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À medida que a experiência associativa se consolidava, percebemos que o negócio da Asmare ampliou-se para outras atividades que tinham alguma relação com a cadeia produtiva da reciclagem. A Asmare buscou diversificar seu campo de atuação, ofertando à população em situação de rua, e aos próprios associados, outras oportunidades de geração de trabalho e renda, tendo em vista as diferentes habilidades e interesses dos trabalhadores.

Foram desenvolvidos projetos que permitiram a realização de atividades como marcenaria, confecção de roupas, reciclagem de papel, confecção de pastas e materiais para congressos, cursos, eventos, artesanato feito com recicláveis, atividades em casa de shows e restaurante, fabricação de ecoblocos, participação em eventos, dentre outras. Sobre o crescimento da Asmare frente aos inúmeros projetos, Cristina Bove advertiu que

A Asmare foi crescendo em termos de projetos. [Quando] tinham problemas, faziam projetos e chegava dinheiro. Faltou acompanhamento dos projetos pelos catadores. Os catadores não conseguiam se apropriar. O que faz se sentir, se empoderar é conseguir entender a gestão. E estava muito complicada a gestão, havia muitos projetos, muitas coisas e eles não conseguiam acompanhar. (Cristina Bove).

Essas iniciativas contavam com o patrocínio de outras instituições e, à medida que os projetos se encerraram, tais atividades foram desativadas pelo fato de a Asmare não ter se estruturado financeiramente para dar prosseguimento a elas.

É possível depreender que ocorreram mudanças no campo de atuação da Asmare. Se durante um tempo a associação ofertou diversas alternativas de geração de trabalho e renda para a população em situação de rua, pois havia projetos e recursos para esta finalidade, no momento atual as atividades da Asmare estão concentradas na coleta seletiva.

Embora a associação tenha vivenciado as perdas de diversos projetos, outras oportunidades surgiram, foram aproveitadas e ainda estão presentes no cotidiano, contando com a participação dos associados. Para ilustrar, apresentamos uma parceria estabelecida entre a Asmare e a Fundação Dom Cabral12 entre 2009 e 2010. Além de três técnicos que

acompanhavam a Asmare, quatro associados que participavam da diretoria, naquela época, foram capacitados para empreender novas alternativas que pudessem agregar o valor ao trabalho. Nesse sentido, o grupo definiu por ampliar as ações da Asmare no mercado, oferecendo os seus serviços de coleta seletiva em eventos e instituições. Naquele período, a equipe da Fundação acompanhava mensalmente as atividades da Asmare e suas atividades foram finalizadas com a elaboração de um planejamento estratégico direcionado a gestão.

Fruto dessa parceria, sistematicamente, a associação participa de atividades de coleta seletiva em locais de aglutinação de pessoas, ou seja, eventos, shows, exposições, jogos esportivos no estádio do Mineirão, dentre outros. Tais iniciativas são denominadas Eventos Sustentáveis e são formalizadas por meio de um contrato de prestação de serviços. A associação recebe do parceiro uma quantia acordada para pagar a equipe de trabalho responsável pelo recolhimento e triagem do material. A Asmare também ganha com a comercialização do material recolhido no evento.

Em outras situações, a parceria ocorre de maneira informal e a Asmare somente recebe pela comercialização dos materiais. Nesse segundo caso, a venda do material deve ser

12 Maiores informações sobre o programa Parcerias com Organizações Sociais da Fundação do Dom Cabral

suficiente para custear o trabalho da equipe responsável pela coleta e triagem, caso contrário, a associação assume o pagamento da equipe.

Embora essa atividade contemple o envolvimento de vários associados, observamos que, em relação aos serviços prestados durante os jogos no Mineirão, somente uma equipe atua e se beneficia. Eles demonstram satisfação com o trabalho que realizam, o que permite a complementação da sua renda.

Como a renda dos associados tem caído consideravelmente por causa da redução dos preços e da quantidade de materiais recicláveis que chegam aos galpões, o fato de haver uma equipe exclusiva que se beneficia dos eventos sustentáveis tem sido motivo de discussão durante algumas reuniões, principalmente no galpão da Ituiutaba, quando associados reivindicaram que houvesse rodízio nesta atividade e maior controle na comercialização dos recicláveis provenientes desses eventos.

Observamos que nem os membros da diretoria nem os demais associados têm elementos para avaliarem os resultados dessa atividade, pois a equipe responsável por este serviço não costuma fazer a prestação de contas. Por outro lado, a presidente costuma reclamar da ausência dessas informações durante as reuniões, mas os demais membros da diretoria parece não priorizarem essa questão. Normalmente decidem focar sua atenção em outros problemas, como eles mesmos dizem, “BOs”, ou seja, “Boletins de Ocorrência” quando se referem a temas que consideram mais sérios.

Tal situação suscita algumas questões: por que a diretoria, ou mesmo os demais associados não conseguem acompanhar mais de perto a gestão desse serviço? Será que a participação nos eventos em que não são assegurados os pagamentos dos associados de fato é sustentável? Será que as parcerias formalizadas favorecem à Asmare como um todo ou apenas um pequeno grupo de associados?

Ressaltamos que cotidianamente a Asmare realiza palestras em instituições de ensino, empresas, órgãos públicos e outras no intuito de apresentar a experiência da associação e estabelecer novas parcerias na doação de recicláveis. A associação também recebe a visitação de instituições de ensino e empresas nos ambientes de trabalho, favorecendo o diálogo com a comunidade. Tanto as palestras quanto a visitação, segundo os associados, não são cobradas. Elas possibilitam maior visibilidade à associação, além de abrir oportunidades para novas doações de materiais recicláveis.