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As narrativas que dizem uma ideia de cultura norte-rio-grandense, seus autores e perspectivas.

Institucionalizada no ano de 2007, no Governo de Vilma de Faria, a disciplina “Cultura do Rio Grande do Norte” faz parte de um movimento maior de políticas educacionais que ocuparam um importante espaço no Brasil desde, pelo menos, a década de 199016. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) e a Lei nº 9.493/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – são exemplos de políticas públicas educacionais que ocorreram naquele momento e que serviram de justificativa para outras reformas que foram desdobrando-se no cenário nacional, inclusive para o objeto de que se trata essa pesquisa: a mudança na Matriz Curricular do Ensino Fundamental no Estado do Rio Grande do Norte no ano de 2007, na Rede Estadual de Ensino, com o estabelecimento da disciplina “Cultura do RN”.

As propostas curriculares estaduais para o ensino de História, especificamente, aconteceram nos anos 2000, e também configuraram-se como desdobramentos da nova situação política do Brasil, na qual a educação passava a ser repensada para dar conta do novo momento histórico e das novas demandas sociais:

as propostas curriculares para o ensino de História datam da década de 2000. [...] As 18 [propostas curriculares] com as quais trabalhamos foram elaboradas entre 2007 e 2012, demonstrando a concentração, nesse período, das reformas curriculares estaduais, em grande parte, estimuladas pela ampliação do ensino fundamental de nove anos, como também pela ascensão de partidos de centro-esquerda ao poder nos estados, a partir do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (OLIVEIRA; FREITAS, 2012, p. 272).

Apesar dos documentos, que institucionalizam o desenvolvimento da disciplina “Cultura do RN”, não se referirem expressamente que se trata de uma reforma no ensino de História, na prática seu desenvolvimento se deu, e está se dando17, como uma alteração do       

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Sobre políticas educacionais no Brasil, ver: PAIM; LIMA; MARTINS, 2008, p. 21-34.

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Em 2014, a Estrutura Curricular do Ensino Fundamental no Estado do Rio Grande do Norte passou por algumas transformações devido, sobretudo, à efetivação da Lei nº 11.738/2008 – também conhecida por Lei do Piso do Magistério – que prevê que a carga horária docente seja concernente a 2/3 em sala de aula e 1/3 para atividades extraclasse. Embora seja uma legislação que entrou em vigor no ano de 2008, o Estado só de fato efetivou no início do ano de 2014. Dessa forma, a Secretaria de Estado da Educação e da Cultura, através da Coordenadoria de Desenvolvimento Escolar e da Subcoordenadora de Ensino Fundamental, rearticularam a estrutura escolar e, nesse processo, a “Cultura do RN” passou a ser conteúdo e não mais disciplina específica. Enquanto conteúdo obrigatório, embasado no Artigo 137 da Constituição do Estado, deve ser ministrado nas

mesmo: a mudança na estrutura curricular atinge diretamente ao ensino de História, uma vez que a estrutura curricular do Ensino Fundamental do Estado do Rio Grande do Norte, antes de 2007 – ano de implementação do projeto de desenvolvimento da disciplina “Cultura do RN” –, era composta por 03 (três) aulas de História semanal, sendo que a cultura local, referente à parte diversificada, deveria ser trabalhada de forma interdisciplinar; após a mudança da estrutura curricular estadual de 2007, a disciplina de História passou a ter apenas 02 (duas) aulas semanais, a terceira aula foi cedida para o novo componente. Este, na maior parte dos casos, passaria a ser ministrado pelos professores de História. Nesse sentido, entendemos que a criação da referida disciplina faz parte de uma conjuntura de mudanças dos currículos do ensino de História, iniciadas já nos anos 2000.

Isso, no entanto, não quer dizer que a construção de uma identidade potiguar, através do ensino, tenha sido pautada apenas a partir desse momento de institucionalização da disciplina “Cultura do RN”. A própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional recomenda, em seu artigo 26, que

os currículos do Ensino Fundamental e Médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela (BRASIL, 1996)

Antes mesmo da LDB/96, pareceres estaduais já previam nos currículos escolares uma parte comum (nacional) e outra diversificada (local/regional). De tal modo, a estrutura curricular do Estado do Rio Grande do Norte não fugiu a essa regra. No início da década de 1990, anterior à LDB, já existia um parecer estadual (Parecer nº 16/72 CEE) que estabelecia uma parte diversificada no currículo escolar estadual18, a diferença reside no fato de que esse componente poderia ser trabalhado a partir de uma perspectiva interdisciplinar, isto é, não sendo preciso uma disciplina específica para ministrar aspectos da cultura local.

