• Nenhum resultado encontrado

96 SILVA, José Afonso da Aplicabilidade , p 72-75 97 Idem, ibidem, p 245.

2.2 Natureza jurídica

O termo tributo deriva do verbo latino tribuere, que significa dividir ou repartir entre as tribos.203

Pode-se dizer que, juridicamente, tributo é a prestação que compete ao sujeito passivo de uma obrigação tributária (no Brasil, a chamada obrigação tributária principal,

denominação adotada pelo Código Tributário Nacional para diferenciá-la das obrigações tributárias acessórias, i. é, os deveres instrumentais conferidos ao contribuinte e a outras pessoas, relacionados à administração dos tributos, tais como: emissão de documentos fiscais, escrituração de livros, prestação de informações ao Fisco, etc.)

Ou seja, nas palavras de CARVALHO,

“no conjunto de prescrições normativas que interessam ao Direito Tributário, vamos encontrar os dois tipos de relações: as de substância patrimonial e os vínculos que fazem irromper meros deveres administrativos. As primeiras, situadas no núcleo da norma que define o fenômeno da incidência - regra-matriz - e as outras, circumpostas a ela, para tornar possível a operatividade da instituição tributária: são os deveres instrumentais ou formais. ” 204

(Grifo do original.)

203 BERNARDO RIBEIRO DE MORAES, ob. cit.,v. 1, p. 349. 204 CARVALHO, Paulo de Barros, ob. cit., p. 193-192.

Outra não é a lição de BECKER, verbis:

“A relação jurídica tributária (como, aliás, qualquer outra relação jurídica) vincula o sujeito passivo ao sujeito ativo, impondo ao sujeito passivo o dever de efetuar uma predeterminada prestação e

atribuindo ao sujeito ativo o direito de obter a prestação. O tributo é o objeto daquela prestação que satisfaz aquele dever. ”205 (Grifo do original.)

O conceito de tributo, no direito positivo brasileiro, é o veiculado pelo art. 3° do Código Tributário Nacional - CTN (lei 5.172, de 25.10.66), verbis:

“Art. 3° - Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, q ue não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. ” 206

Por seu turno, o art. 9° da lei 4.320, de 17.3.64 (anterior, portanto, ao CTN), que dispõe sobre as normas gerais de direito financeiro, conceitua tributo como “a receita derivada,

instituída pelas entidades de direito público, compreendendo os impostos, as taxas e as contribuições, nos termos da Constituição e das leis vigentes em matéria financeira,

205 BECKER, Alfredo Augusto, ob. cit., p. 237.

206 Segundo ALIOMAR BALEEIRO (Direito...., p. 36), o projeto original do Código, por ele designado de “Projeto Rubens Gomes de Sousa - Osvaldo Aranha”, em homenagem ao jurista que redigiu o anteprojeto e ao então Ministro da Fazenda, que apoiou a iniciativa, continha um conceito de tributo um pouco diferente do adotado pelo texto final nestes termos: “Tributo é toda prestação pecuniária instituída por lei com caráter compulsório

pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no uso de competência constitucional inerente à sua condição de pessoa jurídica de Direito Público. ”

destinando-se o seu produto ao custeio de atividades gerais ou específicas custeadas por essas entidades. ”

CARVALHO207 identifica, no vocábulo tributo, nada menos que seis acepções diferentes, a saber:

a) quantia em dinheiro;

b) a prestação correspondente ao dever jurídico do sujeito passivo; c) direito subjetivo do sujeito ativo;

d) relação juridico-tributária; e) norma juridico-tributária; f) norma, fato e relação jurídica.

Para Geraldo ATALIBA208, a definição legal de tributo, perpetrada pelo legislador pátrio ao editar o Código Tributário Nacional, configura-se um verdadeiro despropósito, já que o conceito de tributo é constitucional, com sérios riscos aos direitos constitucionais dos contribuintes.

AMARO, após tecer severas críticas ao conceito legal de tributo, o define como “a

prestação pecuniária não sancionatória de ato ilícito, instituída em lei e devida ao estado ou a entidades não estatais de fin s de interesse público. ” 209

Na verdade, mais importante do que o conceito são as características do tributo.

207 CARVALHO, Paulo de Barros, ob. cit., p. 16.

208 ATALIBA, Geraldo. Hipótese de incidência tributária. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1990. p. 29. Para este autor, “juridicamente, se define tributo como obrigação

jurídica pecuniária ex lege, que se não constitua em sanção de ato ilícito, cujo sujeito ativo é, em princípio, uma pessoa pública, e cujo sujeito passivo é alguém nesta situação posto pela vontade da lei. ”

De modo geral, há consenso, na doutrina210, de que as principais características do fenômeno tributário são:

a) seu fundamento jurídico é o poder fiscal do Estado; seu pagamento é compulsório;

b) é criação exclusiva da lei;

c) é exigido pelo Estado ou por entidade com funções públicas; d) não tem caráter sancionatório;

e) implica no dever de o sujeito passivo de entregar ao sujeito ativo determinada soma em dinheiro.

