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3.5.1.1 A Fibria em Mato Grosso do Sul

A história da Fibria em Mato Grosso do Sul teve início no ano de 2006, quando a Votorantim Celulose e Papel (VCP), em parceria com a International Paper (IP), anunciaram a construção do “Projeto Horizonte” (Figura 5) no município de Três Lagoas, orçado em R$ 3,88 bilhões, financiado predominantemente pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Além de uma fábrica de celulose da VCP, o referido projeto também abrigaria uma fábrica de papel da IP. Depois de três anos de obras, o complexo industrial entrou em operação, possuindo capacidade para produzir 1,3 milhões de toneladas de celulose por ano, tornando-se o maior produtor de celulose branqueada de eucalipto em linha única do mundo. No ano da inauguração, a VCP se uniu a Aracruz Celulose formando a Fibria Celulose S/A (KUDLAVICZ, 2011; PERPETUA, 2012).

Figura 5. Três Lagoas: planta industrial da Fibria

Fonte: TRABALHO DE CAMPO, 2018.

Na unidade de Três Lagoas, em 2016, a Fibria possuía 1.212 funcionários próprios e 3.666 terceirizados, perfazendo um total de 4.878, representando 29,1% do total da companhia naquele ano.

No ano de 2012, a Fibria anunciou a expansão da unidade do município de Três Lagoas, concluída no segundo semestre de 2017. Denominado como “Projeto Horizonte 2”, o valor do projeto estava orçado, no período do anúncio, em cerca de R$ 7,7 bilhões, sendo grande parte financiada pelo BNDES.

De acordo com informação da multinacional, foram gerados, ao longo da construção do empreendimento, cerca de 40 mil empregos diretos e indiretos. No auge de sua construção,

o projeto teve cerca de 8 mil trabalhadores em atividade diariamente. Em operação, a nova linha gerou cerca três mil postos de trabalhos diretos e indiretos.

A nova linha de produção possui capacidade produtiva de 1,75 milhão de toneladas anuais. Com a inauguração da segunda linha de produção da unidade de Três Lagoas, a Fibria passou a ter capacidade produtiva de 7,25 milhões de toneladas de celulose por ano. Desse total, 3,05 milhões toneladas de celulose são produzidas em Três Lagoas.

Para o “Projeto Horizonte 2” funcionar em sua plenitude, são necessários 174 mil hectares de eucaliptais. Visando esse abastecimento, a companhia possuía, antes mesmo da inauguração do projeto, excedente de 107 mil hectares plantados ou sob contratos de plantio.

O presidente do Conselho de Administração, José Luciano Penido, em entrevista ao Relatório da Fibria de 2015, informou que o bom momento vivido pela empresa nos últimos anos possibilitou o projeto de ampliação da unidade de Três Lagoas (MS). Conforme Penido, a ampliação desta unidade veio em um momento importante, pois contribuiu para a geração de empregos diretos e indiretos e oportunidades em um momento de recessão no país. Tal afirmação reforça o discurso hegemônico usado para justificar empreendimentos dessa natureza.

O Projeto Horizonte 2 consolidou a Fibria como uma das maiores produtoras de celulose de eucalipto do mundo. A companhia aponta que o investimento, por possuir foco na exportação, contribui para a balança comercial brasileira, além de gerar empregos, melhoria na qualidade de vida e desenvolvimento local, regional e nacional, evidenciando a disseminação da ideologia capitalista do desenvolvimento por parte da empresa.

A ampliação da unidade de Três Lagoas, mesmo que a Fibria possua outras unidades em outros estados brasileiros, indica que as condições encontradas em Mato Grosso do Sul são extremamente favoráveis à expansão do CEPC. Possivelmente, as condições encontradas no Leste sul-mato-grossense dificilmente tenham sido encontradas em outra fração do território no Brasil. Esse pode ser um dos fatores que explique a expressividade econômica e territorial alcançada pela companhia em Mato Grosso do Sul em poucos anos.

3.5.2 Eldorado Brasil

A Eldorado Brasil S.A. é uma empresa de sociedade anônima de capital aberto, produtora de celulose de eucalipto. Foi fundada em 15 de junho de 2010 por meio de uma parceria entre a J&F Participações – holding brasileira da família Batista, que também controla a JBS, entre outras empresas – e a MCL Participações – do empresário andradinense

Mário Celso Lopes39 –, e nasceu como uma das principais produtoras mundiais de celulose branqueada de eucalipto.

