• Nenhum resultado encontrado

MUNICÍPIO 

IDH‐M  IDH‐RENDA  IDH‐LONG.DADE  IDH‐EDUCAÇÃO 

1991  2000  1991  2000  1991  2000  1991  2000  Diadema  0,746  0,79  0,715  0,721  0,719  0,749  0,805  0,901  São Caetano do Sul  0,842  0,919  0,832  0,896  0,782  0,886  0,913  0,975  Santo André  0,808  0,835  0,786  0,814  0,756  0,76  0,882  0,932  São Bernardo do Campo  0,806  0,834  0,805  0,812  0,732  0,749  0,882  0,94  Ribeirão Pires  0,776  0,807  0,741  0,757  0,722  0,749  0,864  0,915  Mauá  0,754  0,781  0,713  0,71  0,719  0,725  0,83  0,909  Rio Grande da Serra  0,727  0,764  0,662  0,654  0,719  0,749  0,801  0,89  Estado de São Paulo  0,778  0,82  0,766  0,79  0,73  0,77  0,837  0,901  Brasil  0,696  0,766  0,681  0,723  0,662  0,727  0,745  0,849  Fonte: PNUD. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 

Entende‐se  que  esse  efeito  seja  em  parte  motivado  pelas  condições  proporcionadas  pela Administração Municipal de Diadema de não limitar a chegada de novas famílias e de  oferecer condições de atendimento à demanda de serviços básicos como saúde, educação,  transportes  etc.,  resultando  em  reunir  as  melhores  condições  em  termos  de  demanda  e  capacidade  contributiva  para  uma  população  de  limitada  capacidade  de  renda;  aspecto  que encontra aderência no modelo de Tiebout. 

Em  todas  as  dimensões,  o  Município  de  Diadema  fica  abaixo  dos  seus  vizinhos  mais  próximos da região: Santo André, São Bernardo e São Caetano, permanecendo num bloco  intermediário.  Os  índices  de  Diadema  apresentam  uma  posição  intermediária  entre  as  médias paulista e brasileira. Por meio desses indicadores, a situação relativa do município,  segundo  o  “Atlas  do  Desenvolvimento  Humano”  do  Programa  das  Nações  Unidas  para  o  Desenvolvimento (PNUD), é descrita como: 

‐ No período 1991‐2000, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH‐M)  de  Diadema  cresceu  5,90%,  passando  de  0,746  em  1991  para  0,790  em  2000.  A  dimensão  que  mais  contribuiu  para  este  crescimento  foi  a  Educação,  com  72,7%,  seguida  pela  Longevidade,  com  22,7%  e  pela  Renda,  com  4,5%.  Em  2000  sua  situação  em  relação  aos  outros  municípios  do  Estado  apresenta  uma  situação  intermediária: ocupa a 240ª posição ª posição, sendo que 239 municípios (37,1%)  estão em situação melhor e 405 municípios (62,9%) estão em situação pior ou igual.  (PNUD) 

  a seguir, são destacados os valores médios do índice (IDH‐M) e sua dimensão para a renda  (IDH renda). A ordem decrescente da posição das cidades nas duas séries corresponde a da  tabela 3.12.   GRÁFICO 3.08 – Dispersão das séries IDH‐M e IDH‐Renda.  Municípios da Região do ABCD, Estado de São Paulo e Brasil, 1991 e 2000  0,65 0,7 0,75 0,8 0,85 0,9 0,95 0,65 0,7 0,75 0,8 0,85 0,9 0,95 ID H .20 00 IDH 1991 Diadema ‐ IDH‐M ABC ‐ IDH‐M ESP ‐ IDH‐M BRASIL ‐ IDH‐M Diadema ‐ IDH‐Renda ABC ‐ IDH‐Renda BRASIL ‐ IDH‐Renda ESP ‐ IDH‐Renda   Fonte: PNUD. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 

Com  evolução  inferior  à  dimensão  média  (IDH‐M)  para  o  conjunto  das  cidades  brasileiras  paulistas  e  da  própria  região,  o  Município  de  Diadema  praticamente  não  apresenta  evolução  no  quesito  renda  (4,5%  da  composição  do  índice  no  período),  e  a  pequena  evolução  foi  acompanhada  de  um  aumento  da  desigualdade  dessa  distribuição  como indicado no índice de Gini (vide gráfico 3.04). 

