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O ato de pesquisar, conforme explica Gatti (2007), é algo corriqueiro na vida dos cidadãos, pois para entendermos melhor um determinado assunto ou resolver os pequenos contratempos, recorremos à pesquisa. Porém, conforme a autora aludida observa, na pesquisa científica o que se pretende é construir um corpo de conhecimento que possa ser coeso, confiável e legitimado a partir da escolha de métodos e instrumentos específicos.

Sendo a educação um fenômeno permeado pela característica de inacabamento, contradições e concepções distintas, pesquisa-lo [...] “é um fato porque se dá. Sem dúvida, é um processo, porque está se fazendo. Envolve pessoas num contexto. Ela mesmo sendo contextualizada – onde e como se dá. E a aproximação a esse fato-processo que a pesquisa tenta entender” (GATTI, 2007, p. 14).

Por isso, para se pesquisar um fenômeno da esfera social como a Educação é necessário um método que permita a compreensão do subjetivo, ao mesmo tempo em que dê condições para a delimitação do problema de pesquisa e fidedignidade. Dessa forma, a pesquisa de natureza qualitativa segundo Flick (2009), oportuniza a compreensão dessa subjetividade, pois utiliza métodos flexíveis, variados e de forma combinada para dar conta de interpretar os fenômenos sociais que são complexos.

Em vista disso, esta pesquisa é de caráter qualitativa, do tipo exploratória, com delineamento de estudo de caso e documental. Sendo o objetivo, analisar como o componente curricular híbrido CA ministrado no Ensino Médio do Colégio SESI, que

apresenta pressupostos da Educação CTS, se desenvolve na prática pedagógica de um professor em uma turma interseriada.

Ventura (2007) argumenta, que a adoção de pesquisas do tipo exploratória é adequada quando há objetos de investigação muito específicos, e que utilizam a palavra “como” no objetivo da pesquisa. A pesquisa exploratória dá ao pesquisador uma flexibilidade maior para a compreensão inicial do problema de pesquisa, de caráter amplo e pouco e explorado. Assim, com o processo de aproximação, se criam condições para a delimitação do objeto de estudo por meio de diferentes instrumentos para a constituição dos dados (GIL, 2008). Á vista disso optou-se, no primeiro momento, a pesquisa de estudo exploratória, pois esta investigação é de delineamento de estudo de caso.

Flick (1984) argumenta que o estudo de caso emerge, primeiramente, nas áreas do saber da sociologia, da antropologia, da história, da medicina, da psicologia e entre outras. Na educação, o estudo de caso é mais recente, tendo seu marco no ano de 1975, em um evento promovido na Inglaterra pela Universidade de Cambridge, denominado por: Métodos de Estudo de Caso em Pesquisa e Avaliação Educacional.

O estudo de caso não se constitui em um pacote metodológico específico e padronizado, mas sim uma forma particular de estudo, a qual pode utilizar diversas técnicas para a constituição dos dados, como: entrevista, documentos, fotografias, gravações, anotações em diários e etc. (FLICK, 1984). O estudo de caso, desse modo, busca enfatizar o particular, isto é, pode investigar um evento, pessoa, currículo, grupo, instituição como algo singular (FLICK, 1984). No quadro 10, se apresentam sete características inerentes ao estudo de caso.

QUADRO 10 - CARACTERÍSTICAS DO ESTUDO DE CASO

1) Buscam a descoberta, o emergente Mesmo partindo de alguns pressupostos a priori, o pesquisador se compromete em interpretar os eventos que podem emergir e suscitar novos olhares e caminhos (FLICK, 1984, p. 52);

2) Enfatiza a interpretação do contexto O pesquisador precisa compreender o contexto que está inserido, isso lhe dá propriedade e apreensão do objeto a ser investigado (FLICK, 1984, p. 52);

3) Apresenta percepções conflitantes e/ou

diferentes de uma determinada situação O pesquisador se propõe e analisar os diferentes posicionamentos e situações que podem decorrer na investigação do objeto. Essa análise se dá, geralmente, por meio do embasamento teórico do pesquisador e das informações fornecidas pelos participantes da pesquisa (FLICK, 1984, p. 52);

