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6 A CONSTITUIÇÃO DE UM TERRITÓRIO NEGRO: ASSUNÇÃO E RESISTÊNCIA QUILOMBOLA EM VÃO GRANDE

6.3 MUNICÍPIO DE BARRA DO BUGRES

O Município de Barra do Bugres compreende uma área de 6.060,201Km² na região sudoeste do Estado do Mato Grosso, tendo como limites os municípios de Alto Paraguai, Cáceres, Denise, Lambari D’Oeste, Nova Olímpia, Porto Estrela, Rosário Oeste, Salto do Céu e Tangará da Serra.

De acordo com os dados do censo demográfico de 2010, o município tinha em 2010 31.793 habitantes e população estimada, em 2013, de 33.022 (IBGE, 2013).

Antigo distrito de Cáceres, a história do povoamento de Barra do Bugres está intimamente ligado àquele município, que teve início com as penetrações levadas a efeito no Rio Paraguai pelas primeiras bandeiras que subiram o grande rio até suas cabeceiras (IBGE, 2017) e posteriormente, a fundação de Vila Maria, que

iniciou efetivamente o povoado da extensa zona que compreendia aquela parte da capitania de Mato Grosso e Cuiabá (BRASIL, 2010b).

O município de Barra do Bugres tem sua fundação ligada aos ciclos econômicos do estado no final do século XIX e começo do século XX, que iniciou-se com o ciclo da exploração vegetal, com os principais produtos a poaia, a borracha e o cedro (BARRA DO BUGRES, 2017).

A partir do ano de 1878, Barra do Rio Bugres, como era chamada na época, começou a receber os primeiros moradores procedentes de Cuiabá, que vieram em busca do produto. Em decorrência das citadas atividades econômicas a formação populacional do município é marcada por uma diversidade étnica, composta de descentes quilombolas, indígenas, migrantes do sul, sudeste e nordeste do país, além dos mato-grossenses da região da denominada baixada cuiabana.74

A qualidade de vida neste município tem melhorado ao se analisar a evolução do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) que era de 0,505 no ano de 2000 e passou para 0,693, em 2010. Neste período a dimensão que mais cresceu em termos absolutos foi a educação (com crescimento de 0,225), seguida por longevidade e por renda.

Entre 1991 e 2010 Barra do Bugres teve um incremento no seu IDHM de 71,53%, acima das médias de crescimento nacional (47,46%) e estadual (61,47%). O hiato de desenvolvimento humano, ou seja, a distância entre o IDHM do município e o limite máximo do índice, que é 1, foi reduzido em 48,49% entre 1991 e 2010 (CNM, 2014). No ano de 2010, Barra do Bugres ocupava a 2105ª posição, em relação aos 5.565 municípios do Brasil e a 55ª em relação aos 141 outros municípios de Mato Grosso (ADH-CNM, 2013).

A economia do município gira principalmente em torno do agronegócio e mais especificamente da indústria sucroalcooleira e bovinocultura de corte. Barra do Bugres conta com uma usina de álcool, biodiesel e açúcar. Além destas, sua economia também é apoiada por uma variedade de outras atividades produtivas (frigorífico, indústria de ração animal, indústria de madeira, indústria moveleira

indústria de cerâmica - tijolos, lajotas e telhas); dentre outras atividades no segmento de serviços (BARRA DO BUGRES, 2017).

Além da existência de comunidades tradicionais de origem quilombola - comunidades da região do Vão Grande – objeto de nosso estudo, encontramos no município populações de origem indígena, que ocupam a denominada Terra Indígena Umutina75, com uma área de 28.120 hectares entre o rio Paraguai e rio dos Bugres abrangendo também terras do Município de Alto Paraguai. Está a 150km da Capital Cuiabá e a apenas 12km da área urbana de Barra do Bugres. O acesso ao local exige trechos de rodovia e barco.

Ainda no município de Barra do Bugres encontramos assentamentos de reforma agrária, estruturados tanto pela ação do MST - assentamento Antônio Conselheiro (um dos maiores da América Latina, tendo aproximadamente 990 famílias)76, como por outras modalidades de assentamentos organizado a partir de financiamentos, com especial destaque ao Banco da Terra.

Mesmo com a diversificação na base econômica do município ainda há muito a superar com relação à diminuição das desigualdades socioeconômicas. Conforme os dados do Censo 2010 do IBGE, organizados pelo grupo Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) que acompanha as mudanças ocorridas na

75 Os Umutinas são oriundos das etnias Paresi, Umutina, Nambikwara, Kayabi, Terena e Irantxe.São

da família linguística Bororo. Viviam antigamente na margem direita do rio Paraguai, aproximadamente entre os rios Sepotuba e Bugres. Sua área de domínio, entretanto, estendia-se até o rio Cuiabá. Com a chegada dos não-índios os Umutina deixaram a região do Sepotuba e migraram mais para o norte, passando a viver às margens do rio Bugres, por eles denominado “Helatinó-pó- pare”, afluente do alto Paraguai. Estão distribuídos em duas aldeias, uma de nome ‘Umutina’, onde vive a maioria de sua população, aproximadamente 450 pessoas, e a outra, mais recente, é chamada de ‘Balotiponé’, onde vivem aproximadamente 40 pessoas, divididas em cinco famílias. As duas aldeias estão localizadas dentro da terra indígena acima mencionada, que se encontra homologada pelo Decreto 98.144 de 1989, totalizando um pouco mais que 28 mil há, em uma ilha entre os rios Paraguai e dos Bugres. FONTE: https://pib.socioambiental.org/pt/povo/umutina/2022.

