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POLÍTICA E REGIME DE INFORMAÇÃO

6 INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO E SAÚDE NAS ASSOCIAÇÕES

6.3 POLÍTICA E REGIME DE INFORMAÇÃO

Gadelha (2005) afirma que as diretrizes para políticas nacionais de C & T tem enfatizado o papel da mediação entre ciência e sociedade, sobretudo pela combinação de ações de comunicação, educação e divulgação científica, para a construção de uma cultura científica e tecnológica coletivamente compartilhada e para o estabelecimento de processos para a sua gestão participativa. O autor defende que a promoção do diálogo entre a comunidade científica, a sociedade e os movimentos sociais pode ampliar a compreensão crítica e a participação pública em assuntos relacionados a ciência, à tecnologia, e à saúde. Exemplifica o investimento da mediação entre ciência e sociedade com o caso da AIDS no qual os determinantes da saúde tornaram mandatória a interação da participação social, do acesso à informação e o desenvolvimento da ciência e tecnologia. Sua argumentação se desdobra na constatação que desta proposição decorrem alguns desdobramentos, entre os quais a necessária consolidação e expansão da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) como forma de promoção do acesso democrático, eqüitativo e eficiente à informação científica e técnica atualizada e a necessidade de ações que sistematizem as fontes de informações em saúde para o apoio a processos de tomada de decisão baseada em conhecimento técnico-científico (Gadelha, 2005).

No que se refere a gestão da informação em saúde no Brasil, e apesar de existir a Política Nacional de Informação e Informática em Saúde (PNIIS), observa-se a necessidade de debate que amplie os saberes sobre informação em saúde, seus fluxos e processos de gestão (CAVALCANTE, PINHEIRO, 2011). Como já mencionado, anteriormente, o intercampo Informação e Informática na Saúde (IIS) reproduz na prática a prioridade dada, na PNIIS, à tecnologia de informação (TI) em detrimento às ações de informação e à comunicação. Já o conteúdo informacional em saúde com ênfase na política encontra-se centrado no modelo biomédico hegemônico, isto é, no diagnóstico de patologias e seu instrumental tecnológico e na assistência médica, relegando as demais dimensões da saúde

32 Segundo Farias, Gregolin e Hoffman (2011), enquanto a Medicina corresponde em torno de 17% da produção científica nacional, as Ciências Sociais respondem por uma fatia aproximada de 2% no período de 2002-2006. Ver capítulo 4, p. 20 – Gráfico 4.7 disponível em: www.fapesp.br/indicadores/2010/volume1/cap4.pdf

humana, como o cuidado, as pessoas adoecidas e a saúde coletiva a plano secundário. Segundo Cavalcante e Pinheiro (2011), a PNIIS além de valorizar o imperativo tecnológico, estimula e abre o setor público ao mercado privado de software, na contramão do desafio da democratização e controle social da informação em saúde.

De acordo com Sandra Braman (2004), estudiosa das políticas de comunicação e informação no contexto atual, a teoria de regime fornece estrutura para a compreensão dos processos pelos quais os sistemas adaptativos complexos de entidades geopolíticas sofrem transformação dentro do campo jurídico que se manifesta dentro da política de informação. Para a autora, haveria um único regime de informação global e emergente, que englobalaria atores estatais e não estatais. O Estado informacional na sua interdependência em relação aos outros atores necessitaria de uma infraestrutura global para criação, processamento, fluxo e uso da informação que se daria por meio do poder informacional. Além disso, observa que seja qual for a formulação de uma política de informação, esta tem relação com o poder.

É possível, afiança González de Gómez (2012), constituirem-se mais de um regime de informação a partir de iguais ou semelhantes montagens de tecnologias, serviços e conteúdos informacionais. Como projetos de redocumentalização sob diferentes regimes de informação aponta a Biblioteca Digital do Google, a qual corresponde um regime monopólico de informação, e os projetos da Biblioteca Digital Universal da Unesco, o Projeto Gutenberg e o Projeto Memórias Reveladas, do Arquivo Nacional, no Brasil, como regimes abertos de informação, por corresponder a redocumentação promovida em arranjos públicos e colaborativos de preservação e acessibilidade as memórias coletivas (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2012). Para Frohmann:

(...) o foco nos problemas instrumentais e questões epistemológicas relacionadas com a criação e policiamento das fronteiras entre as disciplinas desvia a atenção de questões de como o poder é exercido em e através das relações sociais mediadas pela informação, como o domínio sobre a informação é alcançado e mantido por grupos específicos, e como específicas formas de dominação ─ especialmente as de raça, classe, sexo e gênero ─ estão implicadas no exercício do poder sobre a informação (FROHMANN, 1995, p. 51).

González de Gómez expõe:

O domínio do poder informacional deixa de ser o estado, o governo, as editoras ou as bibliotecas, para ser a escrita e o discurso, os dispositivos complexos como os sistemas de rádio aberta ou a Internet, ou qualquer das constelações institucionais que intervenham na construção categorial-documentária de identidades oficiais, individuais e coletivas (pensamos em categorias cartoriais tal como as denominações de estrangeiro, aposentado, união homoafetiva, entre outras) (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2012, p. 51).

Para Albagli e Maciel (2009), no momento em que mudanças significativas acontecem na dinâmica da produção, circulação e apropriação de informação e conhecimento,

percebem-se aparentes paradoxos. Concomitante à ampliação da difusão das TIC e à expansão contínua da produção da informação e do conhecimento verificam-se barreiras à sua socialização, tais como: a concentração espacial, social e organizacional e a privatização da informação e do conhecimento. Outro paradoxo apontado pelas autoras, refere-se ao potencial de mobilização e participação social das TIC versus a tendência a maior desigualdade, novas hierarquias, novas formas de subordinação, subsunção e controle.

Para Braman (2004, apud GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2012, p. 52) no contexto do “Estado Informacional”, o regime de informação estabeleceria o movimento de vinculação entre governo, rede ampliada de atores – cujas decisões e comportamentos têm efeito sobre a sociedade e requereriam formulação de programas de governança –, cultura e sociedade, onde se estabelecem as condições de governabilidade e a partir do qual surgem e são sustentados os modos de governança.

Para esse autor, enquanto o governo refere-se as instituições formais, regras e práticas de entidades geopolíticas baseados historicamente; a governança corresponde as instituições formais e informais, normas, acordos e práticas de atores estatais e não-estatais dos quais as decisões e comportamentos têm um efeito constitutivo sobre a sociedade; e a governamentalidade diz respeito ao contexto cultural e social dos quais surgem modos de governança e pelos quais eles são sustentados. O Intercampo de Informação em Saúde pode ser entendido como parte da rede ampliada de atores que integram o regime de informação e, portanto, formular programas e modos de governança para a área de Informação em Saúde é parte de suas atribuições.

Albagli e Maciel (2009) chamam atenção para dois aspectos centrais na análise do regime de informação: “a ênfase nas práticas informacionais (“ações de informação”) dos atores - estatais e não estatais, tanto quanto na dimensão institucional formal; e o reconhecimento do regime de informação como um campo de disputa e conflito, assim como de negociação e estabilização”.

Para que o intercampo da informação e comunicação em saúde contribua com a governança há que interagir com a sociedade, de forma transdisciplinar, a fim de ter representado em sua agenda os modos de ação possíveis de solucionar as necessidades de informação e conhecimento em saúde que estão colocadas na vida cotidiana.