• Nenhum resultado encontrado

Capítulo III: Reflexão sobre a prática letiva nas disciplinas de Português e Espanhol

III.2. Opções estratégicas

III.3.1. Na disciplina de Português

O diálogo entre culturas pode e deve ser objeto de estudo no palco da sala de aula da disciplina de Português, já que é a partir da nossa língua e cultura que aprendemos a conhecer os outros, como está patente na célebre frase atribuída a Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”, que subentende que, para conhecer o Outro, é preciso antes de mais conhecer-se a si próprio, numa perspetiva de crescimento interior.

33

III.3.1.1. O texto literário como veículo da dimensão intercultural

O diálogo entre culturas foi fomentado no contexto do ensino/aprendizagem na disciplina de Português, através do contacto com essas culturas a partir do texto literário, que constitui um excelente veículo cultural. Assim, as múltiplas leituras que podem ser feitas de um texto literário potenciam o desenvolvimento da consciência intercultural, uma vez que as várias interpretações que resultam do encontro com o texto promovem também o encontro com outras realidades. Esse encontro vai permitir que os aprendentes se questionem, tomem consciência e tenham uma visão relativa do Outro e de si mesmos.

A literatura surge, assim, como o produto de um determinado contexto social e pode funcionar como elemento de representação dessa sociedade, estando, por isso, relacionada com o ser humano, com os valores que integram uma determinada cultura e com a expressão da sua subjetividade.

Uma das obras de leitura integral trabalhadas, no 8º ano de escolaridade, Sexta-

Feira ou a Vida Selvagem, de Michel Tournier, proporciona efetivamente o contacto

com uma outra realidade, bem distante da realidade dos jovens de hoje, e convida-os para uma viagem no tempo, até dois mundos antagónicos, mas, ao mesmo tempo, complementares. Nesta obra, o encontro com o Outro é, de facto, visto numa perspetiva de diálogo e (re)construção de um novo modo de vida. Assim, num quadro de aprendizagem por tarefas ancoradas nas figuras de Robinson, símbolo de viagem e aventura, e de Sexta-Feira, que o faz confrontar-se com a alteridade, foi proposta aos alunos uma leitura orientada da obra integral, através de um guião (anexo 31). Para além disto, algumas etapas de leitura/interpretação da obra centraram-se na análise das duas culturas presentes, a partir de pequenos debates, estimulando, assim o “saber- compreender”, através da reflexão e interpretação dos dois mundos a que pertence cada personagem. No decorrer da leitura da obra, foi possível verificar a compreensão do contributo de Sexta-Feira, que se traduz na troca de experiências com o Outro, conduzindo necessariamente a uma aprendizagem intercultural, ao respeito e à procura de equilíbrio entre as culturas. As questões colocadas no guião de leitura orientada possibilitaram a interação e a consequente aquisição de conceitos, assim como a valorização e o desenvolvimento do pensamento crítico e de valores, levando ao despertar de outras vivências e estilos de vida, numa perspetiva reflexiva em relação aos seus próprios pressupostos sociais e culturais.

34

III.3.1.2. O cinema como veículo da dimensão intercultural

O aproveitamento didático do filme “Qu’est-ce qu’on a fait au Bon Dieu?”, legendado em português, permitiu, à semelhança do texto literário, abordar e tratar as questões que giram em torno da interculturalidade e, sobretudo, dos estereótipos, de modo a desconstruí-los e a evitar os lugares-comuns. O filme foi projetado durante os “Dias da Cultura”, realizados no E.F.L.S., no âmbito na disciplina de Francês, para as turmas do 3º ciclo, tendo sido, previamente, numa perspetiva interdisciplinar, objeto de um aproveitamento pedagógico ao nível da disciplina de Português, na turma do 7º ano A. Assim, a partir de uma foto alusiva a uma cena do filme (anexo 32), os alunos começaram por fazer um brainstorming, formulando hipóteses diversas sobre as personagens da imagem e permitindo, assim, a introdução ao tema em análise (os estereótipos). De seguida, procedeu-se ao visionamento do trailer do filme19, que foi interrompido antes de surgir a imagem analisada anteriormente, de forma a permitir aos alunos que pudessem tecer outras considerações e fizessem, desta forma, a ponte com a sequência iniciada nessa imagem. Assim, os alunos ficaram a saber que o filme põe em cena uma família francesa tradicional e burguesa, no seio da qual os preconceitos étnicos, culturais e religiosos vêm à tona.

Foi solicitado aos alunos do 7º ano A que fizessem, durante o visionamento do filme, um levantamento dos estereótipos a partir de uma ficha (anexo 33). Sendo objetos culturais, a sua análise permitiu, a posteriori, no espaço da sala de aula, proceder ao questionamento dos nossos próprios pressupostos e simultaneamente verificar a eficácia dos estereótipos enquanto mecanismos de produção do cómico e do riso nesta comédia, desenvolvendo o “saber-comprometer-se” que conduz à reflexão entre as culturas. É de referir ainda que, simultaneamente a estas atividades, e na perspetiva de ajudar a desconstruir os preconceitos que constam do imaginário dos aprendentes, foi solicitado aos alunos do 8ºAno A (na disciplina de Português) que produzissem um texto acerca dos estereótipos abordados, não só no filme acima referido, mas também a partir de um outro filme espanhol também projetado no âmbito dos “Dias da Cultura”, intitulado “Ochos Apellidos Vascos”, que retrata também os clichés entre os Andaluzes e os Bascos (anexo 34 - jornal da escola).

19

35

III.3.2. Na disciplina de Espanhol

A instituição educativa e em particular as línguas estrangeiras, neste caso concreto, a disciplina de Espanhol, são o lugar propício para incorporar saberes, ultrapassar dificuldades e ao mesmo tempo desenvolver atividades com conteúdos específicos, procurando novas respostas, colocando novas perguntas, aprendendo, e estimulando a curiosidade dos aprendentes e o seu gosto pelo conhecimento.

III.3.2.1. Exemplos de projetos/atividades

Assim, os exemplos de projetos e atividades descritos no âmbito da disciplina de Espanhol pretenderam ajudar os alunos a desenvolverem as cinco competências propostas por Byram e Nichols (2001), com o intuito de estabelecer pontes entre os dois mundos (Portugal e Espanha), mas, sempre que possível, também com outros mundos e realidades, como é o caso do projeto que, a seguir, se descreve.

Documentos relacionados