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4 APROXIMAÇÃO DO CAMPO E SUJEITOS DE PESQUISA Projeto de Extensão

4.3 Projeto de extensão „Educação em Saúde: colaborando no empoderamento com um trabalho

4.3.3 O processo de desenvolvimento

4.3.3.2 Os grupos de trabalho Fazenda do Rio Tavares e Ingleses

Os estudantes dividiram-se de forma mais interdisciplinar possível combinando com a escolha própria do estudante pela comunidade de interesse. Assim, ficaram nos Ingleses - um estudante da medicina, um da nutrição, um da educação física, um do serviço social (que veio a se tornar bolsista da PRAE) num total de quatro estudantes voluntários. Posteriormente, esse grupo recebeu mais um estudante, da educação física, como bolsista designada pela PRAE, ficando num total de cinco estudantes. (quatro voluntários e um bolsista designado)

No grupo da Fazenda do Rio Tavares ficou um estudante da psicologia, um da educação física, dois da nutrição, um do serviço social (que veio a se tornar bolsista da PRAE) num total de cinco estudantes voluntários. No mês seguinte, entraram um estudante da farmácia e um da enfermagem, todos bolsistas designados pela APRAE. No mês de maio, um dos estudantes de nutrição informou sua saída do projeto, porém o projeto recebeu um outro estudante da nutrição ficando um total de sete estudantes (cinco voluntários e dois bolsistas designados)

A partir da separação do grande grupo nos dois grupos de trabalho, desenvolveram-se, atividades bem diferenciadas, tendo em vista as diferentes realidades encontradas.

No primeiro semestre do projeto, o grupo dos Ingleses se reunia nas segundas-feiras e quartas-feiras à noite na UFSC, e, em sábados alternados, iam para a comunidade, além de toda primeira quinta feira do mês participar também da reunião mensal do conselho local de saúde na ULS dos Ingleses.

O grupo da Fazenda do Rio Tavares se encontrava nas sextas-feiras à noite na UFSC e, posteriormente, veio a se encontrar também nas terças-feiras à noite. Na última quarta-feira de cada mês, participavam da reunião mensal do conselho local de saúde no Centro Comunitário.

A metodologia em comum dos dois grupos fora aquela prevista no corpo do projeto, ou seja, o desenvolvimento de encontros teóricos semanais na universidade de discussão acerca de assuntos vinculados às realidades encontradas nas idas à comunidade. Sobre os assuntos desenvolvidos eram quase sempre indicadas leituras de textos através dos quais era feita uma problematização da prática vivenciada. A tentativa era, na medida do possível, realizar um encontro na comunidade e outro na universidade alternado.

O grupo dos Ingleses iniciara suas atividades participando da reunião do conselho local de saúde, onde fora sugerido que o projeto se aproximasse da Vila do Arvoredo, uma comunidade de classe baixa e/ou muito baixa, com qual talvez fosse possível construir em conjunto atividades de seu interesse. O grupo conheceu esta realidade em algumas idas a campo feitas no final de semana em acordo com as lideranças locais. Daí para frente, o grupo começou a participar de reuniões com meninas da faixa de 15 anos de idade desta comunidade que se reuniam aos sábados.

Houvera, então, discussões no grupo sobre atividades de promoção da saúde que poderiam ser feitas com essas meninas e que fossem de seu interesse. Surgiu, entre outros, a idéia de ensiná-las a dançar valsa em função do baile de debutantes que iriam receber da ACIF e elas,

por sua vez, se propuseram a ensinar funk ao grupo. O grupo também participou eventualmente de reuniões da comunidade aos domingos onde eram discutidos diversos problemas enfrentados por ela como a questão da transferência desta comunidade para outra localidade por ser área de preservação permanente, a falta de atenção à saúde suficiente na localidade, a falta de saneamento básico, ausência de recolhimento de lixo dentro da vila, etc.

