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CAPÍTULO I – Enquadramento

4. Imposto ambiental

4.4. Os prós e contras dos impostos ambientais

Após as anteriores especificidades, cabe apresentar as vantagens e desvantagens relacionadas com os impostos ambientais.

Relativamente às vantagens, sustentamos anteriormente a preferência dos impostos ambientais, em detrimento dos instrumentos de command e control, pelo facto de aqueles permitirem um melhor incentivo à redução de comportamentos nocivos, dado incidirem sobre os rendimentos dos agentes, ao passo que estes últimos apenas incentivam a cumprir o standart máximo exigido por lei. O imposto, sendo um instrumento baseado no mercado, não necessitará para a sua aplicação de uma recolha de informação exaustiva, ao contrário da regulamentação de obrigação e controlo.

Por outro lado, os impostos ambientais afetam os preços dos bens consumidos, atribuindo um preço a um ativo ambiental, o que indiretamente reflete uma proteção ambiental. Vejamos, um tributo que incida sobre a produção de um bem ou serviço poluente implica um consequente aumento do preço do bem, de forma a que os produtores possam cobrir o custo adicional do tributo. Ora, o consumidor, depara-se com um bem mais caro e, numa situação normal, orienta os seus desejos para outros bens sucedâneos, mais baratos e menos danosos ao ambiente.165 Do outro lado da medalha, os produtores vêem-se obrigados a produzir de forma ecológica de forma a combater a curva da procura descendente.166 Numa ótica de justiça, o imposto ambiental leva a que o encargo ambiental que os poluidores criam não seja suportado pelos não poluidores. Assim, evita- se que “um bem cujas externalidades negativas fossem pagas por todos e não apenas por

quem as gerou” esteja “em situação idêntica à de um bem subsidiado, ficando o produtor em condições de o poder oferecer no mercado a um preço mais baixo que o de outros bens que não tivessem idêntico tratamento”167

Um dos principais benefícios dos tributos ambientais consiste em gerar um incentivo para a substituição de tributos distorcivos por tributos eficientes. Como consequência, os ganhos de eficiência são superiores à regulação, porque nesta não há

165 Se esses bens e serviços não forem inelásticos.

166 Claro que é sempre necessário atender se a procura é rígida ou não. Veja-se PIMENTA, Carlos Rocha

Ramos e LOPES, Cidália M. Mota, “Os Limites da Tributação Ambiental (…), op. cit., pág. 74 e ss.

167 Neste sentido, OLIVEIRA, Maria Odette Batista de, Os Impostos Ambientais – Algumas Reflexões

Propostas, Revista de Direito e Gestão Fiscal, n.º 19 e 20, julho-setembro/outubro-dezembro, 2004, pág.

59 incentivo às empresas para que encontrem formas mais eficientes. Os tributos ambientais exigem que empresas procurem formas mais económicas de produção, premiando a redução da poluição de forma contínua e dinâmica.168

Acresce que, para além de incentivo,169 os tributos ambientais acabam também por ser um entrave à entrada de novas empresas poluentes no mercado. Estas, tendo alguma pretensão de entrar no mercado e fornecer serviços e bens poluentes, vêem o imposto como um entrave e ponderam sobre a viabilidade de enveredar por essa atividade, assumindo o tributo.

Um tributo de cariz ambiental também acaba por estabelecer uma justiça social mais concreta. Vejamos, entre a empresa X, que vende o seu produto no mercado a preços competitivos, mas teve de suportar custos acrescidos com sistemas de controlo de emissões de gases poluentes, e a empresa Y, que tenta vender o seu produto no mesmo mercado, mas não despendeu qualquer esforço no mesmo sentido, razões de justiça obrigam que seja cobrado um tributo à empresa Y de forma a compensar as externalidades criadas.170

No seguimento do que foi já abordado, os impostos ambientais consubstanciam um excelente instrumento da atividade administrativa do Estado que visa evitar, ou criar, obstáculos a certas condutas ou atividades lesivas do ambiente, ao mesmo tempo que propicia receitas para os cofres públicos, que é devolvida à economia, melhorando a distribuição de recursos, reduzindo o desemprego involuntário ou aumentando a eficiência económica. A este tipo de tributos é apontado um variado conjunto de vantagens que vão desde a eficiência ambiental e económica à capacidade de aumentar receita pública para financiar a ação de organismos estatais. A esta conjugação de vantagens dá-se o nome da Teoria do Duplo-Dividendo.171

Todavia, não está garantido que os impostos ambientais encerram esta capacidade. Perante um verdadeiro imposto ambiental, não haverá essa receita adicional, que a Teoria do Duplo-Dividendo sustenta, pois, a receita deverá diminuir ao longo de tempo, não

168Assim, TERKLA, David, The efficiency value of effluent tax revenues, Journal of Environmental

Economics and Management, 1984, Vol.11 (2), págs. 107 a 123.

