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CAPÍTULO 2 – FEMINISMO E TEOLOGIA

2.3 Mulher cristã e o casamento

Tratar sobre o papel da mulher dentro do casamento, segundo os padrões bíblicos, é um tema que apresenta diferentes interpretações. De um lado existem os defensores da submissão total da mulher (submissão retratada como subserviência), não permitindo inclusive que a mulher exerça profissão ou tenha liderança na igreja; de outro lado, há aqueles que defendem uma submissão parcial, mais parecida com respeito, com certa liberdade para esta atuar no mercado de trabalho e em alguns espaços da igreja; e, por último, há a corrente da Teologia Feminista que defende uma igualdade total de papéis e nega a ideia de “submissão”, pautando-se no segundo relato da criação quando Deus estabelece a humanidade sem fazer distinção entre homens e mulheres. Todos eles encontram na Bíblia, ou na interpretação que se faz dela, textos que corroboram sua opinião.

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Coabitar na Bíblia, assim como conhecer, em geral, é usado para falar sobre a relação sexual entre o casal. 11

Há muitas passagens na Bíblia que utilizam a figura do casamento para retratar o amor de Deus para com o seu povo Israel. No Antigo Testamento podemos citar Jeremias 2:1-3, Ezequiel capítulos 16 e 23, Oséias capítulos 1 a 3. No Novo Testamento encontramos essa alegoria em Efésios 2:22-33 e Apocalipse 19:7-8.

Voltaremos, neste ponto, a Grudem (2009, p. 373) quando afirma que a criação do ser humano como homem e mulher revela a imagem de Deus em: (1) relações interpessoais harmoniosas; (2) igualdade em termos de pessoalidade e de importância; e (3) diferença de papéis e autoridade. Apresentaremos a explanação de Grudem, uma vez que ela parece ser mais completa e elucidativa a respeito de tais questionamentos. Assim, faremos uma explicação detalhada de cada tópico.

Quando o teólogo explica que a criação do ser humano como homem e mulher revela a imagem de Deus em relações interpessoais harmoniosas, considera que Deus não criou os seres humanos para viverem isoladamente, mas os criou de tal forma que possam alcançar unidade interpessoal de várias maneiras em todos os âmbitos da sociedade, seja no relacionamento familiar, com amigos ou no casamento. Postula, portanto, que o homem e a mulher alcançam essa unidade total no casamento, pois é uma união não apenas de corpo, mas também emocional e espiritual. Existiria, assim, uma analogia do casamento com o relacionamento de Cristo e sua noiva (a igreja), pois “a união entre marido e mulher não é temporária, mas para a vida toda [...], e não é banal, mas um relacionamento profundo criado por Deus a fim de retratar a relação entre Cristo e sua igreja (Efésios 5.23-32).” (GRUDEM, 2009, p. 374).

Em relação à igualdade em termos de pessoalidade e de importância, o autor argumenta que assim como os membros da Trindade12 são iguais na sua importância e na sua existência, como pessoas distintas que são, assim também homens e mulheres foram criados iguais na sua importância e pessoalidade, pois quando Deus os criou, “homem e mulher os criou, à sua imagem, conforme a sua semelhança”. Se Deus tivesse criado apenas mulheres ou apenas homens não teríamos oportunidade de ver o completo caráter dEle quanto o temos ao contemplarmos a complementaridade de homem e mulher, conjuntamente refletindo “a beleza e o caráter de Deus” (GRUDEM, 2009, p. 375).

Sobre o terceiro aspecto (3), o qual nos traz grande interesse por tratar da diferença de papéis, embora se acredite na igualdade entre homem e mulher no ato da criação, defende-se neste ponto uma distinção na execução dos mesmos. Grudem volta à comparação dos papéis dentro do casamento com aquele das diferentes pessoas da Trindade, o qual sendo um, agem distintamente: “Embora os três membros da Trindade sejam iguais em poder e em todos os outros atributos, o Pai tem a autoridade mais elevada.” (GRUDEM, 2009, p. 378).

12 Trindade: a palavra não se encontra na Bíblia. Embora tenha sido usada pela primeira vez por Tertuliano no

final do século II d.C., encontrou lugar formal na teologia cristã somente no século IV. Entretanto é a doutrina distintiva e todo-abrangente da fé cristã. Faz três afirmações: há apenas um Deus; o Pai, o Filho e o Espírito Santo são todos Deus; e cada um deles é uma pessoa distinta.

O Pai não existe sem o Filho e igualmente os dois não existem sem a atuação do Espírito Santo. Eles são interdependentes, distintos em atuação, mas iguais em importância. Se levarmos este entendimento bíblico para o casamento, teremos uma melhor compreensão acerca do papel da mulher nele, pois, embora a autoridade seja do homem dentro do casamento, ao criar a mulher como “ajudadora adequada”, Deus estava sinalizando a incapacidade do mesmo em realizar tudo sozinho. Em outros termos, se analisado por este ângulo, Deus não estava rebaixando a mulher e sim, de certo modo, exaltando-a.

Embora não se possa negar a submissão feminina da mulher ao seu marido (a Bíblia é clara quanto a isso), a submissão se apresenta apenas em relação ao marido.

[..] o teu desejo será para o seu marido, e ele te governará. (GÊNESIS, 3.16) As mulheres sejam submissas aos seus próprios maridos, como ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo. Como, porém, a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo submissas ao seu marido. (EFÉSIOS 5.22-24) Se Deus procura sempre fazer o melhor por seus filhos, acredita-se que esta seja a maneira mais correta de se viver a vida comum do matrimônio, ou seja, o homem exercendo uma liderança amorosa e a mulher sendo sua companheira em tudo. Mais uma vez reiteramos aqui, este é o padrão bíblico, nenhuma pessoa é obrigada a segui-lo, nem mesmo os cristãos. Apenas aqueles que acreditam na veracidade da criação e possuem a Bíblia como regra de fé optam por ele, pois se não há simplicidade ou facilidade em se pesquisar sobre algo tão complexo como submissão, muito menos o é colocar em prática tais arquétipos.