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Na teoria da norma de Paulo de Barros Carvalho

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 43-46)

1. Conceito de norma jurídica

1.5 Na teoria da norma de Paulo de Barros Carvalho

O professor Paulo de Barros, ao trabalhar o conceito de norma jurídica em seu livro Teoria da norma jurídica, corrobora com os ensinamentos de Bobbio de que as normas jurídicas são prescrições abstratas e que não podem servir para individualizar outros tipos de prescrições que não aquelas. Enfatiza que o que qualifica a proposição prescritiva como norma jurídica é o fato de o comportamento previsto na proposição assumir a forma de ação-tipo que se repete todas as vezes que os destinatários realizem a situação descrita. Os atributos de generalidade ou individualidade são apenas aspectos acidentais da norma.50

Esclarece ainda na esteira do pensamento do mestre da Universidade de Turim que “as prescrições concretas (comandos jurídicos) e prescrições abstratas (normas jurídicas) têm existências coalescentes no mesmo sistema, essas últimas,

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VILANOVA, Lourival. Causalidade e relação no direito. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 1989, p. 123 ss.

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VILANOVA, Lourival. As estruturas lógicas e o sistema do direito positivo. Prefácio Geraldo Ataliba. Apresentação de Paulo de Barros Carvalho. São Paulo: Noeses, 2005. p. 105-106.

49

VILANOVA, Lourival. Causalidade e relação no direito. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 1989, p. 130.

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CARVALHO, Paulo de Barros. Teoria da norma tributária. 5ª ed. São Paulo: Quartier Latin, 2009, p. 38.

inequivocamente, desempenhando preponderante, sendo possível dizer-se que constituem o fundamento da ordem jurídica.”51

O professor Paulo de Barros explica a dicotomia das regras de direito em primária e secundária defendida por Kelsen quando este ainda concebia a norma primária como sendo a sancionadora e a secundária como aquela que estabelece o comportamento desejado pela ordem jurídica. Por certo que Kelsen reviu esse seu posicionamento admitindo que a norma que prescreve uma sanção pela violação de outra norma só poderá ser a primária, ao passo que a sancionadora certamente será a secundária.

Afirma que não segue a terminologia inicialmente utilizada por Kelsen e que se mantém na linha do pensamento de Lourival Vilanova, que coincide com o recuo doutrinário registrado em obra póstuma do mestre de Viena.52

Critica a distinção kelseniana de “norma” (direito positivo) e “proposição” (ciência do direito) e adota respectivamente as terminologias “proposições prescritivas” e “proposições descritivas” muito utilizadas pelas teorias linguísticas.53

Faz a distinção entre “enunciados prescritivos” e “proposições prescritivas” explicando que aqueles enunciados recebem tratamento formal ao serem acolhidos na mente do intérprete que os agrupa e os dispõe na conformidade lógica de um juízo hipotético condicional, ou seja, os enunciados prescritivos ingressam na estrutura sintática das normas, na condição de proposição-hipótese (antecedente) e de proposição-tese (consequência), eles prescrevem as condutas. Desse modo, as proposições são significados que se abstraem dos enunciados.

Esclarece que os enunciados prescritivos usados em sua função pragmática de prescrever condutas não podem ser confundidos com as normas jurídicas, pois estas são significações construídas a partir de textos positivados e estruturadas consoante a

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CARVALHO, Paulo de Barros. Teoria da norma tributária. 5ª ed. São Paulo: Quartier Latin, 2009, p. 38-39.

52

CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: fundamentos jurídicos da incidência

tributária. 7ª ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 35.

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forma lógica dos juízos condicionais, compostos pela associação de duas ou mais proposições prescritivas.54

Utiliza as expressões “norma jurídica” e “regras de direito” como sinônimas e frisa de forma pontual que não há norma sem sanção correspondente.

Explica que as regras do direito possuem caráter dúplice, ou seja, compõe-se de norma primária ou endonorma (que são aquelas que prescrevem um dever quando ocorre no mundo fenomênico o que está descrito no suposto desta norma) e norma secundária ou perinorma (que são as normas que preveem uma sanção ao descumprimento da conduta prevista pela norma primária). Esclarece ainda que a estrutura formal dessas normas é idêntica, vejamos a precisão de suas palavras:

“A organização interna de cada qual, porém, será sempre a mesma, o que permite produzir-se um único estudo lógico para a análise de ambas. Tanto na primária como na secundária a estrutura formal é uma só [D(p→q)]. Varia tão-somente o lado semântico, porque na norma secundária o antecedente aponta, necessariamente, para um comportamento violador de dever previsto na tese da norma primária, ao passo que o conseqüente prescreve relação jurídica em que o sujeito ativo é o mesmo, mas agora o Estado, exercitando sua função jurisdicional, passa a ocupar a posição de sujeito passivo.”55

Com extrema precisão o mestre Paulo de Barros Carvalho esclarece a importante distinção entre texto de direito positivo e norma jurídica, vejamos sua lição:

“A norma jurídica é a significação que obtemos a partir da leitura dos textos do direito positivo. Trata-se de algo que se produz em nossa mente, como resultado da percepção do mundo exterior, captado pelos sentidos. Veja os símbolos lingüísticos marcados no papel, bem como ouço a mensagem sonora que me é dirigida pelo emissor da ordem. Esse ato de apreensão sensorial propicia outro, no qual associo idéias ou noções para formar um juízo, que se apresenta, finalmente, como proposição.

Dito de outro modo, experimentamos as sensações visuais, auditivas tácteis, que suscitam noções. Estas, agrupadas no nosso intelecto, fazem surgir os juízos ou pensamento que, por sua vez, se exprimem verbalmente como proposições. A proposição aparece como o

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CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. São Paulo: Noeses, 2008, p. 129.

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enunciado de um juízo, da mesma maneira que o termo expressa uma idéia ou noção.

A norma jurídica é exatamente o juízo (ou pensamento) que a leitura do texto provoca em nosso espírito.”56

A sua teoria da norma se fixa na “manifestação do deôntico, em sua unidade monádica, no seu arcabouço lógico, mas também em sua projeção semântica e em sua dimensão pragmática, examinando a norma por dentro, num enfoque intranormativo, e por fora, numa tomada extranormativa, norma com norma, na sua multiplicidade finita, porém indeterminada”.57

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 43-46)