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3.6 Caracterização da mucosa oral através da endoscopia de contacto

3.6.1 Mucosa oral normal

3.6.1.2 Mucosa de Revestimento

Lábio

A superfície do lábio pode ser dividida em diferentes regiões, em particular, a mucosa do lábio, a zona de transição e a pele do lábio. (1, 3)

Figura 12: EC, 60X. Azul de metileno. Mucosa da gengiva próxima da estrutura dentária. Observam-se células sem núcleo visível e células inflamatórias a infiltrar a mucosa (seta). Imagem obtida sem autorização do autor. (1)

Figura 13: EC, 60X. Mucosa da gengiva, área afastada do dente. Vasos em ansa curta. Imagem obtida sem autorização do autor. (1)

Contributo da endoscopia de contacto na caracterização da mucosa oral | Leonor Balsinha

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Mucosa do lábio

A mucosa do lábio apresenta um epitélio estratificado pavimentoso não queratinizado e pouco espesso. As células das camadas superficiais possuem núcleos picnóticos. A LP é composta por TC laxo. A camada basal é constituída por células colunares. A submucosa exibe glândulas salivares minor mistas com os ácinos muito próximos da superfície. Nesta camada, as células inflamatórias como os linfócitos, monócitos e macrófagos são abundantes. (1, 3)

Na EC a mucosa do lábio apresenta células com núcleos grandes e, como tal, há uma grande relação núcleo-citoplasma. Os limites celulares são muitas vezes impercetíveis, embora relativamente definidos. O número de células e a sua forma pode ser dada pelo número e forma dos núcleos. A microvascularização é constituída por vasos em ansa com densidade elevada e com forma semelhante aos da zona de transição, embora mais longos e de menor diâmetro (Fig. 14) Por vezes, observam-se micro-pregas epiteliais orientadas paralelamente ao maior eixo do lábio (Fig. 15). (1)

Figura 14: EC, 60X. Região mucosa do lábio. Microvascularização sub-epitelial. Imagem obtida sem autorização do autor. (1)

Figura 15: EC, 60X. Azul de metileno. Região mucosa do lábio, micro-pregas

abundantes. Imagem obtida sem

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Zona de transição e pele do lábio

Histologicamente, na zona de transição do lábio, o epitélio é paraqueratinizado ou não queratinizado e tem papilas de grandes dimensões. (1) Na zona da pele do lábio, esta é recoberta por uma pele fina e existem folículos pilosos e glândulas sebáceas ou sudoríparas. (3)

Na EC, nesta região, duas zonas diferentes são observadas. Uma mais próxima da pele com um epitélio do tipo queratinizado, onde se encontram células poliédricas sem núcleos visíveis com formas semelhantes e outra, na região próxima da mucosa, onde as células possuem núcleos picnóticos alternados com células com grandes núcleos (Fig. 16). (1)

Dado que as papilas epiteliais ou conjuntivas são abundantes e necessárias para nutrir o epitélio espesso, no que concerne à microvascularização, os vasos em ansa são numerosos e apresentam um grande diâmetro, comparado com os do palato ou a mucosa jugal. Os mesmos têm uma distribuição homogénea e a circulação das hemácias pode ser interrompida com uma pressão leve da ponta do endoscópio de contacto que após alívio da mesma, nota-se uma circulação regular normal. (1)

Mucosa jugal

Histologicamente, na mucosa jugal, o epitélio é espesso e do tipo estratificado pavimentoso não queratinizado (Fig. 17). Este assenta sobre uma LP vascularizada que contém um tecido fibroelástico denso e que penetra no epitélio, formando cristas epiteliais elevadas. A submucosa contém grandes vasos sanguíneos, glândulas salivares minor e tecido adiposo. (1, 3)

Figura 16: EC, 60X. Azul de metileno. Área de transição pele/mucosa. À esquerda, região da pele; à direita, área da mucosa. Imagem obtida sem autorização do autor. (1)

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A mucosa desta região é facilmente observada com a EC. Devido à sua localização, a ponta do endoscópio fica bem apoiada e observam-se rapidamente grandes áreas. (1)

Nas imagens obtidas com a EC, é visível um padrão uniforme de células e dos seus núcleos. Estas apresentam forma poligonal e limites bem definidos. Os núcleos são ovóides e picnóticos (Fig. 18). A relação núcleo-citoplasma é uniforme e baixa, devido às reduzidas dimensões dos núcleos. (1, 5) Relativamente à microvascularização e em concordância com a existência de muitas papilas conjuntivas nesta região, a EC permite observar vasos longos em ansa, sem ectasias e com padrão homogéneo (Fig. 19). Dentro das características mais relevantes dos critérios de normalidade, é de salientar a elevada densidade dos vasos por área e a sua disposição paralela. (1)

Figura 17: HE, 250 X. Epitélio da mucosa jugal. Imagem obtida sem autorização do autor. (3)

Figura 18: EC, 60X. Azul de metileno.