6.02 Dificuldades para o desenvolvimento de políticas públicas com base na renda fundiária 

Com  a  ampliação  da  população  nas  AEIS,  se  caracteriza  de  modo  mais  contundente  o  dilema da Administração Municipal, pois, ao reconhecer o direito à moradia e garantir, em  certa  medida,  o  atendimento  às  demandas  sociais  emergentes  agregou  valor  de  uso  às  localizações.  Com  isso,  os  moradores  desprovidos  de  condições  que  lhes  garantissem 

 

acumular recursos com a alienação da ocupação. 

As  áreas  públicas  é  a  base  para  a  instalação  do  modelo  de  ocupação  e  a  alternativa  pública  para  o  desenvolvimento  da  habitação  de  interesse  social  no  município,  e  de  sua  escassez  decorrem  dois  movimentos:  (i)  o  adensamento  dos  núcleos  existentes  e  conseqüente aumento do valor da terra; e (ii) o surgimento de modalidades de ocupação  na  forma  de  Empreendimentos  Habitacionais  de  Interesse  Social  (EHIS),  originalmente  previstos nas AEIS1 (áreas vagas).  

Os  empreendimentos  do  tipo  EHIS  é  uma  modalidade  que  se  intensifica,  existindo  razões para essa ampliação relativa. Uma delas é a “liberdade” ou “tolerância” urbanística  que implica um maior aproveitamento do terreno, se comparado às restrições existentes  na legislação regular, o mesmo ocorrendo em relação ao padrão construtivo. Outra razão é  a amplitude de lugares onde é permitida sua construção, pois a LC161/02 estabelece essa  possibilidade  não  apenas  nas  AEIS  como  em  toda  a  Macrozona  Adensável  (MA).  (Vide  cartograma 3.04). 

Outro aspecto com implicação direta sobre o tema da renda fundiária está relacionado  à situação jurídica das ocupações, pois essa não se esgotou na expedição dos certificados  de  Concessão  de  Direito  Real  de  Uso  (CDRU),  com  a  reivindicação  da  regularização  fundiária  dessas  áreas.  Os  temas  da  ampliação  dos  EHIS  e  da  regularização  fundiária  constituem  forte  pressão  pela  concessão  de  direitos  adicionais  ao  fixados  pela  norma  municipal e são formas particulares de captura de renda fundiária.  

O  impasse  sobre  a  apropriação  de  renda  fundiária,  decorrente  da  alienação  da  ocupação pelo permissionário ou ocupante que não chegou a registrar a transferência da  permissão,  constitui  um  dilema  para  o  governo  local,  pois,  além  de  não  recuperar  o  investimento realizado nas áreas em função de sua reurbanização e do custeio de serviços  sociais, rompe com o princípio de isonomia com relação aos demais moradores da cidade 

 

e benefícios entre contribuintes.62 

No capítulo anterior, foi apresentado um esquema conceitual com base no trabalho de  Schechinger  &  Smolka  (2005)  e  Schechinger  (2007  [A];[B]),  que  consistiu  relacionar  os  círculos  virtuosos  da  gestão  do  solo  na  América  Latina  (Capítulo  II.  Item  4.02).  Em  contraposição ao ambiente favorável à ampliação da carga fiscal, sobretudo as unidades de  valor elevado, a figura 3.01 apresenta os “círculos viciosos” da gestão do solo na América  Latina, situação que leva à precariedade da Administração municipal.  baixos investimentos em serviços escassez de solo servido sobre preço para o solo servido aumento da especulação refugio na informalidade empobrecimento  das famílias expectativa  de valorização aumento das  expectativas PRECARIEDADE MUNICIPAL ESPECULAÇÃO INFORMALIDADE compensação com  isenção fiscal diminuição da  gravação do imóvel  debilidade na carga  fiscal base fiscal insuficiente exclusão do mercado  formal poucos recursos públicos  

FIGURA  3.01  –  Os  círculos  viciosos  da  gestão  do  solo  na  América  Latina.  FONTE:  SCHECHINGER  &  SMOLKA  (2005), 

adaptado.  

O diagnóstico que leva à precariedade da Administração Municipal em função da gestão  do solo está centrado em duas relações que se apresentam dominantes sobre o processo:  (i) informalidade; e (ii) especulação. 

A  informalidade  levou  ao  afastamento  da  tutela  do  Estado  e  dos  procedimentos  regulares de funcionamento da propriedade e da função social da cidade, o que implica a  contradição  entre  o  reconhecimento  de  direitos  e  na  justa  apropriação  de  cargas  e 

      

 

melhorias são atividades que resultam na transferência de consideráveis somas de capital.  

