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4 OUTROS NEGOS: CORPOS NEGADOS, CORPOS (RE)ENCARNADOS

4.1 Negando João, afirmando Ana

Em 1980, quando das homenagens aos cinqüenta anos da “revolução que abalou o Es- tado”, uma série de artigos, crônicas e entrevistas é divulgada em cadernos especiais do Jornal

A União, constando entre estas a republicação de uma carta dirigida ao Jornal do Brasil, em

1978, por Henriette Amstein, que se diz uma das normalistas que estivera presente ao último discurso de João Pessoa na Paraíba. Aos 62 anos, ela escreve ao jornal carioca agradecendo um artigo ali publicado sobre João Pessoa, mas pretendendo esclarecer alguns pontos que julgava deturpados; oferece para isso o seu testemunho. Aponta-os então, seguido da versão que acredita correta, acrescentando detalhes a episódios como o do momento da morte do

presidente e do arrombamento da casa de João Dantas. No curso da sua narrativa, uma men- ção rápida, porém contundente a Anayde Beiriz chama atenção:

Foi então que a polícia interferiu e ocupou a casa e tendo encontrado lá do- cumentos que provaram a inverdade de acusações feitas publicamente pela família Dantas a João Pessoa, divulgou esses documentos. Quanto à corres- pondência íntima. Foi lida pela polícia, sim, mas não foi publicada. Aliás,

João Dantas não tinha noiva. Tinha uma amante, que, quando o visitou na prisão, em Recife, apelidaram de noiva.263

Este “esclarecimento” pontual, mas que se faz necessário na opinião de Henriette Amstein vai ao encontro daquela mesma de Ademar Vidal, e não passará despercebida por José Joffily que ali, justamente no ano de comemoração do cinqüentenário da revolução lança seu livro sobre Anayde, iniciando sua narrativa pela citação deste “juízo, formulado por uma senhora de reconhecidas virtudes cristãs”, o que serve de partida na apresentação dos seus argumentos para “restabelecer a verdade”. Não à toa, seu livro segue demarcando a imagem de Anayde num campo de oposição à daquelas mulheres que ele acredita que anos mais tarde, em 1964, “certamente marcharia(m) com vela na mão com Deus e pela liberdade”.264

Inspirado na argumentação de Joffily veio a público o filme Parahyba Mulher Macho, que como já abordado, produziu uma série de afetações e intensidades, reavivando a luta pela memória daqueles acontecimentos de 1930. Mas, diferente do que acontecera noutros momen- tos, como aquele de 1950, vimos que uma outra questão ali se instalava, colocando em evi- dência a construção de uma feminidade, aquela tecida no entrelaçamento do modelo de mas- culinidade do passado constantemente reiterado, atravessada, lapidada pelos signos de uma contemporaneidade com suas outras formas de expressão do feminino.

Contudo, como vimos, a reação à imagem ali oferecida de Anayde Beiriz, bem como a sua projeção em meio àquela narrativa sobre eventos tão caros à historiografia na Paraíba, sobrepondo-se às personagens masculinas, colocou em cena os dispositivos de controle à se- xualidade e, em especial, à sexualidade feminina — ainda implantados nos corpos de homens e mulheres tantos anos depois — inclusive após a visibilidade das lutas feministas e todo o movimento pela liberação sexual ocorrida na segunda metade do século XX.

Outros jogadores em cena passaram a mover suas peças na continuidade de um jogo para fazer prevalecer a verdade, cada vez tratando-se menos de uma verdade restrita aos fatos públicos ou, pode-se dizer, a um corpus público, fazendo-se sentir ainda maior a interelação

263

AMSTEIN, Henriette. As normalistas paraibanas e a Revolução de 30. A União. Paraíba. Caderno Especial de Comemoração do Cinquentenário da Revolução. p. 03. (grifo meu).

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entre estes e o fórum privado, um corpus íntimo. O tabuleiro cada vez mais revestido de pa- pel, de tinta, de letras, de palavras e enunciações de silêncios, querendo fazer vitoriosa aquela que seria revelada como a verdade mais nua. Verdade esta, definidora de lugares de memória e, simultaneamente, de lugares de gênero.

