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O circuito espacial produtivo de celulose e o uso do território em Mato Grosso do Sul

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CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA

LEANDRO REGINALDO MAXIMINO LELIS

O CIRCUITO ESPACIAL PRODUTIVO DE CELULOSE E O USO DO

TERRITÓRIO EM MATO GROSSO DO SUL

NATAL/RN 2020

(2)

O CIRCUITO ESPACIAL PRODUTIVO DE CELULOSE E O USO DO

TERRITÓRIO EM MATO GROSSO DO SUL

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutor em Geografia.

Linha de pesquisa: Território, Estado e Planejamento Orientador: Prof. Dr. Celso Donizete Locatel

NATAL/RN 2020

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA

Lelis, Leandro Reginaldo Maximino.

O circuito espacial produtivo de celulose e o uso do território em Mato Grosso do Sul / Leandro Reginaldo Maximino Lelis. - 2020.

335 f.: il.

Tese (doutorado) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2020. Orientador: Prof. Dr. Celso Donizete Locatel.

1. Circuito espacial produtivo - Tese. 2. Celulose - Tese. 3. Uso corporativo do território - Tese. 4. Mato Grosso do Sul - Tese. I. Locatel, Celso Donizete. II. Título.

RN/UF/BS-CCHLA CDU 91:582.883.4(817.1)

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O CIRCUITO ESPACIAL PRODUTIVO DE CELULOSE E USO DO TERRITÓRIO EM MATO GROSSO DO SUL

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutor em Geografia.

Aprovada em: 13/03/2020

BANCA EXAMINADORA

_________________________ Prof. Dr. Celso Donizete Locatel

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Orientador

_________________________ Prof.ª Dr.ª Rita de Cássia Conceição Gomes Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Examinadora interna

_________________________ Prof.ª Dr.ª Jane Roberta de Assis Barbosa Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Examinadora interna

_________________________ Prof. Dr. Sedeval Nardoque

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) Examinador externo

_________________________ Prof.ª Dr.ª Josefa de Lisboa Santos Universidade Federal de Sergipe (UFS)

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pesquisa, em especial:

a Deus, que abençoou minha vida acadêmica e pessoal em Natal;

aos meus pais, João e Leila, minha irmã, Flávia, minha avó, Leonor, tios e tias, primos e primas;

ao meu orientador, Prof. Dr. Celso Locatel;

aos membros da banca de qualificação de doutorado, Prof. Dr. Sedeval Nardoque e Prof.ª Dr.ª Jane Roberta de Assis Barbosa;

aos membros da banca de defesa de doutorado, Prof. Dr. Sedeval Nardoque, Prof.ª Dr.ª Jane Roberta de Assis Barbosa, Prof.ª Dr.ª Rita de Cássia Conceição Gomes e Prof.ª Dr.ª Josefa de Lisboa Santos;

aos companheiros do Laboratório de Estudos Rurais, Tecnologia Social e Inovação (LABAGRARIUS) e do Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGe/UFRN);

aos amigos de Dracena, Presidente Prudente, Três Lagoas e Natal;

aos entrevistados (líderes e moradores de assentamentos e comunidades rurais, funcionários e ex-funcionários das companhias produtoras de celulose, representantes de sindicatos, entre outros);

à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) por viabilizar financeiramente o desenvolvimento desta pesquisa.

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em Mato Grosso do Sul, sobretudo em sua região Leste. Em menos de uma década, a expansão deste circuito inseriu o referido estado entre os principais produtores de eucalipto e de celulose do Brasil, além de torná-lo o principal exportador de celulose. Nesse contexto, o objetivo geral desta pesquisa consiste em compreender o uso do território pelo circuito espacial de produção de celulose em Mato Grosso do Sul, bem como seus desdobramentos econômicos, sociais e ambientais. A partir dos procedimentos metodológicos adotados, constatou-se que a expansão do circuito espacial produtivo de celulose em Mato Grosso do Sul é resultado da redefinição na divisão territorial do trabalho vinculada à produção de papel, caracterizada, na escala global, pela transferência da produção florestal e de celulose – etapas iniciais da produção de papel – dos países do Norte para os países do Sul e, na escala nacional, pela interiorização da produção florestal e de celulose. Entende-se que a escolha da região Leste de Mato Grosso do Sul para a expansão do circuito pesquisado ocorreu devido à combinação de oito fatores, sendo a atuação estatal, nas instâncias federal, estadual e municipal, o mais preponderante em razão da criação de condições ideais, sobretudo do ponto de vista econômico, normativo e infraestrutural, para a utilização corporativa do território sul-mato-grossense por parte das companhias produtoras de celulose. Ademais, outro aspecto que merece destaque se refere à multiescalaridade geográfica do circuito investigado. Isso porque, apesar da transferência das etapas iniciais da produção de papel dos países do Norte para os do Sul, os primeiros continuam sendo os grandes fornecedores de tecnologias para os projetos de celulose instalados nos segundos, além de estarem entre os principais consumidores da celulose produzida nesses países. Esse contexto demonstra que o circuito espacial produtivo de celulose em Mato Grosso do Sul está articulado a partir de diferentes escalas, desde a global até a local, por meio de fluxos materiais e imateriais de diversas ordens, conteúdos e intensidades. Articulação possibilitada por círculos de cooperação no espaço bem definidos, que, a partir das verticalidades do mercado global, contribuem para a inserção de lógicas externas ao lugar, provocando diversos desdobramentos na cidade, no campo e no mercado de trabalho, os quais revelam o caráter contraproducente do circuito estudado, além de evidenciarem suas dimensões social e ambiental, fundamentais para a compreensão da totalidade de um circuito espacial produtivo, especialmente os intensivos em recursos naturais.

Palavras-chave: Circuito espacial produtivo; Celulose; Uso corporativo do território; Mato Grosso do Sul.

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especially in its eastern region. In less than a decade, the expansion of this circuit inserted the referred state among the main producers of eucalyptus and cellulose in Brazil, in addition to making it the main exporter of cellulose. In this context, the general objective of this research is to understand the use of the territory by the spatial circuit of cellulose production in Mato Grosso do Sul, as well as its economic, social and environmental deployments. From the methodological procedures adopted, it was found that the expansion of the cellulose production space circuit in Mato Grosso do Sul is the result of a redefinition in the territorial division of labor linked to paper production, characterized, on a global scale, by the transference of forestry and cellulose production - initial steps of paper production - from the countries of the North to the countries of the South and, on the national scale, by the interiorization of forestry and cellulose production. It is understood that the choice of the eastern region of Mato Grosso do Sul for the expansion of the surveyed circuit occurred due to the combination of eight factors, being the state action, at the federal, state and municipal instances, the most preponderant due to the creation of ideal conditions, especially from an economic, normative and infrastructural point of view, for the corporate use of the territory of Mato Grosso do Sul by the companies producing cellulose. Furthermore, another aspect that deserves mentioning refers to the geographical multiscale of the investigated circuit. This is because, despite the transference of the initial steps of paper production from the countries of the North to those of the South, the former remain the major suppliers of technologies for the cellulose projects installed in the latter, in addition to being among the main consumers of the cellulose produced in these countries. This context demonstrates that the productive spatial circuit of cellulose in Mato Grosso do Sul is articulated from different scales, from the global to the local, through material and immaterial flows of different orders, contents and intensities. Articulation made possible by well-defined circles of cooperation in space, which, based on the verticalities of the global market, contribute to the insertion of logics external to the place, causing various deployments in the city, in the countryside and in the labor market, which reveal the counterproductive character of the studied circuit, in addition to evidence its social and environmental dimensions, which are fundamental for understanding the totality of a productive spatial circuit, especially those intensive in natural resources.

