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Movimentos Sociais Populares, Práxis e Subjetividade[53]

No documento Adinkra.docx (páginas 86-98)

Os Movimentos Sociais Populares  – MSPs- também se utilizam do modo predominante de análise do real, reificando a racionalidade instrumental e técnica, não dando margem, na compreensão da realidade, para a dimensão estética e subjetiva que permeia qualquer ação humana. Por isso postulamos que uma abordagem da história deve levar em conta os aspectos subjetivos-estéticos, superar a lógica da significação, ultrapassar o paradigma da representação e adentrar na lógica do sentido[54].

 A categoria práxis constitui-se no cerne da filosofia da história. Ao abordarmos os problemas a ela referidos, precisamos nos questionar em que medida nossos conceitos são realmente satisfatórios para compreender a complexidade histórica e mediar uma efetiva ação transformadora. Se analisando a história nos deparamos com a reflexão sobre estruturas duradouras por largos períodos e conjunturas em constante processo de modificação, cabe entretanto destacar que as diversas dimensões de subjetividade envolvidas nestes processos não se reduzem àquilo que

objetivamente podemos avaliar. Mais que isso, nos complexos processos contemporâneos em que intervenções semióticas sobre o inconsciente produzem tendências históricas - não apenas modas ou movimentos de consumos, mas adesões políticas e construções de hegemonias ativas - cabe investigar tais elementos subjetivos dificilmente captáveis pelas metodologias históricas desenvolvidas até recentemente. Perceber como as subjetividades são modelizadas em suas dinâmicas e como as singularidades podem emergir é reconstruir a categoria  práxis para que seja potente o bastante a fim de elucidar os complexos movimentos históricos contemporâneos no Brasil e no mundo, sobretudo aqueles relacionados à experiência dos africanos e seus descendentes.

Partimos do pressuposto que a práxis integra dialeticamente a teoria e a prática em uma ação efetivadora, portanto histórica, que possibilita a realização de fins premeditados. Contudo, a práxis integra muito mais que isso. Envolve também dimensões de subjetividade como o desejo, paixões, angústias e sentimentos inerentes às ações humanas. Compreendê-la significa também desvendar os inúmeros elementos agenciadores de tais intensidades que, por sua vez, promovem a elaboração de teorias, conjuntos de representações interpretativas e ações históricas. O modo de pensar a prática não pode desconsiderar tais vetores sobre o risco de falsear sua explicitação, centrando-se em aspectos parciais. Despreocupados com a elaboração de leis que desvendem regularidades substantivas nos processos históricos, interessa-nos compreender como as tendências históricas vão se constituindo em um emaranhado de agenciamentos mediados por semióticas que passam a ser modelizadas, de modo cada vez mais intenso pelos códigos do capital - que modeliza inclusive grande parte dos códigos religiosos, éticos, estéticos e afetivos. Interessa-nos, pois, entender como intensidades subjetivas são capturadas sob códigos variados confluindo na emergência de complexos processos históricos que possuem inúmeros sentidos somente compreensíveis sob uma metodologia capaz de identificar conjuntos de transversalidades que articulam intensidades subjetivas em movimentos coletivos.

 A práxis que visa realizar a cidadania somente pode resultar de um movimento dinâmico que possa compreender e transformar os códigos e os princípios da sociedade capitalista em que se produz mercadorias - objetos sígnicos: um produto e sua marca, um político e sua imagem -, e subjetividades produtoras e consumidoras de mercadorias. Com efeito a sociedade capitalista obedece a um dinâmico movimento de recuperação dos signos subversivos a ela, o que a reafirma em sua posição dominante (e opressora) diante da realidade vigente. Tal recuperação que desterritorializa os signos, os esvazia de seu conteúdo subversivo, capturando as intensidades a eles vinculados no jogo do acúmulo do capita l[55]. Ora, nosso modo de teorizar a sociedade no sentido do exercício de compreensão dos seus mecanismos não comporta amplitude e flexibilidade o suficiente para detectar essas recapturas de tendências históricas sob os códigos capitalistas, fugindo de nossa análise as dimensões do desejo e da sedução [56], uma vez que são privilegiados, em nossos métodos, o uso analítico da razão que não a percebe como mediação de necessidades, paixões e desejos. Para desvencilharmo-nos dessa armadilha propomos que o modo de pensar a teoria e a prática seja transversal ou composto, ou seja, que leve em conta aspectos afetivos da dimensão emocional da subjetividade e

os aspectos racionais dessa mesma subjetividade, abordando-os de maneira teórico- analítica, mas também de maneira estético-intuitiva, para que nossos signos interpretantes não percam a complexidade do real e não caiam em configurações binárias.

