• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3. GESTORES, TÉCNICAS E DOCENTES DO PROJETO EMEP

3.3 Mudança de concepção, manutenção ou ampliação das atividades?

Uma questão apresentada aos entrevistados foi se eles achavam que houve modificação na concepção de formação do SENAI-PE (SESI-PE) e, se aconteceu, ao que eles atribuiriam a mudança.

No SENAI-PE, dos cinco entrevistados, três disseram que houve mudanças. Desses, dois sujeitos (Docente 1-SENAI e Técnica-SENAI) falaram que o Projeto EMEP foi a modificação.

O Diretor-SENAI disse que houve uma modificação radical na concepção de formação do SENAI-PE como resposta às mudanças que o mundo está exigindo. Notamos aproximação com o que está posto em um documento norteador sobre a educação profissional no SENAI. Segundo tal documento, a educação profissional deve ser remodelada de acordo com as modificações do trabalho industrial, fruto das mudanças estruturais - entre elas, a globalização

da economia na década passada - que aconteceram nas principais economias mundiais, com rebatimento na economia do Brasil.

De modo geral, as transformações sócio-econômicas ocorridas nas economias centrais nas duas últimas décadas, e seus reflexos na economia interna brasileira, demarcaram uma mudança radical de postura da instituição. Se na sua origem o SENAI cumpriu um papel reativo em relação ao processo de industrialização e desenvolvimento do país, a partir dos anos 90 passa a assumir um papel pró-ativo, antecipando-se às mudanças de ordem social e econômica.

A certeza de que o processo de modernização industrial do Brasil é irreversível fez com que o SENAI direcionasse suas ações no sentido de elevar o nível de competitividade das empresas brasileiras, buscando torná- las mais aptas ao enfrentamento dos entraves decorrentes da abertura e da globalização da economia, realidade objetiva no início dos anos 90. [...]

É com esse espírito que o SENAI dá início às reflexões em torno da revisão de seu modelo de formação profissional, define novos parâmetros para a capacitação de recursos humanos, [...] e se prepara para observar permanentemente as transformações do trabalho industrial (SENAI.DN.DET, 1997, pp. 19-20, grifos nossos).

O que nossos entrevistados do SENAI-PE apontam como mudança de concepção, no nosso entendimento não ocorreu. A finalidade dessa instituição permaneceu, que é a formação profissional, bem como a manutenção do seu carro-chefe que é a preparação de mão-de-obra para o mercado de trabalho industrial, através da oferta de cursos nas modalidades de aprendizagem industrial, qualificação profissional e cursos técnicos, embora tenha havido a inclusão de novas ações como a atuação nas Áreas de Consultoria, Informações Tecnológicas e Serviços Laboratoriais.

Ainda no que concerne a esta questão, no SESI-PE só um sujeito não respondeu nossa pergunta. Todos os demais disseram que houve modificação na concepção de formação dessa entidade, e desses, seis sujeitos responderam que a mudança foi a implantação do Projeto EMEP, por introduzir nesse CAT o ensino médio regular, a partir de 2004, uma vez que antes o carro-chefe dessa instituição era a EJA, em articulação com a formação técnica no SENAI- PE. Vamos conferir duas falas:

[...], com a vinda do ensino médio articulado com a educação profissional junto com o SENAI, eu acredito que houve mudança em nível da nossa instituição, do SESI (Docente 2 – SESI).

Houve mudança na concepção de formação do SESI quando foi implementado o ensino médio regular. Quando foi feita a articulação com o SENAI nessa proposta possibilitando a alunos e jovens, entre catorze e dezesseis anos, a formação continuada, como o ensino médio profissionalizante, uma vez que o SESI tem como referência trabalhar com a educação de jovens e adultos (EJA) [...] (Docente 5 – SESI).

A concepção de formação do SESI se modificou para nossos entrevistados, pois essa instituição primou (e ainda prima) pela EJA. Contudo, ao iniciar suas atividades no ensino médio, ampliando suas modalidades de formação, a entidade pretende assegurar a concretização de um novo plano. Nessa perspectiva estratégica, há similaridade com a proposta pedagógica do Projeto EMEP, para poder contribuir com satisfação das novas demandas do mundo do trabalho que, entre outras coisas, tem como exigência a existência de uma educação básica de melhor qualidade.

A proposta Ensino Médio e Educação Profissional - Ação articulada SESI - SENAI é uma iniciativa para consolidar uma estratégia de ação sistêmica e pró-ativa, com base nos seus planejamentos estratégicos. [...]

A oferta articulada do Ensino Médio e da Educação Profissional que ora se apresenta é mais um passo no trabalho conjunto desenvolvido pelo SESI e pelo SENAI, como resposta das entidades à sociedade que demanda por uma educação de qualidade, [...] (SESI-DN/SENAI-DN, 2002, p. 4, grifo no original).

Dois outros docentes complementaram as respostas dos sujeitos supracitados. O Docente 3-SESI disse que houve uma modificação relativa ao nível de linguagem, uma reestruturação curricular no trabalho pedagógico com o educando do Projeto EMEP. Essa modificação ocorreu, no nosso entendimento, porque a estrutura curricular, a prática pedagógica e a linguagem empregada com o discente do ensino médio são completamente diferentes daquelas com que o aluno da EJA convive. Cada modalidade de ensino possui sua especificidade nesse trato.

A Docente 6-SESI disse que houve modificação quando o SESI se abriu primeiramente para a comunidade, com a expansão de novos projetos e de novas concepções, com o Projeto EMEP fazendo parte desse processo.

Os outros dois docentes disseram que houve modificação na concepção de formação do SESI-PE da seguinte forma: o Docente 1-SESI respondeu que houve mudança pela necessidade de garantir uma educação de qualidade, sendo que não especificou qual mudança ocorreu; a Docente 4-SESI apontou mudança na avaliação e nos métodos.

Surge um questionamento com relação aos conteúdos dessas falas dos sujeitos do SESI-PE: será que com a introdução do ensino médio articulado à educação profissional poderemos afirmar que houve uma mudança de concepção? Não seria melhor dizer que ao invés dessa modificação ocorreu uma ampliação de atividades naquela entidade?

Explicando melhor. Inserir a primeira modalidade de ensino junto à segunda pode não representar uma modificação de concepção de formação geral ou profissional, somente uma justaposição de modalidades. Lembramos que perguntamos sobre a concepção, mas será que eles entenderam bem a pergunta?

Para nós, a mudança de concepção não deve acontecer somente com a assimilação e a concretização da formação politécnica; contudo uma modificação real de acepção passa pela assimilação política e a concretização da categoria politecnia, já que

a concepção de ensino e formação politécnica é, antes de tudo, uma crítica radical ao projeto excludente, elitista, diferenciador do ensino e da formação, desenvolvido na sociedade capitalista. Essa crítica, em boa medida efetivada, precisa ser aprofundada e transformada em “senso comum”. O centro desta crítica, mais que nunca, deve ser a desmistificação da relação entre ensino, formação e o fetiche do trabalho (FRIGOTTO, 1991, p. 270).

Concordando com a perspectiva desse autor, acreditamos que houve a manutenção de concepção do SESI-PE, mesmo com a ampliação das atividades, através da inserção do ensino médio regular, até porque pela instituição subordinar-se à FIEPE e ao SESI-DN, e essas duas

entidades seguirem as proposições da CNI, aquela instituição colabora para a satisfação das novas exigências do mundo do trabalho74.