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MULHERES E O DESENVOLVIMENTO

Uma perspectiva feminista sobre o modo petista de governar no Nordeste

Nos dias 9 e 10 de abril de 2021, a Fundação Perseu Abramo, a Secretaria Nacional de Mulheres do PT, o Núcleo de Acompanha-mento de Políticas Públicas do Nordeste (NAPP-NE) e o NAPP Mulher realizaram o seminário “Mulheres e o Desenvolvimento no Nordes-te: uma perspectiva feminista sobre o modo petista de governar no Nordeste”.

Foram dois dias de intensos debates entre mulheres que fazem parte das direções em nível nacional ou estadual no Partido dos Trabalhadores, parlamentares e gestoras públicas, a fim de dis-cutir o desenvolvimento de políticas públicas constituídas durante os governos do PT e a involução destas após o golpe sofrido pela presidenta Dilma Rousseff dentro da região e quais políticas os governos nos quais estamos inseridos ainda conseguem manter, mesmo com os sucessivos ataques promovidos pelo governo fede-ral contra os governadores do Nordeste.

Os debates se iniciaram com o painel “Uma perspectiva feminista sobre o modo petista de governar no Nordeste”, seguido por um painel de conjuntura política “Mulheres no desenvolvimento dos governos do PT no Nordeste”. Na manhã seguinte, dia 10 de abril, os painéis de “Interseccionalidade na gestão das políticas públi-cas para as mulheres” e “Territórios: implementação de polítipúbli-cas de enfrentamento às desigualdades sociais de raça e gênero” deram sequência a programação do evento.

Debater políticas públicas na região que teve o maior crescimento durante os governos petistas é esperançar o coração. Terreno fértil da resistência política contra o bolsonarismo, a região conseguiu

constituir o Consórcio Nordeste em 2019, que é um instrumento político, jurídico e econômico.

É, ainda, nesta região que o PT mantém os quatro governos estaduais eleitos em 2018. Sendo um destes estados o Rio Grande do Norte, que tem à frente do governo estadual a companheira Fátima Bezerra, única mulher governadora do Brasil na atualidade.

As mudanças observadas durante os anos de governos petistas na região vão desde fornecer condições para suprir necessidades bá-sicas – alimentação, acesso à água e direito à moradia – até garantir patrulhas Maria da Penha em locais afastados dos grandes centros, como as zonas rurais.

Infelizmente, os últimos 5 anos de ataques sofridos pelas políticas de promoção de igualdade vêm suscitando um desmonte sistemá-tico das políticas de proteção social que foram implementados nos governos petistas.

Durante o seminário, companheiras que atuam a partir de deman-das distintas, mas que se interseccionalizam a partir dos territórios de atuação, puderam expor e comentar a respeito de similaridades existentes na região e o que pode ser feito para melhorar as polí-ticas públicas.

Observou-se o impacto profundo que se acentuou na vida das mu-lheres a partir da pandemia, como o aumento do desemprego e de subempregos, falta de oportunidades iguais na disputa por cargos, empregos e salários, sem contar o aumento do trabalho reproduti-vo e doméstico, cabendo a essas mulheres o cuidado com crianças, idosos e doentes, bem como as tarefas ligadas à organização e ao funcionamento da casa.

Com a ausência de remuneração e a precariedade na distribuição do auxílio emergencial, milhões de famílias chefiadas por mulheres

es-tão existindo à margem e abaixo da linha da pobreza na sociedade.

Segundo pesquisa publicada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (iPEA), em 1995 havia 25% dos domicílios brasileiros che-fiados por mulheres, em 2018 o número passava dos 45%. Significa dizer que se aproximadamente metade das famílias brasileiras são chefiadas por mulheres e esse grupo está sendo o maior atingido com a ausência de oportunidades, o governo de Jair Bolsonaro está trabalhando (com afinco) na produção de uma catástrofe social.

Em um país onde mais de 14 milhões de pessoas estão desem-pregadas e aproximadamente 39 milhões vivem na miséria, com renda média de 90 reais mensais, sobram denúncias ligadas a vul-nerabilização social, a exemplo de violações dos direitos humanos, violências domésticas, episódios de racismo e o aumento no núme-ro de jovens envolvidos com organizações criminosas, assim como observamos o retrocesso em políticas sociais que incentivavam es-porte, cultura e lazer, que possuem em seu objetivo a promoção de atividades que estimulem qualidade de vida, acesso à arte e à cultura, estimulando a conscientização de jovens que moram em áreas periféricas.

Houve sincronicidade nas falas com relação ao entendimento de que a miserabilidade e a violação de direitos é uma política hi-gienista, perversa e amplamente implementada pelo atual governo federal que realiza, sistematicamente, um desmonte de todas as políticas de apoio ao desenvolvimento humano e social promovidas nos governos de Lula e Dilma. A fome é, sem dúvidas, uma das maiores ferramentas de vulnerabilização e controle de um povo, afinal, ter direito a três refeições por dia é o básico para que qual-quer brasileiro e brasileira possua condições de enfrentar a política genocida promovida por Bolsonaro e aliados.

É urgente que o NAPP-NE e o NAPP-Mulher se debrucem na constru-ção de propostas para geraconstru-ção de emprego e renda para famílias

monoparentais que considerem as dificuldades enfrentadas por es-sas mulheres; propostas para melhoria da segurança pública, e que essa garanta a vida e não a morte de milhares de jovens anualmen-te, levando mães a um contexto de adoecimento psíquico grave;

um plano emergencial para retomada do crescimento; retomada de políticas que garantam o escoamento da colheita da agricultu-ra familiar, que é uma das principais fontes de renda das famílias da região; construa propostas de aplicação de penas mais flexíveis para mulheres mães que estão em conflito com a lei por crimes não violentos (corresponde a aproximadamente 60% da população feminina em privação de liberdade na região, segundo o iNFoPEN, 2018), bem como programas de reintegração dessas mulheres no mercado de trabalho. Também é importante pensar políticas de produção de energia de baixo carbono para os governos petistas, reforçando o respeito aos povos das florestas e das águas.

O retorno do PT ao governo federal deve ter um olhar cuidadoso para as mulheres do Nordeste – não basta retomar o que já foi feito, mas ampliar as possibilidades para que a região continue a ascensão que os governos antidemocráticos de Temer e Bolsonaro lutaram para interromper.

O caminho para o povo nordestino nunca foi fácil, vivenciar os go-vernos do PT deu a essa população motivo para acreditar que dias melhores são possíveis.

SEMINÁRIO

COMBATE À FOME E RESGATE DA CIDADANIA NO NORDESTE