TIPO DOMICÍLIOS PESSOAS
Quantidade Percentual Quantidade Percentual Quantidade Percentual
NH 187 86,6% 19.147 70,8% 71.639 72,7%
EHIS 29 13,4% 6.233 23,0% 20.726 21,0%
DEMAIS ‐‐ ‐‐ 1.681 6,2% 6.183 6,3%
TOTAL 216 ‐‐ 27.061 ‐‐ 98.548 ‐‐
FONTE: Prefeitura Municipal de Diadema.
Os valores informados apresentaram coerência com os dados dos levantamentos censitários. De acordo com o Censo 2000, a quantidade de pessoas residentes em setores censitários do tipo subnormal foi 86.360 habitantes, com uma TGCA de 3,8%. Projetada a taxa para 2003, resultam 94.584 residentes em 24.579 domicílios, quantidades de ordem de grandeza compatível com os números encontrados.
A pesquisa realizada permitiu reunir dados sobre a mobilidade e o tipo de ocupação das unidades de habitação de interesse social localizadas em áreas gravadas como AEIS 1 e AEIS 2, e sua análise permite identificar uma dinâmica de captura da renda fundiária que conflita com o interesse do governo local, situação que resulta num dilema para o financiamento da cidade (conforme discutido no item a seguir).
5.02 A relação entre mobilidade e o mercado de terra
O mercado de oferta de unidades no interior das AEIS está relacionado à dinâmica de mobilidade domiciliar que ocorre de modo intenso e reproduz necessidades específicas dessa população. Esse dinamismo, entretanto, representa um fator significativo para a poupança dessas famílias.
O preço da terra decorre do aumento do valor de uso das localizações, fator diretamente relacionado à institucionalização das AEIS. A captura desse valor resulta da venda da unidade ocupada pela família e reflete um tipo de especulação diferente daqueles apresentados no capítulo anterior57, modalidade que foi denominada na literatura de proto especulação, Jaramillo (2003).
Sua caracterização decorre do conceito incluído em trabalho do autor (JARAMILLO, 2003), mas que não consta de sua obra teórica anterior (JARAMILLO, 1994); isso porque possivelmente não a entende como especulação58. Diz ele: “seria um exagero associar
todos esses proprietários a figura de especuladores propriamente dito.” (2003). Nesse caso, o ganho obtido com a venda decorre em parte de um esforço próprio em desenvolver o local de uso de ocupa. Ainda, que a habitação é “um bem de consumo”, mas também, um bem “para investimento”. Assim, o proprietário, ao mesmo tempo em que usufrui da localização, investe parte do seu trabalho e renda na sua melhoria, acumulando valor com sua venda. Entende‐se que no caso de Diadema a figura do possuidor ou concessionário (beneficiário da concessão de direito real de uso) encontra equivalência à caracterização original, pois a proteção jurídica fornecida pela CDRU em área demarcada como AEIS equivale à do proprietário que consome sua propriedade e aumenta seu valor de uso.
Entretanto, é possível identificar, no caso das AEIS, um movimento conjugado entre o esforço individual e aquele resultante da política estabelecida pelo governo local e que efetivamente resultam na ampliação da renda fundiária. O primeiro é aquele desenvolvido pelo ocupante, beneficiado ou não pela concessão de CDRU, que conquista o direito à ocupação, à localização e, a partir daí, acumula um valor de uso, utilizando com freqüência seu próprio esforço individual (ou decorrente de cooperação como mutirão, por exemplo) para acrescentar novas características à edificação. A esse movimento é acrescido o valor 57 No item 4.01.2 (A natureza da especulação resultante do projeto Alphaville) do capítulo II, foram discutidos dois tipos de especulação. A especulação passiva, resultante das operações de compra e venda de imóveis; e a especulação indutiva, quando o empreendedor realiza o desenvolvimento de renda fundiária urbana dos tipos primária (eventualmente) e secundária com o objetivo de acumular. 58 Foi discutido na seção indicada do capítulo anterior que o movimento de especulação corresponde a uma antecipação, o que não ocorre aqui de maneira deliberada no sentido de um ganho futuro, situação que ocorre como resultado de um movimento geral (conjuntural) da economia.
decorrente da política definida pelo governo local no sentido de diminuir a segregação socioespacial dessas áreas por meio de investimentos em urbanização e da ampliação da oferta de equipamentos sociais com serviços básicos (saúde, educação, creche, entre outros)59.
