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CAPÍTULO 3- A PENSÃO POR MORTE NO REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA

3.3. Antecedente normativo

3.3.1. Critério material

3.3.1.1. Morte

A morte traz uma série de efeitos jurídicos nas diversas áreas do direito.

Como exemplo de efeitos jurídicos da morte, na esfera cível, podemos mencionar: a extinção da personalidade jurídica; dissolução da sociedade conjugal; dissolução da comunhão de bens; extinção do dever de alimentos; transmissão dos bens aos herdeiros; extinção do usufruto.

No direito penal pátrio, a vida humana é tutelada no Capítulo I do Título I da Parte Especial do Código Penal. Assim, o direito penal prevê vários crimes qualificados pelo evento morte, como, por exemplo, o homicídio, o aborto, o infanticídio, o induzimento e a instigação ao suicídio. Evidentemente, é indispensável para a imputação penal a presença de dolo ou culpa na conduta do agente. Ademais, a morte do autor do crime acarreta a extinção da punibilidade, nos termos do art. 107, I, do CP, tendo em vista o princípio mors omnia solvit (a morte tudo solve).

A contingência morte, na Previdência Social, está consagrada no inciso V do art. 201 da CF nos seguintes termos:

“Art 201- A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:

(...)

V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependente, observado o disposto no parágrafo 2o.

Na esfera infraconstitucional do direito previdenciário, a Lei n. 8.213/91 garante o benefício pensão por morte aos dependentes nas hipóteses de morte real e morte presumida.

3.3.1.1.1. Morte real

O art. 74 da Lei n. 8.213/91 regulamenta a morte real da seguinte forma:

“Art 74-A pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do segurado que falecer, aposentado ou não, a contar da data (...)”.

A morte real é aquela decorrente do efetivo falecimento do segurado.

Durante muito tempo, a morte real foi conceituada como a cessação total e permanente de todas as funções vitais do ser humano.

Atualmente, o critério para estabelecer o conceito de morte real é o da morte encefálica, que se dá com a falência total e irreversível do sistema nervoso central.

A prova da morte real será feita mediante a apresentação da Certidão de Óbito ao Instituto Nacional de Seguro Social - INSS.

3.3.1.1.2. Morte legal ou presumida

Além da morte real, a pensão por morte é concedida aos dependentes na hipótese de morte presumida do segurado.

“Por morte presumida do segurado, declarada pela autoridade judicial competente, depois de (6) meses de ausência, será concedida pensão provisória, na forma desta Subseção.

Parágrafo 1o Mediante provado desaparecimento do segurado em conseqüência de acidente, desastre, ou catástrofe, seus dependentes farão jus à pensão provisória independente de declaração e do prazo deste artigo.

Parágrafo 2o Verificado o reaparecimento do segurado, o pagamento da pensão cessará imediatamente, desobrigados os dependentes da reposição dos valores recebidos, salvo-má-fé”.

Conforme se depreende do dispositivo legal aludido acima, temos duas modalidades de morte presumida, quais sejam: morte por ausência prolongada, mediante declaração judicial; e morte por desaparecimento em razão de desastre ou catástrofe.

A primeira modalidade de morte presumida ocorre quando uma pessoa desaparece de seu domicílio sem dar notícia de seu paradeiro e sem deixar um procurador para administrar-lhe os bens.

Vale ressaltar que a ausência disciplinada no caput do art. 78 da lei n. 8.213/91 não se confunde com a ausência regulamentada pelo Código Civil e Código de Processo Civil.

O instituto da ausência está previsto no art. 22 do Código Civil. Reza o art. 22 da lei em comento:

“Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador”.

A ausência disciplinada no Código Civil passa por três fases. A primeira é a fase da curadoria dos ausentes. Esta fase acontece logo após o desaparecimento e tem como escopo administrar o patrimônio do ausente.

Em seguida, a preocupação é o com os interesses dos sucessores, abrindo-se a sucessão provisória. Nesta fase os bens serão entregues aos herdeiros, mas em caráter provisório.

Na terceira fase, dez anos após a sucessão provisória, será aberta a sucessão definitiva, adquirindo os herdeiros o domínio dos bens. Caso o ausente regresse até dez anos da abertura da sucessão definitiva, o mesmo terá direito aos bens no estado em que se acharem.

Em relação à matéria previdenciária, a declaração de ausência do segurado tem como escopo assegurar meios indispensáveis de sobrevivência aos dependentes, tendo a prestação previdenciária natureza alimentar, ao passo que a ausência do direito civil visa resguardar os interesses do ausente e dos herdeiros em relação aos bens do desaparecido.

Ademais, para a decretação da morte presumida com fundamento no caput do art. 78 da Lei n. 8.213/91, exige-se a ausência do segurado pelo prazo superior de seis meses e decisão judicial que a declare, enquanto a ausência do Direito Civil não fixa prazo à fase inicial da curadoria dos ausentes.

A declaração judicial de ausência prolongada deverá ser requerida perante a Justiça Federal.

Tendo em vista a morosidade das ações judiciais e o caráter alimentar do benefício previdenciário pensão por morte, nada impede que seja concedida tutela antecipada declarando a ausência do segurado, desde que presentes os requisitos aludidos no art. 273 do Código de Processo Civil.

Ao contrário da ausência prolongada, a morte presumida em razão do desaparecimento do segurado em situação de desastre ou catástrofe não exige declaração judicial de ausência.

Assim, para fazer jus ao benefício previdenciário pensão por morte, os dependentes deverão provar administrativamente, perante o INSS, que o segurado se encontrava em acidente, desastre ou catástrofe.

Quanto à duração, as duas modalidades de pensão por morte presumida têm caráter provisório.

Dispõe o parágrafo 2o do art. 78 da Lei n. 8.213/91 que:

Parágrafo 2o “Verificado o reaparecimento do segurado, o pagamento da pensão cessará imediatamente, desobrigados os dependentes da reposição dos valores recebidos, salvo má-fé”.

Depreende-se da norma jurídica aludida acima que o reaparecimento do segurado acarretará a cessação do benefício previdenciário pensão por morte, porém os valores percebidos pelos dependentes durante o período de ausência não serão ressarcidos ao erário público, salvo se os beneficiários tiverem agido de má-fé.

No documento MESTRADO EM DIREITO PREVIDENCIÁRIO (páginas 49-53)

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