Nas estruturas curriculares anteriores ao ano de 2007 verificamos a preocupação em se trabalhar aspectos da cultura local. De acordo com o texto da Estrutura Curricular de 199819,

       

aulas de História do Brasil, preferencialmente nos 6º e 7º anos. No que tange ao ano de 2015, as estruturas curriculares ainda estão para serem aprovadas, aguardando um parecer do atual Secretário de Educação Francisco das Chagas Fernandes.

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O Parecer Estadual nº 16/72 CEE prescreve que a parte diversificada do currículo poderia trabalhar as disciplinas de Língua Estrangeira Moderna (inglês e francês), Folclore, Estudos da Atualidade e Desenho Geométrico. 

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A Estrutura Curricular de 1998 faz parte de uma organização curricular que perdurou do final da década de 1980 até os anos 2000.

reforçando o Artigo 137 da Constituição do Estado, o estudo de cultura do RN deveria ser oferecido

com base na Constituição do Estado do Rio Grande do Norte, Art. 137 “as escolas públicas de 1º e 2º graus deverão incluir entre as disciplinas oferecidas o estudo da cultura norte-riograndense, envolvendo noções básicas de literatura, artes plásticas e folclore do Estado”. Cabe ao ensino fundamental trabalhar os conteúdos mencionados de forma interdisciplinar (prioritariamente através dos componentes curriculares de Língua Portuguesa, História e Ensino da Arte). (RIO GRANDE DO NORTE, 1998).

No ano de 2001, o Conselho Estadual de Educação, atendendo a pedido de um dos produtores do que seria o livro Introdução à Cultura do Rio Grande do Norte, Deífilo Gurgel, aprovou uma resolução recomendando que as escolas deveriam estimular o estudo do folclore do RN. Entre 2000 e 2006, as orientações curriculares recomendaram o estudo de cultura entre os componentes curriculares obrigatórios:

com base na Constituição do Rio Grande do Norte, parágrafo 2º do Artigo 137, as escolas públicas do Ensino Fundamental deverão incluir, entre os componentes curriculares, o estudo da cultura do Rio Grande do Norte, envolvendo noções básicas de literatura, Artes Plásticas e Folclore do Estado. Cabe ao Ensino Fundamental trabalhar estes conteúdos obrigatoriamente em História e Geografia e de forma interdisciplinar nos demais componentes curriculares (RIO GRANDE DO NORTE, 2006).20

A diferença das estruturas curriculares da década de 1990 e dos primeiros 06 anos da década seguinte residiu no fato de que naquela o estudo de cultura do RN deveria ser prioridade da disciplina de Língua Portuguesa, História e Ensino de Arte, nesta, passou a ser estudo obrigatório nas disciplinas de História e Geografia, podendo ser trabalhada de forma interdisciplinar nos demais componentes curriculares. Verificamos, então, que da década de 1990 para os anos 2000 o estudo da cultura local passou de conteúdo prioritário para obrigatório. Quando em 2007, ano da alteração curricular em questão, o trecho acima continuou a embasar o estudo de cultura do RN nas escolas, contudo, foi acrescido nas orientações a determinação de incluir na Estrutura Curricular do Ensino Fundamental a disciplina “Cultura do RN”(RIO GRANDE DO NORTE, 2007c), como verificamos no texto expresso na introdução desse trabalho.

De tal forma que podemos apreender que o ensino de História e saberes relativos à cultura local, a partir da disciplina “Cultura do RN”, foi de fato legalizado21, enquanto um       

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As orientações da Estrutura Curricular para o Ensino Fundamental utilizadas na citação foram do ano de 2006. Contudo, de 2001 a 2006, foi utilizado o mesmo texto nas orientações referentes aos ditos anos.

