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O Movimento Social dos Faxinalenses Articulação Puxirão dos Povos Faxinalenses –

No documento ANTONIO MICHEL KULLER MEIRA (páginas 80-83)

1.6 MOVIMENTOS SOCIAIS E LUTAS EM FAXINAL MARMELEIRO DE

1.6.2 O Movimento Social dos Faxinalenses Articulação Puxirão dos Povos Faxinalenses –

No ano de 2004, várias entidades da região sudeste do Paraná, como Associações, ONGs, Universidades e órgãos estaduais formavam a Rede Faxinal, com objetivo de discutir o desenvolvimento sustentável das comunidades tradicionais de faxinais. No ano de 2005, discutiram, como forma de dar visibilidade às comunidades tradicionais de faxinais, a realização do Encontro dos Faxinais. Nesse encontro participaram diversos faxinalenses de várias comunidades de diversos municípios como, Turvo, Pinhão, Irati, Prudentópolis, Rebouças e Rio Azul. Nesse evento ocorreram diversas oficinas sobre vários temas como direito Faxinalense, Sementes Crioulas, Agroflorestas e plantas medicinais. Dentre as oficinas, estava o tema organização dos faxinalenses. O ponto central de debate dessa oficina foi a organização de uma entidade ou movimento que representasse os anseios e a realidade dos faxinalenses, pois nas últimas décadas os Faxinalenses enfrentam diversos conflitos e desrespeito à forma tradicional de uso dos criadores comunitários.

Neste encontro, como proposta da oficina de organização dos faxinalenses, surge o movimento social denominado Articulação Puxirão dos Povos Faxinalenses- APF, com

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objetivo de organizar as comunidades e lutar por políticas públicas para os faxinais.

Este encontro foi um marco importante na luta faxinalense, como destaca a liderança da APF. “Com o nascimento da APF, nós faxinalenses tivemos voz, pois o poder público não nos reconhecia, o nosso modo de vida faxinalense não era respeitado, e passávamos por uma aculturação, tratando nós simplesmente como agricultores” 44.

A partir do ano de 2005, a organização e a emergência do movimento social faxinalense propiciou uma série de demandas em nível municipal, Estadual e Federal. Podemos observar que os encontros realizados de 2005 a 2009, proporcionou o avanço da pauta faxinalense. Em 2005 o lema do encontro foi “Resistir em puxirão pelo direito de repartir o chão"; já em 2007, no 2º Encontro dos Faxinalenses, o tema foi “Na luta pela terra, nascemos faxinalenses”, organizado pelo próprio movimento com apoio do Instituto Equipe de Educadores Populares e algumas organizações. Em 2009, o encontro teve como tema “No direito ou na luta essa terra é faxinalense”, avançando para a discussão dos direitos, principalmente sobre o uso de forma coletiva e tradicional.

Estes temas mostram a evolução de pautas dos faxinalenses que em 2005 prezava pela resistência através da consolidação da organização faxinalense; já em 2007 o encontro teve como tema a reafirmação da identidade e principalmente pautada pelo direito ao uso do território de criar, que é um dos principais itens que identifica uma comunidade faxinalense através do uso comum do criadouro comunitário. Em 2009, buscavam, através de formas jurídicas, a defesa do modo de vida tradicional faxinalense e o direito de continuar com uso comum dos criadouros comunitários nos faxinais. Para isso, a APF construiu proposta de políticas públicas através de leis municipais e estaduais. Durante esses anos de luta os faxinalenses conseguiram importantes avanços como a criação da Lei Estadual 15.673/07 no Estado do Paraná e diversas leis municipais nos municípios de Rebouças através da Lei Municipal Nº1235/2008, São Mateus do Sul (Lei Municipal Nº1780/2008), Antonio Olinto (Lei Municipal Nº653/2008), Pinhão ( Lei Municipal Nº1354/2007). Ainda obtiveram diversas vitórias junto aos municípios e governo do estado provando que os movimentos sociais organizados conseguem pautar o município e estado para formulação de políticas públicas. Uma das demandas que foi conquistada pela APF, foi a articulação para implementação de leis municipais sobre o reconhecimento dos acordos comunitários que regula o uso comum e o repasse do ICMS ecológico nos faxinais.

