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1 O PROCESSO HISTÓRICO DE ADOECIMENTO DA CLASSE

1.4 NEOLIBERALISMO, UMA RESPOSTA POLÍTICO-SOCIAL À

Se a acumulação flexível apoiada no toyotismo foi a resposta à atual crise do capital para a esfera da produção e do trabalho, no âmbito político-social a resposta foi o neoliberalismo. Assim, “[...] o modelo de regulação social-democrático, que deu sustentação ao chamado estado de bem-estar social em vários países centrais, vem também sendo solapado pela (des)regulação neoliberal, privatizante e anti-social (ANTUNES, 2001-2002, p. 230-231).

Para Harvey, o neoliberalismo

[...] propõe que o bem estar humano pode ser melhor promovido liberando-se as liberdades e capacidades empreendedoras individuais no âmbito de uma estrutura institucional caracterizada por sólidos direitos a propriedade privada, livres mercados e livre comércio. (HARVEY, 2008, p. 12)

Ainda de acordo com Harvey, o papel do Estado neoliberal é garantir, a qualquer preço, o funcionamento do mercado. Esse preço é pago pela classe trabalhadora, mas não sem resistência, como revelam as manifestações e greves por melhores salários e condições de vida, assim como as lutas sociais contra a precarização social e do trabalho nas cidades e no campo. O autor assinala que, sob o neoliberalismo o Estado tem de garantir “a qualidade e a integridade do dinheiro”, além de organizar as estruturas “militares, de defesa, da polícia e legais requeridas para garantir direitos de propriedade individuais e para assegurar, se necessário pela força, o funcionamento apropriado dos mercados” (HARVEY, 2008, p. 12).

Harvey enfatiza que a primeira experiência com o neoliberalismo aconteceu no Chile após o golpe de Pinochet. Com economistas treinados nos Estados Unidos e apoio do FMI, organiza-se a economia de acordo com suas regras, privatizam-se empresas nacionalizadas e a seguridade social, liberam-se recursos naturais à exploração privada, deixa-se o comércio mais livre e facilita-se a circulação de investimentos estrangeiros (HARVEY, 2008, p. 18).

Com o argumento de que os sindicatos e seus trabalhadores, cobrando do Estado mais gastos sociais, prejudicavam o crescimento capitalista, as ideias neoliberais se fortaleceram. As medidas centrais,

que passam por acabar com o poder dos sindicatos, reduzir os gastos com o bem-estar social e limitar as intervenções estatais na economia foram além da década de 1970. Com as eleições de Thatcher na Inglaterra e Reagan nos Estados Unidos, estabeleceram-se governos comprometidos com os ditames neoliberais, e o modelo foi criando raízes.

Ricardo Antunes, quando se reporta ao desenvolvimento do neoliberalismo na Inglaterra com as eleições de Thatcher em 1979, destaca os principais passos que foram sendo dados para atender a agenda neoliberal: a privatização de praticamente tudo o que havia sob controle estatal; a redução e até extinção do capital produtivo estatal; o desenvolvimento de uma legislação fortemente desregulamentadora das condições de trabalho e flexibilizadora dos direitos sociais; a aprovação de um conjunto de atos fortemente coibidores da atuação sindical (ANTUNES, 1999, p. 66).

Com poucas exceções, a década de 1980 viu o neoliberalismo crescer e se fortalecer em quase todos os países capitalistas. Alguns se mostraram mais, outros menos cautelosos na aplicação do modelo; no entanto todos se mantiveram distantes das políticas aplicadas anteriormente.

Harvey destaca que o mundo capitalista vivenciou diferentes experiências neoliberais, que só “convergiram como uma nova ortodoxia com a articulação, nos anos 1990, do que veio a ser conhecido como o ‘Consenso de Washington’” (HARVEY, 2008, p. 23).

A política do modelo neoliberal pautada na redução da inflação, no ataque aos sindicatos, na precarização do trabalho, na queda de salários e no aumento dos índices de desemprego restabeleceu as condições de “acumulação do capital e de restauração do poder das elites econômicas” (HARVEY, 2008, p. 27). No entanto, não foi muito eficaz em relação ao desafio principal: fazer o capitalismo voltar a ter índices de crescimento iguais aos das chamadas “décadas de ouro”, entre o final da Segunda Guerra Mundial e meados dos anos 1970.