 A teoria e a prática capitalista codifica e sobrecodifica os signos dando-lhes sentidos alheios a eles próprios visando o seu objetivo de movimento, expansão e acúmulo de capital. Outras vezes recupera teorias sem alterar-lhes os códigos, mantendo-as como um subsistema cultural de suporte. Cabe-nos usar uma metodologia que dê conta de efetivar o conceito de práxis - movimento dialético que promove uma prática refletida e uma reflexão sobre a prática - desmascarando as armadilhas capitalistas a partir da compreensão complexa das modelizações semióticas que efetua; por outra via, isso só é possível se nosso movimento teórico tiver flexibilidade e dinâmica suficientes para desvendar essas recapturas e subverter tal apropriação dos signos realizada como mediação para a expansão e concentração de capital.

Linguagem e cultura são duas dimensões de uma mesma condição de pensamento e ação. A mediação sígnica da construção das identidades torna-se instrumento de produção de subjetividade, de territorialização de intensidades. Na era dos meios de comunicação de massa a subjetividade é perpassada por jogos semióticos que resultam em balizamentos do pensar , do agir econômico, político e interpessoal. Interferindo nos domínios mais íntimos da vida privada os Meios de Comunicação Social modulam vontades, desejos, angustias e anseios, mobilizando diversas formas de práxis e construindo hegemonias. Compreender como os signos são capturados nos diversos imaginários, como operam inversões entre a fantasia e o efetivo, como os discursos e práticas subversivas são modelizados com a finalidade de manter estruturas excludentes é um desafio urgente colocado à filosofia da práxis. Como produzir códigos subversivos que não permitam capturas semióticas sob a modelização das linguagens dominantes? Uma vez que todo signo é polissêmico, será possível tal produção signica incapturável ? Haverá a possibilidade real de uma cosmovisão africana que se oponha ao CMI e não seja ressiginificada por ele?

O capitalismo amplia seus domínios configurando-se não apenas como um sistema de produção de mercadorias, mas também de subjetividades. As máquinas de produção capitalista agenciam o desejo das pessoas em função do acúmulo de capital. Em outras palavras, o sistema produz ou cria uma realidade virtual que, mobilizando os desejos e anseios dos indivíduos, os predispõe ao consumo, à reprodução do capital, assumindo as regras que apontam para a realização de sua humanidade. Tal processo se dá em detrimento, contudo, da realidade existente na qual os indivíduos estão inseridos e na qual sofrem a violência do sistema, a exploração e a expropriação de seu domínio cultural.

 As conseqüências desse processo são a mistificação da realidade e o aprisionamento do desejo dos indivíduos em função de algo que não os satisfaz e não os realiza.

Tais processos de subjetivação visam reforçar as estruturas sociais capitalistas. Os indivíduos tornam-se mais facilmente controlados, são domesticados por tais estruturas e passam a reproduzir as relações sociais capitalistas que, por sua vez, viabilizam a reprodução das forças produtivas capitalistas.

 A interação com os signos é simultaneamente estética e cognitiva. A dimensão estética envolve os perceptos - sem os quais seria impossível haver agenciamentos - mas também os afetos - aquilo que é provocado em nossa subjetividade passional, desejante, etc. sem os quais não haveria mobilização do sujeito. Deste processo resulta um signo ou representação cognitiva que evoca a identidade do objeto e do processo a ele associados.

 A dimensão afetiva da práxis é, em geral, desconsiderada pelas análises políticas. Contudo, desejos e outras intensidades acabam politicamente aflorando em atitudes que desconsideram os interesses coletivos ao visar apenas objetivos particulares ou que arrojam pessoas na defesa de objetivos coletivos em detrimento de interesses particulares.

