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1. INDICAÇÕES GERAIS SOBRE A HISTÓRIA DAS TEORIAS

2.3. COAÇÃO E COERCIBILIDADE

2.3.1. Acepções da palavra “coação”

2.3.1.2. Na dicção de KANT e de seus intérpretes

A coação (7E .) é definida de um modo geral como “toda restrição de liberdade pelo arbítrio de um outro ( ""NL ).”171 Vista por Cesar Augusto Ramos, um dos estudiosos de Kant, ela é compreendida através de fato de que alguém, sendo, em geral, um agente dotado de “autoridade ou poder legítimos”172 em face deste, “o sujeito tem a obrigação de obedecer 2 restringe, limita ou constrange a vontade2arbítrio ( ""NL ) de outrem.”173 Todavia, “cabe a esta vontade submeter2se ou não à coercividade do constrangimento.” É imperioso que “a coação do agir”174 seja considerada, prematuramente, “como o poder de mando da razão” 2 que Kant chama de “ da razão prática”175– e consiste “na faculdade de se tornar senhor das inclinações contrárias à lei,” impondo2lhes um poder de coerção.”

170

Op. Cit. p. 72.

171

KANT, I. Über den Gemeinspruch: das mag in der Theorie richtig sein, taugt aber nicht für den Praxis. In: Immanuel Kant Schriften zur Anthropologie, Geschichtsphilosophie, Politik und Pädagogik 1. Band XI. Werke in swölf Bänden, Herausgegeben von W. Weischedel, Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1993, p. 144 (A 233, 234). Apud Ramos, C. A. 4 %& O /4 . 2 ! Consulta feita na internet no site http://www.cfh.ufsc.br/ethic@/et71art4.pdf, data 31 jan 2010, publicada in P 3" " ! Q

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172

RAMOS, Cesar Augusto. Coação e autonomia em Kant /Cesar Augusto Ramos! Consulta feita na internet no site http://www.cfh.ufsc.br/ethic@/et71art4.pdf, data 31 jan 2010, publicada in P 3" " ! Q @ ! R; S< B TUU<! V;RW

173

Idem, obra cit., p. 54.

174

Ibidem, obra cit., p. 54.

175

A coercibilidade, por sua vez, é vista por Kant como diretamente vinculada ao entendimento do governo autocrático da razão relativamente à vontade2arbítrio na sua prerrogativa de executar ou não os ditames dessa razão.176

Pode se aferir tal definição pela qualidade das reflexões de Kant sobre coação e que serviram de base para o artigo escrito por Cesar Augusto Ramos177, no qual o próprio autor diz que tem por objetivo:

apresentar o conceito kantiano de autocoação (6 " XE .? a partir da análise que Kant realiza da faculdade de volição, nela distinguindo a face da vontade que tem a propriedade da autonomia ( "" ) e a face da vontade2 arbítrio ( ""NL ) que tem o poder ou a faculdade de escolha.178

Esclarece ainda Cesar Augusto Ramos que, em sua hipótese formulada, “esta distinção torna mais visível o problema da coerção (interna) como elemento importante na articulação entre liberdade e obediência na moralidade, permitindo a coexistência da coação com a obediência e esta com a autonomia.”179

Em nossa observação, a qualidade das reflexões e autoridade de Kant sobre coação, bem como a agudeza do autor que as tomou por base em seu artigo ajudar2nos2ão no trabalho de se fazer a distinção entre sanção como gênero, das sanções tributárias e das sanções políticas como espécie. Não se pode negar que estas reflexões de Kant sobre coação tratam de um ponto de vista importantíssimo e precioso para o direito.

Em razão desta avaliação, calha trazer à colação, por ser pertinente, o comentário de José Alberto Oliveira Macedo, que, inspirado nos ensinamentos de Lourival Vilanova sobre o conceito de direito, deduziu interessante comentário, que se apresenta aqui como aplicável:

176

Ibidem, obra cit., p. 54. (Passim).

177

Nota. O autor é Professor Adjunto do Departamento de Filosofia e do Programa de Pós2Graduação em Filosofia da PUCPR.

178

Ibidem, obra cit., p.54. Passim.

179

Como todo pensamento é pensamento de algo, e o conceito decorre do pensamento, então o conceito não existe sem objeto, sendo este objeto o contraponto delineado pelo conceito.

[...]O conceito apresenta uma função seletiva perante o real escolhendo, para constituição sua, alguns atributos, relações, coisas, fenômenos e propriedades da realidade, sendo apenas um ponto de vista sobre a infinita heterogeneidade do real. Funciona o conceito, pois, como um princípio de simplificação, já que não é possível dominar a infinita multiplicidade do real.

180

Nesta linha de raciocínio, e a par dos esclarecimentos feitos anteriormente 2 de que Kant conceituou “coação” sobre um ponto de vista 2, entenda2se: sobre uma função seletiva que escolheu, qual seja, “a da análise que realiza sobre a faculdade de volição, nela distinguindo a face da vontade que tem a propriedade da autonomia ( "" ) e a face da vontade2arbítrio ( ""NL ) que tem o poder ou a faculdade de escolha” 181, reforça nosso entendimento de que este conceito de Kant sobre “coação”, conquanto sua função seletiva escolhida, continuam úteis nos estudos da sanção como gênero.

Tratemos de procurar, agora, um conceito que nos aproxime o máximo da função real de coação e coercibilidade e que nos permita distinguir nitidamente uma da outra, fornecendo subsídios para o presente estudo sobre sanções tributárias e sanções políticas. 180

MACEDO, José Alberto Oliveira. F %@$06(% (-%6:6&0:(-,:% $ -;4,0(-%6:6&0:(-,:% – São Paulo : Quartier Latin, 2010, p. 52. Nota: por nos parecer interessante, reproduzimos nesta o texto do qual a citação foi retirada e a que se refere esta nota 2 “Como todo pensamento é pensamento de algo, e o conceito decorre do pensamento, então o conceito não existe sem objeto, sendo este objeto o contraponto delineado pelo conceito. Tudo é conceituável, sejam os objetos naturais, ideais, metafísicos ou culturais. Tudo que existe, ou é possível existir, só é objeto enquanto for correlato do conceito. O conceito toma por base, pois o plano da objetividade.

Reforcemos. Um conceito pode ser construído pelo intérprete ao analisar, como exemplos, uma planta (objeto natural), uma figura geométrica (objeto ideal), uma divindade (objeto metafísico) ou um texto (objeto cultural). Todos os planos da objetividade são conceituáveis, dentre eles o direito, como objeto cultural que é. (*Consta nota de rodapé 54. identificando: VILANOVA, Lourival. Sobre o conceito do direito. In: VILANOVA, Lourival. Escritos jurídicos e filosóficos – vol. I. São Paulo: Axis Mundi – IBET, 2003, p. 5). O conceito apresenta uma função seletiva perante o real escolhendo, para constituição sua, alguns atributos, relações, coisas, fenômenos e propriedades da realidade, sendo apenas um ponto de vista sobre a infinita heterogeniedade do real. Funciona o conceito, pois, como um princípio de simplificação, já que não é possível dominar a infinita multiplicidade do real. Mas recordemos que o conceito, em si, apresenta2se como idéia e não como texto objetivado.

O conceito não reproduz o objeto porque reproduzir não seria outra coisa que não a duplicação do domínio da objetividade, do que decorreria que o conceito ficaria no mesmo plano ontológico do seu objeto, identidade esta que não se verifica.” (** Consta nota de rodapé 55. identificando: VILANOVA, Lourival. Sobre o conceito do direito. Idem obra e página citadas). Passim. “...”.

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