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TRÊS VISÕES SOBRE A QUESTÃO

Espaço 7 Ofícios – pertence ao Centro de Paralisia Cerebral Calouste Gulbenkian Este espaço foi criado em 1987, com o objectivo de promover acções no sentido de

2. A visão dos técnicos

2.2. Motivação para o programa

A análise da “motivação” que os técnicos tinham em relação ao programa, resultou em duas sub-categorias: percepção dos problemas e a necessidade de mudança.

A “percepção dos problemas” foi referida como um elemento fundamental para existir motivação. É sabido que, quando se está motivado a percepção de problemas é mais elevada, devendo a motivação ser constante e persistente para as pessoas estarem bem seguras, na altura da resolução dos problemas. Segundo, E1 “(…) as auxiliares devem entender porque o fazem [escovar os dentes] e fazer bem … precisam de ser reforçadas na formação [as actividades] porque promove mais o desejo de fazer bem”.

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Foi referido ainda por três entrevistados que quando existe a percepção dos problemas há um maior envolvimento de todos para a sua resolução.

Nas instituições com pessoas com deficiência a motivação e o nível de informação dos auxiliares (cuidadores), segundo Vanobbergen e Visschere (2005) depende: do tamanho da instituição; da média de idades dos utentes e do grau de dependência dos mesmos. Nas instituições que participaram no estudo, pudemos constatar que as mais pequenas e com pessoas em regime interno, os auxiliares estão mais motivadas, reforçando assim a ideia que os ambientes menos numerosos proporcionam um melhor conhecimento dos utentes e um maior contacto que facilitam as ligações mais afectuosas e familiares.

Assim, em relação à sub-categoria “necessidade de mudança” dos auxiliares, foi relatada como só sendo possível com a motivação dos intervenientes. Alguns excertos das entrevistas podem justificar esta afirmação:

“(…) todas as pessoas que trabalham directamente com eles se envolvessem e que se interessassem (…)”. (E8)

“ as auxiliares agora estão mais preocupadas para que as coisas resultem. Mostram-se mais interessadas e preocupadas com esta problemática” (E5) “(…) existe uma maior motivação para fazer um trabalho bem feito … já perceberam que era preciso lavar os dentes (…)”. (E2)

Para que uma intervenção em saúde tenha sucesso é necessário que a população esteja motivada e predisposta a receber informação. Como podemos observar nos dados recolhidos, isso só é possível se a população alvo tiver a percepção da existência dos problemas, e sinta que tem de mudar. Para isso deve estar o mais possível envolvida e deve ser responsabilizada a participar activamente em todo o processo de actuação como é referido por Ferreira da Silva (2002).

2.3 . Mudança de comportamento

Para que ocorram “mudanças de comportamento” é necessário que as pessoas abrangidas estejam motivadas, compreendam a necessidade de mudar e sejam

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envolvidas nas actividades. Também, é sabido que as mudanças são difíceis e lentas a ocorrer, porque em saúde os comportamentos são influenciados por múltiplos factores de ordem cultural, sociais, económicos e religiosos.

Nas intervenções de promoção de saúde quando são realizadas individualmente e adaptadas ás necessidades de cada um, diminuem as resistências á mudança podendo ser identificadas e trabalhadas (Bennett, 1997). Segundo o mesmo autor o impacto do aconselhamento individual aumenta devido ao efeito em cascata da transmissão de informação entre os familiares e amigos.

Quando questionados sobre a “mudança de comportamento”, esta, foi valorizada pela maioria dos entrevistados (sete) e foi observada em todos os envolvidos do programa, como sejam, técnicos, famílias, utentes, e, até mesmo, a própria instituição.

Em relação aos técnicos, as respostas levam-nos a sugerir, que as mudanças de comportamento ocorreram, sobretudo, na valorização dos hábitos de higiene oral. Dois entrevistados referem que fortaleceu as pessoas que praticam a escovagem (E1 e E8) e três mencionam que ficaram todos mais conscientes da importância da higiene oral (E5, E6, E7). Podemos ainda, analisar outras citações, como sejam:

“(…) organizou os procedimentos que se devem ter, tornou um hábito banal, num acto profissional, um acto sério e muito importante.” (E1)

“(…) percebemos que a escovagem tem que ser sempre supervisionada, mesmo naqueles que nós achamos autónomos.” (E7)

Num estudo feito por Cumella et al (2000), em que relacionam a eficácia da escovagem efectuada aos deficientes pelas auxiliares das instituições com os seus próprios hábitos, referem que, quando as auxiliares dizem ter medo de ir ao dentista e não gostam de escovar os dentes também, não valorizam a escovagem que deve ser feita aos utentes.

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dentes, mau hálito, gengivite (inflamação das gengivas) e tártaro nas suas bocas, aspectos reveladores de uma saúde oral pouco cuidada.

No que se refere às mudanças ocorridas nas famílias, estas, são referidas por dois entrevistados. Essas mudanças têm a ver com a tomada de consciência para a importância da saúde da boca, de modo a contribuir para a prevenção de futuros problemas nos seus filhos. Foi também mencionado pelos entrevistados, que alguns pais começaram a colaborar e a participar mais no que lhes era pedido, como seja, ir a reuniões de informação, levar o filho a fazer os tratamentos dentários necessários ou mesmo enviar para a escola o material de escovagem.

“(…) neste momento há uma maior participação, e sempre que é solicitado o material é entregue de imediato (E8)

As mudanças ocorridas no grupo das pessoas com deficiência, indicadas pelos entrevistados não foram apenas em relação à alteração de comportamento, como seja a rotina diária de escovagem dos grupos mais autónomos, mas também em relação ao seu estado físico, como seja:

“(…) agora sentem-se melhor com a boca mais saudável (…)” (E5, E8)

“(…) os seus problemas orais estabilizaram com as vossas intervenções ao longo destes anos todos. (E1)

“(…) logo após, eles tinham essa preocupação [de escovar] e sentiam-se quase que orgulhosos porque sabiam e se sentiam melhor (E2)

Tendo em atenção que algumas destas instituições já são acompanhadas há mais de quinze anos, os utentes já têm percepção das mudanças que ocorrem no seu bem- estar oral sempre que existe uma nova intervenção.

Nas próprias instituições também ocorreram alterações com a intervenção do programa. Estas são mais notórias nos locais onde foi efectuada a primeira intervenção, na qual se teve de implementar todo o programa. As três instituições onde o programa foi implementado pela primeira vez, neste último ano, referiram ter reduzido as sobremesas às refeições. Duas referem que, estas novas actividades de higiene oral passaram a integrar o programa educativo e que, para além disso,

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melhoraram as condições do material de escovagem, estando agora separado, marcado e identificado para cada indivíduo.

Em relação à escovagem, em quatro instituições tornou-se um hábito diário e em duas já estava implementada a rotina da escovagem há vários anos. Nas duas restantes existe desconhecimento por parte dos entrevistados quanto à regularidade da escovagem uma vez que estas instituições abrangem utentes com deficiências ligeiras e portanto mais autónomos realizando eles próprios o procedimento.

Tendo a intervenção em saúde oral várias vertentes, a escovagem foi sempre a mais referida, talvez por ser a que exige mais recursos humanos e materiais. Nas instituições onde a escovagem não era prática diária, a sua implementação foi em alguns casos, mais difícil devido à falta de meios.