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Mutações teóricas e metodológicas

I. LEXICOLOGIA

1.1. Mutações teóricas e metodológicas

Revisitar o rumo empreendido pela Lexicologia constitui o objetivo a que nos propomos desde já. As divergências relativas à conceção geral da linguagem e/ou da ciência exercem influência na organização das disciplinas linguísticas, no sentido de se considerar a hegemonia de uma determinada disciplina em detrimento de outras.

Na sequência de uma perspetiva estruturalista, que concebe a linguagem primordialmente no seu aspeto técnico-instrumental e sobretudo enquanto estrutura, o centro de interesse onde gravita a Linguística será a gramática. Nesse sentido, a visão do estruturalismo ancora-se às partes nas quais as estruturas podem ser apreendidas de forma mais imediata. Por outro lado, concederá uma menor relevância àquela parte da língua na qual as estruturas não são observáveis de modo imediato, mas são abertas, isto é, o léxico.

Para assinalar que a própria organização das disciplinas linguísticas e o ponto de partida na descrição também pode divergir mediante a conceção que se preconiza, Coseriu (1980: 38) refere a corrente do neo-humboldtismo, representado nomeadamente na Alemanha por Jost Trier, criador da teoria do “campo semântico”, e Leo Weisgerber. Segundo esta corrente, a linguagem constituiu-se em dois estratos:

o primeiro estrato representa a organização imediata do mundo por parte do homem, uma espécie de “intermundo” (em alemão: Zwischenwelt), responsável pela organização do mundo como tal mediante a linguagem, enquanto o segundo diz respeito ao falar sobre diversas situações do mundo, mas com os elementos dados neste intermundo. De um lado se terá então o léxico, que organiza de maneira imediata o mundo extralinguístico, de outro lado, a gramática; e a linguagem seria constituída de um estrato léxico, correspondente ao mundo enquanto conhecido e dominado pelo homem por meio da linguagem, e de outro estrato, gramatical, correspondente à combinação desses elementos, isto é, do mundo já transformado em linguagem. A lexicologia deveria ser, portanto, a primeira disciplina linguística, enquanto estudo linguístico do modo e da ordem em que é organizado o mundo.

Coseriu (1980: 38) prossegue a sua reflexão relativamente à corrente do neo- humboldtismo, no âmbito da conceção de lexicologia e do respetivo objeto de estudo, o léxico, mencionando que «as diferenças entre as línguas postas em relevo pelo neo- humboldtismo são sobretudo as lexicais, porque se supõe que a um léxico diferente corresponde uma maneira diferente de organizar, e, assim, de conceber a experiência do mundo exterior» (Coseriu 1980: 38).

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A lexicologia, tal como a lexicografia, constitui-se nos modelos que nortearam a linguística contemporânea: a vertente descritiva assenta numa vertente teórica, ou seja, num imprescindível espaço de reflexão, que lhe fornece as metodologias e os modelos. Vejamos como Mário Vilela resume o pensamento de alguns autores e o seu, relativamente à definição e enquadramento da lexicologia:

A lexicologia estuda as palavras de uma língua, em todos os seus aspetos […] pode incluir a etimologia, a formação de palavras, a morfologia, a fonologia, a sintaxe, mas tem uma relação especial com a semântica. A lexicologia costuma ser definida como a ciência do léxico duma língua. Isto é, a lexicologia tem como objeto o relacionamento do léxico com os restantes subsistemas da língua, incidindo sobretudo na análise da estrutura interna do léxico, nas suas relações e inter- relações. […]

Em resumo, entendemos e analisamos a lexicologia como semântica lexical. […] Contudo, a lexicologia não tem como função inventariar todo o material armazenado ou incluído no léxico, mas sim fornecer os pressupostos teóricos e traçar as grandes linhas que coordenam o léxico duma língua. A sua função é apresentar as informações acerca das unidades lexicais necessárias à produção do discurso e caracterizar a estrutura interna do léxico, tanto no aspeto conteúdo, como no aspeto forma.

A unidade básica da lexicologia é a palavra, a que atribuímos a definição dada por Pottier a “lexie”, ou seja, a “unité de comportement syntaxique” (1967:17) ou “unité fonctionnelle mémorisée en compétence (1974: 326) (Vilela 1994a: 9-10).