O que se percebe da década de 1990 é que, mesmo nos países em que os governos não eram neoliberais, concretamente, suas políticas não divergem muito. Ou seja, as transformações socioeconômicas promovidas pelo neoliberalismo interferirão e ditarão as principais regras por um bom tempo. Tais regras, conforme Paulani (2006, p. 71), apoiam-se em:

[...] limitar o tamanho do Estado ao mínimo necessário para garantir as regras do jogo

capitalista, evitando regulações desnecessárias; segurar com mão de ferro os gastos do Estado, aumentando seu controle e impedindo problemas inflacionários; privatizar todas as empresas estatais porventura existentes, impedindo o Estado de desempenhar o papel de produtor, por mais que se considerasse essencial e/ou estratégico um determinado setor; e abrir completamente a economia, produzindo a concorrência necessária para que os produtores internos ganhassem em eficiência e competitividade.

Hoje, como explica Harvey (2008, p. 13), o modelo tornou-se “hegemônico”: afeta o modo de ser e de pensar das pessoas; afeta a forma de “interpretarem, viverem e compreenderem o mundo”.

No Brasil, o projeto neoliberal tornou-se uma política pública de Estado basicamente depois das eleições presidenciais de 1989, quando Fernando Collor de Mello foi eleito. Paulani (2006, p. 90) destaca que “[...] desde a eleição de Collor, passou a ser voz corrente a inescapável necessidade de reduzir o tamanho do Estado, privatizar empresas estatais, controlar gastos públicos, abrir a economia”. De 1995 a 2002 ocorreram os mandatos de Fernando Henrique Cardoso, em um governo que criou vários benefícios aos credores do Estado brasileiro, como por exemplo a isenção do Imposto de Renda. Além disso, a política neoliberal foi a justificativa utilizada para manter a estabilidade monetária conquistada com o Plano Real (PAULANI, 2006, p. 90-92). Dessa forma, empenhado em ampliar e aprofundar a política neoliberal no país, o então presidente Fernando Henrique Cardoso privatizou diversas empresas estatais, como a Companhia Vale do Rio Doce, a Telebrás, a Eletropaulo, etc., iniciou a privatização da previdência e criou a Lei de Responsabilidade Fiscal.

No entender de Boito Junior (1999, p. 86), o governo de Fernando Henrique Cardoso foi responsável, na segunda metade da década de 1990, por recuperar, em parte, o atraso na implementação da política neoliberal: “[...] esse governo não só deu novo e forte impulso às políticas de abertura comercial, de desindustrialização, de desregulamentação e de privatizações, como também vem reduzindo, um ano após o outro, os gastos sociais”.

O autor analisa de que forma o governo Fernando Henrique Cardoso impulsionou as políticas neoliberais no Brasil e como estas atingiram diretamente os trabalhadores da iniciativa privada, do setor público e a população, que paga impostos e depende dos serviços

públicos. Segundo Boito Junior, “a política de juros altos”, a “redução das tarifas aduaneiras” e a “sobrevalorização cambial”, somados à “redução dos gastos públicos em serviços urbanos e sociais e em obras de infraestrutura” foram as principais causas do aumento do desemprego. Além disso, as privatizações provocaram a redução dos postos de trabalho e estancaram a criação de novos postos no setor público. Os trabalhadores que permaneceram empregados sofreram, como consequência do neoliberalismo, a “desregulamentação” e a “degradação” das relações de trabalho, que ocasionaram perdas de direitos, ampliação indireta da jornada de trabalho, com o aumento das horas extras, e diminuição do poder de compra dos salários (com a desindexação). Esses trabalhadores também foram testemunhas do aumento da “exploração do trabalho de crianças e adolescentes” e da “utilização de formas de trabalho compulsório de tipo pré-capitalista – além do trabalho escravo, [...] o antigo sistema de barracão7” (BOITO JUNIOR, 1990, p. 86-99).

Outro aspecto levantado por Boito Junior diz respeito à concentração de renda e à redução dos gastos sociais: “os governos neoliberais conseguiram jogar a renda dos mais pobres ainda mais para baixo. [...] [As] médias por década evidenciam que o neoliberalismo agravou a concentração da renda herdada da ditadura militar e da Nova República” (BOITO JUNIOR, 1990, p. 100-101). Em relação aos gastos sociais entre 1990 e 1996, salvo quando saltos com algumas despesas indicam mudanças na forma de apresentar a contabilidade da União, os dados “indicam uma redução nos gastos sociais do Estado Brasileiro e a exiguidade desses gastos mesmo para o padrão latino-americano” (BOITO JUNIOR, 1990, p. 102).