Keywords: Productive spatial circuit; Cellulose; Corporate use of the territory; Mato Grosso do Sul

(8)

Figura 2 – Brasil: evolução da produção de celulose (milhões de toneladas) (1990-2015)...111

Figura 3 – Custos de produção de celulose (US$ por tonelada) (2014)...115

Figura 4 – Três Lagoas: PIB municipal (2000-2014)...124

Figura 5 – Três Lagoas: planta industrial da Fibria...132

Figura 6 – Três Lagoas: planta industrial da Eldorado Brasil...135

Figura 7 – A complementaridade do circuito espacial produtivo de papel...143

Figura 8 – CEPC: interações e fluxos materiais e imateriais...151

Figura 9 – Classificação das fibras segundo a origem, o processo de fabricação e a destinação...154

Figura 10 – Eldorado Brasil: imagem aérea do viveiro localizado em Andradina (SP)...158

Figura 11 – Eldorado Brasil: etapas da produção de mudas no viveiro...159

Figura 12 – Komatsu: harvester...163

Figura 13 – Mato Grosso do Sul: harvester Komatsu em operação...163

Figura 14 – Komatsu: forwarder utilizado nas operações florestais...164

Figura 15 – Mato Grosso do Sul: toras de eucalipto empilhadas após o baldeio...164

Figura 16 – John Deere: feller buncher...165

Figura 17 – John Deere: skkider com garra traçadora...165

Figura 18 – John Deere: escavadeira com garra traçadora...166

Figura 19 – Fibria: pentatrem utilizado para o transporte das toras de eucalipto...169

Figura 20 – Eldorado Brasil: treminhão sendo descarregado no pátio de madeira...171

Figura 21 – Fibria: pilha de cavacos e correia transportadora...172

Figura 22 – Eldorado Brasil: linha de fibras completa...174

Figura 23 – Fibria: máquinas de secagem da linha I de produção em fase de montagem...174

Figura 24 – Fibria: empilhadeira transportando fardos de celulose...175

Figura 25 – Eldorado Brasil: caldeira de recuperação...183

Figura 26 – Eldorado Brasil: caldeira de biomassa...183

Figura 27 – Fibria: forno de cal e caustificação da linha II...185

Figura 28 – Eldorado Brasil: sala dos turbogeradores...186

Figura 29 – Fibria: estações de tratamento de água (ETA) e de efluentes (ETE)...187

Figura 30 – CEPC: Multiescalaridade geográfica...194

(9)

Figura 34 – Três Lagoas: parte da área norte da cidade...259

Figura 35 – Três Lagoas: fração da área leste da cidade...260

Figura 36 – Três Lagoas: trecho da área sul da cidade...261

Figura 37 – Três Lagoas: porção oeste da cidade...262

Figura 38 – Três Lagoas: alojamento abandonado...264

Figura 39 – Três Lagoas: imóveis de médio padrão construídos pela Fibria...265

Figura 40 – Três Lagoas: imóveis de alto padrão construídos pela Fibria...266

Figura 41 – Três Lagoas: ruas não pavimentadas próximas ao centro da cidade...267

Figura 42 – Três Lagoas: ônibus atolado em rua da cidade...268

Figura 43 – Três Lagoas: trecho da avenida Ranulpho Marques Leal...268

Figura 44 – Três Lagoas: tritrem carregado de toras de eucalipto na av. Ranulpho Leal...270

Figura 45 – Brasilândia: ônibus da JSL deixando trabalhadores da Fibria na cidade...271

Figura 46 – Selvíria: veículo da Eldorado Brasil no Hotel Portal do Mato Grosso...271

Figura 47 – Selvíria: sala comercial alugada pela Eldorado Brasil...272

Figura 48 – Inocência: quilômetro 156 da rodovia estadual MS-112...291

Figura 49 – Fibria e Eldorado Brasil: algumas doações realizadas aos assentamentos...294

Figura 50 – Assentamentos São Joaquim, Almanara, Pontal do Faia, Alecrim e distrito de Garcias: proximidade em relação aos eucaliptais...296

Figura 51 – Distrito de Garcias: horta orgânica e o monocultivo de eucalipto ao fundo...299

(10)

Mapa 2 – Leste de MS: municípios, assentamentos e comunidades rurais pesquisadas e

unidades industriais produtoras de celulose...56

Mapa 3 – Leste de Mato Grosso do Sul e São Paulo: localização de Três Lagoas, da Fibria, da Eldorado Brasil e a infraestrutura...75

Mapa 4 – Mato Grosso do Sul: densidade da área ocupada pelo eucalipto e pelas principais lavouras (2016)...87

Mapa 5 – Mato Grosso do Sul: produção de madeira em tora para produção de celulose (2005, 2010 e 2016)...91

Mapa 6 – Mato Grosso do Sul: ano de inserção dos municípios no CEPC...93

Mapa 7 – Brasil: distribuição geográfica da Fibria...129

Mapa 8 – Mundo: distribuição geográfica da Fibria...131

Mapa 9 – Brasil: distribuição geográfica da Eldorado Brasil...137

Mapa 10 – Mundo: distribuição geográfica da Eldorado Brasil...139

Mapa 11 – Mundo: países de destino da celulose exportada pela Eldorado Brasil...178

Mapa 12 – Mundo: países de origem das empresas ligadas ao CEPC...192

Mapa 13 – Brasil: estados de origem das empresas ligadas ao CEPC...193

Mapa 14 – Mundo: círculos de cooperação do CEPC...244

(11)

Quadro 2 – Brasil: principais projetos de celulose inaugurados a partir de 2005...108

Quadro 3 – Brasil: Principais projetos de celulose anunciados nos últimos anos...109

Quadro 4 – Mato Grosso do Sul: empresas que exportaram mais de US$ 100 milhões (2016)... ...119

Quadro 5 – Três Lagoas: principais empresas exportadoras (2016)...121

Quadro 6 – CEPC em Mato Grosso do Sul: empresas fornecedoras de insumos, máquinas e equipamentos para as operações florestais...167

Quadro 7 – CEPC em Mato Grosso do Sul: empresas prestadoras de serviços florestais para a Fibria e a Eldorado Brasil...168

Quadro 8 – Eldorado Brasil: países de destino da celulose exportada...177

Quadro 9 – CEPC em Mato Grosso do Sul: empresas fornecedoras de equipamentos e insumos para o setor logístico e de transportes para a Fibria e a Eldorado Brasil...180

Quadro 10 – CEPC em Mato Grosso do Sul: empresas prestadoras de serviços logísticos e de transportes para a Fibria e a Eldorado Brasil...181

Quadro 11 – CEPC em MS: empresas fornecedoras de equipamentos e insumos para as operações industriais e para os processos de recuperação, cogeração de energia e estações de tratamento das plantas industriais de celulose da Fibria e da Eldorado Brasil...189

Quadro 12 – CEPC em Mato Grosso do Sul: empresas contratadas para a realização de obras e serviços de infraestrutura...191

Quadro 13 – BNDES: financiamentos não automáticos concedidos a Eldorado Brasil...213

Quadro 14 – BNDES: financiamentos não automáticos concedidos à Fibria...214

Quadro 15 – Instituições financeiras integrantes dos círculos de cooperação do CEPC...226

Quadro 16 – Fibria: pesquisas desenvolvidas em parceria com outras instituições...227

Quadro 17 – Eldorado: pesquisas desenvolvidas em parceria com outras instituições...228

Quadro 18 – Reflore/MS: empresas associadas...232

Quadro 19 – SINPACEMS: empresas associadas...233

Quadro 20 – Brasil: agências certificadoras autorizadas a conceder o selo do FSC...236

Quadro 21 – Três Lagoas: cursos relacionados ao CEPC ofertados pelo SENAI/MS...238

Quadro 22 – Três Lagoas: cursos relacionados ao CEPC ofertados pela AEMS...239

Quadro 23 – Três Lagoas: turmas, número de alunos ingressantes e formados pelos cursos tecnológicos ligados ao CEPC ofertados pela AEMS...241

(12)
(13)