Caracterizada a relação de acumulação, a seção seguinte procura caracterizar a mobilidade residencial nas áreas de AEIS.
5.03 Caracterização da mobilidade domiciliar nas AEIS
Essa caracterização foi baseada nos dados fornecidos pela pesquisa realizada. No grupo
Informações Gerais foram relacionadas perguntas sobre: (i) o Estado de origem da família,
(ii) tempo de residência em Diadema; (iii) tempo de residência no núcleo. O Anexo 01 apresenta a planilha de pesquisa com os itens levantados em campo.
A partir dos dados primários, foi montada uma base de dados com o objetivo de relacionar as ocorrências dos dados tempo de permanência na cidade versus tempo de
permanência no local. Esses dados foram tratados e convertidos em variável discreta
representativa da quantidade em anos.
Em conseqüência da consistência nos campos utilizados das 27.061, planilhas relacionadas no levantamento original foram utilizadas 22.606 na montagem da matriz de mobilidade; vide Anexo 1.
Os dados resultantes foram totalizados e apresentados na tabela 3.08, que representa uma matriz de mobilidade composta de duas dimensões: (i) na dimensão horizontal foram relacionados os intervalos de tempo em anos que a família declarou estar no núcleo – os valores variam no intervalo de 0 a 30 anos acumulados os valores superiores; (ii) na dimensão vertical, foram relacionados os intervalos de tempo em anos que a família declarou estar na cidade. Os valores variam no intervalo de 0 a 30 anos, acumulados os valores superiores.
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O resultado é que análises sobre o preço da terra no interior das AEIS tende a elevar‐se, de modo geral, em todo o território municipal e nas áreas com melhor localização tendem a ser mais elevados que aqueles praticados pelo mercado formal.
Destacam‐se os valores posicionados na diagonal da matriz que correspondem às famílias que possuem o mesmo tempo de residência no núcleo e na cidade. Essas são as famílias que migraram para a cidade e permaneceram no local. Os demais casos correspondem a famílias que mudaram pelo menos uma vez no período.
As mudanças ocorridas relacionam diferentes situações entre elas: (i) o crescimento vegetativo no interior das AEIS; (ii) a constituição de um novo assentamento ou a organização de um EHIS; (iii) a chegada de novos ocupantes.
A totalização dessas quantidades resulta que apenas 5.933 das 22.606 famílias permaneceram no local que originalmente ocuparam por ocasião de sua instalação na cidade, o que corresponde a 26,2% das ocorrências. As demais, por razões diversas, que incluem o aumento da família, proximidade do local serviço, entre outros, apresentavam um local anterior em Diadema e se mudaram para uma nova localização no interior de uma AEIS.
Como a residência constitui um bem de consumo, mas também o resultado de uma acumulação, em circunstâncias específicas, seu proprietário ou possuidor a aliena e acumula uma renda para outro investimento ou para complementar sua própria condição de subsistência.
A matriz de mobilidade domiciliar construída permite apresentar algumas conclusões que parecem importantes na relação dos temas habitação e financiamento da cidade, prioritariamente em áreas metropolitanas ou de concentração populacional que concentram também grande quantidade de pobreza.
Inicialmente deve ser observado que existe uma intensa mobilidade no interior das Áreas Especiais de Interesse Social. Esses movimentos, que decorrem de muitos motivos, fazem com que o permissionário (detentor da CDRU) ou posseiro acumule certa quantia para sua necessidade e possibilite a entrada de uma nova ocupação.
PERÍODO