Prevaleceu para muitos a idéia de que ao inserir Anayde num corpo delirante e “debo- chadamente” sensual, ao invés de conseguir o efeito procurado por Joffily em seu livro, o fil- me que ele inspirou conseguiu intensificar os significados liberados por aquele juízo moral de Henriette Amstein e Ademar Vidal, contemporâneos da professora. Então também era preciso esclarecer, retificar, lembrar e revelar, para assim, afinal, se restaurar a face da verdadeira Anayde, como forma de restabelecer aqueles acontecimentos.

Assim como acontecera com José Pereira e João Dantas, chegara a hora de acionar uma peça até então aparentemente destituída de importância histórica, mas que ao ser inserida no jogo, surpreendeu pela sua potencialidade de significados, trazendo em sua corporeidade, a memória de um ressentimento que não dizia respeito somente às narrativas oficialmente dadas por vencidas nos duelos de 1930, mas a de muitos outros ali submersos, apagados pela fabri- cação de uma memória que não cessou de produzir silêncios e esquecimentos.

Se José Joffily inaugura esta fase, sua estratégia ganha força com a narrativa fílmica por todas as questões aqui já discutidas, mas ao mesmo tempo de onde emergirá sua força, virá também sua vulnerabilidade, por conta justamente do apelo a uma Anayde “excessiva- mente” corpórea. Então, percebo que uma “terceira via” se faz, a que virá pretendendo “resga- tá-la”, “revelá-la” e, posso mesmo dizer, “salvá-la” da marca de ser uma “mulher-macho”.

Creio que esta via começa a evidenciar-se ali mesmo, nos anos 1980, em artigos e ar- tefatos literários relacionados a Anayde, ganhando espessura com o livro de Lourdes Luna, em 1995, porém adquirindo maior vigor e visibilidade com o lançamento do livro do médico e escritor Marcus Aranha, Anayde Beiriz: Panthera dos Olhos Dormentes, em 2005. Um livro que trouxe a público, um diário inédito da professora, ou melhor, um conjunto de cartas trans- critas por ela da sua correspondência amorosa com Heriberto Paiva, estudante de medicina que namorara antes de João Dantas.

O lançamento do livro em meio às comemorações do centenário do nascimento dela, a instituição de um troféu “Anayde Beiriz” para homenagear mulheres de destaque na socieda- de paraibana, fomentando uma série de outras produções — vídeos, crônicas, poesias — vêm dar ainda mais espessura a um desejado corpus de memória, que se pretende inicialmente al- ternativo, mas nem por isso menos verdadeiro ou importante — pelo contrário — que todo aquele corpus monumental da memória de João Pessoa e de seus aliados em 1930, também

responsáveis pela sua conservação e projeção mítica.

Se naquela fala escrita para o Jornal do Brasil, como um eco que ressoa das sensibili- dades da década de 1930, Anayde personifica o lugar do desvio, da traição moral e política, a operação se inverte na expansão do arquivo que toma o seu corpo como lócus de uma memó- ria outra, memória dos outros, daqueles antes considerados vencidos, vilões, silenciados, que são representados por uma gama de outros — artistas, políticos, jornalistas, feministas... — que não se sentem no presente contemplados e/ou identificados com aquelas imagens do pas- sado.

Na sua pesquisa sobre as escritoras e professoras da Paraíba do começo do século XX, Ana Maria Coutinho de Sales dedica parte considerável a Anayde Beiriz e, ao passo que a procura em fragmentos de textos, em depoimentos, ou nas referências de leitura que aparecem na escrita dela — como os poemas de Castro Alves que ela transcrevia — assinala a aproxi- mação da escritora aos temas ligados à liberdade, fosse no caso das mulheres, como também com quaisquer outras formas de exclusão. Diz Ana Coutinho:

Oxalá todos nós, que com Anayde Beiriz aprendemos a sonhar e a construir este mundo novo, possamos, de alguma forma, dar continuidade aos desafios e aos projetos libertários que denunciam a existência de qualquer forma de discriminação. Portanto, as sementes de liberdade, lançadas pela poetisa do começo do século XX, continuarão germinando, de geração em geração, a- través dos movimentos feministas, negros, ecologistas, de homossexuais, de idosos, de portadores de necessidades especiais e de minorias, todos articu- lados pela mesma busca da superação das desigualdades sociais.265