No que à lexicografia diz respeito, Vilela também preconiza que

A lexicologia não pode ser confundida também com a lexicografia, o estudo da descrição da língua feita pelos dicionários, a elaboração de dicionários como aplicação dos dados da lexicologia: redação de dicionários ou reflexão sobre eles […].

A lexicologia tem como objeto a semântica (lexical) e morfologia (lexical) (Vilela 1994a: 11).

A lexicologia, que estuda cientificamente o léxico de uma língua, ou seja, o repositório das palavras e de todas as suas propriedades, em meados do século XX, orienta-se pelos modelos estruturalistas que determinam os princípios de análise do léxico. Neste sentido, reveste-se de suma importância realçar, por um lado, o papel que adquire no âmbito da semântica lexical a teoria dos campos-semânticos influenciada, fundamentalmente, pelos estudos de Trier e, mais tarde, por Coseriu e, por outro, o modelo de análise sémica ou componencial. O estudo de Pottier sobre o campo lexical de assento exemplifica a combinação dos princípios subjacentes à análise sémica e à teoria dos campos (Baylon e Mignot 1995: 125, Tamba-Mecz 1998: 24). Deste modo, a lexicologia verá no dicionário o seu âmbito de análise e de ensaio para as suas metodologias e teorias. Decorrente desta aproximação das duas disciplinas, ligação acompanhada pela linguística teórica, evidenciam-se dois aspetos: em primeiro lugar, o fundamental objetivo do lexicólogo aparenta ser o de contestar a centralidade conferida

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em lexicografia à abordagem semasiológica. Deste modo, à antiga metodologia do lexicógrafo, que perspetiva a palavra de maneira isolada, quer-se juntar uma constituição semântica, partindo de uma análise que possibilite constituir os campos léxico-semânticos. Em segundo lugar, os desenvolvimentos teóricos e metodológicos da lexicologia serão condicionados pela lexicografia. De facto, na vertente descritiva, a perspetiva semântica em lexicologia auxiliará especialmente o campo de ação lexicográfico. Decorrente desta situação, em críticas dirigidas ao paradigma lexicográfico de representação do significado, verifica-se, por vezes, a confusão entre a semântica lexical teórica e a semântica lexicográfica. Porém, estas circunstâncias alteraram-se como comprovam as novas abordagens em semântica lexical.

Resultante do surgimento da linguística como ciência, no início do século XX, devido fundamentalmente aos ensinamentos de Saussure e dos seus seguidores, a língua passou a ser encarada como um objeto de estudo por si própria e a ser caracterizada por um discurso que, como qualquer discurso científico, se quer descritivo, objetivo, divergente, portanto, do gramaticismo prescritivo preponderante no passado. Nas palavras de Maria Helena Mira Mateus e Alina Villalva,

O conceito de estrutura é uma presença constante nos trabalhos dos linguistas da época, motivando a criação de métodos e técnicas de descrição e análise próprios. Os dados em que assentam as descrições das línguas constituem o corpus que, na perspetiva estrutural, deve ser recolhido junto dos falantes para atestar as particularidades e os elementos que pertencem, na realidade, à língua em estudo. Os bons resultados da investigação realizada no que diz respeito à descrição das línguas, com metodologias de trabalho claras e sistemáticas, e que se tornaram visíveis no efetivo progresso do conhecimento linguístico, convidaram outras ciências humanas, como a antropologia, a sociologia e a arqueologia, a adotar os instrumentos de análise que a linguística desenvolveu (Mateus e Villalva 2007: 45).

De igual modo, o dicionário, enquanto depósito do saber lexical de uma língua, tem vindo a absorver as produções da linguística e o seu método científico próprio, predominantemente descritivo, tendo-se transformado, nomeadamente ao longo da segunda metade do século XX, num objeto distinto daquele que conhecíamos precedentemente e que se baseava num veículo por excelência de normalização linguística. Neste sentido, a relação entre a linguística teórica, a lexicologia e a lexicografia assume novos rumos. Com a publicação, em 1995, da obra de Igor Mel'cuk e Alain Polguère, intitulada Lexicologie

Explicative et Combinatoire, demonstra-se a evolução crescente na vertente da

lexicologia descritiva e, em simultâneo, confirma-se o desenvolvimento da lexicologia experimental.

