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II PERCURSO DE INVESTIGAÇÃO

4. METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

4.2 Recolha de informação

Na investigação qualitativa torna-se essencial “(…) estar dentro do mundo do sujeito (…) não como alguém que faz uma pequena paragem ao passar, mas como quem vai fazer uma visita (…)” (Geertz, 1979, citado em Bogdan & Biklen, 1994, p. 113), de modo a apreender as perceções dos participantes, mantendo a sua unicidade. Neste sentido, ao longo do estudo, o investigador procura garantir que as técnicas de recolha de informação utilizadas possibilitam obter informação pertinente e abrangente relativamente ao objeto de estudo. Carmo e Ferreira (1998) consideram que “(…) as técnicas mais utilizadas em investigação qualitativa são a observação participante, a entrevista em profundidade e a análise documental” (p. 181). Deste modo, recorremos à análise documental, à observação direta não participante e à entrevista individual, o que permitiu aceder às conceções dos enfermeiros sobre as práticas colaborativas e supervisivas na prática de cuidados e a sua relação com o desenvolvimento profissional. Através da conjugação de diversas fontes de informação, poder-se-á aumentar o rigor da investigação no âmbito dos estudos de caso (Stake, 2005; Yin, 2010). Considera-se, assim, que mediante esta combinação e complementaridade se torna possível evidenciar diferentes aspetos do fenómeno em estudo, triangular os dados provenientes de diferentes fontes de informação e construir uma visão mais complexa do objeto de estudo (Carmo & Ferreira, 1998). Vejamos mais em pormenor as diferentes técnicas de recolha de informação, que se implementaram neste

estudo de caso.

Análise documental

O recurso a fontes documentais relacionadas com o fenómeno em estudo é uma estratégia básica num estudo de caso. O recurso à análise documental possibilita ao investigador representar de modo mais condensado as informações contidas nos documentos originais, para uma consulta e análise posterior mais facilitadas. Os documentos escritos permitiram aceder a informações emergentes no contexto em estudo (André, 2005), constituindo-se como fonte de dados natural e secundária. Neste sentido, tiveram-se em consideração documentos facultados pela Instituição Hospitalar, documentos referentes à formação em serviço (Anexo III) e seis atas das reuniões em

serviço (Anexo IV). A análise de tais documentos escritos facilitou: i) a caraterização do contexto da investigação; ii) uma compreensão mais abrangente do objeto de estudo. O acesso aos documentos escritos desenvolvidos em grupo permitiu refletir as dinâmicas colaborativas existentes entre os diferentes enfermeiros do serviço de Medicina Interna, o que complementou a investigação e facilitou a triangulação das informações recolhidas.

Observação não participante

Através da observação direta é possível recolher informações em ambiente natural. Esta técnica de recolha de informação “(…) fiel ao princípio da separação entre observador e sujeito/objecto da observação, procura constituir um tipo de observação objectiva” (Pedrosa-de-Jesus, 2010). Contudo, a observação direta consiste numa técnica de recolha de informação de modo a representar a realidade, uma vez que decorre em meio natural, “(…) constituindo o investigador o instrumento principal” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 47). Assim, as informações recolhidas consistem, na sua essência, numa “interpretação da realidade” (André, 2005, p. 117). Deste modo, para uma melhor compreensão da temática em estudo, considerámos importante observar os enfermeiros durante as passagens de turno, para completar as perceções recolhidas através das entrevistas individuais. Efetuámos sete observações de passagens de turno em grupo, distribuídas pelos turnos da manhã e tarde. É de referir que durante o trabalho de campo foi também possível efetuar a observação direta de uma sessão de formação em serviço, inserida numa reunião de serviço, o que constituiu uma mais-valia para o presente estudo. Esporadicamente ocorreram algumas observações ocasionais ou conversas informais, que consideramos fontes de informações adicionais. Todas as observações decorreram durante o mês de outubro de 2011 e tiveram lugar na sala de reuniões do serviço de Medicina Interna.

