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Capítulo III – O Museu: Contexto de Educação Não-Formal

3. O Museu: Contexto de Educação Não-Formal

3.4. Museus e Educação

3.4.1. Museus, Educação e Ciência

O ensino das Ciências é hoje reconhecido como uma das áreas do currículo formal imprescindível à formação de qualquer cidadão. É, pois, uma área de investigação que tem conhecido um desenvolvimento muito acentuado nas últimas décadas, dando origem a centros de investigação, associações ou publicações científicas próprias, bem como a edições especiais de revistas (Silva, 2009, citado por Delicado, 2012). Nesta sequência, muitos investigadores defendem que os alunos, desde os primeiros anos do Ensino Básico, incluindo os primeiros anos do pré-escolar, devem ser envolvidos em atividades práticas de Ciências que desenvolvam a

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http://www.imc-ip.pt/Data/Documents/18%20de%20Maio%202014/NOVO%20_%2018_maio_2014. pdf, acedido a 14/05/2014, às 18h57m.

compreensão do mundo que os rodeia, os prepare para nele viverem, favorecendo o crescimento de ideias que permitam o seu posterior aperfeiçoamento e a promoção de atitudes positivas e conscientes face à Ciência, enquanto atividade humana (Martins, 2002).

No ensino e aprendizagem das Ciências, a realização de atividades práticas e experimentais e a consequente concretização de diversos conceitos de certa forma mais abstratos, apresentam-se essenciais. Para Vasconcelos (1918, p.9), já no início do século XX se considerava que o ensino só é produtivo, quando tem por base a intuição e a experiência. O currículo formal tem vindo a dar cada vez maior importância a estes aspetos, mas o individuo para conhecer o mundo que o rodeia, tem realmente de o experienciar, de recorrer a outras instituições, a outros espaços de ENF, para construir uma formação mais fundamentada, mais realista, do mundo e da Ciência. Os museus são, de facto, uma excelente fonte de informação e de aprendizagem no âmbito de diferentes áreas do conhecimento e de relação com o mundo. Para além disso, nos museus cria-se sem esforço algum o hábito da atenção, da observação e

da reflexão, fortalece-se a vontade e desenvolve-se o raciocínio, caudais ubérrimos donde promanam as iniciativas arrojadas e as descobertas surpreendentes (Vasconcelos, 1918, p.13).

A ENF em Ciência é um tema relativamente recente, mas tem despertado um interesse crescente por parte da comunidade científica e dos sistemas educativos. A partir dos anos 90 dá- se um crescente reconhecimento do valor cognitivo, afetivo e social das experiências vividas, a

par da dominância de uma perspetiva construtivista da aprendizagem (Delicado, 2012, p.44).

Esta aprendizagem construtivista só é concretizável quando são utilizados e valorizados recursos didáticos como suportes de aprendizagem. Para Gonçalves (2009), estes recursos didáticos são essenciais à promoção da aprendizagem e vários são os estudos que envolvem a conceção, produção e validação de recursos didáticos para o ensino das Ciências, tanto em contexto formal, como não-formal. A ENF da Ciência é normalmente desenvolvida em ambientes externos à escola e para que as atividades promovidas sejam profícuas e com interesse educativo elevado, impõe-se a necessidade de se conceberem recursos didáticos que promovam aprendizagens relativas aos conceitos científicos e tecnológicos que estão presentes nas exposições presentes nestes espaços. Segundo Sabbatini (2004, citado por Gonçalves, 2009, p.11), os espaços de ENF, como museus e centros de ciências, promovem a compreensão

pública da ciência e da tecnologia através de actividades e de experiências educativas informais e não-formais, baseadas em enfoques interactivos, experimentais e lúdicos.

A ideia implícita na criação de um museu de Ciência consiste em proporcionar uma apresentação inteligível da Ciência e da sua evolução, bem como das suas implicações técnicas, culturais, sociais e económicas na vida das populações, seja de uma região, de um país ou de toda a humanidade. Como refere Gil (1975, p.52) é, então, necessário procurar e conseguir os

meios necessários para que este tipo de museu tenha simultaneamente um caráter formativo e

informativo, quer no que respeita ao aspecto histórico-sociológico do desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia dela decorrente, quer à apresentação didáctica das suas aquisições fundamentais.

Os museus científicos são vistos como um dos principais instrumentos de promoção da cultura científica. Por museus científicos entende-se aqui um leque alargado de instituições

dedicadas a mostrar a ciência através de exposições, que inclui museus e centros de ciência, museus de história natural, jardins botânicos e zoológicos (Delicado, 2012, p.45). Ainda que

tenham historiais e conteúdos diferentes, estas instituições têm vindo a aproximar-se em termos de discurso e práticas expositivas, enfatizando os seus propósitos didáticos, de ENF das Ciências, através da observação de obras, como instrumentos científicos, espécimes naturais vivos ou preservados, e da manipulação de dispositivos interativos, da leitura de textos e de diagramas explicativos.