Tabela 2 – Mato Grosso do Sul: número e área dos estabelecimentos agropecuários (2006-2017)...64 Tabela 3 – Fibria: fomento florestal: número de contratos, percentual de abastecimento e área contratada (2015)...65 Tabela 4 – Brasil: médias salariais dos trabalhadores nas indústrias de transformação em municípios selecionados (2010 e 2016)...67 Tabela 5 – Brasil: médias salariais dos trabalhadores na fabricação de celulose, papel e produtos de papel em municípios selecionados (2010 e 2016)...68 Tabela 6 – Brasil: médias salariais de atividades ligadas diretamente ao circuito espacial produtivo de celulose em municípios selecionados (2010 e 2016)...69 Tabela 7 – Eldorado Brasil: consumo de água por fonte (2013-2016)...78 Tabela 8 – Mato Grosso do Sul: área ocupada pelo monocultivo de eucalipto (2005-2015)...81 Tabela 9 – Brasil: principais estados em área plantada com eucalipto (hectares) (2005-2010-2015)...82 Tabela 10 – Mato Grosso do Sul: área ocupada pelo eucalipto nos municípios ligados diretamente ao circuito espacial produtivo de celulose (em hectares) (2014-2016)...83 Tabela 11 – Mato Grosso do Sul: terras controladas (em hectares) pela Fibria (2015)...84 Tabela 12 – Mato Grosso do Sul: uso das terras (em hectares) controladas pela Fibria (2015)...84 Tabela 13 – Mato Grosso do Sul: área certificada ocupada com monocultivo de eucalipto da Eldorado Brasil (2015)...85 Tabela 14 – Mato Grosso do Sul: área ocupada pelas principais lavouras (temporárias e permanentes) e pelo eucalipto (hectares) (2014-2016)...86 Tabela 15 – Brasil: principais estados produtores de madeira em tora para a produção de celulose e papel (m3) (1990-2015)...88 Tabela 16 – Mato Grosso do Sul: produção de madeira em tora para a produção de celulose e papel (m3) (1990-2016)...89 Tabela 17 – Principais produtores mundiais de celulose (milhões de toneladas) (2000-2010-2015)...101 Tabela 18 – Principais consumidores mundiais de celulose (mil toneladas) (2000-2010)...102 Tabela 19 – Produção mundial de papel e cartão (1990-2030)...104

(14)

2015)...105

Tabela 22 – Principais consumidores de papel do mundo (mil toneladas) (2000 e 2010)...106

Tabela 23 – Consumo aproximado de papel per capita por ano (países selecionados)...107

Tabela 24 – Brasil: área ocupada pelos monocultivos de eucalipto (2005-2016)...111

Tabela 25 – Brasil: madeira em tora para produção de celulose e papel (1990-2015)...112

Tabela 26 – Evolução da área ocupada pelas florestas plantadas (1990-2015)...113

Tabela 27 – Tempo médio de rotação das árvores utilizadas para a produção de celulose em alguns países no ano de 2014...114

Tabela 28 – Mato Grosso do Sul: valor da produção das principais lavouras (temporárias e permanentes) e produtos da silvicultura (1990-2015)...116

Tabela 29 – Mato Grosso do Sul: principais produtos exportados (2016)...117

Tabela 30 – Brasil: principais estados exportadores de celulose (2016)...118

Tabela 31 – Brasil: principais estados exportadores de celulose (2000-2010)...118

Tabela 32 – Três Lagoas: principais produtos exportados (2016)...119

Tabela 33 – Três Lagoas: exportações (2000-2016)...120

Tabela 34 – Brasil: produção e exportação de celulose (mil toneladas) (1990-2015)...122

Tabela 35 – Brasil: principais produtos exportados (2016)...122

Tabela 36 – Brasil: valor, posição e percentual da pasta química de madeira (celulose) nas exportações...123

Tabela 37 – Principais países importadores da celulose brasileira (2016)...124

Tabela 38 – Mato Grosso do Sul: principais PIB’s municipais (2000-2014)...125

Tabela 39 – Três Lagoas: valor adicionado bruto a preços correntes (2000-2014)...126

Tabela 40 – Fibria: principais indicadores econômicos (2012-2017)...128

Tabela 41 – Fibria: número de trabalhadores próprios e terceiros (2012-2017)...128

Tabela 42 – Eldorado Brasil: principais indicadores econômicos (2014-2017)...135

Tabela 43 – Eldorado Brasil: número total de trabalhadores por gênero (2015-2017)...136

Tabela 44 – Eldorado Brasil: número de trabalhadores por região (2015-2017)...137

Tabela 45 – Mato Grosso do Sul: madeira transportada (m3) pela Fibria (2014-2015)...170

Tabela 46 – Três Lagoas: principais países de destino dos produtos exportados (2016)...179

(15)

Tabela 49 – Mato Grosso do Sul: doações às campanhas eleitorais efetuadas pela Fibria

(2014)...205

Tabela 50 – Brasil: principais partidos beneficiados pelas doações da JBS (2012)...206

Tabela 51 – Mato Grosso do Sul: doações realizadas pela Fibria aos candidatos às eleições municipais (2012)...206

Tabela 52 – Mato Grosso do Sul: doações da Fibria aos partidos políticos (2012)...207

Tabela 53 – Brasil: principais partidos beneficiados pelas doações da Fibria (2012)...207

Tabela 54 – Mato Grosso do Sul: doações da JBS a partidos políticos (2010)...208

Tabela 55 – Brasil: doações da JBS aos partidos (2010)...208

Tabela 56 – Mato Grosso do Sul: doações da Fibria a candidatos (2010)...208

Tabela 57 – Brasil: doações da Fibria a partidos políticos (2010)...209

Tabela 58 – Três Lagoas: população total...257

Tabela 59 – Três Lagoas: principais tipos de estabelecimentos (2006 e 2017)...273

Tabela 60 – Brasilândia: principais tipos de estabelecimentos (2006 e 2017)...274

Tabela 61 – Selvíria: principais tipos de estabelecimentos (2006 e 2017)...274

Tabela 62 – Três Lagoas: número de vínculos ativos (2006 e 2017)...275

Tabela 63 – Três Lagoas: vínculos ativos das classes relacionadas à instalação das fábricas de celulose e à construção civil...276

Tabela 64 – Brasilândia: número de vínculos ativos (2006 e 2017)...277

Tabela 65 – Selvíria: número de vínculos ativos (2006 e 2017)...277

Tabela 66 – Fibria: número de processos por ano (2013-2017)...286

Tabela 67 – Eldorado Brasil: número de processos por ano (2013-2017)...287

Tabela 68 – Municípios pesquisados do Leste de MS: efetivo bovino (número de cabeças) (1990-2017)...292

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ABIPA – Associação Brasileira da Indústria de Painéis de Madeira

ABIPLAR – Associação Brasileira da Indústria de Piso Laminado de Alta Resistência ABRAF – Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas

ABTCP – Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel ACC – Adiantamento sobre Contrato de Câmbio

ADI – Ação Direta de Inconstitucionalidade

AEMS – Associação de Ensino e Cultura de Mato Grosso do Sul ALL – América Latina Logística

AMORG – Associação de Amigos, Moradores e Produtores Rurais do Distrito de Garcias APCER – Associação Portuguesa de Certificação

APP – Área de Preservação Permanente BA – Bahia

BfR – Bundesinstitut für Risikobewertung BHKP – Bleached Hardwood Kraft Pulp

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BOP – Balance of Plant

BRACELPA – Associação Brasileira de Celulose e Papel CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados Cao – Óxido de cálcio

CCM – Centro de Controle de Motores

CEPC – circuito espacial produtivo de celulose

CERFLOR – Programa Brasileiro de Certificação Florestal CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas CNI – Confederação Nacional da Indústria

CNPJ – Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica

COFINS – Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social

CONMETRO – Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade industrial CRA – Certificado Recebíveis do Agronegócio

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DETRAN/MS – Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul Ebtida – Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization ECA – Export Credit Agencies

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EPCM – Engineering, Procurement, Construction and Management ES – Espírito Santo

