, a mais ampla participação dos diversos atores sociais relacionados com o território do PEi e sua zona de amortecimento. nesse contexto, a síntese dos elementos da paisagem e da biodiversidade na região da sede administrativa do PEi baseou-se na sistematização de informações conti- das, em sua maior parte, nesse documento.

FiguRA 1. Localização e entorno do Parque Estadual intervales, com destaque ao zoneamento do Plano de Manejo do PEi. a: Localização do PEi no Estado de são Paulo; B: detalhe da zona de uso intensivo com destaque (estrela azul) para a sede do PEi, onde foram realizadas as atividades do curso. Modificado de

Mantovani et al.,. (2008).

Clima

O clima do Parque Estadual intervales foi caracterizado por galvani et al., (2008), com o uso de dados observados e registrados na estação meteorológica instalada

na sede do PEi (24º16’ s, 48º25’ W e 790 m de altitude). a precipitação média anu- al é de 1.721,7 mm (série de 1990 a 2004), com variações de máxima em janeiro (média 270,3 mm) e mínima em agosto (média 66,2 mm). as precipitações médias se intensificam em setembro e outubro, contudo o mês de novembro apresenta ligeira redução em seus totais médios mensais. a variação sazonal das precipitações indica sazonalidade bem definida para a região, com 68% do total de precipitação ocorrendo nos meses que compreendem as estações de primavera (outubro a de- zembro) e verão (janeiro a março). Os demais totais de chuva estão distribuídos nas estações de outono (14,3%) e inverno (17,8%). a temperatura média anual é de 18,4 ºC (série de 1996 a 2005), com temperaturas médias mais elevadas em feverei- ro (22,0 ºC) e mais baixas em julho (14,3 ºC). Percebe-se uma sazonalidade bastante definida, com seis meses do ano (abril a setembro) com valores abaixo da média e seis meses do ano (outubro a março) com temperaturas acima da média.

Hidrografia

a maior parte dos cursos d´água presente no interior do Parque Estadual intervales pertence a duas grandes bacias hidrográficas: a do rio Paranapanema e a do rio ribeira de iguape. Praticamente toda a área do PEi é drenada em direção ao rio ri- beira de iguape, apenas uma pequena porção, à noroeste, contribui para a bacia do rio Paranapanema. É justamente nesta região de exceção que está situada a sede administrativa, nas cabeceiras do Paranapanema. a Bacia Hidrográfica do rio Para- napanema integra as sub-bacias do rio são José do guapiara, rio das almas, alto rio Paranapanema e rio guapiara (rOdrigUEs et al., 2008). Todas essas sub-bacias têm suas nascentes e cursos superiores e médios fora dos limites do Parque, inseri- dos na sua zona de amortecimento. representam áreas cujo manejo e preservação são essenciais para a manutenção do equilíbrio ambiental do PEi. de maneira geral, nas cabeceiras e porções superiores das sub-bacias da vertente do Paranapanema predomina o padrão de drenagem dendrítico, adaptado às direções estruturais nas áreas de litologias associadas a granitos e filitos, e, secundariamente, apresentando padrão de drenagem anômalo, associado aos calcários. Os vales apresentam-se geralmente bastante entalhados e a densidade de drenagem varia de média a alta.