QUADRO 10 - CARACTERÍSTICAS DO ESTUDO DE CASO

Conclusão 4) Utiliza Fontes de informação diversas O pesquisador pode utilizar diversos tipos de

triangulação, como: as de dados (documentos, diários de observação e gravações de áudio e etc.); dos métodos (os métodos que utilizará para analisar, por exemplo: o problema de pesquisa ou algum outro aspecto); dos investigadores (dois ou mais investigadores, mas com o foco no mesmo objeto pesquisado) e; o de teorias (que consiste na análise pautada por diferentes referenciais) (FLICK, 1984, p. 52);

5) Requer interpretações naturalísticas O pesquisador irá conduzir o leitor por meio de suas interpretações do fenômeno investigado, mas, essencialmente, convidar o leitor a fazer suas próprias interpretações, por meio de suas vivencias pessoais, acadêmicas e profissionais (FLICK, 1984, p. 52);

6) Obetiva retratar a realidade de forma

aprofundada Ao mesmo tempo que se busca mostrar a diversidade da situação investigada, contexto e divergências, também se enfatize os detalhes que enriquecem a compreensão do todo (FLICK, 1984, p. 52);

7) Flexibilidade na apresentação dos relatórios e relatórios

Os relatórios podem ser apresentados usando diferentes linguagens como, a oral, escrita e artística. Combinando uma ou mais e, muitas vezes, utilizando a forma de gênero narrativo, com citações, exemplos e figuras de linguagem (FLICK, 1984, p. 52).

FONTE: Flick (1984, p. 52) adaptado pela autora (2020).

Desse modo, o estudo de caso mostra-se como um delineamento metodológico flexível ao objetivo da pesquisa que o utiliza e também, a área do saber onde situa-se a investigação. Notavelmente, o estudo de caso enfatiza o contextual, o singular, as interpretações do pesquisador sobre o fenômeno de forma multifacetada e disposto a trazer à tona, o emergente. Em outras palavras, ao pesquisador será colocado o desafio de analisar o novo o que não estava posto a priori e, principalmente, convidar o leitor pelos caminhos interpretativos da pesquisa. Possibilitando, assim, que o leitor faça as próprias interpretações do objeto investigado e tenha sua contribuição acolhida de forma valorosa, tanto quanto a do pesquisador.

Portanto, segundo André (1984), por ter a característica de dar ênfase ao particular e apresentar a multiplicidade de argumentos, referenciais, opiniões dos participantes e entre outros, o estudo de caso oportuniza o seguinte questionamento ao leitor enquanto se debruça na compreensão da pesquisa:

Em lugar da pergunta ‘Esse caso é representativo de que?’ O leitor vai indagar ‘o que posso (ou não posso) aplicar desse caso para a minha situação?’. A generalização naturalística se desenvolve no âmbito do indivíduo e em função do seu conhecimento experiencial. (ANDRÉ, 1984, p. 52)

Entretanto, André (1984) argumenta, que embora o estudo de caso apresente possibilidades bem definidas e articuladas de investigação de um objeto, todo método de pesquisa, seja qualitativo ou quantitativo, pode apresentar lacunas e imprecisões. Essas lacuna e imprecisões podem estar ligadas as múltiplas interpretações, nas dificuldades em produzir generalizações, nas restrições de cunho ético no trato com participantes e a validade das técnicas de análise dos dados. Para que se possa minimizar tais adversidades, é preciso que

[...] os relatos do estudo de caso devem conter uma grande massa de dados brutos suficientemente ricos para admitir subsequente interpretação. Devem também descrever os métodos de trabalho empregados assim como o processo de triangulação utilizado pelo pesquisador para que seja possível julgar a validade e os vieses da informação. Devem ainda apresentar os pontos de vista dos diferentes participantes frente à problemática estudada assim como suas reações ao relatório do estudo para que seja possível aos leitores compreender a situação em sua complexidade própria e fazer julgamentos sobre as implicações do estudo. (ANDRÉ, 1984, p. 54).

Levando esses aspectos em conta, esta pesquisa de delineamento de estudo de caso, recorreu a técnicas diversas para a constituição dos dados, como: pesquisa documental, entrevistas e observações. A uma metodologia de análise que permitisse a compreensão da realidade investigada de forma aprofundada. Para explicar a técnicas empreendidas o próximo item foi reservado e, na subsequência, a opção metodológica de análise.