• Nenhum resultado encontrado

Uma atividade é, por definição^um processo de transformação de um objeto. A dinâmica deste processo está baseada numa visão hierarquizada da atividade. Esta idéia está presente na TA desde seu início, isto é, já havia sido elaborada por Leontiev [LEONTIEV 1978, p. 81-85] e mantém-se inalterada desde então.

A Figura 4 esquematiza os níveis de uma atividade. O esquema deve ser entendido de um ponto de vista dinâmico (representado pelas flechas). Durante o período de existência da atividade cada nível pode se transformar no nível acima ou abaixo. Esta movimentação, além de ocorrer nos dois sentidos, pode acontecer mais de uma vez. Por princípio, as atividades estão sempre se modificando e se desenvolvendo, em todos os níveis [KUUTTI 1996, p. 33], Não é

possível, portanto, fazer uma análise de uma atividade e classificar a priori o que é atividade, o que é ação e o que é operação.

Atividade ---- Motivo

^ t

Í t

Ação ---- Meta

I t

I t

Operação Condição

Figura 4 : N íveis de uma atividade

A atividade está sempre associada a um motivo (transformar um objeto). Ela é composta por um conjunto de ações que são elaboradas conscientemente. Cada ação visa atingir uma meta que só pode ser compreendida dentro da estrutura da atividade. Leontiev ilustra este aspecto com o clássico exemplo da atividade de caça. Os caçadores podem dividir-se em dois grupos onde um deles fica encarregado de executar a ação de fazer barulho para que a caça corra na direção do outro grupo encarregado de capturá-la. Analisada individualmente, a ação de afugentar a caça é oposta ao motivo da atividade (transformar a caça em alimento).

A realização efetiva de uma ação se dá por meio de uma ou mais operações. Uma operação sempre está associada às condições objetivas que definem, assim, como a ação é

implementada. N o exemplo da atividade de caça, a existência de uma vegetação formada por árvores de pequeno porte habilitam a operação “fazer barulho” através do ato de sacudir os galhos.

A título de ilustração, Kuutti [KUUTTI 1996, p. 33] apresenta três exemplos de atividades descritas com seus respectivos níveis e que está reproduzida na Tabela 1.

Exemplo 1 Exemplo 2 Exemplo 3

atividade Construir uma casa Completar um projeto de software

Desenvolver uma pesquisa sobre um tópico ação • Fixar o telhado • Transportar brita por caminhão • Programar um módulo • Arranjar uma reunião • Pesquisar por referências • Participar de uma conferência • Escrever um relatório operação • Martelar • Trocar marchas quando dirigindo • Usar comandos do sistema operacional • Selecionar os comandos apropriados de uma linguagem de programação • Usar silogismos lógicos • Selecionar a terminologia apropriada T a b e l a 1 : E x e m p l o s d e a t i v i d a d e s e s e u s r e s p e c t i v o s n í v e i s

O caráter dinâmico dos níveis da atividade aparece claramente na atividade de dirigir um automóvel. Trocar as marchas de um carro é uma operação, isto é, um ato automático, para quem tem bastante prática. Para o novato, é uma ação pois ele pensa sobre ela, isto é, tem consciência da necessidade que a marcha seja alterada. Neste caso a operação passa a ser o movimento do braço na direção adequada para efetuar a troca. Para o iniciante (que nunca dirigiu) a troca de marcha pode ser inclusive a própria atividade (a aula onde ele aprende que existem marchas, quantas são, etc.). Mesmo para o motorista experiente, trocar de marcha pode passar, temporariamente, para o nível da ação quando, por exemplo, está diante de um terreno acidentado desconhecido o qual lhe exige um controle preciso do movimento do veículo.

O exemplo do parágrafo anterior revela um dos aspectos mais importantes da TA. A consciência (e suas respectivas funções ou habilidades cognitivas) não é entendida como uma entidade interna, exclusiva do indivíduo. Os processos cognitivos ocorrem dentro de contextos (atividades) concretas e bem definidas e, portanto, dependem, ao mesmo tempo, do indivíduo e do ambiente ao seu redor. A forma e o modo como estes processos operam estão

necessariamente ligados a fatores sociohistóricos que são transmitidos pelas pessoas para o indivíduo.

2 . 6 Conclusões

A Teoria da. Atividade, pela sua própria essência, define o ser humano com um ser social

r “ '

'

e histórico. Tal definição implica na valorização dos aspectos culturais, em oposição aos biológicos, como origem do comportamento humano. D o ponto de vista filosófico, isto quer dizer que a espécie humana é, ao mesmo tempo, produto e produtora de si mesma.

O conceito de atividade, definido nos termos da Figura 3, permite entender o quão complexo é o ser humano. Ter consciência de que toda pessoa possui uma história ajuda a compreender quão fortes são os valores que influenciam a sua psique. N o mínimo, faz entender que a Informática é apenas mais um destes valores e, como tal, não tem um papel tão revolucionário como defendem alguns.

Parece ser precipitado querer predizer quais serão os efeitos da informatização da educação uma vez que é um fenômeno relativamente recente. Fazer afirmações sobre o futuro da história esconde, na verdade, dois pensamentos perigosos. De um lado há a ingenuidade de quem acredita que toda tecnologia é necessariamente boa e melhorará a vida de quem a utilizar. Do outro há o pensamento mercantilista interessado em faturar com toda e qualquer inovação.

De todas as idéias presentes neste capítulo talvez a mais importante seja a noção de que a atividade humana é mediada por uma realidade culturalmente definida. D o ponto de vista educacional, isto quer dizer que o desempenho dos estudantes está estreitamente relacionado com o ambiente em que está inserido. As virtudes e defeitos dos estudantes não podem ser creditadas exclusivamente a eles.

A principal contribuição da Teoria da Atividade para o contexto educacional é a explicação da natureza humana como processos dinâmicos de atividades, ações e operações (conforme mostrado na Figura 4). Estes processos são “regulados” por motivos e metas cuja “lógica” só pode ser compreendida e definida no contexto (isto é, atividade). Esta posição vem de encontro à posição hegemônica nos países ocidentais que definem o ser humano como uma entidade análoga ao computador. Por esta visão, a “lógica explicativa” do ser humano pode ser integralmente representada de forma descontextualizada.

Capítulo 3

Um Modelo Pedagógico Para a