Mucosa jugal, ponto de focagem

intermédio. Células com núcleos picnóticos e vasos com ansas longas. Imagem obtida sem autorização do autor. (1)

Figura 19: EC, 60X. Mucosa jugal. Vasos sanguíneos em ansa. Imagem obtida sem autorização do autor. (1)

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23 Tal como no palato mole, encontram-se micro-pregas no epitélio da mucosa jugal e, esporadicamente, podem-se observar ostia de glândulas salivares. Esta mucosa tem muitas semelhanças com a do trígono retromolar na observação por EC. (1)

Palato mole e úvula

Histologicamente, o epitélio é pouco espesso e do tipo estratificado pavimentoso não queratinizado. Observam-se habitualmente células inflamatórias entre os queratinócitos das várias camadas. A LP é espessa e possui muitas papilas conjuntivas vascularizadas e de elevadas dimensões. A submucosa apresenta um TC laxo com tecido adiposo e uma grande densidade de glândulas mucosas. (1, 3)

No palato mole, ao contrário do palato duro, a ponta do EC é simples de encostar à mucosa e as imagens são facilmente obtidas. Porém, em indivíduos com reflexo do vómito exacerbado esta tarefa pode tornar-se difícil. (1)

Na análise por EC, os núcleos das células são visíveis, ligeiramente ovóides e apresentam dimensões e formas semelhantes (Fig.20). Na maioria das vezes, é possível observar a membrana citoplasmática, sendo os limites das células bem definidos comparado com outras regiões da cavidade oral. (1)

Devido à descamação das células, podem-se detetar áreas não coradas que correspondem a este fenómeno (Fig.20). Ao observar estas regiões ou linhas coradas de azul, é necessário realizar o diagnóstico diferencial com hifas fúngicas. (1)

Com a EC observam-se micro-pregas epiteliais, relacionadas com a elasticidade da mucosa, sendo possível descrever a sua distribuição, orientação e dimensões (Fig. 21). (1)

Figura 20: EC, 60X. Palato mole. Células com relação núcleo-citoplasma grande. São visíveis os espaços vazios resultantes da descamação de células (setas). Imagem obtida sem autorização do autor. (1)

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Relativamente à vascularização, podem-se observar vasos de pequeno diâmetro em ansas longas (Fig. 22). A circulação possui uma cinética regular e pode ser interrompida com pressões da ponta do endoscópio. (1)

Existem muitas ostia das glândulas salivares nesta região, sendo comum visualizar-se estas estruturas a abrir e a excretar. (1)

Pavimento da boca

O pavimento da boca, histologicamente, possui um epitélio não queratinizado de reduzida espessura, o que justifica as curtas papilas da LP. O TC laxo da LP é rico em fibras elásticas e muito vascularizado. A submucosa contém bastante tecido adiposo e possui glândulas salivares minor e as glândulas sublinguais. (1, 3)

Na observação por EC, a forma das células é poligonal, os limites destas são nítidos e os núcleos são picnóticos, embora maiores que os núcleos das células da mucosa jugal. Os vasos sub- epiteliais são abundantes e facilmente focados com a EC, no entanto, não estão em forma de ansa

Figura 21: EC, 60X. Azul de metileno. Palato mole. Micro-pregas do epitélio (seta). Imagem obtida sem autorização do autor. (1)

Figura 22: EC, 60X. Palato mole. Vasos em ansas longas. Imagem obtida sem autorização do autor. (1)

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25 dado que a pouca espessura do epitélio não precisa de papilas conjuntivas para manter a nutrição das células (Fig. 23). (1)

A mucosa possui bastantes micro-pregas com orientação paralela ao sulco gengival (Fig. 24). (1)

Trígono retromolar

Histologicamente, o epitélio é estratificado pavimentoso e semelhante ao da mucosa jugal embora com menor espessura. A LP possui uma microvascularização abundante. (1)

Na observação por EC, as células possuem núcleos picnóticos, limites bem definidos e uma baixa relação núcleo-citoplasma devido às reduzidas dimensões dos núcleos. Dado que o epitélio é não queratinizado e fino, é possível observar bem a microcirculação, que tem um aspeto arboriforme. Os vasos têm forma de ansa e também se observam ostia de glândulas salivares (Fig. 25). (1)

Figura 23: EC, 60X. Epitélio do pavimento da boca, ponto de focagem intermédio. Observam-se células bem delimitadas e vasos ramificados sem ansas. Imagem obtida sem autorização do autor. (1)

Figura 24: EC, 60X. Azul de metileno. Epitélio do pavimento da boca. Micro- pregas epitelias (seta). Imagem obtida sem autorização do autor. (1)

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Língua

Face ventral da língua

Histologicamente, o epitélio é estratificado pavimentoso não queratinizado e de reduzida espessura, o que permite a observação à transparência dos vasos do tecido conjuntivo subjacente. A LP possui inúmeras papilas curtas, fibras elásticas, vasos sanguíneos, adipócitos e glândulas salivares minor. A submucosa é inexistente. (1, 3)

Nesta localização, no estudo por EC, as células são bem delimitadas, os núcleos têm grandes dimensões e são ovóides, a relação núcleo-citoplasma é baixa e regular (Fig. 26). Observam-se múltiplas micro-pregas da mucosa, paralelas ao longo eixo da língua. Como o epitélio é fino, observa-se o TC e a microcirculação (Fig. 26). Existe uma grande densidade vascular, com vasos de grande diâmetro que terminam em forma de ansa. (1)

Figura 25: EC, 60X. Microcirculação da mucosa do trígono retromolar. Vasos em

ansa (seta). Imagem obtida sem

autorização do autor. (1)

Figura 26: EC, 60X. Face ventral da língua, ponto de focagem intermédio. Observam- se células epiteliais e a microcirculação sub-epitelial. Imagem obtida sem autorização do autor. (1)

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