Uma terceira consequência importante destacada por Boito Junior é a privatização e descentralização na política social. Foi na saúde pública que o processo de descentralização mais avançou, mas também foi possível verificar o mesmo na educação, na habitação e na assistência social. O governo federal traçou responsabilidades com as quais municípios e estados não tinham condições de arcar (BOITO JUNIOR, 1990, p. 106-110).

A descentralização na educação teve início com o governo de Fernando Henrique Cardoso e hoje já se encontra bem mais avançada, conforme se detalhará a seguir. Ela “vem sendo estimulada por agências

7 Ou sistema de cantina, quando os trabalhadores eram pagos com vales, cadernetas, etc., que só podiam ser usados ou trocados em um “barracão” ou “cantina” de propriedade do próprio patrão.

internacionais, como a Unesco e a Unicef, que propõem, ainda, a concentração dos recursos públicos no ensino básico e a realização de parcerias com associações civis e empresas” (BOITO JUNIOR, 1990, p. 108). Como a maior parte do ensino primário e secundário é de responsabilidade dos Estados, descentralizar então significa “municipalizar”, ao que muitas prefeituras resistem por falta de recursos.

Outra consequência importante a ser destacada é a Lei de Responsabilidade Fiscal, aprovada em maio de 2000. Ela permite que, em detrimento das políticas públicas (saúde, educação, transporte, salários, etc.), os credores financeiros sejam pagos em primeiro lugar, com sanções aos que não controlarem e reduzirem gastos com a área social (PAULANI, 2006, p. 92). Essa lei fez parte das “mudanças institucionais necessárias para colocar o Brasil como emergente mercado financeiro” (PAULANI, 2006, p. 92).

Ao se conhecer essa lei compreende-se melhor os problemas pelos quais passam as escolas públicas e, em consequência, seus trabalhadores: em nome da suposta “responsabilidade fiscal”, governantes de Estados e municípios se dizem engessados para aumentar investimentos na educação pública. Apoiados na lei, argumentam limites que impedem ou reduzem concursos públicos, melhorias nas condições de trabalho, ampliação e construção de escolas, implementação de Planos de Carreira, melhorias nos direitos trabalhistas, além de representarem cortes. Esse conjunto de fatores interfere negativamente no trabalho e propicia, por consequência, o processo de adoecimento dos servidores públicos, que se discute no capítulo três deste trabalho.

Mas o setor financeiro privado, nacional e internacional queria o aprofundamento das políticas neoliberais e a previdência pública passa a ser um obstáculo para que o país se “integrasse à mundialização financeira” (PAULANI, 2006, p. 90). Conforme Paulani (PAULANI, 2006, p. 90), “[...] nosso sistema previdenciário era marcado pelo regime de repartição simples, caracterizado pela solidariedade intergeracional e pela posição do Estado como seu principal ator”. A autora destaca que solidariedade intergeracional significa que “quem trabalha gera renda para quem não trabalha” ((PAULANI, 2006, p. 92), ou seja: quem ainda está trabalhando gera renda para quem já trabalhou e já se aposentou.

No entender de Paulani, Fernando Henrique Cardoso, durante seu mandato presidencial, não conseguiu privatizar toda a previdência. “Sua reforma ficou restrita aos trabalhadores da iniciativa privada” ((PAULANI, 2006, p. 93). Luiz Inácio Lula da Silva (2003 – 2010),

contudo, apesar de eleito como candidato do Partido dos Trabalhadores, realizou as reformas da previdência do setor público, fazendo aumentar o tempo de contribuição ao vincular idade e tempo serviço. Passou a prever tetos e a pressionar os governadores e prefeitos a criarem os fundos de pensão para, com isso, lançar milhões de reais no mercado financeiro. Com a aprovação da reforma da previdência o mercado financeiro alimenta-se, entre outros aspectos, pela contribuição de servidores públicos municipais e estaduais, um dinheiro que entra sem qualquer resistência, uma vez que o desconto é feito na própria fonte, diretamente no contra-cheque.

A reforma da previdência vinculou idade e tempo de serviço, o que, na prática, faz com que a ampla maioria dos servidores públicos tenha que trabalhar mais para poder se aposentar. Diante disso, determinadas condições de trabalho podem interferir no processo de adoecimento dos trabalhadores, como se discutirá com mais propriedade no capítulo três deste trabalho.

