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II PERCURSO DE INVESTIGAÇÃO

4. METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

4.1 Natureza do estudo

O modo como interpretamos a realidade envolvente vai influenciar as opções metodológicas e os paradigmas de investigação emergentes. Neste seguimento, este estudo enquadra-se num processo indutivo, pois “(…) as abstracções são construídas à medida que os dados particulares que foram recolhidos se vão agrupando” (ibidem, p. 50), e num paradigma interpretativo. Referindo-se à investigação interpretativa, Erickson menciona que “a «família» das abordagens assim designadas partilha um interesse fulcral pelo significado conferido pelos «actores» às acções nas quais se empenharam” (1986, citado em Lessard-Hébert, Goyette & Boutin, 2008, p. 32). Deste modo, trata-se de uma investigação de cariz subjetivo, cujo objetivo é a compreensão do fenómeno em estudo a partir dos pontos de vista dos sujeitos envolvidos.

De acordo com Bogdan e Biklen (1994), a investigação qualitativa possui cinco caraterísticas fundamentais, que se encontram presentes neste estudo, isto porque decorre em meio natural, pretende a descrição do fenómeno em estudo e o investigador preocupa- se com o processo, sendo as informações recolhidas analisadas de modo indutivo, numa valorização do significado atribuído pelos sujeitos às ações.

A abordagem qualitativa é examinada como a mais apropriada para este estudo, uma vez que, esta investigação tem como objetivo compreender as conceções dos enfermeiros quanto à abordagem colaborativa da supervisão na prática de cuidados, a partir do “(…) modo como eles próprios estruturam o mundo social em que vivem” (Psathas, 1973, citado em Bogdan & Biklen, 1994, p. 51). Assim, a investigação qualitativa foca-se essencialmente nos significados que os participantes atribuem às situações vivenciadas.

Após explanarmos os motivos que explicam por que se enquadra esta investigação num paradigma interpretativo e numa metodologia qualitativa, torna-se fundamental esclarecer por que razões consideramos o método de estudo de caso como o mais adequado para a análise aprofundada do nosso objeto de estudo (Stake, 2005; Yin, 2010).

Segundo Yin (2010) “(…) o método do estudo de caso permite que os investigadores retenham as características holísticas e significativas dos eventos da vida real (…)” (p. 24). Assim, este método mostra-se como o mais relevante quando as questões de investigação procuram a descrição profunda do fenómeno em estudo e têm como intenção interpretar os fenómenos em estudo. Em outras palavras, poder-se-á referir que se trata de um método

que possibilita a compreensão em profundidade de um fenómeno da vida real. Deste modo, o estudo de caso possibilita a compreensão profunda dos comportamentos que ocorrem num dado contexto, o que remete para o cariz dinâmico do “caso” e as informações recolhidas refletem a subjetividade do investigador e dos sujeitos participantes.

Seguindo a linha de pensamento de Bogdan e Biklen (1994) e nas palavras de Yin (2010) enquadramos a presente investigação num estudo de caso único, e mais concretamente num “projecto de caso único integrado” com “unidades múltiplas de análise” (p. 70), porque embora estejamos perante um fenómeno com múltiplas unidades de análise, a colheita de dados, que resulta do estudo empírico, refere-se a um único caso. Assim, o importante é o estudo de caso na sua unicidade e não como uma soma de

múltiplas subunidades de análise, pois a integração dessas unidades dentro do mesmo caso

não tem como objetivo modificar a natureza do estudo de caso, mas contribuir com participantes significantes que ampliem a profundidade interpretativa do caso.

Tendo em consideração este método de investigação, todas as informações recolhidas referem-se a uma dinâmica interpretativa constituída em torno do objeto de estudo, que emerge em contexto hospitalar. O centro hospitalar (apresentado sem nome por privilegiarmos o anonimato), onde se desenvolve o presente estudo, localiza-se na região norte do país e tem como missão a prestação de cuidados diferenciados à população da área geodemográfica de influência, em colaboração com as várias instituições de ensino, hospitais e instituições de saúde. De acordo com o Decreto-Lei n.º 326/2007, de 28 de setembro, este centro hospitalar foi transformado numa entidade pública empresarial, orientada para a satisfação das necessidades dos doentes. Neste âmbito, este centro hospitalar decidiu trabalhar o seu processo de acreditação pelo modelo da Joint

Commission International, cuja estratégia incorpora uma cultura de qualidade, com vista à

melhoria contínua, encarando o doente como seu fim último.

O serviço de Medicina Interna, contexto onde decorre este estudo, localiza-se no nono piso de uma das unidades de saúde deste centro hospitalar, sendo um dos quatro serviços de Medicina Interna existentes. A escolha deste caso único não ficou a dever-se por considerarmos que o mesmo poderia refletir a realidade nacional a nível hospitalar, mas por constituir o hospital onde a investigadora exerce funções e ainda pela proximidade com serviço em causa, não só pelo contacto com algumas pessoas que nele trabalham como também pela natureza do próprio serviço. Outro motivo que conduziu à seleção deste

serviço de Medicina Interna foi o facto de nele se preconizar as passagens de turno em grupo, o que facilita o acesso às práticas colaborativas existentes entre os enfermeiros.

