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Capítulo IV Os Tributos nos Recursos Naturais

2. Análise da Tributação dos Resíduos

2.1. Notas acerca dos Resíduos, em especial, a Contribuição sobre os Sacos de Plástico

2.1.3. Os efeitos (in)desejados do tributo sobre os sacos de plástico

Não há dúvida de que do tributo que incide sobre os sacos de plástico decorre pretensões extrafiscais.

O tributo de dez cêntimos sobre os sacos de plástico teve como objetivo levar os cidadãos a reduzir o consumo de sacos de plásticos. Oriundo da reforma da fiscalidade verde, conseguiu contribuir para o decréscimo da quantidade plásticos leves em cerca de 98%.437 Assim, mais facilmente se consegue evitar que sacos de plástico leves, com espessura inferior a 50 microns, que se rompem facilmente e se desfazem, cheguem aos oceanos e causem a morte de diversos animais marinhos.

Aquando da sua entrada em vigor, os consumidores substituíram o bem por outros sucedâneos, adotando assim comportamentos ambientalmente adequados e não tributados. Dentro destes bens sucedâneos, os consumidores optaram por sacos de papel ou sacos de pano, que acabaram por gerar a quebra de venda dos sacos de plásticos leves. Este aumento do consumo de sacos alternativos criou o fenómeno da elisão fiscal. Esta consiste na possibilidade lícita de um contribuinte reduzir o ónus tributário que sobre si recai, através de opções que o legislador indicou ou através da prática de atos menos tributados, ou não tributados de todo, que não foram idealizados pelo legislador, mas que não deixam de ser lícitos.438

Ora, essa elisão materializou-se no aumento do consumo e utilização de sacos alternativos, o que consequentemente levou a maioria dos estabelecimentos a deixarem de vender os sacos de plástico leves, oferecidos gratuitamente até à altura.

Negativamente, estes sacos alternativos acabaram por propiciar aos estabelecimentos uma fonte de lucro. Os sacos de papel reutilizáveis, de tecido ou até mesmos de plástico mais grosso geraram um mercado novo capaz de originar lucro para estas entidades. Atualmente, quando nos deslocamos aos estabelecimentos que anteriormente vendiam os sacos leves, somos confrontados com o facto de os comerciantes estarem a vender os sacos alternativos como de um produto se tratasse. O problema é que a maioria dos consumidores acha que, na compra de um saco mais grosso de plástico por 10 cêntimos (que não cai no âmbito do diploma em apreço), está a pagar

437 MADRINHA, Mariana, Consumo de sacos de plástico caiu para 98%, in,

https://sol.sapo.pt/artigo/495695/consumo-de-sacos-plasticos-leves-caiu-98.

438 Esta conjugação entre elisão fiscal e o aumento de sacos de plásticos alternativos é feita por

FIGUEIREDO, Nádia Coelho Aranha de, A taxa sobre os sacos de plástico, Dissertação de Mestrado, FDL, Lisboa, 2016, pág. 66 e ss.

152 um tributo em prol do ambiente. Deste modo, os comerciantes acabam por encontrar uma nova forma de lucro.

Pode-se questionar se o objetivo não é alcançado na mesma. Não estão os comerciantes, sem se aperceberem, a cumprir o objetivo do tributo sobre os sacos de plástico, mesmo que não seja ao abrigo deste último? Não acaba por existir uma internalização nos consumidores por parte dos tributos sobre os sacos de plástico leves, em todas as aquisições que façam? Estes não acabam por reutilizar sacos anteriormente comprados?439 Parece-nos que sim, mesmo que não seja ao abrigo do referido tributo.

Assim, a finalidade ambiental é alcançada, mesmo que a receita alcance resultados quase nulos,440 dado o tributo, enquanto instrumento económico e fiscal, orientar e persuadir o consumidor a adotar comportamentos ambientalmente sustentáveis. Não é por acaso que é apontado uma redução quase total no consumo de sacos de plástico leves.441/442

Agora, não se consegue é evitar, de momento, o aumento do consumo dos sacos do lixo,443 dado que, antes deste tributo, os sacos leves eram utilizados como recipientes para o lixo doméstico.444

Por outro lado, com este tributo surgiram impactos económicos e sociais nas empresas fabricantes de sacos de plástico, tendo a indústria reduzido o pessoal trabalhador, dado não conseguir compensar as perdas provocadas.445 Por sua vez, a introdução do tributo sobre os sacos de plástico levou a que muitos fabricantes

439 Num estudo realizado em 2016, 70% dos consumidores portugueses reutilizaram os sacos de plástico

adquiridos para as compras, in SCHMIDT, Luísa; TRUNINGER, Mónica; GUERRA, João PRISTA, Pedro

“Primeiro Grande Inquérito Sustentabilidade em Portugal", Instituto de Ciências Sociais (ICS) da

Universidade de Lisboa, 2016, pág. 85 e 86.