É possível compreender de que forma o governo continua implementando políticas neoliberais – que beneficiam credores nacionais e internacionais em detrimento de políticas públicas que podem melhorar, por exemplo, as condições de trabalho dos servidores públicos no país – quando se analisam os dados encontrados no site da Auditoria Cidadã da Dívida: em 2008, os pagamentos com Juros e Amortizações da Dívida Pública consumiram 30,57% dos Recursos Federais. Enquanto isso, áreas sociais fundamentais, como é caso da Saúde (4,81%) e da Educação (2,57%), receberam parcelas muito inferiores. Essa mesma fonte mostra que, em 2009, os pagamentos consumiram 35,57% dos Recursos Federais (excluindo o refinanciamento da dívida), enquanto a educação consumiu apenas 2,88%. Considerando os gastos com o refinanciamento – rolagem –, os gastos com a dívida consumiram 57% do orçamento.

Para que os compromissos com os credores pudessem ser cumpridos, algumas políticas públicas, como de educação, receberam verbas consideravelmente menores. Dessa forma, Estados e Municípios deixaram de receber investimentos que poderiam se converter em melhorias nas escolas e nas condições de trabalho, em concursos públicos e na ampliação dos direitos trabalhistas, o que consequentemente poderia amenizar o processo de adoecimento dos profissionais da educação.

Conforme já se mencionou, nas últimas décadas, o capital se reestruturou para superar crises e tem no neoliberalismo um de seus pilares. De acordo com o que já foi possível observar entre outros

aspectos, para a política neoliberal, os gastos do Estado com políticas públicas para a educação, por exemplo, precisam ser cada vez menores. Além disso, esse mesmo Estado precisa garantir o funcionamento do mercado e contribuir para deixá-lo cada vez mais competitivo. Nesse sentido, “é preciso reformar de alto a baixo a educação, tornando-a mais flexível e capaz de aumentar a competitividade das nações” (BARRETO; LEHER, 2003, p. 39).

Sendo assim, exige-se da educação o atendimento de importantes demandas, quais sejam:

1) a adaptação de países e indivíduos a um “mundo de transformação”, possibilitando a disseminação e consolidação de valores políticos e culturais que permitem uma dominação ideológica através de uma visão de mundo empresarial, portanto mercantil; 2) a concepção da educação como estratégia fundamental para “qualificar” e “formatar” os trabalhadores frente às mudanças no mundo do trabalho, segundo interesses e necessidades impostas pelo capital. (MARTINS, 2009, p. 2)

Para implementar as demandas acima apresentadas, o capital mundial, representado pelos organismos multilaterais BIRD, BID, UNESCO, USAID e UNICEF, organizou, em março de 1990, a Conferência Mundial de Educação para Todos, em Jontien (Tailândia). Nessa conferência estiveram presentes 155 países, entre eles o Brasil, além de várias agências bilaterais e multilaterais e ONGs. Durante a realização dessa Conferência aprovou-se a Declaração Mundial de Educação para Todos com diretrizes a serem aplicadas pelos próximos dez anos. As principais metas da declaração se apresentam a seguir: 1) erradicar o analfabetismo; 2) universalizar a educação fundamental; 3) eliminar a evasão e a repetência escolar; 4) proceder à descentralização administrativa e financeira; 5) priorizar a educação fundamental; 6) dividir a responsabilidade entre o Estado e a sociedade, por meio de parcerias com empresas, comunidade e a municipalização do ensino fundamental; 7) avaliar o desempenho dos professores e da instituição; 8) desenvolver o ensino a distância e reestruturar a carreira docente.

O documento expressa a política neoliberal destinada à educação e possui, nas suas metas, o caminho para, entre outras questões, diminuir a responsabilidade e reduzir os gastos com a educação pública e – por consequência – com as condições de trabalho. Não foi por acaso,

segundo Barreto e Leher, que a Lei de Diretrizes e Bases (LDB/1996) inverteu os termos da Constituição “fazendo com que a família venha antes do Estado e o privado anteceda o público” (BARRETO; LEHER, 2003, p. 40), tornando realidade em muitas escolas os incentivos a parcerias com “Amigos da Escola”, ONGs e empresas.

Saviani entende que a concepção da LDB de 1996 é neoliberal e “minimalista” para ser compatível com o Estado-mínimo. Segundo ele, em todas as iniciativas da política educacional, “apesar de seu caráter localizado e de aparência de autonomia”, existe em comum o objetivo de “reduzir custos” ou “transferi-los, ao menos dividi-los” (SAVIANI, 1997, p. 200-201). Ainda segundo o autor, a lei de 1996 é resultado da correlação de forças existente no país, que não permitiu que as propostas defendidas pelos setores organizados em prol das escolas públicas tivessem êxito. Contradições em torno da destinação dos recursos públicos, da formação de professores e da valorização do magistério fizeram parte, entre outros, dos principais debates ocorridos durante o trâmite da lei.