L`Introduction à la lexicologie explicative et combinatoire, ou ILEC, peut à maintes occasions surprendre ou même choquer par son rigorisme extreme et sa

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sécheresse formaliste. En effet, ni en lexicologie ni en lexicographie, on n`a l`habitude de rencontrer des constructions quasi mathématiques, avec des systèmes de définitions logiques et tout leur appareillage de déductions. Même si plusieurs disciplines de la linguistique moderne, sortout la syntaxe et la sémantique, ont déjà franchi le pas depuis des années, il n`en est pas ainsi en lexicologie/lexicographie. Nous croyons que l`ILEC est un des premiers ouvrage qui tentent d`implanter une approche logique et formelle dans l`etude des mots. Nous nous sommes donné une tâche bien spécifique:

proposer des methods de description rigoureuse, formelle et exhaustive du lexique. Cette orientation impose inévitablement des cheminements rigides, des formulations catégoriques povant meme agacer ou des analyses excessivement tranchées des matériaux linguistique. Dans le domaine du lexique, il est habituel de proceder avec précaution, de proposer des descriptions approximatives et nuances, en les situant de façon continue et en laissant un rôle vital au context et à l`intuition des locuteurs. Tout en reconnaissant le caractère naturel de cette façon de faire, nous avons apté pour une autre approche, celle de la prise de décisions discrètes (dans le sens mathématique) et absolues. Cette tendance s`integer d`ailleurs parfaitement dans l`ensemble des tendances engendrées par la revolution informatique, ce qui justifie notre tâcha et confirme sa justesse (Mel`Cuk et al. 1995: 9).

A lexicologia experimental pode definir-se como um ramo da lexicologia aplicada à dicionarística e à lexicografia. Neste sentido, o dicionário é concebido como campo de ensaio para testar teorias e metodologias.

Igor Mel`Cuk apresenta a obra L`Introduction à la lexicologie explicative et combinatoire como uma teorização do Dicionário Explicativo e Combinatório do

Francês, DEC, que se inscreve nesta nova linha de investigação.

L`ILEC est en fait une theorization du DEC; nous avons essayé de généraliser et de systématiser notre expérience lexicologique/lexicographique et, en même temps, d`établir des objectifs idéalisés à atteindre. En un mot, nous voulons proposer un modèle dictionnairique à discuter, à developer et à imiter (Mel`Cuk et al. 1995: 10).

O DEC é definido pelos seus autores como um dicionário de lexicólogo ou ainda um dicionário teórico e um modelo idealizado, que é acessível apenas a especialistas. Este dicionário não é um dicionário de lexicógrafo, ou seja, não é um dicionário de língua francesa concebido para ser utilizado pelo público em geral. Trata-se de um modelo de dicionário que preconiza uma teoria linguística: a teoria Sens-Texte6.

Nous avons résolument bâti notre approche sur la théorie lingistique Sens- Texte, qui sert de charpente et de fil directeur et nous fait aboutir à un modele de dictionnaire, qui est un dictionnaire théorique – non pas le sens qu`il n`a pas d`existence concerte, mais dans l`acception quìl répond à une certaine vision théorique de la réalité linguistique, que son pouvoir descriptif est maximalisé, et donc que la justesse de la présentation des faits de langue rend justice à la théorie sous-jacente. Un tel dictionnaire correspond, nous en sommes convaincus, à un dictionnaire idéalisé (Mel`Cuk et al. 1995: 5-6).

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No âmbito da lexicologia, Mel`Cuk, situando-se no quadro da Teoria Linguística

Sens-Texte, assume uma atitude inovadora:

Avec cette mise en relief de l`importance capitale du lexique dans la langue, on comprend que nous voulons placer l`étude du lexique, c`est-à-dire la lexicologie, au coeur de la linguistique théorique. Cette attitude n`est pas très habituelle non plus. À la fin du XX siècle, la lexicologie a encore peu d`importance et dans les manuels et dans l`enseignement de la linguistique (Mel`Cuk et al. 1995: 17).

Ferdinand Saussure (1857-1913), através da sua obra de 1916, Curso de

Linguística Geral, introduz na Europa uma conceção da língua como fenómeno social.