ESALQ – Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" ETA – Estação de tratamento de água

ETE – Estação de tratamento de efluentes EUTR – European Timber Regulation FAO – Food and Agriculture Organization

FCO – Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste FDA – Food and Drug Administration

FDCO – Fundo de Desenvolvimento do Centro Oeste FHC – Fernando Henrique Cardoso

FIEMS – Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul

FI-FGTS – Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos

FIP – Fundo de Investimentos em Participações FNT – Fórum Nacional do Trabalho

FOB – Free on Board

FPM – Fundo de Participação dos Municípios FSC – Forest Stewardship Council

GPS – Global Positioning System ha – Hectares

IBÁ – Indústria Brasileira de Árvores

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços IEL – Instituto Euvaldo Lodi

IFMS – Instituto Federal de Mato Grosso do Sul

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IPEF – Instituto de Pesquisas Florestais IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano

IPVA – Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores ISO – International Organization for Standardization

ISS – Imposto Sobre Serviços kg – Quilograma

km – Quilômetro Ltda – Limitada MA – Maranhão

MDF – Medium Density Fiberboard

MDIC – Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços Mercosul – Mercado Comum do Sul

MG – Minas Gerais

MPT – Ministério Público do Trabalho MS – Mato Grosso do Sul

MS-EMPREENDEDOR – Programa Estadual de Fomento à Industrialização, ao Trabalho, ao Emprego e à Renda

MSGÁS – Companhia de Gás de Mato Grosso do Sul MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

MW – Magawatt MWh –Megawatt-hora m3 – Metros cúbicos

NaOH – Hidróxido de sódio Na2S – Sulfeto de sódio

ONG – Organização não governamental ONU – Organização das Nações Unidas

PAIS – Produção Agroecológica Integrada e Sustentável PBM – Plano Brasil Maior

PCdoB – Partido Comunista do Brasil

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PDT – Partido Democrático Trabalhista

PEFC – Program for the Endorsement of Forest Certification PEF/MS – Plano Estadual de Florestas de Mato Grosso do Sul P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

PF – Polícia Federal

PHS – Partido Humanista da Solidariedade PI – Piauí

PIB – Produto Interno Bruto

PIS – Programa de Integração Social

PITCE – Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro

PMN – Partido da Mobilização Nacional

PNCF – Programa Nacional de Crédito Fundiário PND – Plano Nacional de Desenvolvimento PNRH – Política Nacional de Recursos Hídricos PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos

POLOCENTRO – Programa de Desenvolvimento dos Cerrados PP – Partido Progressista

PR – Paraná

PR – Partido da República

PRB – Partido Republicano Brasileiro PRN – Partido da Reconstrução Nacional

PROAÇÃO – Programa Ações para o Desenvolvimento de Mato Grosso do Sul PROS – Partido Republicano da Ordem Social

PROX – Programa de Financiamento às Exportações PRSC – Programa de Responsabilidade Social Corporativa PRSE – Programa de Responsabilidade Social Empresarial PSB – Partido Socialista Brasileiro

PSC – Partido Social Cristão PSD – Partido Social Democrático

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PTC – Partido Trabalhista Cristão PTdoB – Partido Trabalhista do Brasil PTN – Partido Trabalhista Nacional PV – Partido Verde

RAIS – Relação Anual de Informações Sociais RD – Renda diferencial

Reflore/MS – Associação Sul-Matogrossense de Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas

RJ – Rio de Janeiro RS – Rio Grande do Sul R$ – Real

S.A. – Sociedade Anônima SC – Santa Catarina

SD – Solidariedade

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SEMAC/MS – Secretaria de Estado de Meio Ambiente, do Planejamento, da Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul

SEMAGRO – Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SESI – Serviço Social da Indústria

SIF – Sociedade de Investigações Florestais

SINMETRO – Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial SINPACEMS – Sindicato das Indústrias de Papel e Celulose de Mato Grosso do Sul SINTRAF – Sindicato do Trabalhador Florestal

SISREL – Sistema de Reserva Legal

SITITREL – Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Papel e Celulose de Três Lagoas SP – São Paulo

STF – Supremo Tribunal Federal

STRTL – Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Três Lagoas

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TO – Tocantins

TSE – Tribunal Superior Eleitoral

UFMS – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFPR – Universidade Federal do Paraná

UFSCar – Universidade Federal de São Carlos UFV – Universidade Federal de Viçosa

UNESP – Universidade Estadual Paulista US$ – Dólar

USP – Universidade de São Paulo VAB – Valor Adicionado Bruto

VANTs – Veículos aéreos não tripulados VCP – Votorantim Celulose e Papel

VCP – Aeroporto Internacional de Viracopos-Campinas WRM – World Rainforest Movement

ZEE/MS – Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado de Mato Grosso do Sul ZAT – Zona Alto Taquari

ZCH – Zona do Chaco

ZDM – Zona Depressão do Miranda ZMO – Zona das Monções

ZPP – Zona Planície Pantaneira

ZPPP – Zona de Proteção da Planície Pantaneira ZSA – Zona Sucuriú-Aporé

ZSB – Zona Serra da Bodoquena ZSM – Zona Serra de Maracaju

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2 O CAMINHO METODOLÓGICO DA PESQUISA...27

2.1 Apresentando a pesquisa: o problema, a hipótese e os objetivos...27 2.1.1 Objetivos...30 2.2 As dimensões conceitual e teórica da pesquisa...30 2.3 A operacionalização geográfica da pesquisa: as categorias de análise...42 2.4 O recorte empírico da pesquisa...47 2.5 Procedimentos metodológicos...49 2.5.1 Pesquisa e leitura bibliográfica...49 2.5.2 Pesquisa documental...50 2.5.3 Coleta e análise dos dados de fontes secundárias...51 2.5.4 Elaboração de mapas...53 2.5.5 Trabalhos de campo...53

3 A ESTRUTURAÇÃO E O USO DO TERRITÓRIO PELO CIRCUITO ESPACIAL DE PRODUÇÃO DE CELULOSE EM MATO GROSSO DO SUL...57

3.1 A importância do lugar: os fatores viabilizadores da estruturação e da expansão do circuito espacial produtivo de celulose em Mato Grosso do Sul...57 3.2 O uso corporativo do território pelo circuito espacial produtivo de celulose em Mato Grosso do Sul...79 3.3 A redefinição na divisão territorial do trabalho no circuito espacial produtivo de papel...95

3.3.1 A escala global: transferência das etapas iniciais do circuito espacial produtivo de papel para os países do Sul...96 3.3.2 A escala nacional: interiorização da produção florestal e de celulose...107 3.3.3 O papel do Brasil após a redefinição na divisão territorial do trabalho no circuito espacial produtivo de papel...110 3.4 A participação econômica do circuito espacial produtivo de celulose...115 3.5 As fábricas produtoras de celulose...126 3.5.1 Fibria...127 3.5.1.1 A Fibria em Mato Grosso do Sul...132 3.5.2 Eldorado Brasil...133

4 A COMPLEMENTARIDADE ENTRE OS CIRCUITOS ESPACIAIS PRODUTIVOS E A MULTIESCALARIDADEGEOGRÁFICA...141

4.1 A complementaridade entre os circuitos espaciais de produção...141 4.2 O circuito espacial produtivo de celulose em Mato Grosso do Sul...152

4.2.1 A celulose...153 4.2.2 Processo produtivo da celulose em Mato Grosso do Sul...155 4.2.2.1 Pesquisa...156 4.2.2.2 Planejamento...157 4.2.2.3 Viveiro...157 4.2.2.4 Transporte das mudas aos hortos florestais...159 4.2.2.5 Plantio...160 4.2.2.6 Manejo florestal...161 4.2.2.7 Colheita...162 4.2.2.8 Transporte da madeira até as fábricas...168

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4.2.2.12 Exportação...176 4.2.3 Recuperação de químicos, cogeração de energia e tratamento de água e de efluentes...182