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componente específico, apenas no ano de 2007, mas já havia orientações no sentido de estudo da cultura embasadas no que prevê a Constituição do Estado de 1989. Assim, podemos tomá- lo como um espaço profícuo ao desenvolvimento determinado pelo projeto de construção identitária, fazendo com que os indivíduos reconheçam-se enquanto um grupo que partilha referências e valores comuns.

Nesse cenário, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) foram chamados a justificar a institucionalização da disciplina, posto que, ao trabalhar com os chamados temas transversais – Ética, Pluralidade Cultural, Meio Ambiente, Saúde e Orientação Sexual –, estariam respondendo às recomendações feitas por tais documentos. Esses documentos foram utilizados para respaldar a disciplina “Cultura do RN”, que deveria ser desenvolvida a partir de dois documentos: o “Projeto para o desenvolvimento do componente curricular Cultura do RN” e as “Diretrizes Curriculares Estaduais para o Ensino de Cultura do RN”, ambos instituídos no ano de 2007.

Coube à professora e técnica Rita de Lourdes Campos Feitoza a responsabilidade pela elaboração do Projeto, ela é membro da equipe pedagógica da Subcoordenadoria do Ensino Fundamental (SOEF) – órgão integrante da Secretaria de Estado da Educação e Cultura do RN (SEEC)22. A área de atuação da professora era em História e Gestão Ambiental, com enfoque principalmente nos processos do meio ambiente em geral, dano ambiental e ecoturismo. Já as Diretrizes foram elaboradas em conjunto pela referida técnica do Projeto e pela professora e técnica Edna Telma Vilar, que, à época da institucionalização, também era membro da SOEF23. A senhora Edna possui graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (1990), especialização em Gestão e Coordenação de Processo Pedagógico pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2001), mestrado em Educação pela Universidade Federal Fluminense (2003); atualmente, ela é professora do Centro de Educação (CEDU) da Universidade Federal de Alagoas, sua área de atuação profissional é em Educação, focalizando o processo de ensino-aprendizagem, principalmente, no que tange à formação docente e o ensino de Geografia. No Rio Grande do Norte, atuou profissionalmente como professora na Prefeitura Municipal de Natal, na Secretaria do Estado de Educação e Cultura (SEEC) e no SESI/RN.

No texto do Projeto, foi apresentada uma série de ações que deveriam ser desenvolvidas para disciplina. Em sua apresentação, especificam-se algumas, tais como:       

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A servidora pública Rita Lourdes Campos Feitosa encontra-se atualmente de licença médica que a afastou da Secretaria Estadual de Educação e Cultura por tempo indeterminado.

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Desde o ano de 2009, a professora Edna Telma Vilar desvinculou-se da SEEC para assumir o cargo de professora na Universidade Federal de Alagoas.

encaminhamento das Diretrizes Curriculares Estaduais para o Ensino de Cultura do RN para o Conselho Estadual de Cultura, como também sua reprodução; reprodução e distribuição do Guia Metodológico da Cultura no selo UNICEF; aquisição de livros para compor acervo bibliográfico e fonte de pesquisa; gravação, reprodução e distribuição de CD-ROM com conteúdos para formação dos professores. Em seguida, foram expostos os objetivos gerais da disciplina e a metodologia, que previu, de maneira geral, encontros pedagógicos para capacitação de professores.

Já as Diretrizes apresentaram, inicialmente, uma justificativa para a produção do documento, afirmando que os apontamentos gerais para a realização da disciplina em sala de aula faziam-se necessários porque as orientações curriculares em vigor foram estruturadas em 1987. Posteriormente, expressaram 03 (três) diretrizes que deveriam nortear o desenvolvimento do novo componente curricular: a primeira apontou para a dimensão conceitual do termo “cultura”; a segunda para indicar os objetivos; e a terceira procurou pensar nos procedimentos metodológicos e avaliativos. Além disso, o documento citou e recomendou atos normativos de âmbito internacional, nacional e estadual no que diz respeito ao direito à cultura, finalizando o documento das diretrizes com uma breve conclusão. À guisa de exemplo, o documento recorria, em âmbito nacional, à Constituição Federal, que, em seu Artigo 215, afirma que “o Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional” (BRASIL apud RIO GRANDE DO NORTE, 2007a) e ao Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/1990) – comumente chamado de ECA –, que deve assegurar os direitos das crianças e adolescentes “referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária” (BRASIL, 1990). No âmbito local, a legislação utilizada foi a própria Constituição do Estado do Rio Grande do Norte, já citada nesse texto.