Aqui podemos sentir a força que adquire a representação da memória de Anayde Bei- riz. Cada vez mais, para além da sua individuação, ela agrega todas essas vozes, que a pesqui- sadora entende se identificarem no sonho da liberdade. Sua corporeidade passa a ser tecida com a “carne” de todos esses outros, que na operação discursiva tornam-se um.266

Vemos então a tessitura complexa de uma via que vai sendo composta e compondo outras formas de presentificar a professora e escritora. Mas, quero dar ênfase a esta operação que (con)funde a memória de Anayde com daqueles considerados “num fora”, num território de exclusão. Esta potência, que sua corporeidade fronteiriça alcança, permite mesmo que,

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SALES, Ana Maria Coutinho de. Tecendo fios de liberdade: Escritoras e professoras da Paraíba do começo do século XX. 2005. Tese (Doutorado em Teoria Literária). Programa de Pós Graduação em Letras, Universida- de Federal de Pernambuco, Recife. p. 222

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Ana Coutinho nos informa ainda como este movimento de identificação veio ganhando vigor, com “um im- pressionante ressurgimento” de Anayde no começo do século XXI, através de exposições envoltas ao seu cente- nário de nascimento, de uma homenagem na Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba, em 2004, quando se conferiu à escritora o título de Patrona da Cadeira nº 16, entre outros eventos importantes para destacar e debater aspectos da sua vida. Ibidem, p. 222.

mais uma vez configurada em oposição aos valores predominantes em sua época, ela se torne o referente principal das relações de alteridade entre uma memória designada como oficial, que fez prevalecer a imagem heróica de João Pessoa, e uma memória outra, de outros, que então procura estabelecer-se, dando maior visibilidade ao confronto.

Esta recusa a uma memória que se tornou “a oficial”, constantemente mobilizada nos embates políticos e intelectuais, mais uma vez busca então fortalecer-se à sombra da imagem de Anayde Beiriz, ao mesmo tempo em que colaboram para a expansão desta “sombra”, cri- ando novos formatos, colocando em cena outras estratégias, capturando-a também para outros cenários.

Neste fluxo ela vem representar a dignidade, a sinceridade, a resistência e tenacidade que cada vez se evidenciam menos na imagem daquele que passa mesmo a ser projetado co- mo o seu algoz, mentor de uma conspiração caluniante ou, como preferem ainda, maior repre- sentante de uma sociedade de valores hipócritas. Não, claro que não estou falando de João Dantas, que por tantas vezes foi assim qualificado, mas justamente e ironicamente do outro João, de João Pessoa: subversões da história.

Entendo que se não há força suficiente na imagem de João Dantas para confrontar nos discursos do presente à de João Pessoa — sendo ele também considerado conservador e pe- sando ainda a acusação de assassinato — esta força vem da imagem de Anayde, ou talvez mais apropriado dizer de uma Anayde que pode sim, personificar a Paraíba, mas não a “mu- lher-macho”. Uma Anayde que, ainda que tornada mais visível com o filme que lhe atribuiu tal corpo, passa a ser alimentada na reação negativa a ele, como uma reação aos valores mas- culinistas colocados em movimento pelos discursos que projetaram a idéia de revolução e que fabricaram os símbolos de uma Paraíba guerreira que “nega”, que se veste de sangue e luto, e que sela uma memória dando a sua capital o nome de João Pessoa.

O fazer-se de uma outra memória, passa a recusar todos esses símbolos e captura a imagem de Anayde para a (re)invenção de uma outra tradição, aquela que se procura restau- rar, como forma de se “resgatar a verdade”, de se restabelecer o que seria uma verdadeira i- dentidade da Paraíba. O ápice desta recusa ocorre com a retomada da discussão sobre a mu- dança do nome da Capital e da bandeira do Estado, mobilizando mais uma vez energias de parte a parte.

