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3.5 Extensão e Centro Acadêmico espaços de formação na Universidade

3.5.2 Os Centros Acadêmicos – Movimento Estudantil

3.5.2.1 O Movimento Estudantil na área da saúde

Na década de oitenta, o Movimento Estudantil ligado mais especificamente à saúde, após a criação da Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina, DENEM, em 1986, através do Movimento de Estudantes de Medicina (MEM), fez uma opção de se qualificar tecnicamente sobre o tema educação médica, com o intento de pressionar um movimento de transformação da escola médica (PINTO, 2000).

Nos primeiros anos da DENEM, os Encontros Científicos dos Estudantes de Medicina (ECEM‟s) foram espaços importantes de envolvimento dos estudantes na discussão sobre o sistema de saúde vigente, sobre o modelo hegemônico das escolas médicas e a relação ou falta de integração entre estes dois temas. Em dois anos de sucessivos encontros da DENEM, foram problematizadas temáticas e construídas propostas alternativas aos mesmos, sendo formulada a Proposta de Transformação do Ensino Médico (PTEM), aprovada por unanimidade em um ECEM. Munidos de uma proposta alternativa, os CA‟s e DA‟s de Medicina de todo o país levaram esta discussão nas escolas conduzindo à tomada de posição dos outros atores que compõem este espaço: professores e funcionários técnico-administrativos (PINTO, 2000).

Em 2001, a DENEM procurou a Escola de Saúde Pública - ESP/RS, órgão da Secretaria de Estado da Saúde (SES/RS), solicitando apoio para a realização de seu V Estágio

Nacional e I Estágio Regional de Vivência no Sistema Único de Saúde (V ENV e I ERV – SUS). A ESP/RS, apoiando essa proposta, criou o Projeto Escola de Verão que visou abrir campo de vivência na gestão de sistemas e serviços de saúde no Estado do Rio Grande do Sul (BRASIL, 2004b).

Nessa direção, a ESP/RS, aproximando-se dos estudantes, criou, em 2002, a Assessoria de Relações com o Movimento Estudantil e Associações Científico-Profissionais da Saúde. Essa Assessoria teve a incumbência de dialogar de maneira organizada com os estudantes da área da saúde, a fim de desenvolver projetos destinados à educação dos profissionais, principalmente o trabalho multidisciplinar em saúde, a valorização da saúde coletiva e do SUS. Dessa articulação, surgiram três projetos realizados em 2002: o projeto Escola de Verão, o projeto VER-SUS/RS – Vivência-Estágio na Realidade do SUS/RS e o 1º Congresso Gaúcho de Estudantes Universitários da Saúde. Essas três atividades representaram um avanço importante no resgate do protagonismo dos estudantes da saúde para o destino de sua própria formação, além de legitimar sua presença nos espaços de debate sobre outras importantes questões do contexto da saúde coletiva (BRASIL, 2004b).

A criação do projeto VER-SUS foi uma iniciativa que partiu do Movimento Estudantil que, em parceria com o Governo Federal, possibilitou uma aproximação dos estudantes com o sistema através de um estágio de imersão. Este projeto se caracterizou pela ampliação do seu projeto antecessor, o projeto Escola de Verão. A partir do VER-SUS/RS, a ESP/RS, em parceria com os estudantes universitários da saúde organizados no Núcleo Estudantil de Trabalhos em Saúde Coletiva (NETESC), pretendeu difundir a oferta sistemática dessa Vivência-Estágio aos estudantes dos diferentes cursos de graduação do setor da saúde (BRASIL, 2004b).

Apesar de hoje em dia, o Movimento Estudantil se apresentar de forma mais fragmentada e partidarizada (BARBOSA, 2002), percebe-se que ele não deixou de ter potencial para aprofundar discussões sociais e possibilitar que o jovem amadureça suas idéias compartilhando-as com a sociedade em geral, o que contribui para a sua formação integral, que vai além do ensino de conteúdos, isto é, para a sua formação enquanto cidadãos, enquanto pessoas críticas e solidárias.

Dentro do Movimento, conhecem-se pessoas de vários lugares, que acabam por vivenciar diferentes experiências, por compartilhar solidariamente idéias e informações,

permitindo momentos reflexivos fundamentais para a formação dos estudantes no sentido do exercício da construção coletiva:

Ele permite propiciar discussões críticas sobre as profissões, quase sempre ausentes na grade curricular dos cursos como, por exemplo, a saúde popular numa perspectiva de construção conjunta com a comunidade. E não simplesmente permitir uma invasão do conhecimento científico (UNIVERSIA, 2005, grifo meu).

E mais:

Os Centros Acadêmicos (CA), além das discussões sobre a reforma universitária e o programa Universidade para Todos, discutem temas debatidos dentro do Movimento Estudantil

como saúde pública, o modelo do SUS e temas relacionados ao Ato Médico e o futuro da saúde pública no Brasil (UNIVERSIA, 2005, grifo meu).

Desse modo, faz-se necessária a valorização e o resgate do saber crítico construído coletivamente que está presente diariamente nas tramas do espaço universitário. Isto é algo sobre o qual se deveria refletir seriamente. Segundo Freire (2004, p.44) “é uma pena que o caráter socializante da escola [universidade], o que há de informal na experiência que se vive nela, de formação ou deformação, seja negligenciado”. Conforme o autor, “este elemento mítico dificulta o exercício da criticidade, dando ao homem a ilusão de que pensa certo”.

Deste modo, a escola, não importa qual seja o seu nível, vem desempenhando um papel dos mais importantes como eficiente instrumento para controlar a sociedade. São comuns os educadores para quem “educar é adaptar o educando a seu meio” e “a escola, em regra, não vem fazendo outra coisa senão isto” (FREIRE, 1981, p. 82), isso significa dizer que formação tem sido sinônimo de conteúdo transferido pelo docente no espaço da sala de aula.

Por esse caminho, busca-se salientar o peso formativo da participação dos estudantes nos processos sociais, pretendendo-se que os educadores, mesmo aqueles progressistas, fiquem atentos ao movimento da realidade, à práxis e à experiência extra-curricular vivida. Percebe-se como é urgente colocar os processos educativos, as teorias de formação em outros patamares, bem mais eloqüentes do que a tão trilhada e estreita vinculação entre a universidade e mercado (CALDART, 2000).

Conforme Caldart (2000) em Pedagogia do Movimento Sem Terra é possível pensar que o sujeito educativo ou a figura do educador não precisa ser necessariamente uma pessoa e

muito menos necessariamente estar em sala de aula. A autora traz como exemplos uma fábrica que também pode ser olhada como um sujeito educativo; da mesma forma que um sindicato, um partido, um movimento social e, neste caso, fundamentando-se em suas idéias, faz-se analogia ao Movimento Estudantil.

Se o que está em questão é a formação técnica, crítica e socialmente comprometida; então, o incentivo à participação dos estudantes em espaços de discussão e reflexão na universidade não poderia estar desvinculada do processo formativo (CALDART, 2000).