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O fórum aberto foi a técnica de produção de dados utilizada para priorização dos dados e negociação com os grupos de interesse. Foi realizado no espaço da reunião de coordenadores, havendo uma combinação prévia e autorização dele para a utilização desse espaço.

O desenvolvimento do Fórum Aberto deu-se em momento subsequente à condução das entrevistas e posterior análise dos dados empíricos. O Fórum Aberto foi a técnica de produção de dados eleita para priorizar a missão e as estratégias de melhorias para o futuro, ou seja, aqui destaco o fórum como o espaço estratégico que proporcionou convergência das informações obtidas tanto da análise das observações participantes quanto das entrevistas.

A reunião dos coordenadores ocorre a cada 15 dias, constituindo-se como um espaço para que os coordenadores dos serviços de saúde mental conversem sobre a situação dos serviços, as dificuldades que enfrentam e que precisam de apoio do gestor e dos colegas para solucioná-

las. Também são planejadas ações de saúde mental que serão desenvolvidas na rede. Portanto, a ideia de realizar o Fórum Aberto na reunião dos coordenadores também visou fortalecer a potencialidade desse espaço e sua função para o desenvolvimento de avaliações sistemáticas na rede, entendendo que o propósito de avaliar deve fazer parte das práticas do trabalho em rede como práticas de gestão do cotidiano do trabalho, que não se restrinjam a projetos de pesquisa pontuais ou aatividades de “final de ano” e/ou de determinada gestão.

Os participantes do colegiado gestor são todos os coordenadores dos serviços da área da saúde mental, entretanto, visando incluir todos os pontos da RAPS na realização do Fórum Aberto, tive a abertura para estender o convite à coordenadora da atenção básica e à coordenadora do SAMU.

Assim, participaram do Fórum Aberto: Coordenador da saúde mental, Coordenador de ensino, pesquisa e extensão, Coordenador do CAPS ADIII; Coordenador do CAPS infantil, Coordenador do CAPS Nossa Casa, Assistente social que trabalha na Secretaria de Saúde, Coordenadora do SAMU, Coordenadora da Atenção Básica, e duas doutorandas que me auxiliaram, uma desenvolvendo o papel de observadora, e outra ajudando-me na dinâmica de organização e escrita dos cartazes.

No desenvolvimento do Fórum Aberto busquei ser uma facilitadora do processo, ou como nomeia Fetterman (2015), uma amiga crítica (critical friend), que apoia os participantes sem dominar o diálogo, mas incentivando a escolha democrática e a participação para a decisão dos pontos mais relevantes.

Participar desse processo do Fórum Aberto foi, longe de ser “tranquilo” ou “confortável”, um desafio que, certamente, foi facilitado pela minha vivência em campo, pela “familiarização” maior com os processos de trabalho da rede e pela relação estabelecida com os trabalhadores e usuários.

Acredito que, devido à vivência em campo, o Fórum Aberto deu voz aos trabalhadores para falarem sobre seu cotidiano, um cotidiano que, naquele momento, não me era estranho, pois não me sentia alguém distante que apresentava e propunha sem ter “noção das suas realidades”. Ao contrário, falávamos de uma rede que havia sido partilhada, das dificuldades, das conquistas, das tentativas, das reflexões e conexões existentes ou a construir, por exemplo, a falta de transporte, a inserção da redução de danos na atenção básica, a prevenção, a educação permanente, ou seja, desafios, práticas, e melhorias conhecidos por nós de suas diferentes maneiras. Assim, acredito que esse momento do fórum teve sentido, aprendizado e conexão com todo o processo da pesquisa.

Também entendia que o processo do Fórum Aberto exigia envolvimento e colaboração em seus vários aspectos. Assim, buscando melhor apropriá-los do processo, apresentei aos participantes elementos centrais da pesquisa e uma análise prévia do material que até o momento havia sido produzido (resultado da análise das observações participantes e das entrevistas semiestruturadas). Falei também sobre o modo de organização do Fórum Aberto em sua proposta de priorização e construção de estratégias de planejamento para o futuro.

