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5 HAPPENINGS, PERFORMANCES E BODY ART: MAPEAMENTO

5.3 TERCEIRA FASE: VISITAS ÀS INSTITUIÇÕES SELECIONADAS

5.3.6 Museu da República (MR)

O MR, instalado em prédio histórico cuja construção terminou em 1867, foi inaugurado em 1960. Antes de abrigar o Museu, o Palácio do Catete exerceu diversas funções, entre as quais a de sede da Presidência da República, permanecendo assim até a mudança da Capital Federal para Brasília. O acervo arquivístico é divido em histórico (29 coleções relacionadas a acontecimentos da história republicana brasileira) e institucional, com documentação referente à trajetória do museu em um total de noventa mil documentos, entre fotografias, mapas, documentos textuais, sejam dos arquivos pessoais ou da Instituição. O acervo bibliográfico é formado por folhetos, livros, jornais e periódicos, somando cerca de dezesseis mil títulos, além de DVDs e CDs relativos ao período republicano da história do Brasil e a demais áreas como arte e arquitetura, arquivologia, museologia, ciências sociais, biblioteconomia, educação, entre outras. O acervo museológico possui mais de oito mil peças, entre mobiliário, esculturas, pinturas, porcelanas, coleções de objetos pessoais etc. O museu possui reserva técnica, atrelada ao setor de Museologia.155

O MR, assim como a CCL e MHN foi visitado apenas uma vez. Tentou-se agendamento nesta Instituição em março de 2019 e novamente em janeiro e fevereiro de 2020, conseguindo-se data para o dia dezessete de fevereiro de 2020. O Arquivo é denominado Histórico e Institucional. O Histórico está sob a responsabilidade de uma técnica com formação em história, enquanto que o Institucional é organizado por técnica com formação em arquivologia. No entanto, a arquivista estava em licença capacitação e por isso, a historiadora (HST) realizou o atendimento.

Durante a troca de e-mails em 2019 com a curadora da Galeria do Lago (o Arquivo não respondeu à mensagem), foi confirmada a existência de uma ação voltada para performances chamada “Jardim das Delícias”, que foi realizada e documentada pela Galeria. Por isso insistiu-se no contato e em 2020, através de telefone e envio de e-mails com mais detalhes sobre a pesquisa foi possível agendar visita e gravar entrevista em áudio, com duração de 18min51s, tendo-se também acesso aos documentos.

A partir da observação dos documentos presentes em três caixas e conversa informal antes da gravação do áudio, soube-se que: ocorrem exposições de longa e curta duração no MR, sendo que as de curta duração são realizadas na Galeria do Lago. A Instituição produz eventos, mas também recebe eventos externos. Essa caraterística influenciou a classificação

155 Informações disponíveis no site do museu e em: https://www.museus.gov.br/wp-content/uploads/2017/07/

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de algumas séries de documentos arquivísticos institucionais: dentre as áreas-fim mapeadas pela arquivista (“Gestão de Acervo”, “Preservação de Acervo”, “Pesquisa”, “Evento Cultural” e “Ações Educativas”), a de “Evento Cultural” recebeu as séries “Artes”, “Cessão de Espaço”, “Exposição de Curta Duração”, “Exposição de Longa Duração”, “Curso”, “Seminário” e “Palestra”. As exposições de curta duração foram organizadas por ordem alfabética.

As caixas localizadas por HST foram “Artes – A-V”, “Evento Cultural. Artes. Cessão de Espaço” e “Evento Cultural. Exposição Curta Duração. J”. Os documentos dentro das caixas eram, em sua maioria, separados por uma pasta de papel com ph neutro. Nestas pastas havia os seguintes documentos: folders de eventos externos (não produzidos pela Instituição e, portanto, relacionados à cessão de espaço) relativos ou não à arte; folders, projetos, programas, CDs (vídeos), releases, cadernos, provas de convites de eventos e de exposições produzidos pelo MR; fotografias de evento externo (provavelmente recebidas como doação); portarias, manuscritos com lista de nomes, comunicados internos, clippings de exposições etc. As pastas de papel recebem o título da atividade (“Evento Cultural”), o título da série (“Artes”, “Cessão de Espaço”) e o título do documento ou do evento. Os documentos dentro das séries não estavam separados por tipologia documental. Documentos sobre a exposição “Jardim das Delícias” foram encontrados na terceira pasta.

Figura 28 – Imagens das Caixas onde a documentação institucional é guardada

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Figura 29 – Detalhe da pasta de ph neutro, exposição “Jardim das Delícias”, 2006-2007

Fonte: Arquivo do Museu da República. Fotografias feitas pela autora.