No  caso  das  habitações  sociais  em  AEIS,  o  afastamento  da  regulação  da  propriedade  pelo Estado e o desenvolvimento da informalidade conduz à maximização da acumulação  da  renda  fundiária  pelos  possuidores  (em  processo  de  disputa  com  agentes  intermediários),  o  que  levará  ao  empobrecimento  das  famílias  e  à  debilidade  da  política  para habitação de interesse social no município.   

Pode‐se  discutir  o  esforço  das  famílias  em  melhorar  o  ambiente  local,  o  que  lhes  garantiria  legitimidade  na  apropriação  do  capital  liberado  na  alienação  (proto  especulação), mas é claro que o processo reforça a especulação passiva em que os agentes  não realizam qualquer atividade para ampliação do valor de uso das unidades imobiliárias,  sobretudo a partir da alienação que sucede a expedição da CDRU.  

Nas  AEIS,  a  ausência  de  lançamento  fiscal  constitui  fator  de  ampliação  do  preço  da  terra,  pois  a  totalidade  da  capitalização  da  renda  é  transferida  ao  possuidor  que  a  disputará com agentes intermediários que participam do processo. O comprador pagará o  máximo  que  pode  dispor  para  conseguir  ter  o  domínio  de  um  lugar,  e  dessa  maneira  preencher  uma  necessidade  básica.  Conhecedor  do  fato  que  não  pagará  impostos  ou  qualquer  valor  posterior  na  forma  de  encargos  destinará  o  que  tem  acumulado  nessa  transação. O resultado disso é que a terra aumenta o seu preço e faz com que se alimente  um ciclo de empobrecimento das famílias que se instalam.  

Em Diadema, observações realizadas indicam que o preço unitário da terra no interior  de  alguns  núcleos  é  superior  ao  verificado  em  áreas  formais  próximas  a  esses.  Tal  fato  decorre:  (i)  da  dimensão  das  áreas  ocupadas  que  via  de  regra  são  muito  reduzidas  em  relação às unidades do mercado formal (valores unitários mais elevados); (ii) a ausência de  regulamentos  específicos  que  podem  aumentar  o  custo  da  unidade  (“liberdade  urbanística”); (iii) não pagamento de taxas ou impostos. 

Sem capacidade de recuperar parte dos investimentos que realiza, o governo local torna  vulnerável sua situação, pois diminui a capacidade de investimento em serviços, que dessa 

 

segmento.  No  caso  de  Diadema,  esse  subsídio  advém  das  indústrias  ainda  existentes  na  cidade,  mas  que  tem  diminuído  sua  participação  na  receita  do  imposto  sobre  a  propriedade (IPTU) ao longo da última década.  

As condições que garantem o modelo local em Diadema são:  

(i) Reconhecimento do direito à habitação, o que implicou / implica a Concessão de  Direito  Real  de  Uso  aos  ocupantes de  solo  público  localizado  em  Áreas  Especiais  de Interesse Social (AEIS); 

(ii) Manutenção  dos  níveis  de  receita  fiscal  relativa  aos  tributos  imobiliários  dos  contribuintes  que  desenvolvem  atividade  econômica  na  cidade  (indústria,  comércio e prestação de serviço). A manutenção implica a redução da participação  relativa  desses  segmentos  que  apresentam  baixa  taxa  de  inadimplência  comparativamente a imóveis residenciais; 

(iii) Liberdade urbanística e fiscal aos moradores de áreas especiais de interesse social;  (iv) Manutenção dos serviços sociais básicos; 

(v)  Receita  do  imposto  predial  per  capita  elevada  comparativamente  a  média  da  região. 

6.03  Dilemas  do  governo  local  para  o  financiamento  da  política  de  habitação  de  interesse  social 

Por  meio  da  análise  realizada,  transparece  que,  em  decorrência  da  política  municipal  estabelecida  pela  Administração  Municipal,  que  mantém  sua  linha  geral  desde  1983  no  sentido  de  observar  o  direito  à  moradia  e  o  atendimento  aos  serviços  sociais  básicos  a  todos  os  moradores  da  cidade,  os  moradores  das  Áreas  Especiais  de  Interesse  Social  recebem  um  subsídio  para  permanecerem  nas  AEIS.  Esse  subsídio  traduziu‐se  numa  melhoria de vários itens de sua condição socioeconômica, à exceção da renda, responsável  pelo domicílio informado pelos Censos que se manteve praticamente inalterada. 