Nos Estados Unidos da América, para explicar o funcionamento da linguagem, os linguistas norte-americanos usaram a teoria do comportamento, que relacionava estímulo e resposta. Leonard Bloomfield (1887-1949) é considerado o fundador da linguística estrutural norte-americana. Na obra Language, publicada em 1933, Bloomfield preconiza o conceito de fonema como feixe de traços distintivos, dando origem à fonémica, o equivalente americano da fonologia europeia. Bloomfield desenvolveu uma Teoria da Linguagem de natureza descritiva, conhecida como

Distribucionalismo, que apresentava muitos princípios básicos semelhantes ao

formalismo de Ferdinand Saussure, no entanto, desenvolvia um método de análise linguística com base na posição contextual dos fonemas e respetiva combinação com outros fonemas (ou distribuição). Bloomfield equacionava a linguística como uma ciência natural, nos modelos da física:

Assim como o físico não precisa seguir o rumo de cada partícula, mas só observa sua ação resultante como um todo, e suas ações individuais apenas quando elas, por sua vez, agrupam-se em uma deflexão da condição do todo (como nas substâncias radioativas) e raramente tem razão para observar o efeito de uma partícula isolada, também na linguística raramente prestamos atenção à expressão ou ao falante isoladamente, e sim aos desvios das expressões e dos falantes quando eles se reúnem em uma deflexão da atividade total (Bloomfield, apud, Gardner, 2002: 218).

Ferdinand de Saussure, o iniciador do estruturalismo, fez da anatomia, estrutura da linguagem, objeto de análise e de estudo. Citando Mateus e Villalva,

Descobertas as relações genéticas entre as línguas e algumas das bases fonéticas da mudança linguística, chega-se ao século XX e ao início da pesquisa que olha para as línguas na sua especificidade, como expressão de uma faculdade humana. Por reação ao positivismo dos neogramáticos, e admitindo uma dimensão psicológica para além da dimensão mecânica anteriormente reconhecida, surgiu na Europa, durante a primeira metade deste século, a corrente que iria ocupar durante largos anos o lugar mais importante no estudo da ciência da linguagem e das demais ciências humanas. Trata-se do estruturalismo, corrente de pensamento que se baseava na importância que a forma vinha assumindo na recém-criada psicologia, e

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na perspetiva de que a linguagem era uma atividade com uma estrutura especial, ou seja, uma atividade que funcionava em sistema (Mateus e Villalva 2007: 44-45).

O conceito de estruturalismo surge fundamentado na seguinte afirmação de Saussure: «a língua não é um conglomerado de elementos heterogéneos; é um sistema articulado, onde tudo está ligado, onde tudo é solidário e onde cada elemento tira seu valor de sua posição estrutural.» (Saussure apud Leroy 1971: 109).

Saussure constituiu o marco inicial da linguística moderna, levando os seus seguidores a desenvolver novos métodos e novas teorias. Para a história da linguística, ficou a Escola de Praga, a Escola de Genebra e a Escola de Copenhague. O movimento da Escola de Praga, o Círculo Linguístico de Praga, criado em 1926, através de seus membros mais dominantes, o polaco Baudouin de Courtenay (1845-1929) e os russos N. S. Trubetskoi (1890-1938) e Roman Jakobson (1896-1982), assinalou a importância da fonologia no sistema da língua, estabelecendo uma coordenação nos estudos da fonética e da fonologia das línguas, que representou uma inovação nos métodos de análise estruturais. Em Portugal, como afirma Mateus e Villalva «a perspetiva estruturalista está presente, pela primeira vez, na obra de Jorge de Morais Barbosa, publicada em 1965» (Mateus e Villalva 2007: 45).

A partir dos anos 60 do século XX, os pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística (Labov, 1978; 1994; 2001; 2008), patentes nos trabalhos de William Labov, incidiram na correlação entre língua e sociedade, considerando-se, nos estudos linguísticos, parâmetros de variação linguística tais como a classe social, a geografia, o sexo ou a situação política dos Estados. Os trabalhos dos sociolinguistas permitiram que todas as línguas e variedades linguísticas de reduzido reconhecimento social se considerassem igualmente válidas e dignas de estudo.

Ainda na segunda metade do século XX, graças, sobretudo, aos trabalhos de Noam Chomsky e seus seguidores, passou a encarar-se a língua também como facto mental.