Além destas legislações, foram indicadas também outras leituras referentes à ideia de cultura que deveria ser desenvolvida na disciplina “Cultura do RN”24. Pensar essas indicações faz parte do processo de compreensão do conceito de cultura que foi construído para ser ministrado na disciplina. Sendo assim, constituem-se em importantes fontes para esta pesquisa: “Guia Metodológico de Cultura do Selo UNICEF” (2006); “Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, UNESCO” (2005); “Cartilha Patrimônio Imaterial Potiguar” (2006); “Decreto 3.551/2000 – Programa Nacional do       

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Todos os atos normativos referentes à cultura e aos bens patrimoniais foram indicados, igualmente, tanto nas Diretrizes quanto no Projeto de desenvolvimento da disciplina.

Patrimônio Imaterial” (2000); “Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural, UNESCO” (1972); “Recomendação sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular, UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura)” (1989); “Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, UNESCO” (2001); “Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial” (2003); e a “Declaração Universal dos Direitos Humanos, UNESCO” (1948).

Essas últimas legislações fazem parte de um conjunto de Cartas Patrimoniais, entendidas como recomendações produzidas por diversos órgãos de âmbito nacional e internacional, que visam estabelecer relações de preservação e valorização de bens culturais. Uma das instituições importantes nesse processo é a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), uma agência das Nações Unidas fundada em 1946, que criou vasta legislação no sentido de normatizar e recomendar ações que devem ser empreendidas em relação aos bens culturais. Nesse sentido, as Cartas Patrimoniais tornam-se relevantes para a presente dissertação, uma vez que “[…] é necessário reconhecer que os bens e serviços culturais comunicam identidades, valores e significados e, por isso, não podem ser considerados meras mercadorias ou bens de consumo quaisquer” (UNESCO, 2005).

Para o desenvolvimento do componente curricular, o Projeto previu a distribuição para as escolas da rede pública de ensino, também, do livro intitulado Introdução à Cultura do Rio Grande do Norte, tendo como autores Tarcísio Gurgel, Vicente Vitoriano e Deífilo Gurgel, a fim de servir como fonte para o ensino de “Cultura do RN”:

aquisição de 36.850 livros Introdução à Cultura do Rio Grande do Norte para serem utilizados como acervo bibliográfico e referencial de pesquisa. Serão distribuídos 50 livros para cada uma das 737 escolas que atendem ao ensino fundamental. [...] A aquisição de livros em quantidade suficiente apenas para ser utilizado como fonte de pesquisa, justifica-se na medida em que o livro citado atende necessidades imediatas por apresentar linguagem acessível ao seguimento em questão, reunir em um único volume vários aspectos da cultura norte-rio-grandense propostos em nossas Diretrizes Curriculares Estaduais para o Ensino de Cultura do RN, mas especialmente por sua autoria assinada por três ícones da cultura potiguar (RIO GRANDE DO NORTE, 2007a) [grifo nosso].

O referido livro foi produzido no ano de 2003 e previsto para ser amplamente distribuído nas escolas da rede pública estadual em 2007, ano de criação da disciplina “Cultura do RN”. Organizado em três eixos (Literatura, Artes plásticas e Folclore), seguindo a ideia tripartida de cultura apresentada pela Constituição do Estado, tem, de acordo com o Projeto, caráter enciclopédico e não de um livro didático, pelo menos não teoricamente. No

entanto, o mesmo apresenta os elementos que o constituem – como formatação, linguagem, atividades etc.– bem semelhante a um manual didático.25

Sendo assim, analisaremos os 03 (três) eixos temáticos constituintes do manual didático, como também investigaremos seu campo de produção (BOURDIEU, 1998), formado pelos autores Tarcísio Gurgel, Vicente Vitoriano e Deífilo Gurgel, problematizando o lugar social destes produtores, assim como chamar atenção para suas referências intelectuais, buscando entender quais as concepções de cultura que estes já apresentaram antes da publicação do livro citado.