Com tais características, a obrigação tributária (e, por extensão, o objeto de sua prestação, o tributo) não se confunde com outras obrigações das quais o Estado é o sujeito ativo, tais como multas, reparações de guerra, indenizações por danos e obrigações decorrentes de negócios jurídicos (aluguéis, preços na alienação de bens, foros, laudêmios, etc.)211

Assim, pode-se dizer que a natureza jurídica do tributo é a de uma prestação decorrente de uma obrigação jurídica especial: a tributária.

O nascimento desta obrigação tributária, por seu turno, assim como as obrigações jurídicas212 em geral, não decorre, tão-somente, da lei, mas do acontecimento, no mundo

fenomênico, de uma situação hipotética, prevista naquela.

210 AMARO, Luciano, ob. cit., p. 25-27; ATALIBA, Geraldo, Hipótese..., p. 31-32; BASTOS, Celso Ribeiro, ob. cit., p. 143-144; CARVALHO, Paulo de Barros, ob. cit., p. 20-23; CASSONE, Vittorio. Direito tributário. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1990, p. 50-51; COELHO, Sacha Calmon Navarro, ob. cit., p. 30-35; DENARI, Zelmo, ob. cit., p. 43-44; ICHHARA, Yoshiaki, Direito p. 77; MORAES, Bernardo Ribeiro de, ob. cit., v. 1., p. 358-370;e NOGUEIRA, Ruy Barbosa, ob. cit., p. 145-155.

211 ATALIBA, Geraldo, ob. cit., p. 33; BALEEIRO, Aliomar, ob. cit., p. 32.

212 Este posicionamento é defendido, de há muito, pelo Professor FERNANDO NORONHA, docente da Universidade Federal de Santa Catarina, nos textos que distribui a seus alunos. São suas as palavras: “A lei em si mesma, é inerte, não cria obrigações. Do

simples fato da existência de uma norma não nascem obrigações para ninguém. Entre a norma e a obrigação está sempre presente a verificação de uma situação de fato, enquadrável no “pressuposto ( “suporte fático ” ou “fatispécie ”) daquela norma. Estes

A esta previsão hipotética da lei, uma boa parte da doutrina lhe tem dado o nome de

hipótese de incidência tributária ou, simplesmente, hipótese de incidência 213

A adoção da denominação hipótese de incidência (ou, simplesmente, h. i.), visa, sobremodo, diferenciar a situação hipotética prevista na lei da ocorrência, no mundo fenomênico, de um fato que se subsume àquela previsão. A este último, alguns denominam

de fa to imponivel214, fa to jurídico tributário215 ou suportefático 216

217

A legislação brasileira, por sua vez, adotou, não sem sofrer críticas severas , uma única denominação, fa to gerador, que abrange tanto a previsão hipotética da lei quanto a

218

ocorrência, no mundo fático, daquela situação.

Assim, somente a ocorrência do fato, e sua juridicização pela lei (anterior a este) é que tem o condão de gerar a obrigação tributária.

acontecimentos é que são as verdadeiras fontes das obrigações. ” No mesmo sentido,

embora com outras palavras, a lição de ALFREDO AUGUSTO BECKER (ob. cit., p. 289.) 213 ATALIBA, Geraldo, Hipótese..., p. 54; BECKER, Alfredo Augusto, ob. cit., p. 288- 290; ; CARVALHO, Paulo de Barros, ob. cit., p. 159-160; COÊLHO, Sacha Calmon Navarro, ob. cit., p. 15-18; MORAES, Bernardo Ribeiro de, ob. cit., p. 371.

214 ATALIBA, Geraldo, ob. cit., p. 63-64. 215 CARVALHO, Paulo de Barros, ob. e loc. cit. 216 BECKER, Alfredo Augusto, ob. cit., p. 290.

217 Para GERALDO ATALIBA, ob. cit., p. 50, “duas realidades distintas - quais sejam, a

descrição hipotética e a concreta verificação - não devem ser designadas pelo mesmo termo. ” BECKER (ob. cit., p. 288) dizia que “o fato gerador não gera coisa alguma além de confusão intelectual.” Por seu turno, LUCIANO AMARO (ob. cit., p. 243-244) defende

o uso da expressão fato gerador.

218 O Código Tributário Nacional - CTN adota a designação genérica de fato gerador, definido, em seu art. 114, como “a situação definida em lei como necessária e suficiente à