Contudo, operando com outras estratégias, desta vez o desejo atualizado reinveste-se como projeto político, através da atuação do vereador Flávio Eduardo Fuba (PSB- Partido Socialista Brasileiro), também músico, carnavalesco, que agrega uma série de colaboradores, pleiteando na Câmara dos Vereadores a aprovação de um plebiscito que viesse a consultar a

população sobre a mudança ou permanência do nome da Capital e da bandeira, e ainda pro- pondo a “restauração” dos símbolos anteriores a 1930: o topônimo Parahyba, inclusive con- servando a grafia da época e a bandeira que alude à data e signos da fundação da cidade.

Uma campanha com pretensas intenções de esclarecimento da história para a popula- ção colocou na ordem do dia mensagens que justificariam a mudança. Entre reuniões, entre- vistas à imprensa dadas pelos propositores, debates acalorados na mídia, fez-se circular um panfleto, sintetizando as idéias do projeto em questão, divulgado pelo Movimento Paraíba Capital Parahyba, que me parece sintetizar os valores colocados em jogo:

Figura 05: Panfleto do Movimento Paraíba Capital Parahyba

Então a disputa pela memória e pela história se materializa novamente no confronto das bandeiras para o Estado e dos nomes para a cidade. Apela-se a uma idéia de volta às ori- gens, desconsiderando-se muitas vezes que os símbolos anteriores fazem também parte de uma invenção, tendo sua historicidade. O texto no verso do panfleto é ainda mais contundente no apelo a tais ideais, bem como aos referenciais de produção de uma história acusada de “maquiar” a verdade:

Pense nisso! Durante anos, a História da Paraíba foi maquiada por historia- dores tendenciosos que negaram o conteúdo da verdade, induzindo o nosso povo a acreditar numa grande farsa provocada pelo fanatismo de uma como- ção. Os fatos que antecederam o ano de 1930 e os que posteriormente foram relatados, envolvem personagens tidos como mitos ou heróis e que hoje são desmistificados à medida que a verdade aparece.Você acha que foi bom mu- dar o nome da capital e a bandeira do nosso estado por um fato político a- contecido em 1930? Fatos políticos passam, a nossa História não! Talvez por medo ou acomodação, muitos dizem não ter importância essa discussão, mas trata-se da nossa identidade, da nossa auto-estima e do nosso orgulho. Como se pode amar o desconhecido? Você conhece a história de João Pessoa? Você gosta de uma bandeira que representa o sangue e o luto de uma morte? Você sabe por que existe o NEGO em nossa bandeira? Não? E então? Não acha isso importante? Em 1930, numa medida de força e sem consultar a po- pulação, particularizaram o nome da nossa cidade e ensangüentaram a nossa bandeira. São 77 anos de luto! Você já parou para pensar nisso? Ao contrá- rio do que ocorreu em 1930, estamos democraticamente propondo que seja feita, em 2009, uma revisão histórica através de um plebiscito. Uma História de sangue e luto jamais poderá ser motivo de orgulho! Você vai decidir! Di- ga sim à Parahyba!267

Assim, o que poderia converter-se mais amplamente numa fértil oportunidade para debater a produção da história e mesmo questionar os parâmetros que elegeram uma versão como a “mais verdadeira”, “mais identitária”; encena-se um jogo com regras semelhantes, inclusive cometendo equívocos como o de separar a produção de fatos políticos da construção da história, sugerindo ser esta algo sempre dado “a priori”, uma fonte original, que remeteria a um passado mais distante e envolto numa aura de sacralização. Parte do pressuposto que há uma identidade mais apropriada, pronta, que se revelaria ao tirar-se a maquiagem. Questiona- se o conhecimento da população sobre os símbolos vigentes, mas sem considerar que isso denuncia também o suposto esquecimento ou desconhecimento da historicidade dos símbolos anteriores a 1930.

Investindo nestas regras, tal produção discursiva agencia os signos da “versão venci- da”, ocultada, agregando a sua campanha a força constituída em torno da imagem de Anayde Beiriz. Ora, esta é uma dobra que, como desenhada no percurso deste trabalho, veio se consti- tuindo aos poucos, mas sempre com singularidades. Daí parecer conveniente, e mesmo con- vincente, que ao surgir uma organização não-governamental que leva o nome da professora, já no seu momento inaugural esta surja atrelada à projeção dos ideais do Movimento Paraíba

Capital Parahyba.