O pensamento de Leopoldo Sedhar Senghor, tributário da cosmovisão africana, indica novos conceitos filosóficos para pensar a práxis não apenas dos afrodescendentes, mas de todos os ativistas dos MSPs. Fundamentando sua teoria do conhecimento na cultura africana, afirma SENGHOR (apud AZOMBO MENDA- KOSSO, 1978, p.30):

Eis então o negro-africano, o qual simpatiza e se identifica, o qual morre a si para renascer no outro. Ele não assimila. Ele se assimila. Ele vive com o outro em simbiose, ele co-nhece o outro... Sujeito e objeto são, aqui, dialeticamente confrontados no ato mesmo do conhecimento, que é ato de amor. “Eu penso, então eu existo”, escrevia Descartes. A observação já foi feita, pensa-se sempre alguma coisa. O Negro- Africano poderia dizer: “Eu sinto o Outro, eu danço o Outro, então eu sou”. Ora, dan çar é criar, sobretudo quando a dança é dança do amor. É este, em todo o caso, o melhor modo de conhecimento.

De acordo com SENGHOR (apud AZOMBO MENDA-KOSSO, 1978, p. 29-42), consideramos que o afetivo é uma característica fundamental do ser humano e que, desenvolvida adequadamente, possibilita ampliar e qualificar o resultado dos processos cognitivos. A idéia de assimilar-se ao outro em um sim-pático movimento de mudança de ambos resulta em uma relação que produz uma unidade comum ao mesmo tempo que resguarda a singularidade de cada qual no exercício de sua liberdade. Este ultrapassamento de uma identidade singular que se modifica, movida por uma intensidade de transcendência que encontra no outro humano a possibilidade de seu renascimento, poderia ser expresso como um desejo de comunhão. Pensamos que o Desejo de Comunhão pulsa vivamente no seio do ser humano, e que este desejo é um fator potencialmente subversivo, agregador, que promove a interação da subjetividade de pessoas que se agregam em coletivos. Este movimento afetivo - de comunhão com o outro - é capaz de gerar uma práxis comprometida com o coletivo e com o pessoal, na medida em que a comunhão é sempre uma relação singular e plural ao mesmo tempo. O Desejo de Comunhão, efetivando-se pelo processo de

amar ( e de conhecer pelo amor) agenciaria uma práxis ética que leva ao encontro do outro. É um “outro modo que ser ”[57]. É um modo de africanizar-se. É um modelo de vida forjado pela experiência africana.

Toda práxis possui um telos, uma finalidade. Tanto na vida privada quanto na pública, a realização histórica de qualquer finalidade envolve exercícios de poder. Por  trás de toda práxis há algum interesse. As finalidades que orientam as condutas podem ser aquelas socialmente dominantes, como podem brotar de modo singular da criatividade humana, sempre relativamente determinada pelos meios e condições que a tornam viável. A política da africanidade visa justamente exercer o poder para a promoção de um sistema de comunhão econômica e inclusão social, baseado na lógica própria de cada cultura. A finalidade da práxis dos Movimentos Negros e das comunidades de terreiro é exatamente a realização do bem viver de todos e de cada um. Para realizar tal política é preciso ser consequente quanto à práxis que efetuamos. Cumpre, pois, distinguir uma práxis alienada de uma práxis ética.

 A práxis alienada pode configurar-se como práxis de dominação. Deve-se observar, entretanto, que a palavra dominação sugere coerção, no entanto, a sedução dos desejos das pessoas, que por sua vez mobilizam suas práticas, também é um  jogo de poder utilizável na práxis de dominação. Neste caso, o problema é a direção que a sedução lhes dá, pois as ações dos indivíduos podem ser direcionadas às práticas que os mantenham cativos das relações opressoras e alienantes, ou por  outro lado, podem orientar a prática para ações éticas no encontro subversivo das subjetividades maduras, que desenvolveram adequadamente suas dimensões analíticas e afetivas, cognitivas e estéticas. Esse é precisamente o caso da práxis ética.

Poderíamos chamar de singularizante a práxis ética, já que ela é condensadora das subjetividades. Ela diferencia-se da práxis alienada na sua raiz, ou melhor, no que tem de novo na relação com o outro, em quem eu posso me reconhecer humano, convidado ao infinito ultrapassamento, ao co-nhecimento como afirma Senghor.