169 O incentivo não só é direcionado para a alteração de comportamentos, como também estimula a inovação

tecnológica em prol do ambiente. Neste sentido, SOARES, Cláudia, O Imposto Ecológico…, op. cit., pág. 254 e ss.

170 No mesmo sentido, SOARES, Cláudia Dias, O Imposto Ecológico…op. cit., págs. 292 e 293

171 PEARCE, D. The Role of Carbon Taxes in Ajusting to Global Warming, The Economic Journal, N. 101,

60 existindo os tais recursos para reduzir o desemprego involuntário ou aumentar a eficiência económica.

Centrando-nos agora para nos contras dos impostos ambientais, o primeiro argumento apresentado nesta sede traduz-se na famosa perda de competitividade dos setores sujeitos ao imposto ou perda de competitividade face a outros Estados que não aplicam tais tributos aos seus setores.172 As empresas sujeitas a estes tributos muitas das vezes possuem habilidades capazes de criar pressões sobre os governos, ameaçando com a deslocação da sua sede para outros países. Poderá pensar-se que a saída do país de tais empresas seja benéfica para o ambiente, mas não nos devemos esquecer que tal argumento é falacioso, já que a poluição não tem como limite as fronteiras.

Deste modo, uma maneira de contornar esta perda de competitividade consiste na criação de isenções específicas aos setores de indústria. Veja-se o exemplo da energia elétrica usada na produção e distribuição de eletricidade173 ou a eletricidade produzida a bordo de aviões ou navios. Devoluções fiscais também se apresentam como ferramentas de competição, como no caso da Suécia, onde o montante de imposto cobrado às centrais elétricas por emissão de certos gases é reembolsado em função da quantidade de energia que produzam.174 Não obstante, saliente-se que é sempre necessário evitar excessos.

Uma outra desvantagem atribuída aos impostos ambientais diz respeito à sua potencial regressividade. Potencialmente, um imposto ambiental poderá pesar mais sobre as famílias mais pobres, sobretudo quando a sua incidência seja sobre bens de primeira necessidade. Isto poderá acontecer se, para além do imposto sobre o consumo final, as famílias suportarem o imposto ambiental sobre produção que é repercutido pelas empresas no produto final.175

Como já defendemos, um imposto ambiental tem de ser suficientemente alto de forma a desincentivar o comportamento dos agentes. Ora, um imposto com essas caraterísticas logicamente agrava o nível global da carga tributária que atualmente já é

172 BARDE, Jean-Philippe, BRAATHEN, Nils Axel, Environmentally Related Levies, Theory and Practice

of Excise Taxation, Smoking, Drinking, Gambling, Polluting and Driving, Edited by Sijbren Cnossen, Oxford, University Press, 2005, pág. 121.

173 Artigo 89.º n.º 1, alínea d), 89.º n.º 2, alínea a) e b), do CIE.

174 BARDE, Jean-Philippe, BRAATHEN, Nils, Environmental related Levies…, op. cit., pág. 139. 175 PIMENTA, Carlos, LOPES, Cidália, Os Limites da Tributação Ambiental…, op. cit., pág. 92 e ss.

61 bastante elevada, criando situações de perda de competitividade económica das empresas e dos particulares.

Deste modo, a nosso ver, cabe ao Estado tomar medidas necessárias de forma a garantir a neutralidade fiscal, tais como:

➢ Concessão de incentivos e benefícios fiscais a investimentos dos agentes económicos, quer no campo de investigação, quer nas aquisições de tecnologias pró-ambiente e a produtos de baixo consumo energético;

➢ Redução de outros impostos indiretos, como o IVA;

➢ Redução dos impostos diretos, quer ao nível das sociedades, quer ao nível dos rendimentos dos particulares, dado o inevitável aumento de preços.

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4.5. Impostos ambientais Vs benefícios fiscais. A “queda” do