Anayde Beiriz é assim convertida no símbolo maior desta luta por uma projeção iden-

267

Este panfleto foi lançado em dezembro de 2007, juntamente com o livro Sonho de Feliz Cidade: pensando carinhosamente a capital da Paraíba. Uma coletânea de textos ilustrada com fotos da cidade, com diversos auto- res, promovido pelo Sebo Cultural, que traz várias referências à Anayde, bem como outros argumentos pela mudança do nome da Capital. Ver Sonho de Feliz Cidade: concurso literário. João Pessoa: Imprell, 2007.

titária da cidade, por conseguinte, do Estado. Interessante que embora os discursos aí implica- dos se afirmem em oposição aos eventos de 1930 como referenciais históricos para uma iden- tidade paraibana, não deixa de alimentar-se da força imagética constituída para eles, agregan- do e mesmo procurando confundir-se com os discursos pela memória de uma personagem ligada àquele contexto, o que serve para manter atualizada a representatividade de 1930.

As tessituras em cores diferentes superpõem as linhas sobre o mesmo traçado. Tecer um mito para combater outro, num cenário onde o triunfo da memória legitima a história, on- de esta continua sendo enunciada como um jogo maniqueísta. Na festa de inauguração do Coletivo Cultural Anayde Beiriz, seu corpo é travestido num manifesto para um novo rosto da cidade, um novo “velho nome”. O discurso é o de resgatar a memória dela ao passo em que se restaure também a identidade da Capital. Na ocasião, lança-se o folheto de cordel, Anayde: a

história de uma mulher que na vida foi ultrajada, de autoria de Piedade Farias, que então sin-

tetiza a versão que se constrói na disputa com a “oficial”,268 inscrevendo a imagem vitimizada de Anayde ante a insensatez de João Pessoa, justificando os objetivos da organização que pre- tende lhe fazer justiça:

Pois veja bem, meu leitor,/ O que João Pessoa fez: A Dantas desacatou/ Por muito mais de uma vez/ Até que um dia chegou/ E as ditas cartas roubou/ Num gesto de insensatez./[...]Pior foi quando a notícia/ Bem depressa se es- palhou/ E naquele ano de trinta/ A intriga se agravou./ Dantas ouviu, al- guém disse:/ “Sabe quem está em Recife,/ O Pessoa, malfeitor!?”.../ Dan- tas, então, se armou/ Muito do contrariado/ E quando ele encontrou/ O sujei- to malfadado/ Mirou o seu lado esquerdo/ Deu-lhe três tiros no peito/ Con- sumando o assassinato/ Por ordem dos Liberais/ Dantas foi assassinado/ Sem direito de defesa/ Junto com o seu cunhado?Estava acabada a paz,/ Rolou cabeças demais/ Sem se punir o culpado. Que destino malogrado/ Pra Anay- de sobrou/ Com o peito apunhalado/ Pelo gume afiado/ Da perda de seu a- mor!? Que futuro desgraçado/ De perseguição e dor. [...] Ela já não sonha mais/ E o que resta se consome/ Em cova rasa sem nome,/ Sem palavras co- lossais./ Mas hoje nesta homenagem/ Eis que Anayde renasce/ Na justiça que se faz./ [...] Para este COLETIVO/ Que já nasce CULTURAL/ é

ANAYDE BEIRIZ/ o símbolo fundamental: Seu nome é nossa marca/Seus

versos, a bela estátua/ Sua história, o pedestal. Pra ressaltar Anayde/ E sua memória imortal/ É necessário, acredite/ Uma correção formal: Mudar o nome de João Pessoa/ Resgatando PARAHYBA/ Para a nossa Capital. Por PARAHYBA a cidade/ viveu seus tempos de glória/ Hoje, nosso movimen-

to/ Resgata essa memória.../ Por quase trezentos anos/ Desse nome nos orgu-

lhamos/ PARAHYBA – nossa história!269

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Tática semelhante também se investiu com a imagem de João Dantas. Anterior à campanha formalizada pelo vereador Fuba, o cordelista homônimo João Duarte Dantas, lançou um folheto em defesa do seu chará, conside- rado vítima dos “heróis das espadas virgens”, defendendo, nos versos finais, a restauração do antigo nome da capital. DANTAS, João Duarte. A Verdade de 1930. Campina Grande: Martins, [200-?].