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Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF

5 O CAMPO DA SAÚDE COLETIVA

5.1 POLÍTICAS DE SAÚDE

5.1.2 Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF

A nova Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), no intuito de melhorar a capacidade de resolução na rede primária, cria o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), cuja função de matriciamento dos serviços especializados está associada a de qualificação dos profissionais da ESF. A equipe de profissionais do NASF trabalha junto as equipes do ESF de forma multidisciplinar e é composta por profissionais de nível superior de educação com capacitações diferenciadas – psiquiatra, ginecologista, pediatra, homeopata, acupunturista, psicólogo, fonoaudiólogo, professor de educação física, terapeuta ocupacional, farmacêutico, nutricionista, fisioterapeuta, assistente social – alocados em concordância com as necessidades percebidas pelos gestores para uma determinada área.

Os NASFs são compostos por, no mínimo, três ou cinco profissionais das diferentes formações apontadas na constituição das equipes. O tamanho do núcleo é dependente do número de equipes de ESF (de 8 a 20 equipes) a serem matriciadas e a escolha dos especialistas se dá, em tese, pela demanda social local. A Política Nacional de Atenção Básica aponta, portanto, para uma mudança paradigmática que deve ser incorporada por todos os profissionais que atuam na Atenção Primária em Saúde. As ações inovadoras do NASF podem ser resumidas do seguinte modo:

 Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) confere transversalidade à Atenção Básica pelo matriciamento e suporte de várias equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF);

 Promove estrutura mais complexa dos serviços devido à incorporação de redes sociotécnicas;

 Aponta para a necessária adesão ao novo objeto da atenção: o sujeito – doente ou não – e menos a doença; e

 Reforça com novos instrumentos e modos de trabalho o objetivo da intervenção na recuperação ou ampliação da saúde, em lugar do controle ou combate das doenças.

As Figuras 5 e 6 ilustram o segmento da organização em rede dos dispositivos de saúde no nível primário de atenção básica, a partir da perspectiva dos Núcleos de Apoio a Estratégia Saúde da Família (NASF).

Figura 6 - Mapa Conceitual 2

A porta de entrada do sistema são as equipes do ESF, que recorrem, nos casos mais complexos, ao apoio dos profissionais especialistas do NASF que, por sua vez, se necessário fazem o matriciamento dos pacientes para outros centros de serviços especializados, como hospitais, Centro de Apoio Psicossocial (CAPS), Centro de Especialidades Odontológicas (CEO), Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e Policlínicas com outras especialidades.

A configuração formada por um NASF, as equipes de ESF e seus usuários apresentada nas Figuras 5 e 6, constitui a estrutura formal, sobre a qual se organizam redes sociotécnicas e infocomunicacionais.27 As redes que se tecem sob a estrutura formal são de natureza dinâmica e relacinonal, nas quais elos fortes ou fracos vão desenhando arranjos estruturais em superposição, identificáveis pela Análise de Redes Social (ARS), que se presta também à análise do fluxo infocomunicacional como se verá a seguir.

As ações estratégicas dos NASF (Pt. nº. 154, de 24 de janeiro de 2008, republicada em 4 de março de 2008), são programas e atividades desenvolvidos a partir dos núcleos de apoio

27 A Portaria nº. 2.488 de 21 de outubro de 2011 do Ministério da Saúde amplia o quadro de especialidades do NASF incluindo os seguintes profissionais: médico geriatra; médico internista (clínica médica), médico do trabalho, médico veterinário, profissional com formação em arte e educação (arte educador) e profissional de saúde sanitarista, ou seja, profissional graduado na área de saúde com pós-graduação em saúde pública (ou coletiva) ou graduado diretamente em uma dessas áreas.

e voltados para a integralidade da atenção e da promoção da saúde dos usuários: (a) atividades físicas e práticas corporais, (b) práticas integrativas e complementares, (c) reabilitação – fisioterapia, fonoaudiologia etc., (d) alimentação e nutrição, (e) assistência farmacêutica, (f) saúde mental, (g) saúde da criança e saúde do adolescente, (h) saúde da mulher e saúde do homem, (i) saúde do idoso.

Chamamos a atenção para a introdução, entre as estratégias, do programa das práticas integrativas e complementares em saúde (PICS) que também incluem atividades corporais, perfazendo um conjunto de práticas que se orientam por racionalidades vitalistas (VELLOSO; LUZ, 2000; VELLOSO, 2003; LUZ, 2012), as quais possuem representações sociais de saúde e tratamento assentadas no paradigma de integralidade (LUZ, 2012) e, portanto, se aproximam mais do que a racionalidade de saúde da biomedicina, hegemônica, dos conceitos inovadores da promoção da saúde.

A introdução dos núcleos de apoio determinaram a necessidade de se pensar em rede de multiníveis, isto é, o nível da ESF e o nível do NASF ou de centros de saúde que atuem com a mesma lógica apoiadora. Dessa perspectiva, significa dizer que o processo de trabalho dos NASF compreende que os profissionais devem: (a) atuar em parceria com os profissionais das ESF; (b) compartilhar das práticas em saúde nos territórios sob responsabilidade das ESF; (c) apoiar as equipes por meio de processos de educação permanente; (d) atuar de forma integrada à rede de serviços de saúde, a partir das demandas identificadas no trabalho conjunto com as equipes de ESF.

Os desafios cotidianos entre NASF e ESF podem ser assim resumidos: (a) articular saberes e práticas, sejam científicos, técnicos ou comuns; (b) atuar de forma transdisciplinar, permitindo que a interdisciplinaridade desenvolvida nos serviços transborde para as ações de saúde; (c) atuar considerando a diversidade dos saberes, sejam racionalidades ou não, e considerando, também, a integralidade das dimensões do sujeito, tanto quanto das ações em saúde; (d) promover ações de educação permanente entre as equipes – ESF e NASF, ponto considerado fundamental, para concretização da proposta de promoção de saúde; (v) romper com a lógica de referência/contrarreferência que faz do atendimento especializado, prestação de serviço de atenção à saúde, em relação assistencialista com as equipes da ESF e com os usuários, sem a necessária integralização da ação de saúde e com insuficiência do aporte de afetos e comunicação dialógica. Está implícito nos objetivos dos NASF o uso de ações de informação e comunicação para a produção de conhecimento e educação dos profissionais. Nota-se, porém, em muitos casos, que os profissionais do próprio NASF não estão, suficientemente, cônscios desses objetivos e acabam por prestar apoio em práticas de

referência e contrarreferência, com baixo grau de integração com os profissionais da ESF e submetidos à lógica assistencialista.

No município do Rio de Janeiro, a implantação de Núcleos de Apoio ao Saúde da Família teve início em 2010 e conta hoje com 42 unidades do NASF. Segundo a Coordenação de Saúde da Família do município do Rio de Janeiro, hoje, responsável pela implantação e implementação do NASF/RJ, verifica-se a necessidade de fortalecimento do modelo de atenção do NASF pelo alinhamento conceitual e discussão das práticas – ações clínicas compartilhadas, intervenções individuais específicas e ações compartilhadas nos territórios. Foi possível observar, na apresentação da oficina de Qualificação do Processo de Trabalho do NASF desenvolvida por grupo de trabalho da Secretaria Municipal de Saúde, que as ações de educação permanente dos profissionais das equipes NASF/ESF não aparecem como parte do processo de trabalho.

Esta pesquisa considera todos os profissionais da ESF e do NASF, que desenvolvem atividades terapêuticas e pormocionais da saúde junto aos usuários do SUS como agentes mediadores da comunicação e das ações de informação em saúde.