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3.1 DISCIPLINA CONSTITUCIONAL E LEGAL NO CENÁRIO

3.1.2 Multiplicidade de diplomas legislativos

observância de certas formalidades para a determinação das condições de seus contratos e para a seleção dos contratados. O propósito dessas formalidades é justamente proteger o interesse público, evitar que os agentes administrativos firmem contratos que os favoreçam individualmente, às custas de toda a coletividade. Tais formalidades, reunidas em procedimento estabelecido por lei, são denominadas de “licitação pública”.

Em outras palavras: a licitação pública não é outra coisa senão um conjunto de formalidades impostas à Administração como condição para a celebração de contrato. A licitação pública é, em si, uma formalidade [...]. Então, importa refutar, com tenacidade, qualquer sorte de argumento prestante a recusar ou a minimizar a importância da formalidade em licitação pública.68

É dizer que a administração pública não deve apegar-se a formalismos exagerados, tudo para ampliar a competitividade e obter preço mais vantajoso. Entretanto, não se pode perder de vista que a licitação é procedimento formal, calcado nos princípios da juridicidade e transparência. Não é permitido relevar desatenção ou burla de licitante às regras do certame, sobretudo àquelas de conteúdo estritamente substancial, sob pena de subversão do próprio sentido da licitação.

Como se vê, ter-se-á como legítima a postura da administração pública que, diante das especificidades daquilo que contrata, delibera no sentido de não admitir a participação de todos quantos assim queiram, mas apenas daqueles que preenchem os requisitos inerentes ao objeto do certame. Dizendo de outra forma, apenas aqueles que reúnem, de forma integral e indubitável, todas as condições essenciais para o cumprimento do contrato é que estão aptos a participar do certame e formular propostas, portanto, excluídos da disputa aqueles que não preencham os requisitos essenciais.

3.1.2 Multiplicidade de diplomas legislativos

68 NIEBUHR, Joel de Menezes. Licitação Pública e Contratos Administrativos.

Fazendo uso da atribuição outorgada pela Constituição Federal, a União editou a Lei Federal n° 8.666, de 21 de junho de 1993, cujo teor “regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências”.

Posteriormente e de forma complementar ao regime legal existente, a União editou a Lei Federal n° 10.520, de 17 de julho de 2002, que “institui, no âmbito da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, nos termos do art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, modalidade de licitação denominada pregão, para aquisição de bens e serviços comuns, e dá outras providências”. A legislação do pregão é complementada pelo Decreto Federal n° 3.555, de 08 de agosto de 2000, que regulamenta o processo na forma presencial, e pelo Decreto Federal n° 5.450, de 31 de maio de 2005, que cuida das regras inerentes ao pregão na forma eletrônica.

Demais disso, o atual regime jurídico de contratações públicas ainda suporta substanciais impactos de leis que versão sobre objetivos específicos e inerentes à políticas públicas de desenvolvimento nacional. Inúmeros são os diplomas legais criados ao lado da Lei Federal nº 8.666/93, que lhe excepcionam ou complementam em casos específicos. Ilustrativamente, pode-se focar nos cinco conjunto de normas com maior impacto no regime licitacional. Primeiro, a Lei Complementar Federal n° 123, de 14 de dezembro de 2006, e seu respectivo regulamento editado através do Decreto Federal n° 6.204, de 05 de dezembro de 2007, que veiculam normas de tratamento diferenciado e simplificado para as microempresas e empresas de pequeno porte. Segundo, há interferência na disciplina legal do processo através da atual Lei Federal n° 12.349, de 15 de dezembro de 2010, cujo conteúdo orbita acerca da preferência na contratação de bens e serviços nacionais. Terceiro, as especificidades criadas pela Lei Federal n° 12.462, de 05 de agosto de 2011, regulamentada pelo Decreto Federal nº 7.581, de 11 de outubro de 2011, quanto ao regime diferenciado de contratações públicas, recentemente alterado pela Lei Federal nº 12.688, de 18 de julho de 2012, Lei Federal nº 12.722, de 3 de outubro de 2012, e Lei Federal nº 12.745, de 19 de dezembro de 2012, que ampliaram o uso do regime para as contratações de obras e serviços de engenharia no âmbito do sistema único de saúde, sistema público de ensino e programa de aceleração do crescimento. Quarto, normas que tratam de setores econômicos específicos, a Lei Federal n° 8.248, de 23 de outubro de 1991, sobre contratações do setor de informática, e a Lei Federal n°

12.232, de 29 de abril de 2010, referente a serviços de publicidade. Quinto, as especificidades inerentes às concessões e permissões de serviços públicos veiculadas pela Lei Federal n° 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, e Lei Federal n° 9.074, de 07 de julho de 1995, ao lado das quais permite-se equiparar a Lei Federal n° 11.079, de 30 de dezembro de 2004, que cuida da formalização das parcerias público- privadas, e, ainda, a Lei Federal n° 11.445, de 05 de janeiro de 2007, que tangencia regras específicas para concessões dos serviços de saneamento básico.

O conteúdo dessas leis não se limita apenas às normas gerais como aludido pelo artigo 22, inciso XXVII, da carta constitucional, mas, também, contempla normas específicas que devem ser obrigatoriamente observadas pelas entidades vinculadas à esfera política federal e, de forma suplementar, pode ser observado pelos demais entes políticos que não possuam regramento próprio.

A Lei de Licitações e Contratos Administrativos, como usualmente chamada, estabelece atuação procedimentalizada destinada à seleção do particular que irá contratar com o poder público. Na clássica acepção da doutrina, o regime jurídico das licitações pública é entendido como:

Licitação é o procedimento administrativo mediante o qual a Administração Pública seleciona a proposta mais vantajosa para o contrato de seu interesse. Como procedimento, desenvolve-se através de uma sucessão ordenada de atos vinculados para a Administração e para os licitantes, o que propicia igual oportunidade a todos os interessados e atua como fator de eficiência e moralidade nos negócios administrativos.69

E, com relação aos seus objetivos:

A licitação visa a alcançar duplo objetivo: proporcionar às entidades governamentais possibilidades de realizarem o negócio mais vantajoso (pois a instauração de competição entre

69 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 21ª ed. São

os ofertantes preordena-se a isto) e assegurar aos administrados ensejo de disputarem a participação nos negócios que as pessoas governamentais pretendem realizar com os particulares.70

A conceituação do regime jurídico das licitações é constante dentre os estudiosos, que sempre procuram esmiuçar as diversas características deste procedimento complexo que é a licitação. Sem embargos, trata-se da forma mais equânime que encontrou o Estado em contratar, de maneira sempre a buscar a melhor proposta para a satisfação dos interesses públicos perseguidos.

3.2 LICITAÇÃO PÚBLICA: FUNÇÃO ADMINISTRATIVA