• Nenhum resultado encontrado

4 APROXIMAÇÃO DO CAMPO E SUJEITOS DE PESQUISA Projeto de Extensão

4.3 Projeto de extensão „Educação em Saúde: colaborando no empoderamento com um trabalho

4.3.1 O processo de criação

Este projeto de extensão foi pensado, inicialmente, no ano de 2005, pelo grupo de pesquisa Educação e Saúde (formado por estudantes de graduação e pós-graduação de diferentes

áreas da saúde) do Departamento de Saúde Pública da UFSC sob a forma de uma disciplina interdisciplinar, optativa, com trabalho na comunidade.

No processo de criação desta disciplina, este grupo de pesquisa realizou, nos meses de outubro à dezembro de 2005, os primeiros encontros convidando os oito (08) departamentos que comporiam esta proposta de disciplina interdisciplinar, representados pelas seguintes áreas: medicina, enfermagem, odontologia, farmácia, psicologia, nutrição, educação física e serviço social.

Todavia, compareceram apenas os professores do Departamento de Nutrição, do Departamento de Educação Física, do Departamento de Enfermagem, do Departamento de Farmácia, do Departamento de saúde pública/medicina, além de representantes discentes do grupo de pesquisa.

O objetivo destes encontros era a construção interdisciplinar desta disciplina, um desafio pedagógico para todos os sujeitos que comporiam aquele grupo. Pretendia-se garantir que nesta disciplina não fossem privilegiadas as especificidades profissionais, mas o “campo de competência”. conforme o conceito-ferramenta de Campos (1997, p. 136).

A idéia inicial era de uma disciplina anual, dividida em dois semestres, com cinco vagas ofertadas para cada um dos oito cursos participantes, fechando, ao todo, 40 estudantes por ano. Esses estudantes atuariam em cinco comunidades diferentes do município de Florianópolis compondo, então, cada uma das cinco equipes, oito integrantes de cada área.

Entretanto, no decorrer, principalmente, deste processo, após alguns encontros de discussão e planejamento, devido às limitações financeira, organizacional e de pessoal, decidiu-se reduzir para três o número de comunidades, o que comporia uma turma de 24 estudantes ao todo (três de cada curso de graduação). Além disso, pensou-se que um grupo mais reduzido facilitaria o trabalho pedagógico em sala de aula e o acompanhamento nas comunidades.

Durante as reuniões uma das preocupações mais ressaltadas pelo grupo era em relação ao compromisso de trabalho que se estaria assumindo com as comunidades, e também com a garantia da construção coletiva da disciplina, representada pelos professores, estudantes e comunidade, que juntos deveriam estar em permanente planejamento, execução e reavaliação.

Outro aspecto salientado foi em relação à seleção dos estudantes para a disciplina. Seria importante estarem em fases mais avançadas do seu curso para melhor apreensão da relação teoria-prática? Ou, por outro lado, melhor seria se estivessem em fases iniciais para evitar as

“formatações” do modelo flexneriano? Mas se os oito cursos têm distintas grades curriculares, como generalizá-las ou equipará-las em termos de fases? Contudo, fundamentando-se na experiência do projeto Universidade Popular da UFSC vivenciada por alguns docentes ali presentes, o grupo optou pela seleção dos estudantes através da leitura de alguns textos sugeridos e a escrita de uma carta de intenção independentemente de pré-requisitos, exceto pertencer a um dos oito cursos.

Deste modo, ficou determinado, como objetivo principal do projeto, inserir os estudantes nas comunidades em equipes interdisciplinares vinculadas às Unidades Locais de Saúde (ULSs) de Florianópolis com objetivo de vivenciar experiências relacionadas à formação dos Conselhos Locais de Saúde e fortalecimento do controle social do SUS, bem como propiciar espaços de promoção da saúde.

Conforme o plano de ensino inicialmente estruturado pelo grupo:

Trata-se, portanto, de criar uma disciplina que contemple uma contribuição real da Universidade no setor de ensino (e não de extensão) para a população, na área de controle social e de promoção de saúde. Além da contribuição bilateral (tanto para os estudantes como para a comunidade), esta proposta contribui também para promover a interdisciplinaridade e um trabalho conjunto entre departamentos rompendo com a cultura dos “castelos corporativos” (INTERDISCIPLINARIDADE NO SUS, 2006).

O grupo esperava que esta disciplina optativa fosse um embrião de futuras disciplinas interdisciplinares, curriculares, na UFSC.