Após mais de uma década da criação, a política da LDB está expressa no dia a dia das escolas e pode ser verificada de diversas formas: por meio da descentralização administrativa, que joga cada vez mais responsabilidades burocráticas para os diretores e professores; por meio da descentralização financeira, que estabelece a coletividade nas discussões acerca das prioridades, do orçamento e da prestação de contas da escola; por meio da municipalização de escolas ainda que, muitas vezes, sem a contrapartida financeira; por meio de parcerias entre a comunidade e empresas, como é o caso dos “amigos da escola” ou de projetos de “escola aberta”, ou a contratação de bibliotecários, merendeiras e pessoal de limpeza através das Associações de Pais e Professores (APPs); por meio de avaliações de rendimento escolar como a Prova Brasil8; por meio da percepção de um aumento da precarização das relações de trabalho com cortes de direitos; na terceirização de serviços de limpeza, merenda e vigilância; nos salários arrochados e no descumprimento de planos de carreira; no aumento do número de alunos

8 A Prova Brasil tem por objetivo apresentar informações por escola e por município que possam auxiliar os governantes na tomada de decisões quanto aos recursos técnicos e financeiros e a comunidade escolar quanto ao estabelecimento de metas e ações pedagógicas e administrativas, tendo por finalidade a melhoria educacional. A Prova Brasil compõe o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) e é desenvolvida e realizada pelo (INEP) – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (MEC, 2011).

nas salas de aula; na responsabilização cada vez maior do professor pelos resultados da educação, etc.

As demandas à escola sobrepõem-se às demandas inerentes ao trabalho docente e aumentam a sobrecarga laboral por intensificarem o trabalho dos professores quando estes se tornam responsáveis pela execução de várias tarefas ao mesmo tempo, o que pode gerar processos de adoecimento. A pesquisa de Assunção e Oliveira (2009, p. 361) alerta para o fato de que “situações de sobreposição de tarefas podem explicar o cansaço físico, vocal e mental do docente”.

Diante da sobrecarga de trabalho, que é realidade na rotina dos professores, seu adoecimento e outras questões com as quais os trabalhadores convivem, e diante do projeto neoliberal – em maior ou menor intensidade, direta ou indiretamente, em todas as partes do mundo –, cabe a indagação: a redução dos serviços públicos que havia sido necessária teve resultados positivos? Para quem? As crises pós- neoliberalismo foram menores ou menos intensas? Ajudaram a reduzir a pobreza? Ampliaram o desenvolvimento econômico? Harvey (2008, p. 103) responde que não, e ainda observa que as crises “financeiras eram tanto endêmicas como contagiosas” e continuaram nos anos de 1980 e 1990.

Apesar de toda retórica da cura de economias doentes, nem a Inglaterra nem os Estados Unidos alcançaram altos níveis de desempenho econômico nos anos 1980, o que sugere que o neoliberalismo não era a resposta às orações capitalistas. É verdade que a inflação desabou e as taxas de juros aumentaram, mas o preço disso foram altas taxas de desemprego. Cortes em benefícios sociais e em despesas com infra- estrutura reduziram a qualidade de vida de muitas pessoas. O resultado geral foi uma estranha mistura de baixo crescimento e crescente desigualdade de renda (HARVEY, 2008, p. 98). Martins (2009) também observa que, apesar das medidas tomadas pelo neoliberalismo, ele não assegurou a estabilidade da economia, e “depois de ter atingido praticamente todos os continentes”, deu provas de sua força e limites. Apesar dos esforços de implementação, “não se consolidou plenamente em função das resistências” (MARTNS, 2009, p. 59). O autor ainda considera que, com o objetivo de alinhar o projeto, o neoliberalismo foi revisto de tal modo que o crescimento da economia

fosse recuperado, mas em bases políticas mais sustentáveis, que não gerassem tanta resistência e abalos na “coesão social” dos diferentes países. Em prol do alinhamento, os organismos internacionais foram redefinidos. A tese da sociedade sem antagonismos e o modelo “alternativo” de Estado se tornam referência; a liberação de empréstimos do Banco Mundial começou a depender de políticas de “parcerias” entre o Estado e organizações da “sociedade civil”, visando a incentivar a mobilização comunitária na solução dos próprios problemas.

Martins (2009) também salienta outros dois aspectos que pareceram decisivos para a necessidade de alinhamento: passou-se a considerar que a participação popular poderia ser articuladora da nova sociabilidade e que a precarização das políticas sociais não parecia ser o melhor caminho. Diante disso, seria necessário criar um capitalismo de