Sobre a análise prévia do material até então produzido, apresentei as diferentes percepções sobre a missão e o conhecimento da situação atual (dificuldades e potencialidades) que emergiram da observação de campo e de entrevistas com todos os coordenadores dos pontos da RAPS e da rede intersetorial. E, a partir disso, junto ao grupo de gestores, priorizamos quais seriam a missão e as estratégias de planejamento para o futuro, conforme consta na Figura 10 a seguir.

Figura 10 - Organização dos passos realizados no Fórum Aberto

1. Apresentação da produção de dados sobre a Missão (apropriação das diferentes percepções sobre a missão da

RAPS)

2. Priorização da Missão

(esclarecimentos e estabelecimento de consensos)

3. Apresentação da produção de dados sobre o conhecimento da situação atual

(apropriação dos aspectos que dificultam e facilitam o trabalho em rede e sugestões para melhorias)

4. Priorização das estratégias de planejamento para o futuro (estabelecimento de consensos e planos de ação)

Fonte: Santos, E.O, 2019.

A missão retratou qual o propósito e o objetivo da RAPS no momento atual, e em relação às estratégias para o futuro foram consideradas as capacidades de investimento e foco no

cuidado em rede. Esse processo gerou reflexão sobre os desafios da rede, o esclarecimento de algumas questões apresentadas, o que seria possível, viável de ser desenvolvido, quais os recursos disponíveis, como os profissionais da rede se envolvem nas ações, o início da gestão e as dificuldades burocráticas desse processo, o papel da avaliação, e considerações sobre o processo desta pesquisa avaliativa. Todos esses aspectos serão apresentados mais adiante, em capítulos específicos dos resultados.

Por meio do diálogo e do material em PowerPoint, em forma de perguntas, estimulei a participação dos diferentes atores no Fórum Aberto, pois entendia que essas estratégias faziam parte do empoderamento pelo qual os participantes se apropriam e se envolvem com o processo de decisão (FETTERMAN, 2015).

No momento do fórum foi importante esclarecer ao grupo o conceito de empoderamento, porque esse conceito é complexo e apresenta derivações conceituais. Vale ressaltar que a concepção de empoderamento adotada neste estudo é a do empoderamento comunitário, compreendido como um processo que enseja a construção de estratégias que promovam a participação dos indivíduos e coletivos na análise e atuação nos problemas do seu meio, considerando, criticamente, as questões sociais e políticas envolvidas (CARVALHO, 2014).

Tais estratégias visam a apoiar a organização de uma estrutura propícia para os processos de reflexão e diálogo sobre as questões, podendo trazer subsídios para a conscientização sobre as situações, capacidade de decisão e intervenção de forma participativa e crítica (CARVALHO, 2014).

Acredito que todo o processo buscou sustentar-se nessa proposta de empoderamento, por meio de uma postura participativa, dialógica, colaborativa, e com o uso de estratégias específicas, de acordo com o momento vivido pelos grupos de interesse e suas disponibilidades pessoais.

7 CONSTRUÇÃO DA MISSÃO

O processo de construção da missão envolveu três etapas: 1ª etapa: conhecimento da missão; 2ª etapa: priorização da missão; 3ª etapa: sistematização dos dados.

A primeira etapa do processo foi a realização das entrevistas com todos os trabalhadores participantes da pesquisa, os quais foram questionados sobre: qual a missão da RAPS na atenção aos usuários de drogas? De posse das entrevistas, procedi a uma leitura flutuante do material, visando ao exercício de uma listagem de todos os pontos importantes levantados pelo grupo de interesse, sobre o que ele consideraria missão da RAPS e as diferentes propostas e metas para alcançar a missão. A partir dessa análise foi possível identificar a missão da RAPS e as propostas de investimento para o alcance da missão.

A segunda etapa da construção da missão foi levar essas informações brutas ao Fórum Aberto para pactuação e negociação. Nesse Fórum foram gerados consensos, esclarecimentos e novas inclusões de informações para a construção da missão coletiva.

A última etapa foi a sistematização dos dados oriundos do grupo de interesse, os quais são analisados a seguir.