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1.1 O antropocentrismo e o Direito Ambiental

1.1.2 Na América Latina

Ao se analisar o processo evolutivo pelo qual passou a Europa, na área da integração econômica, comenta-se que o aproveitamento da experiência da CE, no processo de integração desenvolvido, tem sido marcante. O assunto não se restringe somente à evolução do Direito Ambiental interno no continente europeu, mas também no encaminhamento do tema no âmbito comunitário para as mesmas questões dentro do processo de integração da América Latina.

Destaca-se que o processo de integração dos países latino-americanos faz parte do movimento da atuação no cenário econômico e político. Foram construídas alianças, razoavelmente, bem-sucedidas ao longo do tempo, cuja principal característica foi reunir forças para enfrentar as grandes potências econômicas do Norte (países industrializados) formadas na época, podendo-se incluir também a

ocupação de espaços políticos e socioeconômicos. Favorecia-se ou tentava-se fortalecer o pan-americanismo. Esse movimento espelhou-se em outros tantos que surgiram à época em todo o mundo, como a Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC).

Quando se aborda Direito Ambiental, independente de Região, Estado ou Bloco Econômico, o vértice dessa pirâmide está construído pela biodiversidade, pois é ela que ampara a “vida” e o “ser” no planeta Terra. A partir do vértice é que deverá se desenvolver todos os demais questionamentos nas áreas: econômica, política e social. Se não for dessa forma, analogicamente, entende-se que a pirâmide de Kelsen esteja invertida. Sob a visão da discussão proposta, relata-se o questionamento feito por Araújo (2007, p. 37), em que:

Na área de recursos naturais, em especial o referente aos recursos da biodiversidade, devem os países da America Latina, criarem um sistema continental de proteção de seus direitos sobre esses bens, que pode ser extensivos a outros países de outros continentes que também se

caracterizam por serem megadiversos.

A Constituição, com seus princípios ambientais, o Estado com seu poder de polícia e o meio ambiente, amparado pela tutela do Direito Ambiental, são elementos que, em conjunto, constitui um todo, não podendo, sem dúvida alguma, serem descompartamentalizados, pois haverá uma descaracterização e consequente fragilização das partes em decorrência dessa ruptura. A ideia básica é a de que o ambiente seja um bem maior e, como é protegido constitucionalmente, passa a ser dever do Estado dar a devida efetividade a essa proteção. Nessa condição, o meio ambiente passa a ser patrimônio natural constitucionalizado. Uma abordagem sobre a visão dessas “engrenagens” é feita por Atílio Franza (1995, p. 74):

Es importante que las constituciones políticas de los países latinoamericanos establezcan que la conservación y el mejoramiento del ambiente es una función del Estado y de los particulares, consagrando respecto de estos últimos su derecho a gozar de un ambiente sano.

Es especialmente importante legitimar la intervención del Estado en los asuntos ambientales, concediéndole algunas atribuciones básicas para este efecto. El deber de los particulares de contribuir a la conservación y el mejoramiento del ambiente es no menos importante, porque en dicho deber se finca la base en que descansarán las restricciones que la legislación deberá imponer a la conducta de los particulares.

Por fim, há de se considerar, segundo a abordagem feita, que, em conformidade com o art. 21 da Declaração de Estocolmo, 1972, o direito soberano dos Estados no que pertine à exploração dos recursos naturais é, na verdade, um direito soberano de cunho relativo, considerando-se que impõe de maneira explícita como cláusula restritiva “uma vez que esse processo não cause impacto negativo a outro(s) Estado(s)”. A liberdade existe, porém está vinculada, na hipótese de causar algum dano ambiental, em repará-lo. Nessa senda, o Tratado de Assunção, em seu art. 1°, trata da soberania do Mercosul aliada ao d ispositivo expresso no Protocolo de Ouro Preto que, por sua vez, confere também essa prerrogativa.

Borja (2008) ao discorrer sobre o tema comenta que:

A Teoria Geral do Estado tradicionalmente nos coloca perante este dilema em razão do conceito basilar de soberania expressar a negação

absoluta à oscilação hamletiana. A Teoria Geral do Estado,

tradicionalmente, divide, em função do conceito de soberania, os conceitos de confederação e federação. Sendo para ela, a primeira uma união de estados soberanos coordenados por um Tratado, documento de Direito Público Internacional, enquanto que a federação seria um único estado soberano, qualificado como composto em razão de suas várias autonomias políticas e, regido por um instrumento de Direito Público Interno subordinante, seja, uma constituição.

Quando se trata de soberania de Estado, circunscrita ao Mercosul acredita-se que se reporta a um tema que deva ser estudado em maior profundidade, pois implica, em última instância, na harmonização das normas de Direito Ambiental, tendo em vista cláusula expressa no art. IV, do Tratado de Cooperação Amazônica, verbis: “As partes contratantes proclamam que o uso e aproveitamento exclusivo dos recursos naturais em seus respectivos territórios são direitos inerentes à soberania do Estado e seu exercício não terá outras restrições senão as que resultem do Direito Internacional”. No mesmo sentido, Campos (2008) afirma que: “No âmbito do MERCOSUL o direito ambiental é tratado como questão de soberania nacional”.

Algumas das questões já colocadas assumem uma magnitude significativa, de forma que Riquelme (2005, p. 117) corrobora, nesse sentido, ao comentar: “La soberania hace referencia a la capacidad de decisión y gestión que tiene un Estado de llevar adelante sus proyectos y programas, siempre y cuando los mismos no afecten los derechos o intereses de otras naciones”.