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12. Dedicar-se à formação de lideranças e construir uma direção política dos trabalhadores – significa que compreendemos com

3.8. Núcleo de base: nem sempre o caminho é da consolidação

ex-coordenador do núcleo “Lutando pelo direito de trabalhar” (entrevista cedida em 04 de fevereiro de 2009)83, o que leva a dissolução de um núcleo é:

Eu acho que chega se desmanchar um núcleo por causa do desentendimento, que não se tem um acordo ali, supor que alguma coisa é para todos os componentes se entender existe um entendimento, aí um desanima, depois o outro desanima, ou então alguém não quer assumir cargo. O nosso núcleo desmanchou porque não tinha quem assumisse. O núcleo 11 sempre foi um núcleo de peso.

Para Douglas, a questão do desentendimento é um fator que pode provocar a dissolução de um núcleo, ou seja, a relação interna das pessoas no núcleo. Na relação das pessoas que participam do núcleo é preciso se dispor a concessões. As pessoas precisam estar abertas para ceder em determinado momento dos encaminhamentos. Por outro lado, aparece também a dificuldade de encontrar pessoas para assumir cargo de coordenador de núcleo, ou seja, é preciso a indicação de uma pessoa para coordenar o núcleo. Considera, então, que o núcleo onze não conseguiu uma pessoa para conduzir o processo de coordenação. Para o senhor Francisco Lopes de Sousa, 66 anos, assentado, ex-componente do núcleo de base

“Lutando pelo direito de trabalhar” (entrevista cedida em 31 de janeiro de 2009), o núcleo se dissolveu porque a coordenação não funcionava mais. O coordenador não estava participando das reuniões da coordenação e as informações não chegavam até os componentes do núcleo.

[...] A senhora sabe quando o coordenador num funciona....não vai em reunião, ele não participa de reunião e nada mais daquela coordenação, aí pronto a gente está desinformado em tudo, não é só ele não, é tudo. Quando ele não pode mais dirigir o núcleo aí o núcleo foi se espalhando para os outros... aí ele ficou só, sem núcleo.

Esse fragmento deixa claro que a não participação do coordenador nas reuniões da coordenação e, por sua vez, nas reuniões com os componentes dos núcleos de base pode levar à dissolução do núcleo, pois as famílias começam ficar desinformadas e não conseguem acompanhar o processo de discussão e encaminhamento das questões pertinentes ao assentamento. No caso do núcleo de base onze, as famílias começaram a procurar outros núcleos e usaram como critério a proximidade, pois outro fator levantado pelas famílias é que eles estavam espalhados geograficamente e dificultava organizar reuniões freqüentes. Além

83 A realização dessa entrevista não foi fácil. O senhor Douglas não mora no assentamento, tem um comércio em uma vila próxima chamada Sororó. Os trabalhadores é que estão fazendo serviço no lote para ele. Percebi que houve receio em ceder a entrevista. Estive em seu comércio três vezes para conseguir uma entrevista de 20 minutos, com resposta curtas. Observei que um dos problemas é por ele não estar morando no lote e por mais que explicasse o objetivo da entrevista e do estudo em questão, a desconfiança permaneceu.

da dispersão do coordenador, os componentes do núcleo alegaram que mudaram para outros núcleos porque o coordenador estava mais preocupado com suas tarefas pessoais, e o coletivo ficou à mercê das informações e da participação da coordenação do assentamento. Com a dissolução desse núcleo as famílias se integraram em outros núcleos, apenas o coordenador estava sem conseguir outra inserção, pois ele não mora no assentamento, o que dificulta essa inserção. Mas, para as famílias se integrarem a outros núcleos o debate é realizado na coordenação.

Essa questão da dissolução do núcleo aparece em outros depoimentos que, também, canalizam para a atuação do coordenador de núcleo como elemento fundamental para o seu funcionamento, caso não tenha uma boa atuação o núcleo está fadado ao fracasso,

Acredito que isso começa pelo próprio coordenador, porque o coordenador é que diz a forma que o núcleo se organiza, o coordenador é o pivô central do núcleo. Se o coordenador se desmotiva e não vai pra reunião da coordenação, quando chega não passa as informações de forma qualificada é o primeiro a desmotivar o núcleo, é claro que o núcleo está fadado ao fracasso. Com certeza ele se desmancha. (Ariosvaldo Andrade dos Santos, 29 anos, assentado, militante, entrevista cedida em 02 de fevereiro de 2009)

Esse depoimento demonstra certa contradição da proposta do movimento, quanto ao núcleo de base, quando define o coordenador como pivô central do núcleo e como determinante no seu funcionamento, pois para o MST o núcleo de base deve ser um espaço de descentralização de poder e considerado a célula do assentamento/acampamento. Mas, essa não é uma visão exclusiva do Ari. As pessoas que estiveram envolvidas no diálogo de campo canalizaram a dissolução do núcleo na figura do coordenador, ou seja, se o coordenador não consegue coordenar, desenvolver sua tarefa de garantir o debate em seu núcleo e estar ativo nas reuniões da coordenação, o núcleo, então, está “fadado ao fracasso”.

Giselda Coelho Pereira84, 34 anos, assentada, parte de uma reflexão mais geral, abrangendo todo o estado do Pará. Para ela, fatores externos, como a questão do crédito, foram determinantes para que os núcleos se dissolvessem, pois as famílias viviam um processo de nucleação, ainda novo para elas, e o crédito vem automaticamente junto, determinando o trabalho coletivo. No caso do Assentamento 26 de Março, Giselda destaca outros elementos, como o tempo de acampamento que contribuiu para o desfecho da construção da organicidade interna, já que o tempo pode proporcionar a consolidação do grupo, torná-lo coeso, e criar uma dinâmica orgânica. Mas, acredita que se não tem pessoas de referência para organizar e potencializar esse grupo, não consegue avançar e chegar à

84 Entrevista cedida em 31 de janeiro de 2009.

consolidação do núcleo, ou seja, na construção da organicidade a liderança tem seu papel, considerado importante pelo conjunto do movimento. Nesse sentido, acredita-se que a liderança tem o papel fundamental no processo de consolidação do núcleo de base.