• Nenhum resultado encontrado

Motivação e Atitudes em relação ao aprendizado da Língua Portuguesa

Práticas de leitura e escrita

5.2 QUESTIONÁRIO

5.2.1 Motivação e Atitudes em relação ao aprendizado da Língua Portuguesa

contexto de ensino e aprendizagem.

5.2.1 Motivação e Atitudes em relação ao aprendizado da Língua Portuguesa

A primeira pergunta desta parte da pesquisa procura saber qual o grau de motivação dos participantes para aprender Língua Portuguesa a fim de se comunicar com as pessoas que usam essa língua. Nessa pergunta, as alternativas de resposta variam entre fraca (1) e forte (5) motivação, sendo que a maioria mostrou ter muita vontade de aprofundar os conhecimentos da LP para conseguir interagir com os usuários dessa língua. Nas entrevistas, essa posição ficou bastante evidente, sendo que os surdos relataram a necessidade aprender a segunda língua para se comunicarem com os colegas e com a família, uma vez que eles são a minoria linguística na maioria dos lares no Brasil. Apesar de reconhecerem a Libras como primeira língua, possuem a consciência que o conhecimento da modalidade escrita da segunda língua pode oportunizar a comunicação com aqueles que vivem à sua volta e também auxiliar nas atividades rotineiras.

Gráfico 2: Motivação para aprender Língua Portuguesa

A motivação expressa pelos participantes na primeira pergunta está diretamente atrelada à forma como eles se relacionam com as pessoas que usam a Língua Portuguesa como primeira língua, pois quando foram questionados sobre a atitude em relação essas pessoas, os participantes não apresentaram respostas negativas (1 – Desfavorável e 5 – Favorável). De modo geral, os alunos demonstram não possuir nenhuma resistência em relação aos falantes da LP como primeira língua, indo ao encontro do posicionamento de Cummins (1983), sobre a importância de se ter atitudes positivas com os usuários da

segunda língua, pois isso pode proporcionar maior interesse aos aprendizes da segunda língua e identificação com ambas as culturas. Gráfico 3: Atitude com as pessoas que usam Língua Portuguesa

O posicionamento dos participantes frente aos usuários da segunda língua representa as atitudes positivas dos surdos diante da

Língua Portuguesa e elas são movidas pelas experiências vivenciadas por tais sujeitos no ambiente familiar e escolar. As atitudes dos aprendizes estão diretamente relacionadas ao aspecto motivacional e ao interesse no aprendizado da segunda língua. Nesse sentido, a próxima pergunta corrobora com tal afirmação, pois mostra que os alunos demonstram um interesse muito alto (5) no aprendizado da segunda língua, tendo 60% das respostas esse elevado índice de aprovação.

Gráfico 4: Interesse no aprendizado da Língua Portuguesa

Os dados indicam que há por parte dos surdos muita vontade em aprofundar os conhecimentos na segunda língua e nenhum tipo de resistência ou desinteresse. Esse posicionamento mostra que a Língua Portuguesa está sendo vista de forma positiva, sem os estereótipos que circundaram a educação dos surdos durante muito tempo. O interesse em alcançar determinado objetivo é o que motiva os aprendizes de uma segunda língua e influencia as suas ações, inclusive na relação com o professor de Língua Portuguesa, como pode ser observado no gráfico abaixo:

Gráfico 5: Atitude em relação ao professor de Língua Portuguesa

As respostas variaram um pouco, mas a atitude positiva predominou entre os participantes, sendo que cinco deles têm atitude muito favorável (opção 5) com o professor de Língua Portuguesa. O papel do docente na promoção da motivação e no interesse dos alunos foi alvo de um estudo realizado na Suíça, o qual mostrou que os professores influenciam diretamente no aprendizado da segunda língua (RYDÉN, 2015).