Em setembro de 2017, devido às investigações sobre a família Batista, a J&F anunciou a venda de 100% de suas ações da Eldorado Brasil para a holandesa Paper Excellence, como parte de sua estratégia de desinvestimento para reduzir seu endividamento e levantar recursos.

Na operação, que deveria ser finalizada em até 12 meses, foi considerado o valor de mercado da Eldorado, que era, na época da negociação, de R$ 15 bilhões, e as dívidas, que se aproximavam de R$ 7,3 bilhões. Ainda em setembro de 2017, a Paper Excellence recebeu 13% das ações da Eldorado em posse da J&F devido ao pagamento de R$ 1 bilhão (VALOR ECONÔMICO, 25/09/2017).

Em setembro de 2018, encerrar-se-ia o prazo para a finalização da compra da Eldorado pela Paper Excellence, mas a situação não foi resolvida em razão de discordâncias relacionadas aos termos da operação (G1, 04/09/2018), fazendo com que a J&F cancelasse a venda da Eldorado Brasil. Tal situação resultou em uma disputa entre as duas companhias, J&F e Paper Excellence, que deverá ser resolvida por meio da arbitragem40.

Antes da venda, o controle acionário da companhia estava dividido entre a J&F Investimentos, seu controlador, o FIP Florestal41 e o FIP Olímpia42. Considerando sua participação direta e indireta, a J&F Investimentos possuía 80,98% das ações (63,59% de ações diretas43), incluindo sua participação no FIP Florestal. O FIP Florestal possui 34,45% das ações, sendo que 50,2% desse total pertence à própria J&F Investimentos. O restante das ações do FIP Florestal está dividido entre os fundos de pensão PETROS (24,75%; 8,53% do total de ações) e FUNCEF (24,75%; 8,53% do total de ações). O FIP Olímpia, por sua vez, possui o controle de 1,96% das ações (ELDORADO BRASIL, 2015a; 2016a).

Na composição acionária atual, a J&F Investimentos possui 50,59% do capital total da Eldorado Brasil, enquanto a CA Investment (Brazil) S.A., uma sociedade do grupo Paper Excellence, detém 49,41%.

39 No ano de 2012, o empresário Mário Celso Lopes vendeu seus 25% na companhia para a J&F Participações. 40 “[...] a arbitragem é um método alternativo ao Poder Judiciário que oferece decisões ágeis e técnicas para a solução de controvérsias. Só pode ser usada por acordo espontâneo das pessoas envolvidas no conflito, que automaticamente abrem mão de discutir o assunto na Justiça. A escolha da arbitragem pode ser prevista em contrato (ou seja, antes de ocorrer o litígio) ou realizada por acordo posterior ao surgimento da discussão” (CMABQ, 2019).

41 A FIP Florestal é um fundo de investimento em participações que contém, dentre seus cotistas, a própria J&F Investimentos e dois dos maiores fundos de pensão do Brasil: PETROS (Petrobrás) e FUNCEF (Caixa Econômica Federal).

42 A FIP Olímpia é um fundo de investimentos com cotas obtidas pela administração da Eldorado Brasil.

43 Com a venda de 13% de suas ações em setembro de 2017, atualmente (novembro de 2017), a J&F possui 50,59% das ações diretas da Eldorado Brasil.

A construção da única fábrica da Eldorado (Figura 6) teve início no ano de 2010, no município de Três Lagoas, e foi concluída em dezembro de 2012, custando R$ 6,2 bilhões, sendo R$ 2,7 bilhões financiados pelo BNDES. A fábrica de Três Lagoas, que durante anos foi a maior de celulose branqueada do mundo em uma linha única, possui capacidade para produzir 1,7 milhão de toneladas por ano.

Figura 6. Três Lagoas: planta industrial da Eldorado Brasil

Fonte: TRABALHO DE CAMPO, 2018.