Apoiando-se explicitamente no trabalho de Descartes de aproximadamente trezentos anos atrás, e tomando alguns trechos também das obras de Platão e Immanuel Kant, Chomsky argumentou que nossa interpretação do mundo baseia-se em sistemas representacionais que derivam da estrutura da própria mente e não refletem de nenhuma maneira direta a forma do mundo exterior. E na verdade, uma vez que os linguistas aceitassem a impossibilidade de uma definição física da gramaticalidade – por exemplo, uma que fosse expressa em termos de expressões reais – eles perceberiam a necessidade de uma teoria linguística mentalista abstrata. […] Chomsky estava impressionado com o caráter extremamente abstrato da tarefa enfrentada por toda a criança que deve aprender uma língua, e com a rapidez com

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que a língua é aprendida, apesar da ausência de tutela explícita (Gardner 2002: 207- 208).

A Teoria Generativa indissociavelmente ligada à publicação, de Chomsky, em 1957, da obra Aspects of the Theory of Syntax, representa o quadro teórico de maior relevo. Esta proposta preconiza que todas as línguas do mundo compreendem um mesmo conjunto de princípios, a que se atribui o nome de Gramática Universal. Chomsky apresenta a linguagem como uma faculdade inata, uma herança biológica da espécie humana.

O que implica afirmar que, para Chomsky, a linguagem não possui relação imediata com o meio cultural em que os falantes vivem.

Na conceção de Noam Chomsky, a Língua não se define unicamente pelas frases que existem, mas igualmente por aquelas possíveis de ser construídas a partir das regras. Essas regras são interiorizadas pelos falantes o que os habilita à produção de frases que nunca foram ouvidas pelos mesmos. Esta habilidade, a partir da qual somos capazes de produzir uma variedade ilimitada de frases de tamanho indeterminado apenas combinando as poucas regras da língua, Chomsky define-a como recursividade. O conceito de recursividade está comumente associado à conceção de produtividade ou criatividade linguística. Por um lado, a Teoria Linguística adotou o conceito de recursividade como meio de enfatizar a capacidade produtiva da gramática, por outro lado,

If a grammar has no recursive steps … it will be prohibitively complex - it will, in fact, turn out to be little better than a list of strings or of morpheme class sequences in the case of natural languages. If it does have recursive devices, it will produce infinitely many sentences (Chomsky 1956: 115-116).

Chomsky (2000), nas versões mais atuais da sua teoria, usa a palavra recursividade como sinónimo de infinitude discreta, que, por sua vez, adota o sentido de criatividade e produtividade linguística:

Human language is based on an elementary property that also seems to be biologically isolated: the property of discrete infinity, which is exhibited in its purest form by the natural numbers 1, 2, 3, [...] Children do not learn this property; unless the mind already possesses the basic principles, no amount of evidence could provide them. Similarly, no child has to learn that there are three and four word sentences, but no three-and-a-half word sentences, and that they go on forever; it is always possible to construct a more complex one, with a definite form and meaning. Such knowledge must come to us “from the original hand of nature” (Chomsky 2000: 3-4).

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Em meados da primeira década do século XXI, Pinker e Jackendoff (2005), baseados na estrutura frasal, fornecem uma definição computacional de recursividade, ou seja, um recurso ou mecanismo computacional que não é restrito somente à vertente da língua: «Recursion refers to a procedure that calls itself, or to a constituent that contains a constituent of the same kind» (Pinker & Jackendoff 2005: 3).

Analisando o panorama da linguística de meados do século passado, Slama- Cazacu (1972: 14) centra-se na emergência da psicolinguística, realçando que, na Universidade de Cornell, ao abrigo do Social Science Research Council, reuniram-se, em 1951, especialistas de psicologia e de linguística e que o mesmo possuía como objetivo esclarecer as relações entre as duas ciências. Bronckart et al. (1983: 268) indicam o ano de 1952 como o representante da data da fundação oficial da psicolinguística, por Osgood, Carroll e Miller (Pinto 2005: 571).

Desenha-se assim um terreno de pesquisa no qual atuam, por um lado, os linguistas que se dedicam à construção do modelo e seu aperfeiçoamento, e, por outro lado, os psicólogos que vão mostrar a sua validade a nível de comportamentos. Na sequência desta posição, convirá referir […] as noções chomskyanas de