O  crescimento  populacional  é  fator  de  preocupação,  pois  expressa  um  movimento  migratório que, na década de 90, indicou ser três vezes superior nos setores especiais em  relação aos demais setores censitários da cidade.  

Em  meio  a  esse  complexo  cenário,  compete  ao  governo  local  avaliar  e  definir  alternativas para o financiamento das funções urbanas e sociais da cidade, tendo em vista 

 

municipal. 

É  necessário  aos  governos  locais  estabelecer  suas  políticas  fiscais  com  o  objetivo  de  criar  as  condições  para  o  financiamento  de  atividades  que  permitam  a  realização  das  atividades econômicas e sociais na cidade. Nesse sentido, as políticas de desenvolvimento  relacionadas  à  terra  representam  uma  possibilidade  concreta  de  contribuição  com  esse  objetivo. 

A consideração básica e repetida aqui é que a existência do ambiente construído é uma  condição  necessária  para  o  desenvolvimento  das  atividades  de  produção,  o  que  inclui  a  reprodução  social.  Seu  desenvolvimento  apresenta  forte  dependência  da  atuação  do  Estado, não sendo possível a nenhum outro agente individual reunir condições para essa  atuação,  que  implica  a  coordenação  dos  aspectos  legal,  econômico,  financeiro,  administrativo  e  operacional  que  regulam  o  funcionamento  das  atividades  econômicas  e  sociais.  A  coordenação  das  necessidades  manifestadas  pelo  desenvolvimento  das  atividades  econômicas  e  sociais  no  território  leva  à  ampliação  do  valor  de  uso  das  localizações.  Com  isso  amplia‐se  a  utilidade  dessas  localizações  e  acumula‐se  renda  na  terra. 

No caso do reconhecimento das ocupações em áreas, predominantemente públicas, em  Diadema,  a  concessão  do  Direito  Real  de  Uso  resultou  no  reconhecimento  da  posse  dos  ocupantes por um período de 90 anos de maneira não onerosa. Essa condição já implicou  subsídio  por  parte  do  Estado  à  população,  que  ocupou  o  espaço  que  adquiriu  uma  condição diferenciada, sendo reconhecido como Áreas Especiais de Interesse Social (AEIS).  Foi o processo de reurbanização dessas áreas coordenado pelo governo local e financiado  com investimento público, que propiciou o aumento do seu valor de uso, condição que é  complementada pela extensão da rede de serviços sociais. 

O detentor da posse de uma localização ao aliená‐la transforma o benefício que lhe foi  concedido  em  um  valor  presente,  que  se  apropria  integralmente  e  de  modo  informal.  O  governo  local,  não  estabelecendo  condições  para  recuperar  esse  financiamento 

 

segmento da população incapacitado de conseguir financiar sua própria habitação. 

O dilema que o governo se coloca é o de procurar estabelecer as condições de controle  para  garantir  a  continuidade  de  sua  política  de  financiamento  de  modo  sustentável.  A  captura  de  ingressos  fiscais  pela  via  da  terra  é  uma  maneira  legítima  de  operar  essa  recuperação, sobretudo por parte dos governos locais, pois a utilização desse mecanismo  não gera externalidade negativa aos demais entes.  

No estabelecimento das condições necessárias à sustentabilidade da política municipal  em relação habitação de interesse social, há questões complexas a serem operadas como a  própria capacidade contributiva do sujeito passivo e a garantia a sua mobilidade, direitos  que  apresentam  garantias  constitucionais,  direitos  que  levam  à  liberação  da  renda  fundiária e sua apropriação pelo ocupante. 

Por  fim,  deve  ser  estabelecido  um  entendimento  que  a  integração  socioespacial  e  a  titulação  não  são  a  mesma  coisa e podem  ser  inclusive  contraditórios  enquanto  políticas  públicas (FERNANDES, 2007). Não é o objetivo no encerramento deste capítulo a abertura  da  discussão  sobre  o  assunto  da  regularização  fundiária,  mas  apenas  dissociar  os  temas  que por vezes aparecem de modo conjugado. 

A regularização fundiária é um processo que pode dar origem inclusive a outras formas  de atuação que poderão agravar o problema da habitação de interesse social ao invés de  resolvê‐lo  (SMOLKA,  2003),  cabendo  exame  oportuno  de  proposições  como  as  apresentadas por De Soto (2001, 29‐50), que propõe a transformação do “capital morto”  num vigoroso programa de titulação. 

 

PROBLEMAS  E  ESPECIFICIDADES  DA  RENDA  FUNDIÁRIA  E  SUA  RECUPERAÇÃO  NO  BRASIL