440 Em 2015, de uma estimativa de 40 milhões de euros, não passou dos 1,6 milhões de euros. Assim,

SILVA, Ana, Estado Encaixa 1,6 milhões no arranque da taxa sobres os sacos de plástico, in

https://www.publico.pt/2015/04/08/economia/noticia/estado-encaixa-16-milhoes-no-arranque-da-taxa- sobre-os-sacos-de-plastico-1691667

441 PINHEIRO, Ana Margarida, Consumo de sacos plásticos caiu 95% com a nova taxa, dados fornecidos

pela Associação Portuguesa do Ambiente, in https://www.dinheirovivo.pt/economia/quantos-sacos- comprou-no-ultimo-ano-so-publicar-segunda/.

442 Veja-se as estatísticas de 2015 e 2016, fornecidas pelo Instituto Nacional de Estatística em

https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=281086104 &DESTAQUESmodo=2, consultado em 21/01/2018.

443 Um problema que a Irlanda enfrentou, aquando do lançamento da taxa sobre os sacos de plástico. 444 Sobre o problema de saber se as alternativas aos sacos de plástico leves são melhores vide, GOGTE,

Mangal, Are plastic grocery bags sacking the enviroment? India, International Journal fo quality reserch,

2009, in, http://www.ijqr.net/journal/v3-n4/08.pdf, e FIGUEIREDO, Nádia, a Taxa… op. cit.

445 SILVA, Ana, Indústria reduz pessoal e não consegue compensar as perdas provocadas pela taxa

ambiental, in https://www.publico.pt/2015/10/12/economia/noticia/industria-reduz-trabalhadores-e-nao- consegue-compensar-as-perdas-provocadas-pela-taxa-ambiental-1710669

153 reorientassem a sua produção, ajustando a maquinaria às alternativas pensadas pela grande distribuição para contornar o novo imposto.446

Os impactos económicos e sociais dos tributos ambientais em geral são uma preocupação transversal a todas as indústrias e setores poluidores se a consciência ambiental começar a ser cada vez maior a adoção de comportamentos ambientalmente sustentáveis começar a ser regra e prática reiterada. Não é por essa razão que não devemos deixar de insistir nesse caminho, pois sem um planeta onde haja condições de vida, pouco ou nada importam os aspetos sociais e muito menos os aspetos económicos.

Outro argumento apontado contra o tributo sobre os sacos de plástico consistia no seu impacto negativo que teria sobre a reciclagem. É que se entendia que a falta de sacos de plástico leves utilizados pelas pessoas para separar o lixo conforme as regras de reciclagem iria ser afetado. Ora, a verdade é que mais de metade dos portugueses indica que não sentiram influência na sua forma de separar o lixo, dado que já o faziam e continuaram a fazê-lo como habitualmente (57,5%).447

Assim, o tributo sobre os sacos de plástico traduz-se num verdadeiro tributo ambiental,448 dado ter contribuído para diminuir o volume de lixo de plásticos, criar nos consumidores a obrigação de comprarem sacos específicos para o lixo e, acima de tudo, levou a incentivar a reutilização de sacos para as compras, comportamento que hoje em dia já se pode considerar como prática reiterada e habitual na ida às compras de supermercado.

446 CRISÓSTOMO, Pedro, Indústria adapta máquinas a sacos de plástico mais grossos, in,

https://www.publico.pt/2015/02/14/economia/noticia/industria-adapta-maquinas-para-sacos-mais- grossos-1686073

447 SCHMIDT, Luísa; TRUNINGER, Mónica; GUERRA, João PRISTA, Pedro “Primeiro Grande

Inquérito Sustentabilidade em Portugal…, op. cit., pág. 88.

448 Nas palavras de Rui Duarte Morais, é de “(…) assinalar a primeira experiência com sucesso de um

imposto ambiental “suicida”, i. e., de um imposto que efetivamente logrou alterar hábitos ambientalmente nocivos gerando receita que tende para zero (…)”, in DUARTE, Rui Morais, As Reforma Fiscais do Presente, Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal, n.º 4, 2016, pág. 255.

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Capítulo V – Os Instrumentos Fiscais ao Serviço das energias