Da mesma forma, o grupo participara de algumas discussões realizadas nas reuniões do conselho local de saúde. O grupo vivenciou a realidade de questões que envolvem saúde pública como os problemas enfrentados na unidade local de saúde, o enfraquecimento do conselho de saúde, apreendeu a trajetória da formação do conselho local dos Ingleses por meio de leitura das atas e conversas informais com informantes-chaves da comunidade, a dificuldade de mobilização social, entre outros. O campo de prática trouxera a discussão de temas como, por exemplo, as relações de poder, territorialização, o conceito de saúde, de Controle Social do SUS e Promoção da saúde.

Já o grupo da Fazenda do Rio Tavares vivenciou mais marcadamente a dificuldade de mobilização da comunidade e da própria dinâmica de trabalho dentro do conselho local de saúde; assim como o grupo dos Ingleses, também apreendeu a trajetória da formação do conselho local de saúde da Fazenda do Rio Tavares por meio de leitura das atas e conversas informais com informantes-chaves desta comunidade; vivenciou a estruturação de trabalho do conselho local nos chamados grupos de trabalho (GT) que estavam divididos em GT da mobilidade, GT da saúde, GT da educação e GT do meio ambiente. Também o grupo discutiu mais acentuadamente os temas territorialização, relações de poder, conceito de Controle Social do SUS, educação em saúde e promoção da saúde. A realidade local não proporcionou a este grupo, tão brevemente como se deu no grupo dos Ingleses, a possibilidade de trabalho dentro de alguma comunidade específica; por outro lado, seu ponto mais forte na relação teoria-prática foi a questão do controle social.

Outro aspecto observado que merece ser registrado diz respeito à condução do projeto. Em especial, no segundo semestre de seu desenvolvimento, o número de facilitadores reduziu-se a apenas dois, isto é, um para cada grupo e apenas um professor se fez presente até o encerramento deste primeiro ano do projeto. Tal fato gerou importantes conseqüências no percurso metodológico do mesmo. A rapidez com que as diferentes realidades iam sendo descortinadas ao grupo e a quantia de atividades desenvolvidas pelo mesmo devido ao próprio

dinamismo das comunidades, propiciou, por um lado, um certo desencontro entre os dois grupos de trabalho. O que antes previsto, inicialmente na metodologia do projeto, eram alguns encontros esporádicos entre os dois grupos para troca de experiências não ocorreu. Observou-se que a ausência dos professores e o número muito reduzido de facilitadores foi um ponto chave para a impossibilidade destas atividades.

Além disso, as facilitadoras frequentemente tinham de tomar decisões por conta própria, tanto em relação ao processo pedagógico do projeto quanto à sua relação com as comunidades, especialmente, a facilitadora do grupo dos Ingleses que não possuía nenhum professor acompanhando as atividades.

Cabe salientar que apesar do projeto ser único, fora conduzido, na prática, em separado nos dois grupos como se fossem “dois pequenos projetos”. Fora observado que as características individuais das facilitadoras, sejam em relação à sua própria subjetividade, sejam em relação às abordagens pedagógicas eram, em algumas vezes, diferenciadas; as duas realidades distintas vivenciadas e ao próprio dinamismo e características internas de cada grupo propiciaram duas vivências bem distintas dentro do mesmo projeto de extensão, embora no recorte das categorias essa característica do projeto revelou-se não ter sido diferente.

No segundo semestre do projeto, vale destacar as principais atividades desenvolvidas com as duas comunidades. Na Fazenda do Rio Tavares, os estudantes, o facilitador e professor realizaram a territorialização do bairro e uma rápida pesquisa junto à comunidade acerca do conselho aproveitando a ocasião para analisar o que ela entendia sobre o Conselho Local de Saúde, e divulgá-lo aos moradores. Nos Ingleses, o grupo participou de todo o processo de divulgação, organização e condução da eleição do novo conselho local de saúde.

FIGURA 6: Universidade Federal de Santa Catarina: ao fundo,

situa-se a Biblioteca Central.

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PERCURSO METODOLÓGICO

5 PERCURSO METODOLÓGICO

[...] o espaço pedagógico é um texto para ser constantemente „lido‟, interpretado, „escrito‟ e „reescrito‟(FREIRE, 1996, p.109).