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Movimentos sociais na redemocratização

No documento Participação e Governança na Era Lula (páginas 34-36)

CAPÍTULO I: História Social e Política brasileira

3. Período democrático

3.1 Movimentos sociais na redemocratização

Rubim (2007) fala sobre a relação entre autoritarismo e a gestão das políticas de cultura durante o regime e como esse processo e contraditório. Ao analisar essa relação percebe-se que esta não e tão absurda se pensarmos que os sistemas mais autoritários precisam de um controlo maior em relação a produção de ideologias e que a cultura e uma ferramenta essencial neste processo. Não foi ao acaso a criação de tantas instituições que basicamente tinham a função de gerir o que era publicado, o que era escrito em músicas, em novelas e entre outras manifestações características do país naquela altura.

Contudo o território brasileiro era e segue extremamente desigual, o resultado disso é que havia sempre muitas brechas nos quais o regime apenas não conseguia penetrar, como essa incapacidade, as periferias da cidade tornaram-se incubadoras de movimentos de contracultura, Schwarcz e Starling (2015) afirma que no processo de redemocratização foi essencial o engajamento de instituições que passassem inoculo pelo regime, ainda segundo as

autoras essas instituições são características de populações que não são assistidas pelo Estado, como “associações de mães, grupos de mães, associações de moradores, comitês de saúde” (Schwarcz e Starling, 2015:481).

Esses movimentos são a base dos movimentos sociais maiores que surgiram a partir da década de 80/90, inclusive, são os comitês de saúde que embasam a construção do Sistema Único de Saúde (SUS) a partir da nova constituição de 1988, que garantiu acesso a saúde para toda a população de forma gratuita.

A participação da população nesse micro processos sociais foi uma tentativa de reaproximar a população como um todo de mecanismos democráticos, mesmo que de forma muito simples, esses espaços construíam mudanças de comportamento perante a situação política do pais, fazendo crescer a pressão sobre o regime.

3.1.1 Movimentos sindicais paulistas

Outro ponto importantíssimo nesse processo e que merece um momento a parte é a força dos sindicatos, a mudança da relação que mantinha-se com o Estado, e como essa relação afetou estruturalmente a questão do trabalho.

Como vimos anteriormente, a criação dos sindicatos durante a Era Vargas e como ele era um braço do governo junto aos trabalhadores, a dinâmica criada pelo “novo sindicalismo” (Schwarcz & Starling, 2015: 485), utilizava as greves como forma de pressão ao regime militar, e ia além, buscava um sindicalismo para além do Estado, que na pratica era uma forma de organização com poder e estrutura para negociar diretamente com empregadores.

Dos grupos mais relevantes, no processo do novo sindicato, estão os grupos metalúrgicos do ABC paulista, dali surgiu o Central única dos Trabalhadores (CUT), em atividade ate os dias atuais, ate mesmo a fundação de um partido politico o Partido dos Trabalhadores (PT) com características bastante distinta dos partidos organizados ate então. A base dos dois projetos, seja do sindicato seja do partido político é de trabalhadores, com o objetivo de conquistar seus objetivos, justiça e igualdade social, através dos meios democráticos.

O período entre o surgimento do PT e a eleição do seu líder mais popular, Luís Inácio Lula da Silva, passaram-se mais de duas décadas, e os processos que o país passou acompanhou foram acompanhados por mudanças estruturais no projeto do partido.

3.1.2 Diretas Já

A pressão social para a redemocratização do país era forte e os militares não conseguiam conciliar a tentativa de transformar o regime em uma democracia musculada, a pressão vinha não só da sociedade civil, e dos políticos, muitos empresários, principalmente os que estavam a perder demasiado dinheiro por conta da greve organizada pelos sindicatos, esses organizaram o que ficou conhecido como Manifesto do Grupo dos 8.

Contudo, foi a movimento Diretas já iniciado em 1983 e durou até 1984 que conseguiu unir tanto movimentos sociais, políticos e sociedade civil entorno de um propósito único, a aprovação da emenda Dante de Oliveira em Congresso nacional, a emenda consistia na mudança da regra de sucessão a presidência, trazendo o voto popular e universal como base da próxima eleição. O primeiro comício que começou de forma de forma simples perto de Brasília, espalhou-se pelo país, em Abril de 1984, numa jogada politica e com maior número de votos a favor, a emenda foi rejeitada por não cumprir regras específicas do regimento do congresso.

Apesar da derrota e da frustração durante esse processo, através de eleições ainda indiretas, o colégio eleitoral elege seu primeiro presidente não militar, Tancredo Neves que, faleceu um dia antes da posse. Quem assume e José Sarney, o vice de Neves, um político com relações muito próximas aos militares e que durante sua gestão não repudiou o apoio de nenhum na construção de uma agenda própria, bastante distante da agenda construída por Neves.

O período de redemocratização até 1988 ficou marcado pela constituinte. Essa constituição, segundo Schwarcz e Starling (2015:497) era dúbia no que tange lidar com determinados setores da sociedade “ela é moderna nos direitos, sensível as minorias políticas, avançada em questões ambientais e emprenhada em prever meios e instrumentos constitucionais legais para participação popular e direta”, por outro lado continuou a ignorar a questão agraria, e construiu um sistema eleitoral complexo.

Somente após a constituição de 1988 o país teve finalmente um presidente eleito democraticamente com o voto direto e popular, porém o Brasil era um país com um índice de inflação exorbitante, com uma dívida externa que tendia ao crescimento e com uma moeda fraca com mudança constante na tentativa de amenizar a inflação. A escolha de Fernando Collor e seu conhecido plano Collor não só fundava no país um modelo neoliberal que tinha como objetivo reduzir ainda mais o tamanho do Estado, que mal começava a expandir-se.

No documento Participação e Governança na Era Lula (páginas 34-36)