4.2.3.1 Evaporação...182 4.2.3.2 Caldeiras de recuperação e de biomassa...182 4.2.3.3 Caustificação...184 4.2.3.4 Forno de Cal...184 4.2.4 Cogeração de energia...185 4.2.5 Tratamento de água e de efluentes...187

5 O ESTADO E OS DEMAIS AGENTES DOS CÍRCULOS DE COOPERAÇÃO DO CIRCUITO ESPACIAL PRODUTIVO DE CELULOSE...195

5.1 As alianças entre o Estado e as empresas para viabilizar o circuito espacial produtivo de celulose em Mato Grosso do Sul...195 5.2 A atuação do Estado, em suas diversas instâncias, para a viabilização do circuito espacial produtivo de celulose em Mato Grosso do Sul...210 5.2.1 A instância federal...211 5.2.2 A instância estadual...215 5.2.3 A instância municipal...223 5.3 Os demais agentes dos círculos de cooperação do circuito espacial produtivo de celulose...224 5.3.1 Instituições financeiras...225 5.3.2 Universidades e instituições de pesquisa...226 5.3.3 Associações setoriais e sindicato do setor de celulose e papel...230 5.3.4 Organizações certificadoras...233 5.3.5 Instituições educacionais formadoras e qualificadoras de mão de obra...237

6 A REPRODUÇÃO DAS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO E OS DESDOBRAMENTOS GERADOS PELA EXPANSÃO DO CIRCUITO ESPACIAL PRODUTIVO DE CELULOSE EM MATO GROSSO DO SUL...246

6.1 O papel da reprodução das relações de produção para a expansão do circuito espacial produtivo de celulose...246 6.2 Os desdobramentos gerados pela expansão do circuito espacial produtivo de celulose...256 6.2.1 Os desdobramentos na cidade...256 6.2.2 Reflexos no mercado de trabalho...272 6.2.3 Os desdobramentos no campo...287

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS...306 REFERÊNCIAS...313

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1 INTRODUÇÃO

Entre o fim do Século XX e início do Século XXI, vislumbrava-se a redução do consumo de papel em virtude, dentre outros fatores, do desenvolvimento da informática e da consequente possibilidade de ampliar a digitalização de documentos. Todavia, no período contemporâneo, é consenso que o consumo de papel não foi reduzido, pelo contrário, foi ampliado nas últimas décadas. Se de um lado ocorreu a ampliação da digitalização de documentos, reduzindo a necessidade pelo papel, de outro, seu consumo foi impulsionado em decorrência, principalmente, do seu uso voltado para a publicidade e a produção de embalagens.

O uso de papel para a publicidade tem crescido nas últimas décadas e isso pode ser observado no cotidiano, pois diariamente as pessoas recebem inúmeros panfletos publicitários, na maioria das vezes de maneira indesejada. Esses chegam de diversas maneiras até o público alvo, como em um simples caminhar – em um shopping center, na orla da praia, na rua etc. –, no trânsito, quando é necessário parar o veículo devido ao congestionamento ou ao fechamento de um sinal, e até mesmo sem sair de casa, seja no interior do jornal ou então na caixa de correspondência. A produção de embalagens, por sua vez, também tem crescido nas últimas décadas, principalmente em consequência do aumento das vendas pela internet e do uso de praticidades no dia a dia, como os produtos descartáveis.

Cabe salientar, entretanto, que o consumo de papel é desigual pelo mundo, pois enquanto os países desenvolvidos apresentam médias per capita elevadas, os países subdesenvolvidos apresentam médias reduzidas. Apesar disso, o crescimento econômico e a melhoria da renda e do poder de consumo nos países subdesenvolvidos têm provocado aumento do consumo de papel por suas populações, embora ainda em níveis per capita muito menores que os verificados nos países desenvolvidos. A China, no contexto atual, ilustra bem tal situação, tendo em conta que sua produção de papel tem crescido para atender as empresas que necessitam de embalagens para exportar, mas, também, para atender sua população que, nos últimos anos, ampliou a utilização de produtos descartáveis e de higiene.

Desse modo, o aumento do consumo de papel justifica, consequentemente, o aumento de sua produção, bem como da produção florestal e de celulose, principal matéria-prima para a produção de papel.

Durante muitas décadas, as produções florestal, de celulose e de papel se concentraram nos países desenvolvidos do Norte, porém essa situação tem sido alterada nas últimas décadas, pois, devido à busca por menores custos, legislações ambientais mais flexíveis, entre

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outros fatores, as produções florestal e de celulose, etapas iniciais da produção de papel, foram transferidas para os países subdesenvolvidos do Sul, evidenciando a redefinição na divisão territorial do trabalho no circuito espacial produtivo de papel.

Nesse contexto, de expansão das etapas iniciais do circuito espacial produtivo de papel para os países do Sul, o Brasil e o Mato Grosso do Sul, em especial, foram inseridos nesse circuito espacial produtivo global. Em Mato Grosso do Sul, as primeiras materialidades desse circuito produtivo ocorreram na década de 2000, em razão da expansão dos monocultivos de eucalipto para o abastecimento da primeira fábrica produtora de celulose, anunciada no ano de 2006 e em operação desde 2009. Posteriormente, em 2010, anunciou-se a construção da segunda fábrica de celulose, finalizada no ano de 2012, reforçando o circuito espacial produtivo de celulose (CEPC) no estado.

Em 2019, existiam duas corporações produtoras de celulose em Mato Grosso do Sul, a Suzano1, com duas linhas de produção e capacidade para produzir 3,05 milhões de toneladas de celulose anualmente, e a Eldorado Brasil, com uma linha de produção e capacidade produtiva de 1,7 milhão de toneladas de celulose por ano. Em razão de suas grandes capacidades produtivas, colocando-as entre as principais produtoras de celulose de fibra curta2 do mundo, as duas multinacionais instaladas em Mato Grosso do Sul, mais precisamente no município de Três Lagoas, têm provocado significativos desdobramentos sociais, econômicos e ambientais, sobretudo no Leste sul-mato-grossense.

A partir do contexto apresentado, o objetivo geral da pesquisa consiste em compreender o uso do território pelo circuito espacial de produção de celulose em Mato Grosso do Sul, bem como seus desdobramentos econômicos, sociais e ambientais.

Além desta breve introdução, das considerações finais e das referências, esta tese possui cinco capítulos.

No Capítulo 2, intitulado “O caminho metodológico da pesquisa”, apresentam-se as bases teóricas e metodológicas utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa, além dos procedimentos metodológicos adotados visando à consecução dos objetivos propostos.

O Capítulo 3, “A estruturação e o uso do território pelo circuito espacial de produção de celulose em Mato Grosso do Sul”, destaca a importância do lugar para a estruturação e a

1 Fundamental esclarecer que a Suzano é resultado da fusão entre a Fibria e a Suzano Papel e Celulose, que ocorreu oficialmente em janeiro de 2019. Antes disso, a Fibria era a empresa que atuava na produção de celulose em Mato Grosso do Sul. Nesse sentido, todas as informações e dados apresentados e analisados nesta pesquisa, referentes à lógica do circuito espacial produtivo de celulose em MS, dizem respeito à Fibria. Por isso, optou-se por utilizar o nome desta empresa no decorrer deste trabalho.

2

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expansão desse circuito espacial produtivo em Mato Grosso do Sul, a partir da análise da combinação de oito fatores particulares no Leste desse estado. Também se evidencia e analisa-se o uso corporativo do território em Mato Grosso do Sul pelo circuito espacial produtivo de celulose, bem como os indicativos econômicos, fundamentais para justificar a expansão desse circuito no estado, à custa de incentivos fiscais, financiamentos públicos e de diversos impactos sociais e ambientais. Por fim, apresenta-se a Fibria e a Eldorado Brasil, empresas balizadoras do circuito espacial produtivo de celulose em Mato Grosso do Sul.