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2 CONCEPÇÕES CONTRA HEGEMÔNICAS DE EDUCAÇÃO

Os movimentos sociais e organizações populares, nas últimas décadas, têm pautado e realizado debates sobre a educação, sobretudo numa nova perspectiva educacional, que aglutine os diversos saberes em uma proposta pedagógica para o desenvolvimento sustentável e humano, que contemple a identidade do povo local, e que esta educação tenha nas práticas e conhecimentos tradicionais, fonte primordial de conhecimento, seja esta formal ou não formal. Uma educação pensada juntamente com as práticas existentes nas comunidades, que debata ações no sentido de preparar e melhorar as atividades que o educando realiza no dia a dia, com respeito a seu modo de vida, com a terra, com o meio ambiente e principalmente com os valores culturais presentes que formam a identidade local.

Dessa forma, a educação passa a ter sentido na sala de aula, pois realidade e conteúdos cruzam-se formando um grande debate para a discussão de ideias sendo os temas locais do cotidiano fonte de debate, o que Freire (1987) denominou de “temas geradores”.

Este capítulo apresenta uma análise de algumas das concepções de educação que buscam novos caminhos rumos à emancipação e superação do capital, possibilitando uma articulação de ideias para o desenvolvimento de uma educação capaz de articular educação e a realidade do dia a dia. Para isso recorremos às teorias de educação popular de Paulo Freire exposta especialmente nos Livros, “Educação como prática da Liberdade (2002)” e “Pedagogia do Oprimido (1987)”, bem como o debate que Meszáros (2010) apresenta sobre a educação para além do capital.

Este trabalho concentrará na análise da educação não formal realizada principalmente por entidades populares e movimentos sociais, sendo este referencial para o diagnóstico do objeto de estudo. Segundo Gohn (1994, p. 7), a educação não formal teve, nos anos 1980, um grande crescimento “[...] ao ressurgimento de novas formas de educação informal através de trabalhos na área de educação popular, e de experiências na área de educação não formal, geradas a partir da prática cotidiana de grupos sociais organizados em movimentos e associações populares”.

Dentro do campo pedagógico encontramos diversas teorias sobre o processo educacional; neste sentido abordaremos as teorias contra hegemônicas que surgem a partir da década de 1980, principalmente com a discussão de uma educação popular, para atender a realidade cultural da população, uma educação para o povo, elaborada com a participação dos sujeitos envolvidos no processo educacional. As teorias contra hegemônicas criticam as

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discussões de educação enraizadas na sociedade capitalista, sendo que em muitos casos a educação visa apenas reproduzir o modelo vigente de manter as bases que sustentam a exploração e preparar mão de obra para o mercado.

A década de 1980 foi um momento marcante para educação, pois surgiram movimentos e organizações da sociedade civil, principalmente sindicatos e associações, como a Associação Nacional de Educação (ANDE), Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED) e Centro de Estudos Educação e Sociedade (CEDES). Cabe ressaltar o importante papel das Confederações Nacionais de Educação que passaram nessa década por um processo de junção da Confederação de Professores do Brasil. Em congresso realizado em janeiro de 1989, foi aprovada a mudança de nome para Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) e que nos anos seguintes incorporou as representações dos funcionários, supervisores e orientadores da educação, tornando assim uma confederação com uma representatividade gigantesca no Brasil. Também os trabalhadores da educação, após as restrições referentes à sindicalização do funcionalismo público, não puderam organizar-se nos sindicatos. Com a derrubada dessas restrições, a partir da constituição de 1988, os trabalhadores integram a Central Única dos Trabalhadores - CUT. Essas entidades sindicais começam a debater não apenas questões econômicas e políticas, mas também se atentar para as questões pedagógicas da educação, destacando que as pedagogias abordadas não atendiam às demandas populares da sociedade.

Nesse sentido, as teorias que abordaremos possuem um foco na discussão entre o sujeito e sociedade como uma interdependência.

No documento ANTONIO MICHEL KULLER MEIRA (páginas 80-83)