Nunan (1991) afirma que a interação entre professor e aluno é fundamental para uma prática metodológica sólida. Além do mais, o professor é responsável não somente pela organização da sala de aula, mas também pelo desenvolvimento linguístico dos alunos, pois em muitos casos, ele é a principal referência para esses indivíduos. Os surdos se enquadram nessa situação, pois, muitas vezes, encontram no contexto escolar e nos professores a única alternativa de interação com a língua de sinais e a segunda língua.

Pode-se afirmar que a atitude positiva dos alunos em relação ao professor de Língua Portuguesa está estreitamente relacionada ao fato desse profissional ser usuário da Língua Brasileira de Sinais. Eles não escondem a satisfação de ter uma interação direta com o professor, sem a intermediação do intérprete, o que acaba afetando a forma como eles enxergam o professor de LP. Quando isso não acontece, há um distanciamento entre professor e aluno e, consequentemente, uma negação daquele que deveria ser, em quaisquer circunstâncias, o responsável pelo processo de ensino e aprendizagem em sala de aula.

Como sabemos, as pessoas buscam o aprendizado de uma segunda língua por diferentes motivos, entre eles, para fins práticos. Os participantes surdos reconhecem que aprender a Língua Portuguesa é

fundamental para conquistar alguns objetivos, como conseguir um bom emprego, cursar uma faculdade, conseguir se comunicar com os ouvintes. Entre as opções de resposta, 60% demonstrou que possui forte (5) motivação para aprender a segunda língua para fins práticos, enquanto nenhum escolheu a alternativa que indicava fraca motivação (1). Gráfico 6: Motivação para aprender Língua Portuguesa para fins práticos

Rydén (2015) encontrou em sua pesquisa, dados semelhantes quanto às razões que motivam os alunos surdos a aprenderem uma língua na modalidade escrita. Segundo o autor, eles buscam o aprendizado do inglês escrito para estudar, trabalhar no exterior, conseguir comunicar-se nas viagens ao redor do mundo e compreender as informações.

Essa afirmativa demonstra que o aprendizado da Língua Portuguesa ultrapassa a sala de aula, assim como a preocupação com a escrita dessa língua. A partir das respostas dos alunos na próxima pergunta, constata-se que surdos usam a segunda língua em diversos espaços, além da instituição escolar, e o cuidado com a escrita adequada também se faz presente nesses outros contextos. Como vimos na questão anterior, os participantes pretendem conhecer profundamente a Língua Portuguesa para se comunicar da melhor maneira com as pessoas que desconhecem a língua de sinais. Nesse sentido, o desejo de ser entendido desperta a apreensão dos surdos e a busca constante por produções que sejam compreensíveis. O gráfico abaixo demonstra que todos os alunos se preocupam com a escrita da Língua Portuguesa fora do contexto escolar (1: pouco – 5: muito):

Gráfico 7: Sentimento em relação à escrita da Língua Portuguesa fora da sala de aula

Apesar de apresentarem opiniões diferentes, percebe-se que há preocupação dos participantes quanto ao registro da segunda língua. As entrevistas complementam essa resposta, visto que os alunos não esconderam que desejam aprender cada vez mais LP para conseguir se comunicar com os ouvintes, pois sentem dificuldades para se expressar e entender textos mais complexos. Pode-se inferir, partindo também da entrevista, que esse temor com a escrita está mais relacionado aos aspectos estruturais da língua, como o uso inadequado de verbos e ordem das palavras, o que acaba ocasionando certo constrangimento na comunicação cotidiana. Todavia, a preocupação dos alunos não impede que eles se sintam motivados para aprender a segunda língua, muito pelo contrário, já que metade dos participantes apontou a opção muito alta (5) quanto à motivação para aprender Língua Portuguesa.