“A complementaridade entre os circuitos espaciais produtivos e a multiescalaridade geográfica” é o título do Capítulo 4, que apresenta a contribuição teórica da pesquisa: a ideia de circuitos espaciais produtivos complementares. Ademais, nesse capítulo também serão apresentadas as diversas etapas, agentes, equipamentos, insumos e recursos que compõem o circuito espacial produtivo de celulose em Mato Grosso do Sul, notabilizando sua multiescalaridade geográfica a partir de fluxos materiais e imateriais, de diferentes ordens, intensidades e conteúdos.

O Capítulo 5, denominado “O Estado e os demais agentes dos círculos de cooperação do circuito espacial produtivo de celulose”, demonstra como a atuação do Estado, nas escalas federal, estadual e municipal, foi essencial para a estruturação e a expansão do CEPC em Mato Grosso Sul, configurando-o como o principal agente de seus círculos de cooperação no espaço. Além disso, também foram expostos os demais agentes componentes dos círculos mencionados.

Por fim, o sexto e último capítulo da pesquisa, “A reprodução das relações de produção e os desdobramentos gerados pela expansão do circuito espacial produtivo de celulose em Mato Grosso do Sul”, analisa como a população sul-mato-grossense é influenciada a ter uma imagem favorável acerca do CEPC, por meio de diversas ações públicas e privadas, evidenciando a importância da reprodução das relações de produção para o desenvolvimento do circuito estudado. Na sequência do capítulo, no entanto, são apresentados alguns desdobramentos econômicos, sociais e ambientais gerados, revelando alguns aspectos contraproducentes ocasionados pelas atividades ligadas ao CEPC, comumente não expostos para a sociedade.

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2 O CAMINHO METODOLÓGICO DA PESQUISA

O presente capítulo constitui-se como um esforço a fim de apresentar o caminho metodológico da pesquisa. Entende-se que esta ação é fundamental para notabilizar a fundamentação teórica e metodológica, bem como para apresentar de maneira clara todos os procedimentos realizados durante a pesquisa.

Assim, este capítulo apresenta o caminho metodológico percorrido durante a pesquisa, destacando, no primeiro item, o problema, a hipótese e os objetivos geral e específicos. No segundo item, são apresentadas as dimensões conceitual e teórica da pesquisa, enquanto o terceiro item contém as categorias de análise geográficas utilizadas para auxiliar a compreensão da problemática investigada. Por fim, no quarto item, estão os procedimentos metodológicos utilizados no decorrer da pesquisa, fundamentais para a consecução dos objetivos propostos.

2.1 Apresentando a pesquisa: o problema, a hipótese e os objetivos

O problema de pesquisa desse trabalho possui duas dimensões: uma empírica e outra teórica. A dimensão empírica resulta das inquietações geradas durante o mestrado, realizado na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, campus de Três Lagoas, onde se tomou conhecimento dos inúmeros impactos ocorridos em Mato Grosso do Sul, principalmente em sua região Leste, nos últimos anos, em decorrência da expansão do monocultivo de eucalipto destinado à produção de celulose. Diante desse fato, nessa pesquisa, propõe-se compreender esta problemática por meio da teoria dos circuitos espaciais de produção. Entretanto, quando se buscou compreender a teoria a partir de diversos trabalhos, algumas lacunas foram notadas, originando o problema teórico da pesquisa.

Do ponto de vista empírico, o problema relaciona-se ao crescimento vertiginoso da produção de eucalipto e de celulose em Mato Grosso do Sul, fato que o colocou entre os maiores produtores do Brasil em menos de uma década.

Em função da grande capacidade produtiva, o circuito espacial produtivo de celulose, em Mato Grosso do Sul, tem provocado a redefinição do uso do território, pois a expansão do monocultivo de eucalipto culminou na redução do efetivo de animais, da produção de origem animal e das lavouras temporárias e permanentes. Além disso, a referida expansão também gerou desdobramentos sociais e econômicos, como: alteração no mercado de trabalho e no

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sistema educacional, crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), das exportações e da frota de veículos, aumento do preço das terras rurais e urbanas, dentre outros.

No que se refere ao problema teórico, entende-se que a teoria dos circuitos espaciais de produção, apesar de importante para a compreensão da dimensão espacial dos fenômenos econômicos, ainda possui algumas lacunas.

Uma das lacunas identificadas em diversos trabalhos, baseados na teoria dos circuitos espaciais produtivos, é a análise apenas do fenômeno econômico em si, sem levar em consideração, por exemplo, seus desdobramentos sociais e ambientais. Levar em conta esses rebatimentos pode não ser uma das proposições iniciais dos autores formuladores de tal teoria, no entanto, quando se busca compreender o espaço geográfico como totalidade, é impossível isolar o fenômeno e desconsiderar seus impactos, os quais, dependendo da atividade econômica, como é o caso do CEPC, são muitos.

Ademais, também se notou a pequena e quase inexistente presença dos sujeitos sociais nos trabalhos baseados na teoria dos circuitos espaciais de produção. Algo que, levando em conta a ideia contida no parágrafo anterior, deve ser revisto, pois os sujeitos sociais estão entre os principais afetados, direta e indiretamente, pelos desdobramentos gerados a partir dos circuitos espaciais de produção, além do fato de que a existência dos circuitos envolve diretamente os sujeitos.

A partir da dimensão empírica do problema de pesquisa, defende-se neste trabalho a ideia de que a expansão do CEPC em Mato Grosso do Sul é resultado da redefinição da divisão territorial do trabalho no circuito espacial produtivo de papel, caracterizada, na escala global, pela transferência das etapas iniciais do circuito espacial produtivo de papel – produção florestal e produção de celulose – dos países do Norte para os países do Sul e, na escala nacional, pela interiorização dessas etapas iniciais.

A despeito da transferência das etapas iniciais da produção de papel dos países do Norte para os países do Sul, os países do Norte continuam sendo os grandes fornecedores de tecnologias para os projetos de celulose instalados nos países do Sul, além de estarem entre os principais consumidores da celulose produzida nos segundos. Essa conjuntura faz com que o circuito espacial produtivo de celulose em Mato Grosso do Sul esteja articulado a partir de diversas escalas, desde a global até a local, por meio de fluxos materiais e imateriais de diversas ordens, conteúdos e intensidades.

Ademais, entende-se que a estruturação e a expansão do circuito pesquisado em Mato Grosso do Sul ocorreu em razão da combinação de oito fatores: baixa densidade técnica das

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atividades agropecuárias pré-existentes; pré-existência de base florestal de eucalipto; grande disponibilidade de terras de baixo preço; concentração fundiária; mão de obra barata; localização geográfica; disponibilidade hídrica; e, atuação do Estado. Essas especificidades naturais e artificiais contribuíram para a instalação das indústrias produtoras de celulose no Leste sul-mato-grossense, caso contrário, poderiam estar em qualquer outra fração do território brasileiro. Destarte, as características apresentadas demonstram a importância do lugar, mesmo diante dos vetores da globalização.

A expansão em questão, no entanto, resultou na ampliação do uso corporativo do território, por parte das companhias produtoras de celulose e, consequentemente, dos aspectos contraproducentes, como a contaminação de lavouras por agrotóxicos pulverizados no monocultivo de eucalipto, a poluição dos solos e dos recursos hídricos, a redução dos corpos d’água, a redução da população e da dinâmica das comunidades rurais, dentre outros, dando relevância às dimensões ambiental e social do circuito analisado nesta pesquisa.

No que se refere à dimensão teórica, não se formulará uma hipótese, pois a ideia se concentra em reforçar a necessidade de se analisar para além do fenômeno econômico, visando à compreensão da totalidade do espaço geográfico, além de dar maior visibilidade aos sujeitos sociais afetados pelos circuitos produtivos. Desse modo, o intuito é apresentar elementos metodológicos que contribuam para esse tipo de análise, proporcionando avanços na análise dos circuitos espaciais de produção.