Figura 30 – Detalhe do folder, do DVD com gravação das performances e frame do vídeo da

performance “Lurdinha/Chá das cinco”, de Luciano Rocha, 2006-2007

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5.3.6.1 Dados obtidos sobre o MR através da entrevista semiestruturada

Segundo a HST, o MR possui um setor de Arquivo Histórico e Institucional, que guarda apenas acervo permanente. O Histórico possui coleções de origem privada (arquivos pessoais de personalidades políticas e de artistas) e uma de origem pública (Centro Pró-Memória da Constituinte). O Institucional guarda os documentos produzidos e acumulados pela Instituição, mas não faz a gestão documental. O plano de classificação (denominado quadro de arranjo pela equipe do Museu) utilizado para as atividades-meio é o feito pelo CONARQ. Já o quadro para as atividades-fim foi criado pela própria arquivista, já que o anunciado quadro do Ibram ainda está sendo desenvolvido.

O Institucional recebe documentação dos outros setores, mas tal transferência não se dá por meio de uma política regular, e sim conforme a necessidade dos próprios setores. Assim, o Institucional possui documentos da Galeria que abrangem performances, mas não necessariamente toda a documentação relacionada. Situação distinta ocorre com documentos legais e financeiros, pois estes geram processos que são, posteriormente, enviados ao Institucional. Um mesmo banco de dados é usado para documentos históricos e institucionais, porém HST explicou que a documentação institucional ainda está em fase de tratamento. Em um primeiro momento, a arquivista realizou a triagem, higienizou o material e começou o processo de classificação. Mas a parte que se refere à descrição ainda não foi feita, por isso não existe conteúdo relativo ao Arquivo Institucional inserido no sistema.

A respeito da existência de documentos e arquivos pessoais de artista e de outras instituições, HST esclareceu que possui a Coleção privada “Carlos Latuff”, com as charges originais do artista, e a coleção pública “Centro Pró-Memória da Constituinte”. Sobre documentos relacionados a performances, happenings e body art, existem folders, catálogos, fotografias e vídeos. No que concerne aos registros dessas ações, eles são realizados pela Galeria, porém não se sabe se de maneira sistematizada. Os arquivos Histórico e Institucional não possuem, de acordo com HST, arquivos pessoais de artistas das ações artísticas alvo da pesquisa. Os arquivos pessoais e públicos que existem são relativos à área de atuação do Museu, ou seja, política e história da República.

Acerca da relação existente entre documentos arquivísticos e museológicos, HST esclareceu que no caso das coleções “Latuff” e “Centro Pró-Memória da Constituinte”, documentos foram enviados para os setores de Museologia, Biblioteca e Arquivo, sendo que a proveniência foi mantida. O termo de doação também é outro documento que lista e une em

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forma de registro todos esses itens. Há ainda um instrumento de pesquisa onde são feitas remissivas, no entanto esse procedimento está sendo realizado com as coleções/fundos novas(os). A relação existente entre documentos de diferentes acervos com mesma proveniência ainda não foi registrada, porém é conhecida pelos profissionais, segundo afirmou HST. Sobre vestígios de performances, HST, que faz parte da Comissão de Acervo, não está ciente sobre nenhum envio da Galeria do Lago para a Reserva Técnica do Museu.

5.3.6.2 Análise dos dados apresentados sobre o MR

Acerca do Arquivo Histórico e Institucional, percebe-se que a organização da documentação histórica se dá por meio de fundos (segundo o conceito arquivístico) e que tal proveniência é observada pelos setores da Museologia, da Biblioteca e do Arquivo. Entretanto, o registro dessa relação é realizado por meio de remissivas inseridas nos instrumentos de pesquisa (sendo apenas aplicadas às coleções novas). Assim, entende-se que o respeito ao fundo é aplicado à documentação do Arquivo Histórico, enquanto que a observância do conceito da organicidade parece se aplicar em partes do material (não se pode afirmar sobre a organicidade com segurança, já que não se teve acesso à organização interna dos fundos).

No que se refere ao tratamento arquivístico dos documentos institucionais permanentes, a arquivista realizou um levantamento da documentação, procurando identificar as atividades- fim tanto nos níveis superiores quanto nas séries. Porém, em “Evento Cultural” inseriu-se um assunto “Artes”, que acabou por tornar confusa a classificação e a guarda de documentos. Como exemplo, pode-se citar a exposição “Jardim das Delícias” que, apesar de ser um evento artístico, não foi encontrado na caixa “Artes”, mas na caixa “Evento Cultural – Exposição de Curta Duração – J” (apesar de na pasta de papel estar escrito “Evento Cultural – Artes – Jardim das Delícias, 2006”, confirme fig. 30 – detalhe da pasta de papel neutro). Percebe-se, portanto, que um mesmo documento ou pasta de documentos pode ser inserido em caixas distintas, o que revela um problema de classificação.156

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