O serviço de Medicina Interna destina-se a tratar doentes com patologias do foro médico, de ambos os géneros e possui a lotação de 26 camas. É de referir que, frequentemente, o serviço se encontra sobrelotado, havendo a colocação de doentes em camas distribuídas pelo corredor central do serviço, designadas por “macas”, que podem perfazer até um máximo de seis doentes. Nestas situações a equipa multi-profissional não é reforçada, havendo o mesmo número de elementos por turno.

A sala de reuniões, onde decorrem as passagens de turno e as reuniões de serviço, situa- se na parte posterior do corredor, junto à sala de trabalho dos enfermeiros. Nesta sala encontra-se uma mesa central de formato quadrangular, ladeada por cadeiras. Esta disposição permite que os enfermeiros se sentem de frente uns para os outros durante as passagens de turno, possibilitando o contacto visual entre todos.

Relativamente à composição da equipa multi-profissional, a equipa de Enfermagem é constituída por 29 elementos, que fazem turnos de manhã, tarde e noite, onde o número de enfermeiros depende do ritmo de trabalho ao longo do dia. Assim, estes 29 enfermeiros são perspetivados como as múltiplas unidades de análise do estudo, inseridas num projecto de

caso único integrado. É de referir que a equipa de Enfermagem é comum a dois serviços

de Medicina Interna, que se encontram no mesmo piso. Para além da equipa de Enfermagem fazem, igualmente, parte da dinâmica do serviço, a equipa médica, os assistentes operacionais, um administrativo e os doentes hospitalizados e suas respetivas famílias.

A metodologia científica de trabalho usada pela equipa de Enfermagem é o método individual de trabalho, pois cada enfermeiro tem como foco dos cuidados o projeto de saúde de cada doente no seu todo.

Atendendo ao número de participantes e à natureza desta investigação, procedemos subsequentemente a uma caraterização dos sujeitos, evidenciando os aspetos mais pertinentes para a compreensão do fenómeno em estudo. Neste sentido, apresentamos em anexo um quadro (Anexo II), onde esquematizamos a caraterização da equipa de Enfermagem, que constitui o grupo de participantes que contextualiza este estudo. Neste quadro podemos observar do grupo de 29 enfermeiros sobre o qual recai este estudo de investigação, apenas seis são do género masculino, sendo a equipa de Enfermagem

essencialmente do género feminino. As idades dos enfermeiros estão compreendidas entre os 23 e os 55 anos, com uma média de 32 anos. Quanto à formação académica, constatamos que apenas um sujeito não concluiu Licenciatura em Enfermagem, possuindo Bacharelato em Enfermagem, três enfermeiros possuem Pós-Licenciatura de Especialização em Enfermagem e um enfermeiro concluiu Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica. Relativamente à categoria profissional, um dos enfermeiros é chefe do serviço e os restantes 28 elementos são enfermeiros. Dentro da equipa de Enfermagem, o tempo de serviço varia entre menos de um ano e os 35 anos, com uma média de oito anos. Por conseguinte, verificamos uma grande variação no tempo de exercício profissional entre os participantes e, provavelmente, diferentes níveis de desenvolvimento profissional. No que se refere ao tempo de exercício profissional, observamos que quatro enfermeiros trabalham há menos de um ano. A maioria (58%) exerce funções no serviço há menos de cinco anos. O elemento com mais anos de serviço trabalha há 26 anos.

No que diz respeito a cargos que exercem dentro do serviço, dois enfermeiros são os elos de ligação do serviço com a Comissão de Controlo de Infeção do centro hospitalar e um elemento é responsável pela formação em serviço. Dos 29 elementos, 18 enfermeiros possuem formação no âmbito da supervisão, mais especificamente em supervisão clínica. Relativamente ao tipo de formação, esta variou entre a realização de unidades curriculares numa Escola Superior de Enfermagem (apresentada sem nome por questões éticas), para a formação de enfermeiros supervisores, até formação em supervisão clínica ministrada nos Cursos de Licenciatura e Especialização em Enfermagem. Dos 16 enfermeiros que possuem experiência em supervisão, apenas um elemento tem experiência no âmbito da formação contínua, designadamente a enfermeira-chefe. Todos os restantes têm desempenhado o papel de “supervisor” em contexto de ensino clínico, no âmbito da formação inicial. Observamos que as experiências em supervisão dependem dos anos de exercício profissional, já que os atores que exercem Enfermagem há mais anos, mencionaram mais experiências em supervisão. É de referir que todos os elementos que não possuem qualquer experiência em supervisão são os enfermeiros mais novos, com menos de quatro anos de serviço.

Após a delimitação do paradigma, da metodologia, do tipo de estudo e da caraterização do contexto e participantes, passamos agora a explicitar as principais técnicas de recolha de informação.