No ano de 2006, houve mais alguns encontros, inclusive com a representação do Departamento de Estomatologia e Psicologia. As discussões ainda permeavam diversos aspectos relativos à estruturação da disciplina. Os aspectos mais debatidos foram como se daria a vinculação entre os dois semestres da disciplina; seu plano e metodologia de ensino; a escolha das comunidades entre outros.

Durante este ano, procedeu-se à oficialização da disciplina na universidade. Após tentativas de vinculá-la, então, ao Departamento de Saúde Pública como pensado, não se obteve sucesso, o que, posteriormente, levou-se a perseguir caminhos alternativos como a tentativa de vinculá-la ao Departamento de Nutrição.

Contudo, não foi possível, tendo em vista, o seu caráter interdisciplinar e dificuldade de aceitação no meio acadêmico departamental. Esbarrou-se em diversos fatores como a não aprovação em reunião de colegiado por alguns professores e a burocratização dentro da própria

universidade para a criação de uma disciplina que envolvesse diversos departamentos. Então, a saída, naquele contexto, era transformar a proposta da disciplina em projeto de extensão, e, futuramente, buscar novas tentativas da oficialização almejada.

No ano de 2007, com o objetivo de conhecer o grau de interesse dos estudantes de graduação sobre os temas da disciplina planejada, agora projeto de extensão, e iniciar a sua divulgação, realizou-se a “Oficina de Educação em saúde: rompendo muros entre a universidade e a sociedade” com a intenção de sensibilizá-los sobre os temas Controle social do SUS, Promoção da saúde e Educação em saúde. O número de 84 inscritos, sua efetiva participação ao longo da oficina e a extrapolação do tempo estipulado para as discussões demonstraram a demanda reprimida de estudantes com necessidade de aprofundamento sobre tais temáticas. Isso fez com que o grupo de trabalho interdisciplinar reforçasse sua idéia de que estas discussões não estariam presentes significativamente na graduação e que se fazia necessário propiciar espaços que fomentassem continuamente uma educação crítica e reflexiva, de contribuição bilateral, entre a universidade e a sociedade. Após a realização da oficina, vários estudantes buscaram se inscrever no projeto.

Ainda durante o processo de sua criação, o grupo de trabalho ampliou o projeto de oito (8) para nove (9) áreas da graduação, as anteriormente citadas mais a graduação em fisioterapia. Como a UFSC não ofertava este curso, fora realizado convite aos professores da UDESC e da UNIVALI para inclusão de seus estudantes no projeto.

Neste mesmo ano, o projeto de extensão fora aprovado na reunião de colegiado do Departamento de Saúde Pública. Ele previa três vagas para cada um destes nove cursos, totalizando 27 estudantes, inserindo os estudantes em três diferentes comunidades formadas cada uma por nove estudantes, sendo um de cada curso.

A seguir apresenta-se um quadro-síntese do processo de criação elaborado pela própria pesquisadora deste estudo:

QUADRO 3: O processo de criação do projeto de extensão.

Outubro-dezembro de 2005

- Convite para reunião aos oito departamentos da área da saúde .

- Apresentação pelo grupo de pesquisa Educação e Saúde da proposta inicial: disciplina optativa interdisciplinar - Reuniões de construção coletiva da disciplina com os representantes dos departamentos e grupo de pesquisa. Discussões acerca de: objetivos da disciplina; seleção dos cursos e dos estudantes; metodologia da disciplina;

garantia da interdisciplinaridade; temas centrais de disciplina - Promoção da saúde, Controle Social do SUS e Educação em saúde; seleção das comunidades, quais e quantas.

1º semestre de 2006

- Reuniões de construção coletiva da disciplina com os representantes dos departamentos e grupo de pesquisa. Discussões acerca de: estruturação da disciplina; seleção das comunidades.

- Tentativa de oficialização da disciplina

2º semestre de 2006

- Não aprovação do colegiado como disciplina optativa

- Grupo de trabalho propõe transformar a disciplina em projeto de extensão

1º semestre de 2007

- Realização da Oficina Educação em saúde: rompendo muros entre a universidade e a sociedade para avaliação

do interesse dos estudantes, sensibilização quanto as temáticas Educação em saúde, Promoção da saúde e Controle social do SUS e divulgação do projeto de extensão.

- Efetiva participação dos estudantes na oficina. Número de participantes superior ao esperado. 2º semestre de 2007

- Aprovação do projeto de extensão no colegiado do Departamento de Saúde Pública.