Além disso, também se pretende contribuir do ponto de vista teórico e metodológico para o aperfeiçoamento da teoria. Nesse sentido, buscou-se refletir a respeito do que se denomina nesta pesquisa como “circuitos espaciais produtivos complementares”. Exemplificando: o circuito espacial produtivo de celulose necessita de outros circuitos, como o das mudas e o de eucalipto (madeira). Esses são circuitos complementares ao circuito espacial produtivo de celulose, que também é um circuito complementar ao circuito espacial produtivo de papel. Entende-se que identificar esses circuitos complementares e todos os seus elementos contribui para uma abordagem minuciosa de um circuito espacial de produção, facilitando a compreensão da interdependência entre os quatro momentos da produção capitalista – produção propriamente dita, distribuição, circulação (troca) e consumo (MARX, 2011) – e de sua multiescalaridade geográfica.

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2.1.1 Objetivos

A partir do contexto apresentado, foi formulado o objetivo geral da pesquisa, que consiste em compreender o uso do território pelo circuito espacial de produção de celulose em Mato Grosso do Sul, bem como seus desdobramentos econômicos, sociais e ambientais.

Visando atingir o objetivo geral, foram delineados os seguintes objetivos específicos: • Compreender a estruturação e a expansão do circuito espacial produtivo de celulose

em Mato Grosso do Sul a partir da redefinição da divisão territorial do trabalho no circuito espacial produtivo de papel;

• Analisar o circuito espacial de produção de celulose, a partir da identificação dos diferentes agentes e estruturas produtivas que o compõem, bem como a complementaridade entre segmentos produtivos e sua multiescaladaride;

• Compreender os nexos definidos pelos círculos de cooperação do circuito espacial produtivo de celulose para viabilizar seu desenvolvimento em Mato Grosso do Sul, enfatizando a articulação entre a política dos Estados e a política das empresas;

• Identificar e analisar os impactos gerados pelo uso corporativo do território, por parte do circuito espacial de produção de celulose, aos sujeitos sociais do campo residentes em assentamentos e/ou comunidades localizados próximos às indústrias de celulose e/ou aos eucaliptais.

2.2 As dimensões conceitual e teórica da pesquisa

Para a compreensão do circuito espacial produtivo de celulose em Mato Grosso do Sul, foram utilizados os conceitos de território e de lugar. É por meio desses conceitos que se buscou a compreensão do espaço geográfico, entendido enquanto totalidade, segundo a perspectiva do geógrafo brasileiro Milton Santos.

O conceito de território passou por modificações com a evolução do pensamento geográfico. Se nas concepções clássicas, o território era tratado como sinônimo da área de um Estado, no período contemporâneo entende-se que esse conceito possui uma complexidade maior. Conforme Moraes (2013), o próprio Milton Santos, durante boa parte de sua trajetória acadêmica e intelectual, pouco utilizou o conceito de território e quando o utilizava, possuía sentido demarcatório. Todavia, no decorrer de sua trajetória, o conceito de território foi ganhando espaço em suas obras, adquirindo conteúdo mais denso e específico.

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Para Santos (2005), antes era o Estado que definia os lugares, pois o território era subordinado ao Estado. Para o autor supracitado, no passado, o território era a base do Estado-nação. Além disso, era o próprio Estado que moldava o território, numa clara visão de que não havia outros agentes na produção do território. No entanto, essa noção antiga foi evoluindo, passando de uma noção de Estado Territorial para a de transnacionalização do território. Dessa maneira, o território tem sido marcado pela interdependência universal dos lugares.

Santos (2005) alerta que, apesar da atual característica transnacional do território, nem todo território é transnacional, assim como no passado nem todo território era estatizado. Isso acontece porque “mesmo nos lugares onde os vetores da mundialização são mais operantes e eficazes, o território habitado cria novas sinergias e acaba por impor, ao mundo, uma revanche” (SANTOS, 2005, p. 255). Assim, o território não é influenciado apenas pela lógica global, mas também pelos interesses locais.

De acordo com Santos (2005), o território é formado por objetos técnicos e ações normatizadas e está cada vez mais marcado pela fluidez. São estas características que possibilitam encontrar novos recortes territoriais, que são resultados “[...] da nova construção do espaço e do novo funcionamento do território [...]” (SANTOS, 2005, p. 256).

A despeito de sua importância, o conceito de território é abstrato. Desse modo, para operacionalizar a compreensão do espaço geográfico, Santos (2005) aponta que é necessário levar em consideração o uso do território, pois são as diferentes formas de usar o território que geram as grandes contradições do mundo contemporâneo. A partir dessa perspectiva, o autor propõe a noção de “território usado”, tendo em conta que “é o uso do território, e não o território em si mesmo, que faz dele objeto de análise social” (SANTOS, 2005, p. 255).

Segundo Santos et al. (2000, p. 104), o espaço geográfico é sinônimo de território usado, “[...] e este é tanto o resultado do processo histórico quanto a base material e social das novas ações humanas”. Por meio da noção de território usado é possível fugir dos enfoques parciais que limitam a análise do espaço geográfico e entendê-lo enquanto totalidade. Além disso, também é possível construir “[...] uma teoria social e propostas de intervenção que sejam totalizadoras” (SANTOS et al., 2000, p. 104).

Santos et al. (2000) afirma que a noção de território usado leva a ideia de espaço banal, ou seja, o espaço de todos os homens, de todas as empresas, de todas as instituições. A análise que leve em consideração a noção de território usado, portanto, deve considerar todos os agentes e atores, independente de suas diferenças de força e poder. Nessa lógica, algumas categorias de análise são importantes para a compreensão do uso do território, como

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horizontalidades e verticalidades e território como abrigo e território como recurso. Por meio desses pares dialéticos, utilizados nesta pesquisa, será possível compreender como o território é usado pelos diferentes agentes e sujeitos.

Para Santos et al. (2000, p. 104-105), o território usado é materializado a partir “[...] de relações complementares e conflitantes” e por meio dessas relações é possível entender as relações entre o lugar e o mundo. Nesse sentido, por meio da análise do uso do território, a partir do circuito espacial produtivo de celulose em Mato Grosso do Sul, buscou-se compreender a complexidade desse uso, sua relação com a estrutura global, bem como os impactos gerados.

O conceito de lugar, por sua vez, é importante para a análise de fenômenos econômicos quando se utiliza a teoria dos circuitos espaciais de produção. Isso porque, apesar da mobilidade, devido à circulação e à comunicação, os circuitos necessitam de uma base material. A circulação e a comunicação são duas características da mobilidade existente nos circuitos. São elas que viabilizam os fluxos materiais e imateriais. Esses fluxos são sustentados por uma base material, evidenciando a importância da configuração territorial e da singularidade dos lugares. Em decorrência disso, o conceito de lugar é fundamental nas pesquisas relacionadas aos circuitos espaciais de produção (DANTAS, 2016).

De acordo com Santos (2006), os lugares não são isolados, pois mantém contato com o mundo, porém conservando suas especificidades. Nessa linha de raciocínio, conforme o autor, com a modernização contemporânea, os lugares se mundializaram em razão da ampliação do contato com o mundo. Todavia, a despeito dessa característica, é possível notar que os lugares possuem especificidades que os distinguem, eliminando a ideia de homogeneização do espaço global.

No período atual, marcado pela globalização, a ordem global busca impor uma única racionalidade a todos os lugares. Todavia, o lugar se apresenta como forma de resistência a essa ordem global, pois nem todos os elementos globais são incorporados, tendo em vista que elementos locais são mantidos, fazendo com que o lugar possua a sua própria racionalidade (SANTOS, 2006). Dessa maneira, para Santos (2006, p. 231): “cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global e de uma razão local, convivendo dialeticamente”.

A expansão do circuito espacial produtivo no Leste de Mato Grosso do Sul evidencia essa relação dialética, pois enquanto as companhias produtoras de celulose seguem interesses relacionados à lógica global, as comunidades tradicionais e os assentamentos da reforma agrária, onde está a maior parte dos sujeitos sociais impactados, estão ligados à lógica local.

