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Capítulo IV Os Tributos nos Recursos Naturais

2. Análise da Tributação dos Resíduos

2.1. Notas acerca dos Resíduos, em especial, a Contribuição sobre os Sacos de Plástico

2.1.2. Natureza Jurídica – imposto, taxa ou contribuição?

No que se refere à qualificação do tributo com que nos deparamos, é deveras importante o conhecimento das diferenças entre as especificidades dos tributos, sobre que anteriormente nos versámos.

Essa importância releva para razões constitucionais, por ser obrigatório o parlamento aprovar, ou pelo menos autorizar, a criação de impostos e para evitar que entidades (in)competentes em matéria de criação e regulamentação fiscal optem, abusivamente por disfarçar tributos sob a designação de taxas, apenas para escapar àquela formalidade.432

Atualmente, é visível uma fácil discricionariedade, no que diz respeito à designação que é dada ao tributo que incide sobre os sacos de plástico. A lei apelida de contribuição. Os media e alguma doutrina, denominam taxa.433 Poucos o chamam de imposto e os que o fazem, fazem-no sem saber porquê.

Aplicando ao tributo sobre sacos de plástico o teste da bilateralidade, o resultado revela-se logo negativo. A taxa do tributo, no valor de 10 cêntimos, teve como objetivo principal contribuir para o decréscimo da quantidade de plásticos poluidores do ambiente e para uma melhor racionalização dos existentes.

Ora, a finalidade de uma taxa consiste em compensar uma determinada despesa que uma entidade estatal tenha na atribuição de uma vantagem individualizada e não tentar contrabalançar danos causados por essa vantagem. Como é de fácil perceção, não existe qualquer despesa por parte de uma entidade pública na concessão de uma vantagem, nem poderia haver, já que não existe qualquer tipo de bem ou serviço prestado ao contribuinte.

O facto gerador do tributo consiste na produção, importação e aquisição intracomunitária de sacos de plástico leves, para futura comercialização, significando isto que estamos na verdade perante um tributo unilateral e não bilateral, dado que não há qualquer contraprestação específica que justifique a cobrança da taxa.

432 Vide nosso Capítulo I.

149 De contribuição, este tributo nada tem, pois, apesar de as suas receitas serem afetas a determinados organismos,434 o tributo foi desenhado para se autodestruir, ou seja, para ver a sua receita diminuir, à medida que a sua eficácia aumenta, propósito que não conseguimos enquadrar nas contribuições, como em capítulo anterior referimos.

As contribuições são caraterizadas por terem uma estrutura bilateral imperfeita, pois visam uma contraprestação presumida e não individualizada, atual e divisível. São, assim, tributos que incidem sobre um grupo diferenciado de sujeitos, em virtude da especial proximidade que este apresenta face a uma determinada atuação pública, que a contribuição financiará.

De facto, o tributo incide sobre um grupo específico e homogéneo, os consumidores dos sacos. Não obstante, o pagamento desta taxa não irá beneficiar apenas aquele grupo. Antes pelo contrário, o pagamento do tributo visa levar à redução do consumo de sacos de plástico e evitar degradação ambiental, nos moldes que acima referimos.

Assim, partindo de uma ideia geral de solidariedade para a comunidade, estamos na presença de um tributo com impacto na existência geral da comunidade.

Por sua vez, a consignação de receitas que o tributo estabelece não permite saber se se trata de financiar serviços de instituições conexos com proteção ambiental. É que não há garantias de que este tributo financie as entidades em causa, apenas na parte relativa a ações conexas com os sacos de plástico. Por isso, afastamos a possibilidade de este tributo ser uma contribuição especial. Assim, por tudo isto que apresentamos, o tributo em análise não pode deixar de ser um imposto.

Dito isto, qual será a sua natureza de imposto? Onde o poderemos reconduzir? É necessário ter em conta que a capacidade contributiva se manifesta de diversas formas.

Incindindo os impostos sobre a capacidade contributiva, aqueles podem dividir- se em impostos sobre o rendimento, sobre o património e sobre o consumo.

Ora, o imposto sobre os sacos de plástico insere-se claramente nesta última categoria de impostos sobre o consumo, especificamente à categoria dos IEC’s, na medida

434 Nos termos do artigo 44.º, as receitas resultantes da cobrança da contribuição sobre sacos de plástico

são afetadas em: a) 75 % para o Estado; b) 13,5 % para o Fundo para a Conservação da Natureza e da Biodiversidade; c) 8,5 % para a Agência Portuguesa do Ambiente; d) 2 % para a AT; e) 1 % para a IGAMAOT.

150 em que, apesar de ser o produtor/vendedor considerado o sujeito passivo, acaba por ser o consumidor/comprador a suportar o tributo, por via da repercussão fiscal, aquando da aquisição do produto, sendo este o verdadeiro contribuinte.

Os impostos especiais de consumo assentam na ideia de que as tributações seletivas do álcool, do tabaco e até mesmo dos produtos energéticos se justificam em virtude dos custos de ambiente e saúde pública que o consumo dos mesmos cria e sempre tendo em conta o princípio da equivalência. Assim, a base que melhor determina o valor do imposto a cobrar manifesta-se, não no valor, mas nos elementos que melhor revelam os custos que o consumo dos produtos tributáveis gera sobre o ambiente.

No nosso caso, a base tributável do imposto sobre os sacos de plástico incide sobre a qualidade e composição do tributo,435 ou seja, incide sobre os sacos de plástico de espessura de parede igual ou inferior a 50 (mi)m, dado serem mais leves, mais fáceis de se rasgarem e serem produzidos em grande escala, o que acarreta mais consumo de petróleo e recursos, inserindo-se assim, perfeitamente, na lógica subjacente aos IEC.

Uma outra grande e importante distinção diz respeito à intenção económica e social que este imposto acarreta, dado este pretender moldar o comportamento da sociedade, de modo a evitar o consumo excessivo de sacos de plástico, numa lógica extrafiscal e suicida. O mesmo permite ao contribuinte alternativas, uma vez que só assim se conseguirá influenciar a escolha dos consumidores. No nosso caso, essas alternativas consistem em sacos de plástico mais grossos e reutilizáveis, sacos de papel ou de tecido. Em suma, o imposto sobre os sacos de plásticos parece ser enquadrável neste grupo de impostos, dado pretender dissuadir consumidores e secundariamente gerar receita, ainda que se tenha a consciência de que a mesma tenha de diminuir ao longo do tempo, sob pena de estarmos perante mais um falso tributo ambiental.

A recondução deste imposto à natureza dos IEC não deve ser censurada, pois os próprios artigos relativos aos impostos sobre os sacos de plásticos têm uma sistemática idêntica, “bebem” dos IEC436 e até remetem para esse regime, em matéria dos sujeitos passivos, regras de liquidação e de cobrança.

435 Trata-se de uma fundamentação que também se aplica ao imposto sobre as lâmpadas de baixa eficiência,

que anteriormente nos versámos.

436 Veja-se os artigos relativos ao fator gerador, exigibilidade, formalização da introdução no consumo, a

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