Em 2017, a produção da Eldorado Brasil foi de 1.708 toneladas de celulose, superando as produções dos anos anteriores. O ano de 2017 também foi marcado por ser o ano de maior lucro da empresa, quando a companhia registrou R$ 713.367.000,00 de lucro. Em 2017, a receita bruta foi de R$ 4.067.000.000,00, registrando variação de 81,8% em relação a 2014, quando a receita bruta foi de R$ 2.236.254.000,00. O valor adicionado total a distribuir também foi ampliado, passando de R$ 1.085.337,00, em 2014, para R$ 2.219.000,00, em 2017, evidenciando aumento de 104,5%. Entre 2014 e 2017, o ebitda também aumentou significativamente, passando de R$ 825.000.000,00 para R$ 2.221.000.000,00, representando variação positiva de 169,2% (Tabela 42).

Tabela 42. Eldorado Brasil: principais indicadores econômicos (2014-2017)

Indicadores 2014 2015 2016 2017

Receita bruta (milhões de R$) 2.236 3.272 3.460 4.067 Lucro líquido -418.634 236.710 286.537 713.367 Produção realizada (milhões de toneladas) 1.568 1.597 1.638 1.708 Ebitda (milhões de R$) 825 1.868 1.585 2.221 Valor adicionado a distribuir (milhões de R$) 1.085 2.354 1.791 2.219

Entre 2015 e 2017, a Eldorado apresentou redução no número de empregados, passando de 4.758, em 2015, para 3.804, em 2017 (Tabela 43). Situação que pode estar relacionada ao momento vivido pelo Grupo J&F, além do processo de venda da Eldorado. A Tabela 43 também demonstra a preponderância de funcionários do gênero masculino em detrimento do gênero feminino.

Tabela 43. Eldorado Brasil: número total de trabalhadores por gênero (2015-2017)

2015 2016 2017

Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres 3.966 792 3.998 782 3.222 582

Total 4.758 4.780 3.804

Fonte: ELDORADO BRASIL, 2017.

Do total de empregados, cerca de 900 trabalham na unidade industrial de Três Lagoas. Como a indústria é totalmente primarizada, esse quadro de funcionários inclui o pessoal da limpeza, da vigilância, do restaurante, da jardinagem, entre outras áreas. Nos últimos anos, a Eldorado tem adotado a primarização do seu quadro de funcionários. Com o Programa de Primarização da Área Florestal, consolidado no ano de 2015, a Eldorado passou a ter maior autonomia na gestão das florestas plantadas, pois todo o plantio passou a ficar sob a responsabilidade da companhia (ELDORADO BRASIL, 2014a; 2015a; 2016a).

Para a multinacional, tal situação contribui para o aumento da produtividade, pois permite maiores cuidados durante o processo produtivo do eucalipto. Ademais, segundo a empresa, a primarização tem proporcionado resultados positivos, sobretudo no que diz respeito à redução de custos, flexibilidade nas decisões e melhoria das operações internas. A primarização adotada pela Eldorado Brasil mostra estratégia diferente da adotada pela Fibria, que tem optado pela terceirização (ELDORADO BRASIL, 2014a; 2015a; 2016a).

A maioria dos funcionários da Eldorado está na região Centro-Oeste (Tabela 44), pois é nessa região, mais precisamente no estado de Mato Grosso do Sul, que está localizada a fábrica da companhia, além de três escritórios florestais. Na região Sudeste, mais especificamente no estado de São Paulo, estão os funcionários da sede administrativa da companhia e do viveiro. Vale salientar que no Sudeste a quantidade de mulheres é maior que a de homens, isso porque no viveiro a empresa afirma utilizar, predominantemente, mão de obra feminina, em virtude de as mulheres possuírem maior habilidade no manuseio das plantas, segundo a empresa. Além disso, o setor administrativo da empresa, localizado na sede, também possui número considerável de mulheres.

Tabela 44. Eldorado Brasil: número de trabalhadores por região (2015-2017)

Região 2015 2016 2017

Centro-Oeste 4.503 4.480 3.575

Sudeste 255 300 229

Total 4.758 4.780 3.804

Fonte: ELDORADO BRASIL, 2016a; 2017.

Além da unidade industrial de Três Lagoas, a Eldorado possui sua sede administrativa na cidade de São Paulo, um viveiro em Andradina, extremo Oeste Paulista, escritórios florestais nos municípios sul-mato-grossenses de Água Clara, Inocência e Selvíria, um terminal multimodal em Aparecida do Taboado (MS) e um terminal no Porto de Santos (SP)