 Ainda que abortados pelo poder de massificação da mídia, esses desejos transcendentes e singularizantes de ultrapassamento, produzidos culturalmente, estão constantemente presentes. Talvez a própria negação do desejo ou do movimento em busca de sua contínua satisfação na condição do “ser aqui” promova essa mistificação atual advinda da privação da própria realização da condição humana minimamente cidadã. Por outro lado, o sistema se apropria também disso, modelizando tal desejo, revertendo em seu benefício tais intensidades.

O desejo de ser infinitamente outro, de transcendência, de

ultrapassamento, que é agenciado em inúmeras linguagens modelizantes - religiosas, políticas, econômicas, etc. -, sobrevive , entretanto, a toda modelização, podendo ser  reapropriado em outros jogos. A questão parece ser como singularizá-lo e ressignificá-lo, libertando-o desses jogos de linguagens que o mediatizam em processos de poder dominantes, para agenciar movimentos coletivos de subversão que redundam em modelos sociais de inclusão e justiça social, como vislumbramos nos Impérios Africanos (Mali, Gana e Songai) ou na política da africanidade no Brasil.

Tanto as finalidades desejadas que, invariavelmente, se revestem de signos, como as intensidades subjetivas que são, ambas, produzidas coletivamente, podem ser subjetivadas singularmente. Distinguir entre modos éticos e alienantes implica não apenas compreender se o outro é tomado como mediação do processo que lhe é imposto pelo mesmo, mas entender como os processos de sedução mobilizam as pessoas a escolherem “livremente” finalidades que realizam seus interesses particulares e daqueles que a mobilizam, mas que simultaneamente excluem aos demais do exercício da cidadania, exclusão essa que não percebem mobilizados nos  jogos de sedução.

Subjetividade Subversiva e Alteridade

 Alguns agenciamentos provocam subjetivações, desmonte de códigos éticos e políticos dominantes. Não sendo recapturados nas lógicas de dominação, podem molecularizar grupos agregadores de mudança, de afirmação de diferenças. Tais movimentos podem avançar em perspectivas éticas ou alienantes. Quando mobilizados por um desejo alterativo, a irrupção subversiva tende a produzir utopias coletivas não apenas singularizantes, mas também abertas e desejosas de se transformarem a partir de outras subjetividades que se molecularizem. Quando a identidade do grupo se fecha, passando a laminar ou territorializar a subjetividade dos novos participantes que devem assumir os códigos anteriores de maneira inquestionável, então ele vai perdendo o caráter subversivo, passando a ser  conservador.

 Assim, o diferente que renega o desejo alterativo não pode fecundar um movimento molecular; por outro lado, a diferença que não nega o desejo alterativo, fecunda o movimento e a práxis libertadora. Já o grupo que subverte o código dominante, mas estabelece uma nova identidade territorializadora, torna-se conservador e busca negar o diferente afirmando a identidade alienante do coletivo.

Se a subversão, portanto, parte do desejo alterativo - desejante do outro em sua diferença - é preciso avançar em direção ao desejo de comunhão - afirmação desejante da identificação (sem laminação) com o outro em um movimento de ultrapassamento molecular no “ser aqui”. Desejo de comunhão como sentido das revoluções moleculares e ponte transversal para a efetivação cotidiana da revolução molar.

 A práxis resulta de um movimento cultural. Nenhuma linguagem ou objetivo escapam de determinações históricas. Determinação não implica fim inexorável, mas qualidades essenciais que o contexto impregna na ação. A subjetividade é um produto tecido no seio das relações de poder em todas as esferas de convivência. Em cada ação entrelaçam-se o pessoal e o coletivo. No Capitalismo o movimento de laminação de subjetividade é cada vez maior. Os espaços são quase todos recuperados sob a territorialidade dominante dos valores de troca.

De outra parte, os movimentos coletivos que visam promover transformações na ordem vigente em cada situação compõem um processo envolvente de aglutinação de subjetividades particulares que podem resultar em identidades coletivas duradouras como desagregar-se atingidos os objetivos privados.