Em Portugal, existem diferentes tipos de museus científicos: Museus de Ciência e Técnica; Museus de Ciências Naturais de História Natural; Jardins Zoológicos, Jardins Botânicos e Aquários; e Centros de Ciência Viva. Delicado (2012), refere que se tem registado um aumento do número de museus científicos, associado sobretudo ao crescimento de sistemas nacionais de Ciência e Tecnologia, à crescente valorização política da Ciência, presente no aumento do investimento público, na conceção de programas, planos de ação e estratégias nacionais ou internacionais, mas também à preocupação com a relação entre o público e a Ciência. Existem, também, outros fatores, tais como: o desenvolvimento de museus

universitários, tanto nas universidades mais antigas (o Museu da Ciência da Universidade de

Coimbra, o MNHNC - Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa, o Museu de Ciência e o Museu de História Natural da Universidade do Porto), como nas

instituídas mais recentemente (Museu Geológico da Universidade de Trás-os-Montes e Alto

Douro); a criação de uma rede de centros de ciência sob égide da Agência Ciência Viva a

partir de meados dos anos 90; a entrada das autarquias e de empresas neste meio, sobretudo através da abertura de jardins zoológicos e aquários (Delicado, 2010, citado por Delicado,

2012, p.46). Este desenvolvimento registado dos museus e de exposições científicas explica-se principalmente não com a intenção de preservar o património histórico das Ciências, mas com o intuito de promover a educação e a cultura científica da população, sobretudo das camadas mais jovens.

Nesta sequência, Ribeiro (2005) defende que os Centros de Ciência Viva têm tido cada vez maior impacto na educação em Ciências, apresentando objetivos como: promover a cultura científica e técnica e dar a conhecer tanto as Ciências e as Técnicas como as suas consequências

económicas, sociais, culturais e ambientais a todos os cidadãos, independentemente da sua idade e da sua preparação cultural; procurar dar ênfase à comunicação da ciência predominando a finalidade didática das exibições; convidar o visitante a participar de forma interativa manipulando as obras expostas; transmitir a Ciência de uma forma interdisciplinar, eliminando as barreiras disciplinares que caraterizam os museus tradicionais; interligar as exposições organizadas com fins educativos; complementar a ação educativa das exposições permanentes e temporárias com iniciativas paralelas, integráveis nos currículos escolares ou destinadas à população em geral.

Para Gil (1975, pp.53-54), os museus de Ciência têm diferentes objetivos e finalidades, como: levar ao conhecimento dos jovens e do público em geral os mais recentes avanços da Ciência e da Tecnologia, apresentando-os no contexto dos seus fundamentos históricos e em

relação com as leis e métodos científicos básicos; mostrar que o avanço das ciências aplicadas e

das técnicas depende do progresso das ciências fundamentais e que a evolução destas é, muitas

vezes, condicionada por aquelas; lembrar os grandes cientistas e inventores e mostrar o que as suas descobertas devem ao ambiente histórico e social em que foram realizadas; encorajar os jovens a seguir carreiras científicas e técnicas; dar a sua própria contribuição como instituição

cultural, ao ensino das áreas que lhe dizem respeito, bem como ao aperfeiçoamento profissional

do pessoal a elas ligado; desenvolver as faculdades críticas e o espírito de investigação livre; mostrar que a melhoria do nível de vida está sempre dependente do progresso científico e técnico.

Muitos dos temas abordados nas exposições dos museus científicos estão relacionadas com os conteúdos e objetivos propostos no currículo escolar (Delicado, 2012). Estes objetivos podem ser concretizados através de várias atividades, sendo as mais conhecidas as visitas guiadas, havendo, também, ateliês ou oficinas pedagógicas destinados ao público escolar. Estes últimos são atividades coordenadas por monitores, com teor pedagógico e/ou lúdico, associadas geralmente às visitas guiadas feitas às exposições permanentes ou temporárias e de algum modo relacionadas com o seu tema e área científica. Permitem, assim, aprofundar os conteúdos,

estimular a participação direta e ativa dos visitantes, e adquirir conhecimentos mais estruturados (Delicado, 2012, p.51). Muitos museus promovem, também, atividades específicas

destinadas à ocupação dos tempos livres dos jovens nas férias escolares.

Atualmente, os museus de ciência têm cada vez mais em conta as implicações do atual contexto social. Os museus multiplicaram-se como resposta às necessidades das sociedades atuais e como recurso à melhoria da relação dos indivíduos com a Ciência e a Tecnologia. A exploração de temas científicos por meio da apresentação do seu processo e evolução histórico,

relacionando-os com aspetos culturais e sociais, ajuda a ver a Ciência como uma construção humana coletiva.

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