Gráfico 8: Motivação para aprender Língua Portuguesa

A motivação é determinada pela expectativa, interesse e atitude dos aprendizes com a língua alvo e seus usuários. Logo, os resultados vistos até este momento justificam o elevado grau de motivação dos surdos para aprender a Língua Portuguesa, tendo em vista a atitude positiva perante a segunda língua e seus usuários, o desejo de aprofundar os conhecimentos inerentes à LP e a preocupação com a apropriação da escrita. Apesar dos desafios enfrentados no aprendizado da escrita, os participantes demonstram um posicionamento favorável à segunda língua em vários aspectos, o que impacta significativamente na sua motivação. Embora demonstrem sensatez quanto à forma de lidar com a segunda língua, seus usuários e outras questões inerentes a esse aprendizado, os surdos mostram que a preocupação com o registro escrito também se faz presente durante as aulas de Língua Portuguesa. Anteriormente, os participantes mostraram que esse receio também é comum fora do ambiente escolar, mas que nas aulas voltadas para o ensino da segunda língua, essa preocupação fica mais evidente.

Dos dez participantes da pesquisa, pelo menos oito demonstraram se sentirem preocupados com a apropriação da escrita nas aulas da Língua Portuguesa (1. Pouco – 5. Muito).

Gráfico 9: Relação com a escrita nas aulas de Língua Portuguesa

Há dois tipos de motivação imbricados no processo de aprendizagem da segunda língua por surdos. Em muitos momentos, o desejo pela apropriação da Língua Portuguesa é algo que parte dos alunos (motivação intrínseca) e em outras ocasiões, percebe-se a influência de diversas pessoas na promoção da motivação dos participantes. Nesses casos, as famílias exercem um papel fundamental, pois as suas atitudes podem corroborar com o pensamento dos surdos em relação ao aprendizado da LP. Nas alternativas abaixo, os alunos poderiam variar entre (1) pouco incentivo da família e (5) muito incentivo.

Gráfico 10: Incentivo dos pais no aprendizado da Língua Portuguesa

A forma como a família lida com o aprendizado da Língua Portuguesa pode influenciar diretamente na motivação desses aprendizes. A única pessoa que mostrou ter pouco incentivo dos pais foi a participante surda filha de pais surdos. No momento da entrevista, ela havia relatado

a dificuldade dos pais com a Língua Portuguesa, o que talvez esteja relacionado ao fato de os pais terem vivenciado um outro momento histórico na educação de surdos e outras experiências linguísticas em relação ao aprendizado da segunda língua, tendo em vista que por muito tempo, o ensino da Língua Portuguesa partia como uma imposição dos ouvintes, dentro de uma perspectiva de bilinguismo dominante.

Conforme discutido na parte teórica desta tese, as atitudes linguísticas que são construídas por meio das relações familiares são mais resistentes às mudanças e elas podem refletir no fator motivação. No caso da aluna surda filha de pais surdos é possível ver atitudes positivas em relação à língua, especialmente porque a língua de sinais começou a ocupar o mesmo espaço na sala de aula. No entanto, é visível que a família ainda tem certa resistência quanto ao aprendizado da Língua Portuguesa.

Por outro lado, os outros participantes, todos filhos de pais ouvintes, mostraram que possuem incentivo da família para aprendizado da Língua Portuguesa. Ao mesmo tempo que tal estímulo é positivo para os aprendizes, percebe-se que por trás dessa preocupação, ainda perdura a ideia de que os surdos precisam aprender a Língua Portuguesa para estarem inseridos em uma sociedade onde as relações são estabelecidas predominantemente por essa língua majoritária. Nas entrevistas, os participantes relataram que os pais se sentiam aflitos com os erros cometidos por eles e, por isso, incentivavam o aprendizado da segunda língua. A participação dos pais é essencial para o desenvolvimento das crianças surdas, ainda mais em relação ao desafio que é aprender a Língua Portuguesa. No entanto, é preciso ter em mente que a segunda língua só poderá ser consolidada se a criança tiver acesso à língua de sinais para desenvolver a aquisição da linguagem.