76 O assentamento Antonio Conselheiro está organizado em 36 agrovilas, que se subdividem em

aproximadamente 25 lotes cada, devido ao formato de sol das agrovilas todos os lotes fazem fronteira com a área social, destinada à construção da coletividade. Além destas agrovilas o assentamento ainda abriga duas comunidades de lotes denominados de Serra dos Palmares (localizada no município de Tangará da Serra) e Comunidade Jatobá (localizada nos município de Nova Olímpia e Barra do Bugre), onde os lotes possuem o formato de quadrado. Totalizando 37.600 hectares de terra distribuídos entre 1050 famílias, o que o caracteriza com o segundo maior Assentamento da América Latina. O assentamento resulta da desapropriação da Fazenda Tapirapuã, realizada no inicio do anos de 1990, estando localizado a aproximadamente 30 km do município de tangará da Serra, abrangendo também os municípios de Barra do Bugres e Nova Olímpia-MT.

estrutura social e no alcance dos índices mínimos de qualidade dos serviços de interesse público nos municípios brasileiros, em 2010, 7,7% da população de Barra do Bugres (2.448 pessoas) estava entre a linha da indigência e a linha da pobreza; e 8,2% (2.607 pessoas) abaixo da linha da indigência (ODM, 2016).

No município, em 2015, 22,6% das crianças de 7 a 14 anos não estavam cursando o ensino fundamental. A taxa de conclusão, entre jovens de 15 a 17 anos, era de 49,8% e a distorção idade-série eleva-se à medida que se avança nos níveis de ensino. Entre educandos do ensino fundamental, estão com idade superior à recomendada nos anos iniciais, 9,2% e nos anos finais, 20,9% chegando a 34,9% de defasagem entre os que alcançam o ensino médio (IBGE, 2013). De acordo com a avaliação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) de 2011, Barra do Bugres ficou 10 % acima da média nacional com a nota de 4,9 (IDEB, 2015).

Quanto à educação superior, vale destaque para a existência no município desde o ano de 2001 do Projeto de Formação de Professores Indígenas - 3º Grau Indígena. O programa é desenvolvido no município de Barra do Bugres pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), e é fruto das lutas dos povos indígenas das entidades ligadas à temática e de parte do corpo de educadores da universidade.

6.4 TERRITÓRIO QUILOMBOLA DO VÃO GRANDE: DESCRIÇÃO

GEOMORFOLÓGICA

Os dados geomorfológicos referentes ao Território Quilombola do Vão Grande, resultam de informações fornecidas para a Fundação Palmares, quando da solicitação da Certificação, cabendo destacar alguns desses dados foram disponibilizado pela equipe técnica da Estação Ecológica da Serra das Araras, que é uma Unidade de Conservação lindeira a comunidade, cabendo esclarecer que uma parcela da área da UC está sob litígio, sendo postulada como área quilombola, por um conjunto de comunidades vizinhas ao Vão Grande.

Na seqüência apresentamos dois mapas localizando a área em estudo no território brasileiro, salientando que a mesma encontra-se na denominada área de fronteira (Figura 25).

Na Figura 26 apresentamos um mapa identificando os biomas brasileiros, no qual a área em estudo está localizada na transição do bioma cerrado, amazônico e pantanal.

Figura 25 - Região de fronteira entre os países Brasil e países limítrofes, com destaque para o estado do Mato Grosso e a localização do Território do Vão Grande.

Fonte: adaptado do acervo da ESEC da Serra das Araras.

Figura 26 - Distribuição dos biomas brasileiros e o Território do Vão Grande.

Fonte: adaptado do acervo da ESEC da Serra das Araras

Além dessa especificidade cabe destacar que a mesma diferencia-se das demais áreas do entorno por se encontrar fisicamente isolada e apresentar relevos e altitudes bem diferenciados das regiões adjacentes, faz parte da unidade geomorfológica Província Serrana, formada por um corredor de serras paralelas, de 400 km de comprimento por 40 km de largura, em formato de arco com concavidade voltada para SE, com duas direções predominantes: NE-SW no trecho em que separa as depressões do Alto Paraguai e Cuiabana; e E-W no segmento que separa as depressões Cuiabana e Interplanáltica de Paranatinga (ROSS, 1991).

Na seqüência apresentamos o mapa litológico da região (Figura 27).

Figura 27 - Mapa Litológico e projeções estruturais da Faixa Paraguai

Fonte: Revista Brasileira de Geociências, Volume 23,1993, p.22 – no material não encontramos a autoria do mapa, utilizado no texto de ROSS.

O Território Quilombola do Vão Grande localiza-se em uma área serrana que serve de divisor de águas entre as bacias dos rios Cuiabá e Paraguai, participantes