Esses autores são considerados ícones nos estudos sobre cultura norte-rio-grandense, estudiosos de ramos culturais distintos, mas que se encontram na temática da cultura. Apresentando esses autores de maneira sucinta, de acordo com a ordem de apresentação de cada eixo temático do livro citado, começamos por Tarcísio Gurgel que foi o produtor do eixo “Literatura”. Em sua vida profissional, ele dedicou-se aos estudos da literatura, participando do projeto referente à primeira Antologia de Contistas Potiguares e seu primeiro livro foi Os de Macatuba26, que recebeu o Prêmio Câmara Cascudo de 1973. Professor do Departamento de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), lecionando disciplinas como “Literatura Potiguar”.

Já Vicente Vitoriano, produtor do eixo “Artes plásticas”, é arquiteto e professor do Departamento de Artes da UFRN. Atualmente leciona, no Departamento de Artes, em áreas relacionadas às práticas artísticas, história da arte e ao ensino da arte. Seus primeiros trabalhos profissionais começaram a ser expostos no início da década de 1970.

Deífilo Gurgel, irmão de Tarcísio Gurgel, foi responsável pela produção do eixo “Folclore”, sendo considerado pela intelectualidade do Estado do Rio Grande do Norte como um dos grandes ícones do folclorismo local, tendo realizado várias pesquisas nessa área. Ele atuou também como diretor do Departamento de Cultura da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Natal (SMEC), diretor de Promoções Culturais da Fundação José Augusto (FJA), presidente da Comissão Norte-Rio-Grandense de Folclore, sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN) e professor da disciplina “Folclore Brasileiro” na UFRN. Depois de sua morte, em fevereiro de 2012, foi criada uma comenda de Mérito Cultural Deífilo Gurgel em sua homenagem.

      

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Reflexões relacionadas a similitudes do livro enciclopédico, produzido para a disciplina, com um livro didático serão exploradas apenas no capítulo 03 desta dissertação.

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Na empreitada de se ensinar uma cultura do RN nas escolas estaduais da rede pública, muitas foram as narrativas27 e legislações produzidas e indicadas para desenvolver uma ideia de cultura norte-rio-grandense. Buscaremos, portanto, perceber como se deu esse processo. Nesse sentido, o objetivo deste capítulo é entender qual a ideia de cultura elaborada para definir o Rio Grande do Norte e quem as elaborou, observando, sobremaneira, os processos sociais envolvidos nessa política pública do Estado.

A cultura que diz o norte-rio-grandense.

Trabalhar em um espaço didático com uma ideia de cultura do Rio Grande do Norte é uma prática institucional-educacional, explicitamente, ligada à construção de uma identidade espacial, a do norte-rio-grandense. No caso em questão, compreendemos que a identidade liga-se primordialmente à dimensão “cultura”. Tanto no Projeto quanto nas Diretrizes28 que institucionalizaram a disciplina, uma de suas finalidades era: “perceber que ensinar e aprender sobre a cultura do RN tem por objetivo a produção e divulgação de conhecimentos e valores locais, relativos à formação da identidade de um povo”, como também “reconhecer, valorizar e respeitar a diversidade étnica e cultural na formação da identidade potiguar” (RIO GRANDE DO NORTE, 2007b).

A partir dessa assertiva, explicita-se que a criação da disciplina foi executada para trabalhar especificamente a cultura local ligada a um projeto de construção de identidade, no qual os indivíduos se “reconheçam’’ enquanto grupo. Cabe direcionar uma atenção especial ao termo “reconhecer”, no sentido de dar conhecimento a algo que já exista. “Reconhecer’’ os bens e expressões culturais já definidos se faz preciso para que a cultura do RN seja, consequentemente, valorizada e difundida.

Partindo dessa questão, cabe ressaltar que o termo cultura é bastante complexo e problematizações referentes a ele não se constituem novidades. Desde a década de 1970, a chamada História Cultural ressurgiu nos debates acadêmicos. No entanto, ocorreram algumas modificações, principalmente, em relação à concepção do termo, e, a partir de uma maior aproximação da ciência histórica com a antropologia, houve uma ampliação no seu sentido,       

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Por narrativa, tomando de empréstimo as contribuições de Jörn Rüsen, entendemos como “[...] um processo de

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