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CAPS III – municípios com população acima de 200.000 habitantes

Mapa 7: Mortalidade por transtornos mentais no Brasil 2009-

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As autocorrelações espaciais dos suicídios e dos transtornos mentais para o triênio 2009-2011 também podem ser identificadas pelo coeficiente I de Moran, que aponta correlação positiva para ambas as causas básicas de mortalidade, como se observa nos Scatter Plots de Moran (Gráficos 5 e 6). O coeficiente I para os suicídios foi de 0,2494 (499 permutações e pseudo p-valor= 0,002), maior que o coeficiente por óbitos por TMC, que foi de 0,1749 (499 permutações e pseudo p-valor= 0,002).

Gráficos 5 e 6: Scatter Plots de Moran para as taxas médias de suicídios (esquerda) e

dos óbitos por transtornos mentais no Brasil, triênio 2009-2011.

Fonte dos dados: BRASIL, 2013 (MS/ DATASUS/ SIM); IBGE, 2012b (Censo 2010). Elaboração: Adeir Archanjo da Mota, 2013.

Após a descrição dos fenômenos estudados por microrregiões e por municípios, se observou as diferenças na distribuição espacial para o triênio 2009 a 2011. A análise das mortalidades por municípios focaliza as diferenças internas das microrregiões, pois complexifica a análise, e dificulta a modelização gráfica, mas permite a regionalização a partir dos resultados municipais.

Uma questão que emerge a partir da análise espacial das taxas baixas de mortalidade por suicídio e por transtorno mental no triênio 2009-2011 é quais as influências e os respectivos pesos da baixa densidade demográfica predominante, do silêncio epidemiológico e das relações sociedade-natureza e interpessoais que podem corroborar para o entendimento do processo saúde-doença mental no Brasil.

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1.3.1 – Regionalização do suicídio a partir de clusters municipais

O estudo com os dados mais desagregados possíveis enriquece a análise e possibilita maior aproximação da realidade; como se pode observar anteriormente, mas restringir a análise à microescala impõe limitações, como Gimarães (2005, p. 1024) analisa ao discutir os serviços de saúde no Brasil:

Se o processo de tomada de decisão no nível local deu maior concretude à política nacional de saúde, considerar o município isolado de seu contexto regional resulta num processo inverso do esperado. O município per si é uma mera abstração, uma vez que está inserido em diferentes formas de articulação escalar.

Uma forma de regionalizar o suicídio foi empreender a análise espacial de

agrupamentos, utilizando-se do método Moran local (LISA – sigla em inglês para

Local Indicators of Spatial Association). A partir da taxa municipal de suicídio para o período de 2009 a 2011, foram identificados os clusters alto-alto, alto-baixo, baixo-alto e baixo-baixo. O nível de significância empregado nesta análise espacial foi de 0,05 e 499 permutações.

Analisou-se os clusters de maior interesse, a saber: alto-alto, que evidencia os municípios de elevada taxa de mortalidade por suicídio com os municípios do entorno com elevada taxa; e, baixo-baixo, que destaca os municípios de baixa taxa de mortalidade com municípios limítrofes em situação semelhante. Os conceitos e as potencialidades relacionadas à aplicação do LISA e da análise espacial em saúde se fundamentou em Anselin (1993; 1995; 2005), Worboys, Hearnshaw e Maguire (1990), Maguire, Goodchild e Rhind (1991), Najar e Marques (1998) e Bailey (2001).

Os agregados municipais alto-alto e baixo-baixo se distribuem por todas as regiões do país (APÊNDICE A), o que demandou uma regionalização para compreender os fatores predisponentes nos contextos geográficos. Os agregados, de forma geral, se encontram circunscritos às regiões geográficas do IBGE, o que serviu de referência para distinguir cinco regiões com suicídio alto-alto e cinco regiões com suicídio baixo-baixo, como se pode observar no Mapa 8.

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a) Baixo-Baixo Amazônia, com 159 municípios da bacia amazônica, ocupando significativa extensão territorial brasileira;

b) Baixo-Baixo Brasil Central, com 39 municípios no Cerrado, com destaque para o Oeste baiano e o limite entre Goías e Tocantins;

c) Baixo-Baixo Oeste paulista, com 30 municípios;

d) Baixo-Baixo Litoral Sudeste, com 68 municípios, a maioria no litoral carioca e no nordeste mineiro; e,

e) Baixo-Baixo Litoral Nordeste, com 179 municípios, situados no litoral das unidades federadas do nordeste e no Cariri;

Mapa 8: Regionalização dos Clusters de Mortalidade por Suicídio no Brasil

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As regiões com suicídio alto-alto são:

a) Alto-Alto Semi-árido, com 34 municípios, situados em estados nordestinos – a maioria no leste do Piauí, nos limites estaudais Ceará-Piauí e

Pernambuco-Piauí, na Chapada do Apodi e no Seridó Potiguar – e no

centro e no sudeste de Tocantins;

b) Alto-Alto Arco Norte, com 4 municípios, dois no Amazonas e dois em Roraima), no contexto geográfico amazônico, municípios pouco populosos, com grandes extensões territoriais e com significativa proporção de povos indígenas;

c) Alto-Alto Mineiro, com 46 municípios, dos quais um na Bahia próximo a fronteira político-administrativa, um em São Paulo e a quase totalidade em Minas Gerais, com destaque para o centro-oeste mineiro;

d) Alto-Alto Sudoeste sul-matogrossense, com 16 municípios, todos situados na mesorregião geográfica Sudoeste de Mato Grosso do Sul, uma região caracterizada economicamente pela agropecuária e demograficamente pela densidade e diversidade de povos indígenas; e,

e) Alto-Alto Sul, com 239 municípios, situados no Rio Grande do Sul (184), no Oeste de Santa Catarina (48) e no quadrante sudoeste do Paraná.

Estes agrupamentos de municípios indicam a forte dependência espacial da mortalidade por suicídio no país, o que exigem: o entendimento do contexto geográfico para compreender o processo suicida; os fatores predisponentes e as medidas de mitigar tal processo. O cluster Alto-Alto Sul, também denominado de suicídio endêmico na região Sul do Brasil, será analisado no capítulo 3, na busca de apreender os fatores de risco e os fatores protetores, o que possibilitaram a comparação com o perfil sociodemográfico do suicídio no país.

Neste capítulo, se identificaram a distribuição espacial do suicídio e dos transtornos mentais no território, através das análises multiescalar e multitemporal, fundamentais para o entendimento da dinâmica dos fenômenos estudados. Devido a grande dimensão territorial do país, a multiplicidade cultural, a gestão tripartite do Sistema Único de Saúde, as diferenças sociais, econômicas e demográficas se faz necessária uma leitura mais “focalizada” do processo saúde-doença psicossocial nos diferentes contextos geográficos, como se discutiu no capítulo 2. Afinal, cada contexto geográfico possui uma dinâmica espacial própria. Desta forma, não há uma

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única explicação para o fenômeno. No próximo capítulo, se buscou compreender os fatores de risco ao suicídio através do perfil sociodemográfico. A análise deste perfil levou ao mapeamento dos fatores mais preeminentes, o que também contribui, em grande medida, para entender o resultado da dependência espacial encontrado neste subitem.

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CAPÍTULO 2

PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO E FATORES