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O desenvolvimento das telecomunicações ampliou o conhecimento mundial em relação às possibilidades dos lugares, tornando mais precisa a escolha de um lugar para o desenvolvimento de determinada atividade. As empresas, então, têm a seu dispor informações extremamente detalhadas sobre os lugares que as interessam. É dessas informações sobre as potencialidades dos lugares, inclusive, que depende o sucesso das empresas. Por isso, nenhuma empresa se instala antes de uma análise minuciosa sobre o lugar em que desenvolverá suas atividades. Para Santos (2006, p. 167): “é desse modo que os lugares se tornam competitivos. O dogma da competitividade não se impõe apenas à economia, mas, também, à geografia”.

As especificidades dos lugares fazem com que as empresas se instalem em um lugar e não em outro, visando maior rentabilidade de suas atividades. Segundo Santos (2006, p. 166): “os lugares se distinguiriam pela diferente capacidade de oferecer rentabilidade aos investimentos. Essa rentabilidade é maior ou menor, em virtude das condições locais [...]”.

Como citado anteriormente, parte-se da hipótese que a estruturação e a expansão do circuito espacial produtivo de celulose em Mato Grosso do Sul foram possibilitadas em consequência da combinação de oito fatores. Foram esses fatores, essas especificidades, que atraíram os agentes hegemônicos do circuito espacial produtivo de celulose para o estado de Mato Grosso do Sul, notabilizando a importância do lugar.

Apresentados os conceitos, o próximo passo é apresentar as teorias utilizadas para auxiliar na compreensão da realidade estudada. Como é evidente desde o título, a teoria dos circuitos espaciais de produção é a base desta pesquisa, acompanhada dos círculos de cooperação no espaço. No entanto, em função do que esta pesquisa se propõe a investigar, também foram utilizadas mais uma teoria e uma noção que são, respectivamente, a “reprodução das relações de produção” e “da política dos Estados à política das empresas”.

A teoria dos circuitos espaciais produtivos teve como base o projeto “MORVEN: Metodología para el diagnóstico regional”, coordenado por Sonia Barrios e Alejandro Rofman, desenvolvido junto ao Centro de Estudios del Desarrollo (CENDES), da Universidade Central da Venezuela, durante a década de 1970. Além de Sonia Barrios, que escreveu sobre dinâmica social e espaço, e de Alejandro Rofman, que refletiu sobre subsistemas espaciais e circuitos de acumulação regional, o MORVEN também possuía o artigo de Cecilia Cariola e Oscar Moreno, que discorreram a respeito da metodologia sociopolítica do projeto.

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Apesar dos demais artigos, o escrito por Sonia Barrios foi o grande fornecedor das bases para a teoria dos circuitos espaciais produtivos. Barrios (1980) utilizou-se das ideias propostas por Karl Marx, que posteriormente deram origem ao livro Grundrisse, publicado pela primeira vez em 1941. Nesse livro, Marx (2011) defendia que a produção capitalista é baseada em quatro momentos distintos, mas indissociáveis e interdependentes: a produção propriamente dita, a distribuição, a circulação (troca) e o consumo. Em Grundrisse, Marx (2011) criticava os economistas por não considerarem as relações existentes entre essas quatro instâncias da produção. Por isso, Marx (2011) tratou de destacar como esses processos, embora contraditórios, são interdependentes.

Sonia Barrios (1980), tendo conhecimento dessa proposição de Marx, propõe uma noção que, a primeira vista, possui muitas similaridades com o conceito de cadeia produtiva, muito difundida nas Ciências Sociais Aplicadas, com destaque para a Administração e a Economia (CASTILLO; FREDERICO, 2010). A respeito das semelhanças entre o circuito espacial produtivo e a cadeia produtiva, Castillo e Frederico (2010, p. 467) escrevem:

Em ambas as abordagens, trata-se de apreender a unidade das diversas etapas do processo produtivo (produção propriamente dita, distribuição, troca e consumo), acompanhando todas as etapas de transformação e agregação de valor pelas quais passa um produto, da produção ou extração da matéria-prima até o consumo final, bem como os diversos serviços associados à distribuição, armazenamento, comercialização, crédito, pesquisa e desenvolvimento etc. O reconhecimento da importância da informação e de suas tecnologias como elementos de unificação entre as diversas etapas produtivas e a constatação da especialização produtiva ou do aprofundamento da divisão do trabalho, além de outros pressupostos característicos do atual período histórico, são compartilhados por um e outro.

Entretanto, quando analisadas, é notório que as duas teorias possuem focos distintos, pois enquanto a cadeia produtiva tem como foco a empresa, o circuito espacial produtivo enfoca o espaço geográfico (CASTILLO; FREDERICO, 2010). Desse modo, a teoria dos circuitos espaciais produtivos, devido à sua dimensão espacial, é extremamente válida para a compreensão dos fenômenos econômicos a partir de uma abordagem geográfica.

Vale salientar que a denominação “circuito espacial produtivo” não foi dada por Barrios ou Rofman. No MORVEN inexiste qualquer menção a ideia de circuitos espaciais produtivos, pois os autores trabalham com a ideia de circuitos regionais produtivos. Na verdade, segundo Moraes (1985), a proposição teórico-metodológica de Barrios é ampla, pois considera o espaço como um todo, no entanto, Rofman, operacionalizador da pesquisa,

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reduziu a proposta a uma pesquisa regionalista, pouco considerando a internacionalização, sendo alvo de críticas do próprio Moraes e de Milton Santos.

Santos e Silveira (2014) apontam que o mundo atual é caracterizado pela segmentação cada vez maior das etapas de trabalho e pela consequente intensificação das relações e trocas entre as diferentes regiões. Estas relações não ocorrem apenas entre regiões próximas, pois em função do desenvolvimento atual dos meios de transportes e telecomunicações, as relações ocorrem entre regiões cada vez mais distantes. Uma área de agricultura moderna, por exemplo, pode ter relações mais frequentes com cidades distantes, às vezes localizadas até em outros países, do que com cidades mais próximas. Destarte, os autores pontuam que é necessário falar da noção de circuitos espaciais de produção, e não de circuitos regionais de produção (SANTOS; SILVEIRA, 2014).

O mundo encontra-se organizado em subespaços articulados dentro de uma lógica global. Não podemos mais falar de circuitos regionais de produção. Com a crescente especialização produtiva regional, com os inúmeros fluxos de todos os tipos, intensidades e direções, temos que falar de circuitos espaciais da produção. (SANTOS, 1997, p. 49).

A denominação “circuitos espaciais produtivos” surgiu poucos anos após a elaboração do MORVEN. Um dos primeiros trabalhos a utilizar essa expressão foi um texto mimeografado produzido por Moraes, intitulado “Os circuitos espaciais da produção e os círculos de cooperação no espaço”, datado de 14 de março de 1985. Segundo Castillo e Frederico (2010, p. 463, grifo dos autores):

A noção de circuito espacial produtivo enfatiza, a um só tempo, a centralidade da circulação (circuito) no encadeamento das diversas etapas da produção; a condição do espaço (espacial) como variável ativa na reprodução social; e o enfoque centrado no ramo, ou seja, na atividade produtiva dominante (produtivo).

A referida denominação tinha por propósito superar a ideia de circuitos regionais produtivos, por entender que os circuitos de produção, no atual período, possuem fluxos, materiais e imateriais, dotados de diferentes intensidades, vindos de todas as direções, que extrapolam a escala regional (SANTOS, 1997). Seguindo essa linha de raciocínio, Moraes (1985, p. 3) pontua que os circuitos espaciais de produção devem ser “[...] discutidos na ótica da mundialização do espaço geográfico e da globalização das relações sociais de produção”. Partindo desse pressuposto, é impossível considerar que um circuito espacial de produção se restrinja a escala regional.

Referências

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