Para captarmos o cerne do objeto de estudo, implementámos uma observação não participante, tentando manter o “distanciamento relativamente ao objecto de estudo”, permanecendo externos à situação observada (Pedrosa-de-Jesus, 2010).

Durante as observações diretas efetuámos anotações sobre as dinâmicas entre o grupo e as práticas colaborativas que existiam entre os enfermeiros, promovendo a compreensão das dinâmicas colaborativas em contexto da prática. Neste sentido, não existem transcrições literais da realidade, mas sim interpretações dessa realidade, pois o objetivo foi explorar e compreender o fenómeno em estudo, de modo a aceder aos seus diferentes

significados (André, 2005). Durante o período das observações utilizámos uma grelha de observação construída para o efeito (Anexo V), que constituiu um guia orientador da nossa observação. Esta grelha de observação, sujeita a reformulações durante o trabalho de campo, era constituída por dois comportamentos/discursos observáveis, nomeadamente: i) dinâmica do grupo; ii) práticas colaborativas entre os enfermeiros. As notas de campo e as observações foram registadas em espaço próprio da grelha (Anexo VI), enquanto decorriam as observações e posteriormente revistas no domicílio.

Para uma compreensão mais abrangente do objeto de estudo, recorremos igualmente à observação indireta, que abordamos seguidamente.

Entrevista individual

Mediante a observação indireta é possível ter acesso à informação através da palavra dos participantes (Pedrosa-de-Jesus, 2010). Trindade (2007) menciona que, neste tipo de observação, “(…) o observador tem contacto indirecto com as situações e os fenómenos ou comportamentos a observar” (p. 47), porque apenas tem acesso ao “pensamento” dos sujeitos. Dentro da observação indireta salienta-se a entrevista, que constitui um dos instrumentos metodológicos de eleição na metodologia qualitativa.

A entrevista permite ao investigador compreender o significado que os participantes atribuem às experiências vivenciadas e constitui um instrumento de eleição para captar a diversidade de descrições e interpretações que os indivíduos possuem sobre a realidade envolvente. Contudo, as informações recolhidas possibilitam apenas uma aproximação imperfeita das conceções dos participantes, porque o que as pessoas referem sobre as suas práticas não possibilita aceder às informações implícitas.

Tendo em consideração o fenómeno em estudo, considerámos que a entrevista semiestruturada consistia na opção mais adequada. O guião de entrevista construído para esta investigação (Anexo VII) teve por base a temática em estudo e pretendeu recolher informações sobre: i) caraterização dos entrevistados; ii) conceções dos enfermeiros quanto à formação contínua e ao desenvolvimento profissional; iii) conceções dos enfermeiros quanto à supervisão; iv) conceções dos enfermeiros quanto às práticas colaborativas em contexto profissional.

Na impossibilidade de estudar todos os elementos do caso, ou seja todas as subunidades

constituíssem sujeitos “informadores-chave” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 95). Assim, dentro do serviço de Medicina Interna, a escolha das unidades de análise baseou-se numa seleção intencional, que permitiu ter acesso às subunidades mais ricas em informação e que possibilitou uma compreensão mais holística da temática em estudo. Deste modo, os participantes foram selecionados tendo por base a sua voluntariedade e de modo a que garantissem uma diversidade das pessoas envolvidas. Para assegurar a variedade das conceções sobre o objeto de estudo, escolhemos os enfermeiros atendendo ao tempo de experiência profissional, ao tempo de serviço, às funções desempenhadas no serviço e à experiência prévia em supervisão. Neste seguimento, foram realizadas oito entrevistas, que decorreram dentro do centro hospitalar e que tiveram em consideração a aceitação e a disponibilidade dos sujeitos. As entrevistas decorreram entre os meses de outubro e novembro de 2011.

Aquando da legitimação da entrevista, foi entregue o consentimento informado (Anexo VIII) bem como pedida autorização para a gravação áudio, que foi sempre concedida.

Foi transcrito na íntegra todo o conteúdo das entrevistas, para facilitar a codificação das informações recolhidas. Seguidamente, as transcrições foram validadas pelos participantes (Anexo IX), antes de iniciarmos o tratamento e análise da informação recolhida.