Para compreender a práxis de um movimento social ou de um grupo étnico é necessário compreender como o coletivo recria a subjetividade pessoal, singularizando-a ou laminando-a, isto é, possibilitando a vazão de fluxos de desejo desterritorializados sob as linguagens até então dominantes que são agora modelizadas por aquele grupo, possibilitando revoluções moleculares ou criando novos códigos que se impõem sobre o coletivo, promovendo novos processos de alienação militante na reprodução de normas e códigos que subvertem a ordem vigente, mas constituem uma outra ordem similarmente laminadora.

Concordes com o pensamento africano de SENGHOR (apud AZOMBO MENDA-KOSSO, 1978, p.32), pensamos que é preciso ir em direção ao outro. Ir ao seu encontro, mas não apenas desejando-lhe a diferença, mas desejando-lhe a comunhão, um movimento de assimilação coletiva, de renovação de subjetividades, que mantém a liberdade e a singularidade de todos. Assim, eu transformo a mim mesmo para renascer no outro. Deixo de ser um ser sozinho (individual) para ser um ser comunitário (social). Essa mudança do eu para nascer como outro afirma a minha identidade e não a dissolve, posto que é a subjetividade madura que pode transformar-se de uma flor para um fruto. Em outras palavras, só quando há vazão para fluir a subjetividade é que ela aflora em sua vivacidade. Tal movimento, singularizador sem dúvida, não cabe em si mesmo, pois o homem maduro é um ser  social e não egocêntrico. O homem maduro deseja o encontro com o outro em um movimento de renascimento. Aprender é um ato de amor, porque conhecer é um ato amoroso. Amor é o ato do encontro. Uma das formas de amor é a alegria da comunhão, é o sentimento da participação no coletivo, de ser amado. É o sentido da própria vida, fonte do movimento do eu ao outro, do indivíduo ao social, do particular  ao coletivo.

Contudo, os indivíduos se relacionam com o coletivo também por inúmeros interesses. Isto porque sobreviver é viver no mundo. Viver no mundo é estabelecer  inúmeras relações por inúmeros interesses, que são mediações necessárias a esta própria sobrevivência. O sentido fundamental da vida para o homem maduro, entretanto, é amar e ser amado. Assim, o amor é a necessidade fundamental, o desejo a partir do qual o homem maduro reconstrói sua utopia. O entrelaçamento do indivíduo com o coletivo, na perspectiva da comunhão utópica e transversalmente real, tira a ética do domínio do privado e a política do domínio coletivo, afirmando uma ética na política e uma política na vida cotidiana (micro-política).

Como a práxis é mediada por signos de libertação e como eles também são modelizados pelas linguagens dominantes, os participantes dos movimentos podem ser afetados por essas comunicações; há, aqui, uma disputa simbólica não apenas de destruição de identidades, mas de captura de devires agenciados a novas tendências históricas.

O sistema sempre captura os signos que são subversivos, destruindo seus significados moleculares e sobrecodificando-os (ou modelizando-os) para a interação de sua própria rede de significações com o objetivo de direcionar, via sedução, os desejos dos indivíduos na direção que lhes convêm.

É preciso, portanto, que possamos pensar se é possível e como produzir  signos não facilmente capturáveis pelo sistema capitalista. Não se trata apenas de produzir novos signos - posto que eles podem ser sobrecodificados pelo sistema - e sim de lhes imprimir uma dinâmica capaz de livrar-se da captura de si mesmo, e ainda, subverter os próprios signos dominantes. Mas o que não pode ser capturável se os signos são polissêmicos?

 A lógica capitalista é uma lógica acumulativa que visa a expansão de seus próprios limites (uma lógica egocêntrica), expandindo seu domínio coercitivo-sedutor  sobre os indivíduos das sociedades. Contra essa lógica egocêntrica, individualista, propomos uma lógica transversal ou composta. Trata-se de uma lógica que supõe a subjetividade madura, o desejo de comunhão, que funda uma outra sociabilidade (não egocêntrica). Não propomos esta outra sociabilidade apenas como proposta escatológica; primamos por experiências histórias  – como a dos afrodescendentes – que foram capazes de gerir, desde o princípio da inclusão e da diversidade, sistemas sociais dinamizados pelo desejo de comunhão e pelo desejo

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